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domingo, 22 de dezembro de 2013

Jesus nasceu em Belém ou Nazaré?


São Mateus disse de maneira explicita que Jesus nasceu em «Belém da Judeia no tempo do rei Herodes» (Mt 2,1; cf 2,5.6.8.16) e o mesmo diz São Lucas (Lc 2,4.15). O quarto evangelho menciona-o de maneira indirecta. No contexto de uma discussão a propósito da identidade de Jesus: «Uns diziam: ”Ele é realmente o profeta”. Diziam outros: “É o Messias”. Outros, porém, replicavam: “Mas pode lá ser que o Messias venha da Galileia?!” Não diz a Escritura que o Messias vem da descendência de David e da cidade de Belém, donde era David?» (Jo 7, 40-42). O quarto evangelista recorre aqui a uma ironia: tanto ele como o leitor cristão sabem que Jesus é o Messias e nasceu em Belém. Alguns opositores de Jesus querem demonstrar que Ele não é o Messias dizendo que, se o fosse, teria nascido em Belém, mas eles sabem (julgam saber), pelo contrário, que Jesus nasceu em Nazaré. Este procedimento é habitual no quarto evangelho (Jo 3,12; 6,42; 9,40-1).  Por exemplo, a mulher samaritana pergunta a Jesus: «Porventura és maior do que o nosso patriarca Jacob?» (Jo 4,12). Os leitores de João sabem que Jesus é o Messias, Filho de Deus, superior a Jacob, de modo que a pergunta da mulher era uma afirmação dessa superioridade. Portanto, o evangelista prova que Jesus é o Messias, servindo-se até das afirmações dos seus opositores.

Este foi o consenso comum ente crentes e investigadores durante mais de mil e novecentos anos. No entanto, no século passado, alguns investigadores afirmaram que Jesus é chamado em todo o Novo testamento «o Nazareno» (o que é, ou o que provém, de Nazaré) e que a menção a Belém como local do nascimento de Jesus obedece a uma invenção de Mateus e Lucas, que revestem Jesus de uma das características que naquele momento se atribuía ao futuro Messias: ser descendente de David e nascer em Belém. O certo é que uma argumentação como esta não prova nada. No século I dizia-se bastantes coisas sobre o futuro Messias que não se cumprem em Jesus e, pelo que sabemos, não parece que a do nascimento em Belém fosse uma das que mais frequentemente se invocava como prova. Há que raciocinar antes de forma inversa: pelo facto de Jesus, que era de Nazaré (quer dizer, que ali fora criado), ter nascido em Belém, é que os Evangelistas descobrem, nos textos do Antigo Testamento, que nele se cumpre essa qualidade messiânica. Além disso, todos os testemunhos da tradição comprovam todos os dados evangélicos. São Justino, nascido na Palestina por volta do ano 100 d.C, menciona, uns cinquenta anos mais tarde, que Jesus nasceu numa gruta perto de Belém (Giálogo, 78). Os Evangelhos apócrifos atestam o mesmo (Protoevangelho de Tiago, 17 ss; Evangelho da infância, 2-4; Pseudo-Mateus 13).

Em suma, segundo o consenso dos estudiosos actuais, não há argumentos fortes para ir contra o que afirmam os Evangelhos e se recebeu de toda a tradição: Jesus nasceu em Belém da Judeia no tempo do rei Herodes.

Quanto ao lugar concreto em Belém, Lucas indica que Maria, depois de ter dado à luz o seu filho, «recostou-O numa manjedoura por não haver lugar para eles na hospedaria» (Lc 2,7). A «manjedoura» indica que no lugar onde nasceu Jesus se guardava o gado. Lucas assinala também que o menino deitado na manjedoura será sinal para os pastores de que ali nasceu o Salvador (Lc 2, 12.16). A palavra grega empregue para «hospedaria» é Katállyma. Designa a divisão espaçosa das casas que podia servir como sala ou como quarto de hospedes. No Novo Testamento utiliza-se mais duas vezes a mesma palavra (Lc 22,11 e Mc 14,14) para indicar a sala onde Jesus celebrou a última ceia com os seus discípulos. Possivelmente o evangelista quis assinalar com as suas palavras que esse lugar não permitia preservar a intimidade do acontecimento.

HÉLDER GONÇALVES
 
Fonte Eletrônica;

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

O QUE SIGNIFICA A COROA DO ADVENTO?

