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domingo, 17 de julho de 2011

A Igreja nas Sagradas Escrituras - II

Tema 2: A Igreja, Povo de Deus, Corpo de Cristo e Templo do Espírito

a) A Igreja enraizada no Deus uno e trino
Já vimos que a Igreja sempre esteve no plano de Deus; vimos também que ela começou a existir na Páscoa do Senhor Jesus: ela vive do Espírito Santo que o Cristo, enviado do Pai derramou sobre ela. A Igreja vive, portanto, na Trindade Santa. Ela não é uma simples reunião nascida da vontade humana nem da boa vontade de seus membros: a Santa Trindade é a vida da Igreja:
Há diversidade de dons mas um mesmo é o Espírito. Há diversidade de ministérios mas um mesmo é o Senhor. Há diferentes atividades mas um mesmo é Deus que realiza todas as coisas em todos (1Cor 12,4ss).
Há um só Corpo e um só Espírito, assim como fostes chamados por vossa vocação para uma só esperança. Há um só Senhor, uma só fé, um só batismo. Há um só Deus e Pai de todos, que está acima de todos, por todos e em todos (Ef 4,4ss).
Cada divina Pessoa da Santa Trindade tem uma relação própria com a Igreja, dando-lhe a mesma vida divina que salva de um modo peculiar a cada Pessoa da Trindade: o Pai (um só Deus) é a fonte de toda a Vida; o Filho (um só Senhor) é o mediador desta Vida; o Espírito é a própria Vida! Esta realidade impressionante aparece de modo muito claro e profundo na idéia da Igreja como Povo de Deus Pai, Corpo de Cristo e Templo do Espírito Santo.
b) A Igreja, Povo de Deus Pai
Já vimos que no Antigo Testamento Israel é o povo de Deus, o povo eleito, consagrado e escolhido:
Agora, se realmente ouvirdes minha voz e guardardes a minha aliança, sereis minha propriedade exclusiva dentre todos os povos. De fato é minha toda a terra, mas vós sereis para mim um reino de sacerdotes e uma nação santa. São estas as palavras que deverás dizer aos israelitas” (Dt 19,5s).
Este povo era a qahal IHWH (= assembléia do Senhor Deus), a santa assembléia do Deus de Israel. Daí veio o nome ekklesía (= Igreja). Pois bem, a Igreja é o povo de Deus da nova aliança, é o novo povo de Deus, reunido pela palavra do Pai, dita em Jesus Cristo:
Cumpriu-se o tempo e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho (Mc 1,15).
O próprio Jesus tinha isso em mente quando escolheu Doze para segui-lo: eles são os alicerces do novo povo, como os doze filhos de Jacó (= Israel) foram os alicerces do antigo povo:
Depois subiu ao monte e chamou os que ele quis. E foram ter com ele. E constitui Doze para ficarem em sua companhia e para enviá-los a pregar, com o poder de expulsar os demônios (Mc 3,13ss).
A Igreja é, portanto, o novo povo que Cristo veio reunir para Deus, seu Pai. É interessante como a Igreja assume essa identidade de Israel da nova aliança:
A todos os que pautam sua conduta por esta norma, paz e misericórdia sobre eles e sobre o Israel de Deus (Gl 6,16).
Mas vós sois uma raça eleita,um sacerdócio régio,uma nação santa, o povo de sua particular propriedade, para apregoar os grandes feitos daquele que vos chamou das trevas para a sua luz admirável. Vós, que outrora não éreis povo, agora sois o povo de Deus; vós, que não havíeis alcançado misericórdia, mas agora conseguistes misericórdia (1Pd 2,9s).
Assim, a Igreja, novo Israel, é povo de Deus Pai, o povo definitivo, da nova aliança, reunido em nome de Jesus Cristo. Este povo não é mais ligado pelos vínculos de sangue, mas pela fé em Jesus Cristo, que conduz ao batismo e à eucaristia:
Todos vós, pois, sois filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus. Pois todos vós, que fostes batizados em Cristo, vos revestistes de Cristo. Já não há judeu nem grego, nem escravo nem livre, nem homem nem mulher, pois todos vós sois um em Cristo Jesus. Ora, se sois de Cristo, então sois verdadeiramente a descendência de Abraão, herdeiros segundo a promessa (Gl 3,26ss).
