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quinta-feira, 14 de julho de 2011

O fundamentalismo: a Bíblia como receita de bolo – III

Já há dois artigos estamos escrevendo sobre o modo fundamentalista de ler a Escritura: aquela leiturazinha chocha da Bíblia, que toma tudo ao pé da letra, sem captar a grande e feliz mensagem de salvação que é a Palavra de Deus. Mostrei o quanto tal leitura é equivocada e trai o sentido da Escritura. No artigo passado comecei, então, a apresentar alguns critérios para uma leitura correta da Escritura Sagrada. Somente para recordar: 1) Cristo é o centro e a chave de toda a Bíblia: é a partir dele, confrontando com ele, que saberemos o que é importante e o que não é na Bíblia, o que foi superado e o que não foi; 2) na Escritura há a analogia da fé, isto é, um fio condutor, que é a mensagem de salvação: o Pai tanto amou o mundo que nos salvou no seu Filho e nos fez o dom do Espírito. Tudo o mais está em função disso, tudo o mais, na Bíblia, é secundário em relação a isso e somente em relação a este centro pode ser interpretado corretamente; 3) a Bíblia não foi escrita privadamente, mas exprime a fé da Comunidade eclesial, da Igreja, de modo que somente a Igreja a pode interpretar corretamente: quem interpreta a Bíblia de modo privado cai em erro e afasta-se do Espírito no qual a Escritura foi escrita!
Agora vamos aos outros critérios para uma reta interpretação das Escrituras Santas:
4) Se a Escritura somente pode ser interpretada em comunhão com a Igreja, na qual o Cristo prometeu permanecer para sempre (cf. Mt 16,18s; 28,20; Jo 16,13s), então é necessário observar como o Espírito Santo foi guiando a Igreja na sua interpretação ao longo dos séculos. Em outras palavras: não se pode compreender bem a Escritura desprezando a história da Igreja de Cristo! Esta Igreja, pela graça de Cristo, é “coluna e sustentáculo da verdade” (1Tm 3,15). Somente assim se guardará o depósito da fé apostólica, evitando o palavreado vão e ímpio e as contradições de uma falsa ciência, que desvia da fé àqueles que a professam (cf. 1Tm 6,20s). Alguns exemplos: é um absurdo fazer como os movimentos batistas (são muitos, divididos entre si!) fazem – e depois as outras denominações protestantes também fizeram -, negando o valor do Batismo de crianças, coisa que a Igreja praticou tanto no Ocidente quanto no Ocidente (a história confirma amplamente). É a coisa da receita de bolo: pega-se a Bíblia pela Bíblia, isolada da Igreja, de sua fé, de sua oração, de sua história... e, assim, mata-se a Palavra de Deus! Um outro exemplo interessante temos nos mórmons: eles se fazem batizar pelos mortos! Costume estranho, esquisito, inventado por eles... em nome da Bíblia! Como surgiu isso? Da interpretação fundamentalista da Palavra de Deus. Em 1Cor 15,29 Paulo, repreendendo alguns coríntios porque não queriam acreditar na ressurreição, usa um argumento baseado num costume esquisito que havia somente em Corinto: se não houvesse ressurreição, “que proveito teriam aqueles que se fazem batizar em favor dos mortos?” É a única vez no Novo Testamento que se fala em alguém batizar-se pelos mortos... O que significa isso? Não sabemos! Observem que Paulo não diz que é certo ou errado fazer isso; usa somente essa prática dos coríntios para ilustrar seu argumento em favor da ressurreição. Como quer que seja, a Igreja, desde as origens não abraçou esta prática. Isso significa que ela não era correta nem importante, pois se o fosse o Espírito do Ressuscitado não teria permitido que ela desaparecesse na Comunidade eclesial. Aí vêm os mórmons, lêem esse trechinho perdido de São Paulo.... e retomam essa prática arcaica, sem sentido e fora da Tradição apostólica! Leitura fundamentalista da Escritura! Só um último exemplo: o Novo Testamento está cheio de testemunhos de que Pedro é o chefe da Igreja e que seu papel deverá continuar na Comunidade dos discípulos de Cristo (cf. Jo 1,42; Mt 10,2; 16,16; Jo 6,68; 20,1-9; 21,15ss; Lc 22,31s; 24,33s; 1Cor 15,3ss; At 1,15ss; 2,14; 5,1ss; At 10; Gl 1,18; 2,9). Ora, além de não aceitarem o papel do Papa por puro preconceito, os protestantes fundamentalistas ainda teimam em refutar que a Igreja sempre, desde as origens, viu no Sucessor de Pedro o chefe da Igreja de Cristo! Isso quando a história confirma que a Igreja, desde o início e cada vez mais, foi tomando consciência do papel do Sucessor de Pedro. É como se depois de Cristo o Espírito Santo fosse embora e ficasse dormindo e a Igreja tivesse desaprendido a interpretar a Palavra de Deus. Se isso fosse verdade, Cristo seria um mentiroso, porque prometeu permanecer na sua Igreja e guiá-la à verdade plena (cf. Jo 16,13s)!
5) A verdade que a Escritura apresenta não é verdade científica nem filosófica, mas verdade teológica, verdade salvífica. Ou seja, a Bíblia não é livro de ciência! Nela há erros de história, de geografia, de ciência... Mas, enquanto Palavra de Deus, ela é a verdade: ensina a verdade sobre Deus, sobre o sentido do mundo, do homem e da vida. Por isso mesmo Jesus afirma: “Eu sou a verdade!” - ou seja, “eu sou a vossa verdade: sendo discípulos meus, descobrireis o sentido de vossa vida e da vida do mundo, descobrireis a vossa verdade e nela vivereis!” É neste sentido – e somente neste! – que a Palavra de Deus é a verdade e não erra! Aí lá vêm os fundamentalistas querendo interpretar o Gênesis ao pé da letra! Que inferno!
Continuaremos no próximo artigo. Aí terminaremos de vez! Até lá!

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