coroa-do-advento
 
A vela sempre teve um significado especial para o homem, sobretudo porque antes de ser descoberta a eletricidade ela era a vitória contra a escuridão da noite. À luz das velas São Jerônimo traduzia a Bíblia do grego e do hebraico para o latim, nas grutas escuras de Belém onde Jesus nasceu.
Em casa, a noite, quando falta a energia, todos correm atrás de uma vela e de um fósforo, ainda hoje.
Acender velas nos faz lembrar também a festa judaica de “Chanuká”, que celebra a retomada da Cidade de Jerusalém pelos irmãos macabeus das mãos dos gregos do rei Antíoco IV.
Antes da era cristã os pagãos celebravam em Roma a festa do deus Sol Invencível (Dies solis invicti) no solstício de inverno, em 25 de dezembro. A Igreja sabiamente começou a celebrar o Natal de Jesus neste dia, para mostrar que Cristo é o verdadeiro Deus, o verdadeiro Sol, que traz nos seus raios a salvação. É a festa da luz que é o Cristo: “Eu Sou a Luz do mundo” (Jo 12, 8). No Natal desceu a nós a verdadeira Luz “que ilumina todo homem que vem a este mundo” (Jo 1, 9).
Na chama da vela estão presentes as forças da natureza e da vida. Cada vela marca um ano de nossa vida no bolo de aniversário. Para nós cristãos simbolizam a fé, o amor e o trabalho realizado em prol do Reino de Deus. Velas são vidas que se imolam na liturgia do amor a Deus e ao próximo. Tudo isso foi levado para a liturgia do Advento. Com ramos de pinheiro uma coroa com quatro velas prepara os corações para a chegada do Deus Menino.
Nessas quatro semanas somos convidados a esperar Jesus que vem. É um tempo de preparação e de alegre espera do Senhor. Nas duas primeiras semanas do Advento, a liturgia nos convida a vigiar e esperar a vinda gloriosa do Salvador. Nas duas últimas, a Igreja nos faz lembrar a espera dos Profetas e de Maria pelo nascimento de Jesus.
A Coroa é o primeiro anúncio do Natal. O verde é o sinal de esperança e vida, enfeitada com uma fita vermelha que simboliza o amor de Deus que se manifesta de maneira suprema no nascimento do Filho de Deus humanado. A branca significa a paz que o Menino Deus veio trazer; a roxa clara (ou rosa) significa a alegria de sua chegada.
A Coroa é composta de quatro velas nos seus cantos presas aos ramos formando um círculo. O círculo não tem começo e nem fim, é símbolo da eternidade de Deus e do reinado eterno do Cristo. A cada domingo acende-se uma delas.
As quatro velas do Advento simbolizam as grandes etapas da salvação em Cristo.
1 – No primeiro domingo do Advento, acendemos a primeira vela – vermelha - que simboliza o perdão a Adão e Eva. Cristo desceu a Mansão dos mortos para dar-lhes o perdão.
2 – No segundo domingo - a segunda vela – esperança, acesa com a primeira, representa a fé dos Patriarcas: Abraão, Isaac, Jacó, que creram na Promessa da Terra Prometida, a Canaã dos hebreus; dali nasceria o Salvador, a Luz do Mundo.
3 – A terceira vela - rosa - acessa com as duas primeiras, simboliza a alegria do rei Davi, o rei que simboliza o Messias porque reuniu sob seu reinado todas as tribos de Israel, assim como Cristo reunirá em si todos os filhos de Deus. É o domingo da alegria. Esta vela têm uma cor mais alegre, o rosa ou roxo claro.
4 – A última vela – branca - simboliza os Profetas, que anunciaram um reino de paz e de justiça que o Messias traria. É a vela branca.
Tudo isso para nos lembrar o que anunciou o Profeta:
“Um renovo sairá do tronco de Jessé, e um rebento brotará de suas raízes.Sobre ele repousará o Espírito do Senhor, Espírito de sabedoria e de entendimento, Espírito de prudência e de coragem, Espírito de ciência e de temor ao Senhor”. (Is 11,1-2)
“O povo que andava nas trevas viu uma grande luz; sobre aqueles que habitavam uma região tenebrosa resplandeceu uma luz. Vós suscitais um grande regozijo, provocais uma imensa alegria; rejubilam-se diante de vós como na alegria da colheita, como exultam na partilha dos despojos. 3. Porque o jugo que pesava sobre ele, a coleira de seu ombro e a vara do feitor, vós os quebrastes, como no dia de Madiã. Porque todo calçado que se traz na batalha, e todo manto manchado de sangue serão lançados ao fogo e tornar-se-ão presa das chamas; porque um menino nos nasceu, um filho nos foi dado; a soberania repousa sobre seus ombros, e ele se chama: Conselheiro admirável, Deus forte, Pai eterno, Príncipe da paz. Seu império será grande e a paz sem fim sobre o trono de Davi e em seu reino. Ele o firmará e o manterá pelo direito e pela justiça, desde agora e para sempre. Eis o que fará o zelo do Senhor dos exércitos” (Is 9,1-6).
 
  • Prof. Felipe Aquino
assessoria@cleofas.com.br
O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”.Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.

QUEM IDEALIZOU O PRESÉPIO?

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São Francisco de Assis foi quem idealizou o Presépio que hoje montamos. Em 1223, no dia 29 de novembro, o Papa Honório III com a Bula Solet annuere aprovou definitivamente a Regra dos Frades Menores. Nas semanas seguintes Francisco de Assis dirigiu-se para o eremitério de Greccio, onde expressou seu desejo de celebrar o Natal naquele lugar. Para uma pessoa do local ele disse que queria ver com os “olhos do corpo” como o menino Jesus, na sua escolha de humilhação, foi deitado numa manjedoura. Portanto, determinou que fossem levados para um lugar estabelecido um burro e um boi – que de acordo com a tradição dos Evangelhos apócrifos estavam junto do Menino – e sobre um altar portátil colocado na manjedoura foi celebrada a Eucaristia. Para Francisco, como os apóstolos viram com os olhos corporais a humanidade de Jesus e acreditaram com os olhos do espírito na sua divindade, assim a cada dia quando vemos o pão e o vinho consagrados sobre o altar, acreditamos na presença do Senhor no meio de nós.
  • Prof. Felipe Aquino
assessoria@cleofas.com.br
O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”.Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova

OS COPTAS: QUEM SÃO?