Ora, afirmar que a Igreja é povo de Deus tem algumas conseqüências importantes:
(i) Deus só tem um povo, uma Igreja, que é sinal da unidade de toda a humanidade em Cristo (cf. Jo 11,51s):
(Cristo) nos lavou de nosso pecados com seu sangue, e fez de nós um Reino e sacerdotes para Deus seu Pai (Ap 1,5s).
(ii) Neste povo entramos pelo batismo, sacramento da fé em Jesus. Assim, nos tornamos membros do povo da aliança; povo de irmãos, povo de iguais na dignidade de filhos de Deus:
Vós, não vos deixeis chamar de mestre, porque um só é vosso mestre, e todos vós sois irmãos. A ninguém chameis de pai na terra, porque um só é vosso Pai, aquele que está nos céus. Nem vos façais chamar doutores, porque um só é vosso doutor, o Cristo. O maior entre vós seja vosso servo. Aquele que se exaltar será humilhado e quem se humilhar será exaltado (Mt 23,8ss).
(iii) Como o povo de Israel, somos um povo escolhido em Jesus: povo de sacerdotes, de profetas e de reis (= servidores):
Mas vós sois uma raça eleita,um sacerdócio régio, uma nação santa, o povo de sua particular propriedade, para apregoar os grandes feitos daquele que vos chamou das trevas para a sua luz admirável (1Pd 2,9).
Eu vos exorto, pois, irmãos, pela misericórdia de Deus, que vos ofereçais em vossos corpos, como hóstia viva, santa, agradável a Deus. Este é o vosso culto espiritual (Rm 12,1).
(iv) Este povo, como o Israel do Antigo Testamento, é um povo a caminho, um povo de peregrinos rumo à Pátria do céu. Sendo assim, a Igreja não será nunca plena neste mundo: somente na glória ela chegará a ser plenamente aquilo que deve ser. Até lá, ela precisará sempre de conversão, de renovação e de reforma:
Portai-vos com temor durante o tempo do vosso exílio (1Pd 1,17; cf. 1,1).
Eu vos exorto, pois, irmãos, pela misericórdia de Deus, que vos ofereçais em vossos corpos, como hóstia viva, santa, agradável a Deus. Este é o vosso culto espiritual (Ap 21,1; cf. 2 – 3).
(v) Como povo de Deus, a Igreja deverá sempre viver no mundo, empenhada na transformação do mundo e, ao mesmo tempo, manter viva a consciência de não ser do mundo:
Caríssimos, peço-vos que, como forasteiros e peregrinos, vos abstenhais dos desejos da carne que combatem contra a alma. Observai entre os pagãos uma conduta exemplar. Assim, naquilo mesmo em que vos caluniam como malfeitores, considerando vossas boas obras, glorifiquem a Deus no dia da Visitação.
Por amor do Senhor submetei-vos a toda autoridade humana, quer ao imperador, como soberano, quer aos governadores, como delegados, para castigo dos malfeitores e elogio dos bons. Tal é a vontade de Deus que pela prática do bem façais emudecer a ignorância dos insensatos. Como homens livres e não à maneira dos que tomam a liberdade como véu para cobrir a malícia, mas vivendo como escravos de Deus. Honrai a todos, amai os irmãos, temei a Deus, respeitai o imperador.
Manifestou-se com efeito a graça de Deus, fonte de salvação para todos os homens. Veio para nos ensinar a renúncia à impiedade e aos desejos mundanos, para vivermos sóbria, justa e piedosamente neste século, aguardando nossa esperança feliz e a vinda gloriosa do grande Deus e do Salvador nosso, Jesus Cristo. Ele, que se entregou por nós a fim de nos resgatar de toda iniqüidade e adquirir para si um povo exclusivamente seu e zeloso na prática do bem. 15 Assim é que deves falar e exortar e repreender com toda a autoridade. E ninguém te despreze!