Cardeal Antonios Naguib, Patriarca Alexandria Coptas Egito
Em síntese: Os Coptas são os cristãos do Egito, que no século V adotaram o monofisismo condenado pelo Concilio de Calcedônia (451). No século XVI uma parte da população copta reuniu-se à Igreja Católica, reconhecendo o primado de Pedro. Os dissidentes já não professam a heresia que lhes ocasionou a origem. Estenderam sua pregação até a Etiópia, onde também existem comunidades coptas.
A palavra copta deriva-se do árabe Qoubt, que é a deformação do grego Aigyptioi. Designa as habitantes do Egito anteriores à invasão árabe (século VIII) aderiram ao Evangelho no início da era cristã, mas no século V abraçaram a heresia monofisita, que o Concilio de Calcedônia (451) condenara. Formaram assim a Comunhão Egípcia Copta com ramificações na Etiópia (Abissínia). A partir do século XVI muitos dos dissidentes se uniram à Sé de Pedro em Roma de modo que há atualmente coptas separados da Igreja Católica e outros (em menor número e somente no Egito) unidos à Santa Sé.
Veremos, a seguir, a história e a doutrina de fé dos coptas.
Coptas monofisistas: histórico
Desde os primeiros séculos do Cristianismo registrou-se certa rivalidade entre a sé de Alexandria e a de Bizâncio (Constantinopla) aquela podia fazer valer sua origem no tempo dos Apóstolos (fundada por São Marcos?), ao passo que esta era uma cidade pequena promovida em 330 a capital do Império Romano e sede do poder imperial, muitas vezes despótico e pouco simpático. Tal rivalidade se acentuou por ocasião da controvérsia ariana: S. Atanásio de Alexandria (+ 373) defendia a reta fé contra a heresia ariana tutelada de certo modo pelos imperadores bizantinos; com Atanásio estavam os monges do Egito, que eram os guias espirituais da população local.
No fim do séc. IV o bispo Teófilo de Alexandria esteve em posição hostil a São João Crisóstomo de Constantinopla, sendo o alexandrino apoiado pelo poder imperial.
Em meados do século V o bispo Dióscoro de Alexandria propôs a teoria monofisita: em Cristo havia uma só pessoa (divina) e uma única natureza (divina), pois a natureza teria sido absorvida pela divina. Tal teoria foi rejeitada pelo Concilio de Calcedônia (451), pois destruía o conceito mesmo de Encarnação. Os cristãos do Egito separaram-se então da Igreja Católica. O governo imperial, usando de violência, impôs a Alexandria o bispo ortodoxo Protério, donde resultou um tumulto popular e a morte do prelado. O monofisismo foi-se implantando cada vez mais no Egito, apesar das intervenções do governo imperial, que para lá enviava bispos ortodoxos.
Em 617 os persas invadiram o Egito e reconheceram tão somente a hierarquia monofisita. Doze anos mais tarde, sobreviveram os árabes muçulmanos, que confirmaram o predomínio do monofisismo: este passou a constituir como que um Estado dentro do Estado muçulmano, sendo o Patriarca copta chefe religioso e civil, com sua legislação e seus tribunais próprios Em breve, porém, começou a pressão árabe os cristãos foram submetidos a vexames e pesados impostos – o que redundou na apostasia de muitos, a tal ponto que já não convinha aos muçulmanos, pois os convertidos deixavam de pagar impostos. Os monofisitas fiéis foram tratados como parias, de modo que a população monofisita do Egito perdeu quase todo o seu significado no país.
Tal situação se pro traiu até o século XIX, quando o governo egípcio resolveu conceder liberdade religiosa a todos os cidadãos. – Eis, porém, que a péssima administração eclesiástica copta provocou uma revolta de leigos influentes na Igreja: a rebelião durou dez anos, ou seja, de 1882 a 1892. Somente em 1928 a situação na comunidade copta se normalizou, estando porém a Igreja muito enfraquecida: restavam poucos dos numerosos mosteiros de outrora. O cidadão copta no Egito ainda é considerado de categoria inferior. Não obstante, os fiéis se sentem membros de uma grande família unida e solidária em torno do seu Patriarca que é como um pai para todos.
Coptas monofisitas: doutrina
O ponto crucial é a Cristologia. Verifica-se, porém, que, embora os coptas guardem grande estima por Dióscoro, o arauto do monofisismo, condenado em Calcedônia, já não professam a mesma heresia. Com efeito, na segunda metade do século V o Patriarca Timóteo Eluro, de Alexandria, tomou posição contra o rígido monofisismo e confessou ter permanecido em Cristo toda a substância de autêntico ser humano, em virtude da qual o Emanuel é consubstancial com a Virgem Maria; todavia, dizia Timóteo Eluro, não é lícito falar de duas naturezas em Cristo, pois isto poderia implicar o erro de Nestório, que admita duas naturezas e duas pessoas em Cristo (em suma as discussões teológicas da época eram alimentadas, muitas vezes, pela polivalência dos vocábulos do que pela diferença dos conceitos). A concepção cristológica de Timóteo é ortodoxa; foi reafirmada pelos Patriarcas Sanúcio (século IX) e Menos (século X), que professavam haver em Cristo tudo o que é de Deus e tudo o que é do homem sem mistura nem deterioração do Divino e do humano. Tal profissão de fé perdura até hoje entre os coptas, todavia sem referência a Calcedônia.
No tocante à SSma. Trindade, os teólogos coptas reconhecem um só Deus em três pessoas, mas não entram no debate do Filioque existente entre latinos e gregos; no Credo professam: “Creio no Espírito Santo” sem acrescentar … “o qual procede do Pai”. Recentemente, porém registra-se a atitude de escritores coptas que apoiam os bizantinos na sua recusa do Filioque
O primado de Pedro foi aceito pelos coptas antigos, cujo porta-voz seja ibn Saba ao escrever “Os nossos pais, os Apóstolos, foram edificados sobre a pedra que é Pedro, chefe universal”. Contudo não se encontram explícitos testemunhos do primado dos sucessores de Pedro. A Teologia copta moderna rejeita o primado romano sob a influência dos escritores bizantinos.
Os coptas admitem a doutrina do purgatório, mas as suas concepções sobre o além não são claras, mescladas como estão com noções de antiga religião egípcia. Além do sacramento da Unção dos Enfermos, têm um óleo bento no sábado santo e ministrado aos adultos que gozam de boa saúde, mas vivem em estado de pecado grave. O sacramento da Ordem, segundo os mestres coptas, não imprime caráter indelével. Aceitam o divórcio para os casos de adultério e de total incompatibilidade de gênios. Praticam a confissão auricular.
3. No Egito os coptas católicos
No Egito – e somente no Egito – existe uma comunidade copta católica.
Com efeito. No século XVI os franciscanos missionários no Egito deram início a uma pregação mais sistemática entre os coptas – o que foi redundando na conversão de certo número à fé católica. Em 1739 o bispo copta de Jerusalém chamado Atanásio, tendo ido ao Cairo, converteu-se à fé católica e em 1741 foi por Bento XIV nomeado Vigário Apostólico dos coptas católicos, que eram então cerca de dois mil. Tal prelado, porém não assumiu atitudes claras perante os monofisitas, pelo que foi substituído por Mons. Giusto Manghim, que recebeu o título de Vigário Geral.
Somente no século XIX foi decretada plena liberdade religiosa no Egito; para aproveitar a oportunidade de maior expansão, o Papa Leão XIII quis organizar melhor a Igreja Católica no Egito, dando-lhe uma hierarquia; foi nomeado Patriarca de Alexandria Mons. Cirillo Nacário, o qual apostou em 1908, causando grave dano à comunidade católica. Esta foi-se reerguendo aos poucos, principalmente após a guerra de 1914-18; de 1927 a 1937 o número de fiéis passou de 20.000 a 47.000. Pouco após a segunda guerra mundial (1939-45) eram 63.000, com 88 presbíteros e 70 igrejas. Aos 9/08/1947 foi de novo nomeado um Patriarca católico para Alexandria e foi criada a diocese de Assiut, que, com a de Minia (criada em 1938) constituía a Igreja católica copta do Egito.
4. Na Etiópia os coptas
Os etíopes ou abissínos foram evangelizados por missionários provenientes do Egito em meados do século IV; o Patriarca de Alexandria se encarregava de lhes mandar um Bispo ou abuna que os governasse (costume que persistiu durante séculos).
No século V passaram-se, com os coptas, para o monofisismo.
No decorrer dos tempos os cristãos sofreram perseguição por parte de pagãos e muçulmanos, o que lhes causou danos e perdas, principalmente quando o Patriarca de Alexandria não lhes podia mandar um abuna. Apesar do clima hostil, os cristãos etíopes traduziram seus livros litúrgicos para o gheez, língua do Tigre, e os monges se dedicaram à vida intelectual.
No século XVII os jesuítas portugueses converteram à fé católica, o rei Susnéos e uma parte da população; estes frutos missionários tiveram pouca duração; o abuna Salma se distinguiu na recusa a qualquer ulterior tentativa de conversão. No começo do século XX os cristãos da Etiópia pleitearam sua independência frente a Alexandria. O Patriarca se mostrou contrário a esta perspectiva, mas finalmente concedeu ordenar cinco bispos para aquele país em 1929 e 1930. Quando os italianos ocuparam a região em 1935, empenharam-se por obter a independência da comunidade copta etiópica frente ao Egito. Nada tendo conseguido, em 1937 convocaram um Concilio nacional abissínio, que elegeu como abuna um os bispos locais. A isto respondeu a autoridade religiosa egípcia com um decreto de excomunhão para o eleito. Não obstante, as aspirações dos etíopes não esmoreceram. Após a partida dos italianos em 1942, um congresso nacional etíope empreendeu conversações com os egípcios. Estas, tendo durado seis anos, terminaram num acordo, segundo o qual, após a morte do então abuno seria nomeado um arcebispo nativo, que governaria a Igreja, ordenado porém pelo Patriarca de Alexandria. Os monges desempenharam papel muito importante nessa grande família religiosa.
Ao lado dos etíopes monofisitas, existe no país uma pequena comunidade católica, devida ao trabalho missionário dos padres lazaristas que foram para a Abissínia em 1839 sob a orientação do Bem-aventurado Justino de Jacobis. Os católicos abissínios expandiram-se pela Eritréia, sempre como minoria sofrida sob os regimes do governo local.
5. Conclusão
Como se pôde perceber, as diferenças doutrinárias entre coptas e católicos não são de grande monta; os coptas são guardas fiéis da tradição com seus valores perenes. Isto se compreende ainda melhor se se leva em conta que o Egito foi o berço do monaquismo, tanto do eremítico (Santo Antão foi o pioneiro), quanto do cebobitico (com São Pacômio). Possam estes títulos superar os preconceitos nacionalistas que dificultam a volta à unidade!
Revista: “PERGUNTE E RESPONDEREMOS”
D. Estevão Bettencourt, Osb
Nº 504, Ano 2004, p. 242
    Yarpp

    Prof. Felipe Aquino
    assessoria@cleofas.com.br
    O Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”.Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.

    domingo, 1 de dezembro de 2013

    Primeiro Domingo do Advento



    A CHEGADA do Advento introduz a Igreja em um novo ano litúrgico. Vivendo esse período com autêntico espírito evangélico, o cristão pode, certamente, experimentar os frutos desta escola de santidade, abrindo as portas de sua casa para "a Luz dos povos" que é Cristo.

    O Advento, assim como a Quaresma, também insiste na necessidade da penitência e da oração como vias de purificação da alma. Mas de uma maneira diferente. Enquanto que na Quaresma a Igreja tem como prática principal, por assim dizer, o jejum, no Advento, os fiéis são incentivados a fazer vigílias, preparando seus corações para a chegada da criança. Animada pelas palavras do Anjo aos três reis magos - "eis que vos anuncio uma boa nova que será alegria para todo o povo: hoje vos nasceu na Cidade de Davi um Salvador, que é o Cristo Senhor" (Cf. Lc 2, 11) -, toda a Igreja põe-se de guarda à espera d’Aquele que "dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo"02.

    As primeiras semanas do Advento, no entanto, não tratam diretamente da vinda do Cristo Menino, mas da parusia; quer dizer, da Segunda Vinda de Jesus. Com efeito, o Evangelho deste domingo fala em "vigília" e "atenção", "porque, na hora em que menos pensais, o Filho do Homem virá" (Cf. Mt 24, 44). Com estas palavras, a liturgia quer suscitar entre os cristãos a consciência de que o retorno do "Filho do Homem" a este tempo e a esta história deve ser não somente esperado, como também preparado, pois como "nos dias, antes do dilúvio, todos comiam e bebiam (...), até que veio o dilúvio e arrastou a todos. Assim acontecerá também na vinda do Filho do Homem" (Cf. Mt 24, 38).

    Todavia, viver essa fé, para os dias de hoje, pode soar um tanto quanto surreal, e mesmo dentro da Igreja. Criou-se a impressão de que a espiritualidade cristã - assim como qualquer outra religião - tratar-se-ia apenas de uma fantasia, um "faz de conta" que para ser alimentado, necessita dos ensinamentos da Igreja e de suas práticas devocionais. Realista seria, por outro lado, o estilo de vida mundano que, com suas filosofias e propagandas, rende-se às seduções da carne, do mundo e do diabo.

    Um olhar atento sobre a realidade dos que não creem, no entanto, permite enxergar o quão equivocada está essa ideia e, ao mesmo tempo, identificar que o verdadeiro realista é precisamente aquele que crê.

    Naturalmente, todo ser humano busca a felicidade. Por conseguinte, o marido que trai sua mulher repetidas vezes também deseja ser feliz; o jovem que se entrega ao vício da pornografia; a mulher vestida à guisa de uma prostituta para provocar os rapazes; o garoto viciado em crack e tutti quanti. Ora, não é preciso muito esforço para perceber o vazio no qual se encontra a vida dessas pessoas. Elas buscam a felicidade, mas terminam tristes, pois se tornaram escravas do pecado.

    As palavras de Cristo no Evangelho deste domingo vêm a calhar justamente por isso. O homem é chamado a vigiar para não cair no engodo diabólico de que a felicidade se encontra fora do redil do Senhor. Uma vez que foste criado para Deus, diz Santo Agostinho, o coração do homem "está inquieto enquanto não encontrar em Ti descanso"03. Mas para manter essa fé, o homem deve, necessariamente, lutar, combater o bom combate. E esse combate se dá por meio das normas de piedade: a frequência aos sacramentos, a recitação do rosário e demais jaculatórias, a doação de esmolas e outros atos de caridade e etc. Mas por que essas coisas são necessárias?