Admoesta a todos que vivam submissos aos príncipes e às autoridades, que lhes obedeçam e estejam prontos para qualquer boa obra. Não injuriem a ninguém, sejam pacíficos, afáveis e dêem provas de mansidão para com todos os homens.
Porque também nós outrora éramos insensatos, rebeldes, extraviados, escravos de toda sorte de paixões e prazeres, vivendo na maldade e na inveja, dignos de ódio e odiando uns aos outros. Mas um dia apareceu a bondade de Deus, nosso Salvador, e seu amor para com os homens. E não por causa das obras de justiça que tivéssemos praticado, mas unicamente em virtude de sua misericórdia, ele nos salvou mediante o batismo de regeneração e renovação do Espírito Santo, que abundantemente derramou sobre nós por Jesus Cristo, nosso Salvador, a fim de que a justificação de sua graça nos torne, segundo a esperança, herdeiros da vida eterna (Tt 2,11 – 3,7).
Porque, ainda que alguns sejam chamados deuses, quer no céu, quer na terra, de maneira que haja muitos deuses e muitos senhores, para nós não há mais do que um só Deus Pai, de quem tudo procede e para quem nós existimos; e um só Senhor, Jesus Cristo, por quem existem todas as coisas e nós também (1Cor 8,5s).
(vi) Povo de Deus peregrino, como o Israel do deserto, só que agora guiado pelo Espírito, a Igreja deve viver em contínua tensão escatológica – isto é, consciente que caminha para a Glória e desejosa dessa mesma Glória; por isso mesmo, envolvendo-se com tudo quanto no mundo é justo e bom, ela, no entanto, não se encanta com nada nem absolutiza realidade alguma deste mundo nem ideologia nenhuma:
Quando orardes, dizei: “Pai, santificado seja o teu Nome; venha o teu Reino!” (Lc 11,2)
O Espírito e a Esposa dizem: “Vem!” Aquele que atesta estas coisas diz: ”Sim, venho muito em breve!” Amém! Vem, Senhor Jesus!” (Ap 22,17.20)
Procedei com sabedoria no trato com os de fora, sabei aproveitar o tempo presente. A vossa palavra seja sempre agradável, temperada de sal, para saberdes como convém responder a cada um (Cl 4,5s).
Concluindo, é importantíssimo que tenhamos a consciência que somos um povo nascido da aliança que Deus selou com a humanidade em Jesus Cristo. Não somos povo segundo a raça, a cultura, a classe social, a opção política ou a situação econômica: somos o povo que Deus reuniu em Cristo na unidade do Espírito, conforme a promessa a Abraão, nosso pai! Vinda do Pai, é para o Pai que a Igreja caminha e somente nele encontrará repouso:
Ele nos predestinou para sermos seus filhos adotivos por meio de Jesus Cristo, conforme o beneplácito de sua vontade, para o louvor e glória de sua graça! (Ef 1,5s)
c) A Igreja, corpo de Cristo
Vimos que a Igreja é povo de Deus: povo de Deus da nova aliança. Mas, como podemos ser povo de Deus, se não somos descendência de Abraão? A promessa fora feita a Abraão e a seus descendentes. É aqui que adquire toda sua importância e sentido a imagem do corpo de Cristo: a Igreja á povo de Deus precisamente porque é corpo de Cristo. Vejamos:
Ora, as promessas foram feitas a Abraão e à sua descendência. Não diz: “e a seus descendentes”, como se fossem muitos, mas fala de um só: e a teu descendente que é Cristo (Gl 3,16).
São Paulo afirma que a descendência de Abraão por excelência é Cristo, ele, que sintetiza e traz em si todo o povo de Israel. Pois bem, pelo batismo, tendo recebido o Espírito do Cristo, nós todos nos tornamos membros seus, membros do seu corpo, que é a Igreja:
Com ele fomos sepultados pelo batismo na morte para que, assim como Cristo ressuscitou dos mortos pela glória do Pai, assim também nós vivamos uma vida nova. Pois, se nos tornamos uma só coisa com ele por sua morte, também seremos uma só coisa com ele por uma ressurreição semelhante à sua (Rm 6,4s).
Pois num só Espírito todos nós fomos batizados para sermos um só corpo e todos, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres, bebemos do mesmo Espírito (1Cor 12,13).