    Antecipando o ensinamento da Igreja acerca do pecado original, Platão já havia identificado, em sua época, que o ser humano padece de uma enfermidade. O filósofo descreve essa condição do homem por meio de uma analogia: uma carruajem sendo guiada por dois cavalos. A carruajem seria a razão, e os dois cavalos, as potências da carne: as faculdades irascível e concupiscente. Se orientadas pela razão, as duas faculdades podem conduzir o passageiro desta carruajem para o bem, mas se a razão se deixar dominar por ambas, o caminho será, certamente, desastroso.

    Assim também observa São Paulo na sua carta aos Romanos: "despojemo-nos das ações das trevas e vistamos as armas da luz" (Cf. Rm 13, 12). O apóstolo está exortando a comunidade, a fim de conduzi-la à atitude do sentinela. Sabendo que "agora a salvação está mais perto de nós do que quando abraçamos a fé", diz ao rebanho que "já é hora de despertar". É um convite a uma fé mais madura que, não por acaso, também se encontra na homilia do Cardeal Joseph Ratzinger feita na abertura do Conclave de 2005 e que, ainda hoje, vale como um alerta para o mundo e, sobretudo, para a Igreja: "Devemos amadurecer esta fé adulta, a esta fé devemos conduzir o rebanho de Cristo. E é esta fé – só a fé – que cria unidade e se realiza na caridade."04

    Não obstante, esta fé mais madura só é possível se auxiliada pela graça de Deus. Os cristãos devem fugir da tentação pelagiana de querer alcançar o céu pelos próprios esforços. Como tanto tem insistido o Papa Francisco, cada batizado deve se entregar nos braços de Deus, revestindo-se - como pede São Paulo na segunda leitura - "do Senhor Jesus Cristo". Este é o único e verdadeiro caminho para a glória e a felicidade eternas.

    O cristão nasceu para o combate; e o primeiro combate a ser travado é aquele contra as próprias inclinações, orando e vigiando. Ficai vigilantes, porque o Senhor está próximo.

    ____
    Fonte:
    Site Padre Paulo Ricardo, disponível em 
    http://padrepauloricardo.org/episodios/primeiro-domingo-do-advento-vigiai
    Acesso 30/11/013

    A Virgem Maria na Bíblia – Novo e Velho Testamentos

    Um texto muito bom sobre a Santíssima Virgem Maria nas Escrituras. Enviado para o Blog pelo leitor Edmilson.

    MARIA NA BÍBLIA

    Por vezes, pensa-se que a Virgem não é muito evocada na Bíblia…
    Mostraremos que as citações diretas, no Novo Testamento, são muito mais numerosas do que pensamos e que têm um significado muito peculiar, em momentos cruciais da vida de Cristo. Por outro lado, as alusões indiretas à Maria são numerosas e muito importantes: descobrimos, por exemplo, que Maria é a única no mundo que passa mais de trinta anos ao lado de Cristo durante a sua vida terrena; que ela é Aquela à quem o Apocalipse chama a “Arca da verdadeira Aliança”; Aquela à quem, sobretudo, o anjo da Anunciação saudou como a “cheia de graça” e que pode anunciar à toda a Criação: “de agora em diante me chamarão bem-aventurada todas as gerações”…
    O Antigo Testamento está, também ele, repleto de figuras, imagens e profecias nas quais tanto o Magistério como os Padres da Igreja, os seus Doutores e Santos reconheceram o anúncio daquela que deu ao mundo o Messias esperado. Do “Gênesis” ao Livro do Profeta Isaías, e até aos últimos profetas da Primeira Aliança… prefigurações e outros anúncios, respeitantes à Virgem Mãe do Salvador, atravessam todo o Antigo Testamento, do Pentateuco aos Profetas, passando pelos Livros Históricos e Sapienciais!
    Maria pertence ao Novo Testamento. Ela nasceu no tempo do Novo Testamento. Todos os relatos específicos e diretos que falam dela, estão no Novo Testamento. Porém, podemos formular-nos uma pergunta: O Antigo Testamento referiu-se alguma vez a Mãe do Messias esperado? Existem textos bíblicos que, mesmo em sentido figurado, mencionam algo sobre a Mãe do Filho de Deus? Podemos associar alguns textos do Antigo Testamento e aplicarmos a Maria?
    ANÚNCIOS DE MARIA NO ANTIGO TESTAMENTO
    Segundo a visão cristã, Eva, a primeira mulher, cedo se tornou aquela que, com Adão, arrastou toda a humanidade no naufrágio do pecado original. Deus prometeu um Salvador, e a mãe do Redentor foi anunciada naquele mesmo momento, no texto do Gênesis já citado: “Farei reinar a inimizade entre ti e a mulher” (Gn.3,15)

    A mais autêntica das filhas de Abraão

    Abraão, nosso “pai na fé”, obedeceu de maneira total e incondicional aos desígnios de Deus, mesmo quando, exteriormente, lhe era difícil compreender como se cumpririam tais promessas. O Papa João Paulo II, na sua homilia em Nazaré, a 25 de Março de 2000, chamou à Virgem Maria a “mais autêntica das filhas de Abraão” já que, pela sua fé, se tornou a Mãe do Messias e a Mãe de todos os crentes (cf. Homilia publicada no Obsservatore Romano, edição semanal em língua portuguesa).
    Eis os símbolos da Virgem Maria que podemos encontrar na Bíblia hebraica, o Antigo Testamento para os cristãos:

    Imagens e figuras de Maria no Antigo Testamento:

    Podemos encontrar imagens da Virgem Mãe no Gênesis e em Isaías, a Filha de Sião, o Jardim do Éden, a Amada do Cântico dos Cânticos e a Arca da Aliança. Rute pode ser um símbolo de Maria e da Igreja, porque aparece providencialmente colocada na árvore genealógica de Cristo. Também em Ester e Judite podemos ver um símbolo de Maria, já que são associadas ao Salvador no desenrolar do plano divino da Salvação. Podemos agrupar estes diversos anúncios de Maria no Antigo Testamento em 3 “categorias”:
    - imagens: Estrela da Manhã; Torre de David, Trono da Sabedoria, etc…;
    - figuras: Sara, Raquel, Débora, Judite, Ester e tantas outras…;
    - profecias: Gn.3,15; Is.7,11; etc…
    Ao lado de Cristo, Maria é a maior glória do povo judeu
    A Virgem Maria pode ser vista, a par de Cristo, como a maior glória do povo judeu. Foi do seio deste povo da Aliança que Deus escolheu esta excepcional figura que viria a dar à luz o Salvador da Humanidade. Por isso, ninguém melhor do que a Santa Virgem para interceder, junto de Deus, pela contínua promoção das relações judeu-cristãs.
    Muitos estudiosos afirmam que o tema mariano está “escondido” sob três modos no Antigo Testamento: preparação moral, preparação tipológica e preparação profética.
    1) Preparação moral: como a humanidade estava corrompida pelo pecado, Deus escolhe uma linhagem de fé e santidade para que o seu filho possa nascer da raça humana.
    2) Preparação tipológica (linguagem simbólica): constatamos que no Antigo Testamento, muitas mulheres foram favorecidas com nascimentos milagrosos (Sara, Judite…). Todas estas mulheres fazem parte dos ancestrais do Messias esperado. Maria aparece como símbolo da “Filha de Sião” (Sof 3, 14-17), o lugar da residência de Javé. Maria também é simbolizada com a nova Arca da Aliança (dentro da Arca era depositada a LEI), que vai trazer dentro de si a Lei definitiva (revelação) de Deus, seu próprio Filho, Jesus.
    ”Rejubila-te, filha de Sião,solta gritos de alegria, Israel! Alegra-te e exulta de todo o coração, filha de Jerusalém! 15O Senhor revogou tua sentença, eliminou teu inimigo. O Senhor, o rei de Israel, está no meio de ti, não verás mais a desgraça. 16Naquele dia, será dito a Jerusalém: Não temas, Sião! Não desfaleçam as tuas mãos! 17O Senhor teu Deus está no meio de ti, como um herói que salva! Ele exulta de alegria por tua causa, ele te renova por seu amor, ele se regozija por causa de ti com gritos de alegria, 18como nos dias de festa.” (Sof 3, 14-18)
    3) Preparação profética: Além do texto acima, temos mais alguns que podem ser aplicados a Maria:
    a)Ct 4,7: Tu és toda formosa, amada minha, e em ti não há mancha. O texto pode fazer alusão à concepção imaculada de Maria;
    b)Jer 31,22: Até quando andarás errante, ó filha rebelde? pois o senhor criou uma coisa nova na terra: uma mulher protege a um varão.
    c) Gn 3,15: Porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua descendência e a sua descendência; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar.
    Uma consideração sobre este texto..
    O texto é muito significativo e apresenta, numa primeira leitura, a luta até o fim dos tempos entre a humanidade e o demônio. O termo “Ela te ferirá a cabeça” pode aludir tanto a Maria, a nova Eva, como a Igreja.
    d) Is 7,14: Portanto o Senhor mesmo vos dará um sinal: eis que uma virgem conceberá, e dará à luz um filho, e será o seu nome Emanuel.
    Considerando o texto…
    Embora o texto faz referência ao nascimento de um herdeiro na linhagem de Davi, pode ser muito bem ser aproveitado como uma profecia Mariana.
    e) Miq 5, 1-4: Agora, ajunta-te em tropas, ó filha de tropas; pôr-se-á cerco contra nós; ferirão com a vara no queixo ao juiz de Israel.
    2 Mas tu, Belém Efrata, posto que pequena para estar entre os milhares de Judá, de ti é que me sairá aquele que há de reinar em Israel, e cujas saídas são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade.
    3 Portanto os entregará até o tempo em que a que está de parto tiver dado à luz; então o resto de seus irmãos voltará aos filhos de Israel.
    4 E ele permanecerá, e apascentará o povo na força do Senhor, na excelência do nome do Senhor seu Deus; e eles permanecerão, porque agora ele será grande até os fins da terra.
    Sobre o texto…
    Mesmo não apontando diretamente uma referência mariana, o texto fala diretamente de um rei-pastor, saído da tribo de Davi. Seu nascimento se projeta para o futuro (os verbos estão no futuro).