Sendo uma só coisa com Cristo, membros seus, somos, em Cristo, descendência de Abraão segundo o Espírito de Cristo! Trata-se de uma união misteriosa e real com o Senhor Jesus ressuscitado!
A Igreja é, portanto, o corpo de Cristo e dele recebe vida, harmonia, crescimento e direção:
(Ele é) a Cabeça, pela qual todo o Corpo, alimentado e coeso pelas juntas e ligamentos, realiza o seu crescimento em Deus (Cl 2,19).
Esta idéia é belíssima e profunda: a Igreja está constantemente unida a Cristo, recebe a vida de Cristo, depende de Cristo, é continuamente sustentada por Cristo. Uma idéia similar é encontrada nas palavras de Jesus na alegoria da videira e dos ramos (cf. Jo 15,1-11). Como os ramos não sobreviveriam sem a seiva do tronco e a ele unidos, assim também a Igreja, não poderia sobreviver senão unida a Cristo e sendo continuamente vivificada pelo seu Espírito Santo:
Há um só Corpo e um só Espírito, assim como é uma só a esperança da vocação a que fostes chamados (Ef 4,4).
Esta, então, é a grande realidade de nossa união com Cristo: somos seu corpo e membros uns dos outros: todo o Antigo Testamento caminhava para este mistério tão grandioso:
Portanto, ninguém vos julgue por questões de comida e de bebida, ou a respeito de festas anuais ou de lua nova ou de sábados, que são apenas sombra de coisas que haviam de vir, mas a realidade é o corpo de Cristo. Ninguém, com afetada humildade ou com o culto dos anjos, vos prive do prêmio, fazendo alarde do que viu, inchado de um vão orgulho por seu pensamento carnal, ignorando a Cabeça, pela qual todo o Corpo, alimentado e coeso pelas juntas e ligamentos, realiza seu crescimento em Deus (Cl 2,16-19).
Esta realidade de ser corpo de Cristo chega ao máximo na eucaristia:
Quem come minha carne e bebe meu sangue tem a vida eterna e eu o ressuscitarei no último dia. Porque minha carne é verdadeiramente comida e meu sangue é verdadeiramente bebida. Quem come minha carne e bebe meu sangue permanece em mim, e eu nele. Assim como o Pai, que vive, me enviou, e eu vivo pelo Pai, assim também quem comer de minha carne viverá por mim (Jo 6,54-57).
O cálice de bênção que abençoamos não é ele a comunhão com o sangue de Cristo? E o pão que partimos não é ele a comunhão com o corpo de Cristo? Já que há um único pão, nós embora muitos, somos um só corpo, pois todos participamos desse único pão (1Cor 10,16s).
A ponto de São Paulo afirmar que quem come o Corpo de Cristo na eucaristia sem discernir o corpo do Senhor, que é a Igreja, come e bebe a própria condenação:
Por conseguinte, que cada um se examine a si mesmo antes de comer desse pão e bebe desse cálice, pois aquele que come e bebe sem discernir o Corpo, come e bebe a própria condenação (1Cor 11, 28).
Afirmar que a Igreja é corpo de Cristo, leva-nos a algumas conseqüências muito importantes:
(i) A imagem do corpo ressalta a unidade da Igreja; unidade que é fruto da presença do Espírito do Ressuscitado. Se os membros são muitos, no entanto o corpo é um só! Cristo só tem um corpo, como também reuniu um só povo. Este povo, este corpo é a Igreja! Veremos isso de modo mais detalhado quando pensarmos na unidade e unicidade da Igreja de Cristo, mais adiante.
Ele é a nossa paz: de ambos os povos fez um só, tendo derrubado o muro de separação... a fim de criar em si mesmo um só Homem Novo, estabelecendo a paz e de reconciliar a ambos com Deus em um só Corpo (Ef 2,14s).
Fomos todos batizados num só Espírito para ser um só corpo (1Cor 12,13).