    MARIA NO EVANGELHO DE JOÃO

    João escreveu o seu evangelho por volta do ano 90-100 d.C. É também autor do livro do Apocalipse. Tanto o quarto evangelho com o livro do Apocalipse apresentam, por serem os escritos mais tardios, uma reflexão bem mais madura sobre Jesus.
    O Evangelho de João está dividido em três partes:
    a) Prólogo (Jo 1, 1-18)
    b) Livro dos Sinais (Jo 1,19 – 12,50)
    c) Livro da Exaltação (Jo 13-20)
    Menciona a Mãe de Jesus em três ocasiões: uma indiretamente, na encarnação do Filho de Deus (Jo 1, 14), e as duas de uma maneira bem explicita: as Bodas de Caná (Jo 2, 1-12) e na Morte de Jesus (Jo 19, 25-27).
    1) Jo 1,14: (PROLOGO)
    E o Verbo divino se fez carne, e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade; e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai.
    Embora o texto não mencione Maria, porque a intenção do autor é mostrar a origem divina de Jesus (Verbo de Deus), dá-se a entender que Ela está implícita no processo da encarnação de Jesus (“e habitou entre nós”). Não podemos, em hipótese alguma, afirmar que este é um texto mariano, mas quando se fala em “encarnação” do Verbo Divino, Maria é lembrada.
    2) Jo 2, 1-12 (AS BODAS DE CANÁ)
    1 Três dias depois, houve um casamento em Caná da Galiléia, e estava ali a mãe de Jesus;
    2 e foi também convidado Jesus com seus discípulos para o casamento.
    3 E, tendo acabado o vinho, a mãe de Jesus lhe disse: Eles não têm vinho.
    4 Respondeu-lhes Jesus: Mulher, que tenho eu contigo? Ainda não é chegada a minha hora.
    5 Disse então sua mãe aos serventes: Fazei tudo quanto ele vos disser.
    6 Ora, estavam ali postas seis talhas de pedra, para as purificações dos judeus, e em cada uma cabiam duas ou três metretas.
    7 Ordenou-lhe Jesus: Enchei de água essas talhas. E encheram- nas até em cima.
    8 Então lhes disse: Tirai agora, e levai ao mestre-sala. E eles o fizeram.
    9 Quando o mestre-sala provou a água tornada em vinho, não sabendo donde era, se bem que o sabiam os serventes que tinham tirado a água, chamou o mestre-sala ao noivo
    10 e lhe disse: Todo homem põe primeiro o vinho bom e, quando já têm bebido bem, então o inferior; mas tu guardaste até agora o bom vinho.
    11 Assim deu Jesus início aos seus sinais em Caná da Galiléia, e manifestou a sua glória; e os seus discípulos creram nele.
    12 Depois disso desceu a Cafarnaum, ele, sua mãe, seus irmãos, e seus discípulos; e ficaram ali não muitos dias.
    Este relato encontra-se inserido no chamado “bloco dos sinais”. É cheio de uma simbologia muito grande. Os sinais apresentam um sentido de revelação da pessoa de Jesus e têm uma intima relação com a fé. Quando Jesus realiza um milagre, este serve de sinal para que as pessoas vendo possam acreditar em Jesus. Em Mateus, Marcos e Lucas, os milagres que Jesus realiza indicam o poder de Deus sobre as forças do mal.
    Os sinais que o quarto evangelho mencionam também expressam a Glória de Deus, que com Jesus, aos poucos vai se manifestando ao mundo.
    Analisando o texto…
    Um primeiro dado interessante que se percebe à primeira vista é que João não menciona o nome “Maria”. Ele refere-se a Maria chamando-a de “Mulher” ou “Mãe de Jesus” (seis vezes). A explicação é simples: João gosta de apresentar certas pessoas como modelos de seguidores do projeto de Jesus. Maria, portanto, é um modelo, uma figura símbolo que aceitou a mensagem de Jesus.
    Apesar de ser uma festa de casamento, os personagens principais não são os noivos e sim Jesus e Maria. Apesar de usar uma linguagem de um casamento, João quer mostrar, com este relato, que o pacto (casamento) entre o povo da Antiga Aliança (Israel) e Deus estava desgastado, sem vida, vazio, devido o abismo do pecado
    ,br> O relato data muito a seqüência dos dias, com destaque especial “ao terceiro dia” , alusão simbólica à Aliança no Monte Sinai (Ex 19, 11.9) e principalmente à Ressurreição de Jesus.
    Ao fazer chegar até Jesus a problemática da falta de vinho, Maria se apresenta como aquela que, conhecendo as necessidades da humanidade, pede ajuda para Jesus. Aqui está simbolizado o papel de intercessora atribuído a Maria.
    A primeira reação de Jesus ao afirmar “Mulher, que tenho eu contigo” (ou, que importa a mim e a ti), parece ser um tanto ríspida com relação a Maria, mas serve para ilustrar o deslocamento de perspectiva: que Jesus chama os seus interlocutores (na pessoa de Maria) para perceber um outro nível de sua presença.
    A palavra “mulher” pode representar três idéias:
    pode lembrar Gn 3, referindo a Eva-Mulher que trouxe o pecado ao mundo. Assim Maria, a nova Mulher trouxe a salvação, Jesus;
    Maria, Mulher, pode representar todo o povo de Israel (Filha de Sião);
    Pode traduzir todo o reconhecimento da figura feminina na comunidade de João pelo papel evangelizador que as mulheres desempenhavam no testemunho do Evangelho.
    Depois de realizar o milagre da transformação da água em vinho, o relato tem um desfecho muito significativo. E é para lá que apontava João: Assim deu Jesus início aos seus sinais em Caná da Galiléia, e manifestou a sua glória; e os seus discípulos creram nele.( v11). Com isso, o autor acentua a centralidade do relato: mostrar quem é Jesus (aquele que traz o vinho novo, a Nova Aliança, o Novo Pacto, a alegria, a plenitude, a graça, a salvação) e a fé dos discípulos que aderem ao projeto do Filho de Deus. E todo o projeto do Reino de Deus é simbolizado através da figura das Bodas, o grande Banquete, as Núpcias do Cordeiro, a grande Festa da plena e definitiva alegria. Jesus é o novo NOIVO.
    Maria-mulher é aquela que leva os discípulos a crerem em Jesus. Incentiva os filhos a fazerem a vontade do seu Filho.
    3) Jo 19, 25-27 (MARIA JUNTO À CRUZ)
    25 Estavam em pé, junto à cruz de Jesus, sua mãe, e a irmã de sua mãe, e Maria, mulher de Clôpas, e Maria Madalena.
    26 Ora, Jesus, vendo ali sua mãe, e ao lado dela o discípulo a quem ele amava, disse a sua mãe: Mulher, eis aí o teu filho.
    27 Então disse ao discípulo: Eis aí tua mãe. E desde aquela hora o discípulo a recebeu em sua casa.
    O texto mostra que estavam presentes junto à cruz de Jesus quatro mulheres: a mãe de Jesus, uma irmã de Maria, Maria esposa de Cléofas e Maria Madalena e também o discípulo amado.
    As mulheres, como já vimos, representam o serviço generoso e destacado que elas exerciam na comunidade; o “discípulo amado” representa o modelo ideal de todo cristão que apesar das contrariedades e cruzes da vida, permanece fiel a Cristo.
    Ao colocar Maria junto à cruz de Jesus, o autor do livro, quer:
    simbolizar a presença da mãe sofredora que sempre esteve ao lado de Jesus e de todo aquele que sofre;
    fazer uma relação entre as Bodas de Cana onde Maria esteve presente no inicio das atividades do seu Filho, como no pleno cumprimento de sua missão, através da morte da Cruz.
    Tanto o discípulo amado com Maria, são representações da Igreja:
    Maria como geradora de novos filhos (mulher, membro constitutivo da Igreja e mãe da comunidade);
    O Discípulo amado como representante de todos os fiéis que seguem Jesus custe o que custar.
    Resumindo, podemos sintetizar a figura de Maria no quarto evangelho como:
    - discípula fiel
    - pessoa de fé
    - mãe da comunidade
    - mulher solidária