(ii) Se a Igreja é corpo de Cristo, esse corpo é formado por membros diversos, com diversos carismas e ministérios, todos eles suscitados pelo Espírito do Ressuscitado. Na Igreja ninguém é expectador, ninguém fica de fora: leigo (laikós) quer dizer: o que está por dentro (= laós: povo de Deus + ikós: o que pertence a = leigo: o que pertence ao povo de Deus).
Há diversidade de dons mas um mesmo é o Espírito. Há diversidade de ministérios mas um mesmo é o Senhor. Há diferentes atividades mas um mesmo é Deus que realiza todas as coisas em todos. A cada um é dada a manifestação do Espírito em vista do bem comum. Porque, assim como o corpo, sendo um só, tem muitos membros e todos os membros do corpo, sendo muitos, são um só corpo, assim também é Cristo (1Cor 12,4-7.12).
(iii) A imagem do corpo recorda-nos também com clareza que a Igreja depende totalmente do Cristo, e isso de modo constante. É Cristo quem vivifica a sua Igreja e a sustenta, sobretudo pelos sacramentos – a idéia da carne de Cristo que dá vida e da videira e dos ramos são ilustração dessa realidade:
É ele que a uns fez apóstolos, a outros profetas, a estes evangelistas, àqueles pastores e doutores, para o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, na edificação do Corpo de Cristo, até que todos nós cheguemos à unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, até atingirmos o estado de Homem Perfeito, a medida da estatura da plenitude de Cristo. Assim, não sejamos mais como crianças ao sabor das ondas, agitados por qualquer sopro de doutrina, ao capricho da maldade dos homens e de seus artifícios enganosos. Mas, vivendo segundo a verdade e na caridade, cresceremos em tudo, achegando-nos àquele que é nossa Cabeça, Cristo. Em virtude de sua vida, o Corpo, todo coordenado e unido por cada vínculo de ministério que corresponde à força própria de cada membro, cresce e se edifica na caridade (Ef 4,11-16).
(iv) Ligada à imagem do corpo, há também a idéia da Igreja como esposa, amada por Cristo, única eleita. A idéia de esposa ajuda a corrigir a idéia do corpo:
E vós, maridos, amai as vossas mulheres como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela, a fim de purificá-la com o banho da água e santificá-la pela Palavra... Quem ama a sua mulher ama-se a si mesmo, pois ninguém jamais quis à sua própria carne, antes alimenta-a e dela cuida, como também faz Cristo com a Igreja (Ef 5,25s.28b-29).
Se, por um lado, a Igreja é uma só coisa com Cristo, como seu corpo, por outro, é distinta de Cristo, como sua esposa: Cristo é criador; a Igreja é criatura. Entre o Cristo e sua Igreja a distância é infinita (por isso São Paulo usa também as idéias machistas da sociedade patriarcal da época para exprimir a relação entre a Igreja-esoposa e o Cristo-esposo).
(v) A imagem do corpo, finalmente, deixa claro que a Igreja é central no plano de Deus: ela é o espaço da nossa salvação; é nela que o Espírito do Cristo age, unindo-nos ao nosso Salvador. É impossível, absolutamente, um Cristo sem Igreja. Mais ainda: a plenitude do Cristo, como cabeça do corpo, somente vai acontecer na plenitude da Igreja, no final dos tempos. É um mistério impressionante: a plenitude do Filho de Deus feito homem está ligada indissoluvelmente à plenitude do corpo, que é a Igreja:
Tudo ele (o Pai) pôs debaixo de seus pés, e o pôs acima de tudo, como Cabeça da Igreja, que é o seu Corpo: a plenitude daquele que plenifica tudo em tudo (Ef 1,22).
Esta união íntima e misteriosa é também entre cada membro e todo o corpo, que é a Igreja:
Agora eu me regozijo nos meus sofrimentos por vós, e completo na minha carne, o que falta das tribulações do Cristo pelo seu Corpo, que é a Igreja (Cl 1,24).
c)A Igreja, templo do Espírito
Demos, agora, mais um passo: precisamente porque a Igreja é corpo de Cristo, ela é também templo do Espírito:
Estava próxima a Páscoa dos judeus. Jesus subiu a Jerusalém e encontrou no Templo vendedores de bois, de ovelhas e pombas e os cambistas sentados. Fez um chicote de cordas e expulsou todos do Templo, com as ovelhas e os bois; esparramou no chão o dinheiro dos cambistas e derrubou as mesas. Aos que vendiam as pombas, disse: “Tirai daqui tudo isso e não façais da casa de meu Pai uma casa de comércio”. Lembraram-se os discípulos de que está escrito: O zelo de tua casa me consome.
Os judeus tomaram a palavra e lhe perguntaram: “Que sinal nos dás para fazeres isto?”
Jesus respondeu: “Destruí este Templo e em três dias eu o levantarei”. Então os judeus disseram: “Quarenta e seis anos levou a construção deste Templo e tu vais levantá-lo em três dias?” Mas ele falava do Templo de seu corpo. Quando ressuscitou dos mortos, os discípulos se lembraram do que ele havia dito e creram na Escritura e na palavra de Jesus (Jo 2,13-22).
Com a sua páscoa, Jesus pleno do Espírito Santo, foi totalmente transfigurado no seu corpo, que agora, ressuscitado, é templo do Espírito, é o novo lugar de encontro entre Deus e a humanidade. O Templo dos judeus, portanto, era somente imagem e prefiguração do corpo do Ressuscitado, verdadeiro templo de Deus:
Ora, quando os sacerdotes saíram do lugar santo, a Nuvem encheu o templo do Senhor, modo que os sacerdotes não puderam continuar as funções por causa da Nuvem; é que a glória do Senhor tinha enchido o templo do Senhor.
Salomão disse: “O Senhor quis morar na Nuvem escura. Eu construí para ti uma morada, uma mansão para tua perpétua habitação” (1Rs 8,10-13).
Na Escritura, a Nuvem, a Glória, a Shekinah, são símbolos do Espírito Santo! Portanto, o templo tomado pela Nuvem é profecia do corpo de Cristo, plenificado e habitado pelo Espírito! Ora, este templo de Deus, corpo de Cristo, pleno do Espírito Santo, é a Igreja:
Assim já não sois estrangeiros e hóspedes mas concidadãos dos santos e membros da família de Deus, edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, tendo por pedra principal o próprio Cristo Jesus. É nele que todo edifício, harmonicamente disposto, se une e cresce até formar um templo santo no Senhor; nele vós também sois integrados na construção para vos tornardes morada de Deus no Espírito (Ef 2,19-22).
Vós sois o edifício de Deus. Não sabeis que sois um templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? O templo de Deus é santo e esse templo sois vós (1Cor 3,9.16s).
Em Cristo, bem articulado, todo o edifício se ergue em santuário sagrado, no Senhor, e vós, também, nele sois co-edificados para serdes uma habitação de Deus, no Espírito (Ef 2,21s).
Também vós, como pedras vivas, constituí-vos em um edifício espiritual (= no Espírito), dedicai-vos a um sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais (= no Espírito) aceitáveis a Deus por Jesus Cristo (1Pd 2,5).
Santo Agostinho compreendeu bem o significado desses textos bíblicos:
Aquilo que o nosso espírito, ou seja, a nossa alma, é para os nossos membros, o mesmo é o Espírito Santo para os membros de Cristo, para o corpo de Cristo, que é a Igreja.
Dizer que a Igreja é templo do Espírito, significa:
(i) que a Igreja é permanentemente habitada e possuída pelo Santo Espírito; que a edifica continuamente, fazendo-nos pedras vivas;
(ii) que a Igreja é santa, porque totalmente habitada pelo Espírito de Santidade, de modo a ser coluna e fundamento da verdade (cf. 1Tm 3,15).
(iii) que o Espírito a edifica como templo que é ao mesmo tempo corpo de Cristo para a glória do Pai!
d) Conclusão
A Igreja, então, é realmente povo de Deus, pois foi tornada corpo de Cristo pelo Espírito Santo recebido no batismo. Este mesmo Espírito é o que glorificou o corpo de Jesus ressuscitado, tornando-o seu templo santo. Assim, porque corpo de Cristo, a comunidade eclesial é realmente templo do Santo Espírito, é comunhão do Espírito Santo e no Espírito Santo!

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