    MARIA NO EVANGELHO DE LUCAS e ATOS DOS APÓSTOLOS

    SINOPSE

    O livro de Lucas foi escrito por volta dos anos 79-80 d. C. Teve como destinatário primeiro um certo “Teófilo” (Lc 1,1 e At 1,1-2), cuja identidade é desconhecida. A evidência mostra que o livro foi escrito especialmente para os gentios. Lucas se esforça para mostrar os costumes judaicos e, algumas vezes substitui nomes gregos por hebraicos.
    Como bom médico que foi, Lucas retrata a figura de Cristo mostrando todo o seu lado humano e misericordioso que socorre, cura, liberta e salva a todos sem distinção.
    Como também é autor do livro dos Atos dos Apóstolos, Lucas compreende a HISTÓRIA DA SALVAÇÃO em três tempos ou etapas e organiza toda a sua obra a partir desta perspectiva:
    1ª etapa: período preparatório à vinda de Jesus Salvador ( O antigo Israel espera com alegria a manifestação do Messias e prepara a sua vinda)
    2ª etapa: A vida de Jesus: sua encarnação, sua presença, sua manifestação, paixão, morte, ressurreição e glorificação.
    3ª etapa: tempo da Igreja que se faz por obra do Espírito Santo. A Igreja é a grande portadora da salvação a todos os povos.
    Estes três períodos ou etapas se articulam a partir de Jerusalém.
    Segundo os estudiosos do tema, Lucas é o evangelista que mais fala de Maria. Num total de 152 versículos do NT sobre Maria, 90 são de Lucas (1 versículo aparece no livro dos Atos e 89 no terceiro evangelho).
    Lucas nos apresenta muitas qualidades de Maria. Ela é o exemplo vivo do discípulo e seguidor de Jesus, que acolhe a Palavra de Deus com fé, guarda e medita em seu coração e põe em prática, produzindo muitos e bons frutos.
    Maria é apresentada como a grande peregrina na fé. O “SIM” dado a Deus na sua juventude é renovado constantemente no decorrer de toda a sua vida.
    Maria não nasce como uma santa pronta e acabada. Ela passa por crises e situações difíceis e desafiadoras contribuindo para o seu crescimento na fé.
    Por outro lado, Maria nos lembra que Deus escolhe preferencialmente os pobres e os pequenos para iniciar seu Reino. Maria é uma pessoa de coração pobre todo aberto para Deus; tem um coração solidário e serviçal sempre disponível a ajudar os mais necessitados.
    MARIA NO EVANGELHO DE MARCOS
    SINOPSE:
    Marcos escreve o seu evangelho por volta do ano 60 d.C. Acredita-se que o escritor, ao preparar o seu livro, teve em mente os cristãos gentios. O evangelista tem com preocupação primeira mostrar que Jesus é o Filho de Deus. Esse é a sua grande tese verificada a partir do primeiro versículo:
    “Princípio do evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus.” . Um Filho de Deus que é confirmado pelos discípulos, através da pessoa de Pedro (Mc 8,29) e testemunhado pelo centurião na morte de Jesus (Mc 15,39); um Filho de Deus que se deixa reconhecer na medida que se caminha ao seu lado assumindo o seu projeto de vida.
    O Evangelho de Marcos está tecido em duas grandes partes:
    - Primeira parte: (Mc 1,1 – 8,26). Neste primeiro bloco Jesus aparece na Galiléia inaugurando o Reino de Deus que vem com toda força. A prática de Jesus é contestada pelos escribas e fariseus. Diante da sua proposta vão se formando dois grupos: os que seguem Jesus (discípulos e multidão) e os que não aceitam a proposta de Jesus.
    - A segunda parte (restante do evangelho) apresenta as condições e os elementos necessários para seguir Jesus. Seguimento que não significa “ir atrás” mas entrar no caminho de sua vida, identificar-se com ele, deixar tocar pela sua pessoa, fazer parte de sua missão de inaugurar o Reino e vencer as forças do anti-reino.
    Maria aparece duas vezes durante todo o seu relato. As citações são poucas, mas muito significativas onde ela é apresentada como a discípula fiel que faz parte essencial da família de Jesus porque cumpre a vontade do Pai e a mulher que acolhe a todos como filhos e irmãos de Jesus.
    I – Textos marianos:
    1)) Mc 3, 20-21. 31-35: A FAMÍLIA DE JESUS.
    20 Depois entrou numa casa. E afluiu outra vez a multidão, de tal modo que nem podiam comer
    21 Quando os seus ouviram isso, saíram para o prender; porque diziam: Ele está fora de si.
    31 Chegaram então sua mãe e seus irmãos e, ficando da parte de fora, mandaram chamá-lo.
    32 E a multidão estava sentada ao redor dele, e disseram-lhe: Eis que tua mãe e teus irmãos estão lá fora e te procuram.
    33 Respondeu-lhes Jesus, dizendo: Quem é minha mãe e meus irmãos!
    34 E olhando em redor para os que estavam sentados à roda de si, disse: Eis aqui minha mãe e meus irmãos!
    35 Pois aquele que fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão, irmã e mãe.
    Contexto: No tempo de Jesus, a estrutura familiar exercia importante influência na definição dos papéis e no lugar social ocupado pelo individuo. No judaísmo, as famílias eram classificadas conforme seu grau de pureza de origem, ou seja, se eram imaculadas cruzamento com sangues de estrangeiros ou atingidas por mancha de mistura étnica.
    A cena bíblica é a seguinte: Jesus e os Doze, recém eleitos, vão a uma casa em Cafarnaum. Havia uma multidão acirrada, a tal ponto que eles nem podiam e não tinham tempo nem para alimentar-se. E quando os “seus” ficaram sabendo disso, saíram para proteger Jesus, porque diziam que Ele tinha “perdido o juízo” . E neste grupo que vai até Jesus, está a figura de Maria, sua mãe.
    Os parentes de Jesus consideram que Ele estava exagerando no modo como se dedicava à sua missão, porque Jesus desleixa até as suas necessidades mais elementares, como a de comer (v.20)
    Marcos mostra aqui o caminho progressivo de Maria na fé. O evangelista revela o traço tão humano de Maria de Nazaré que se preocupa pelo Filho, o que denota uma preocupação normal.
    Num olhar mais profundo, Marcos quer mostrar que o seguimento de Jesus (para fazer parte de sua família) ultrapassa os laços de parentesco.
    Jesus inaugura uma NOVA FAMÍLIA constituída não mais do sangue e dos laços de parentesco (valor absoluto nas sociedades antigas) e sim daqueles que se juntam ao redor de Jesus para fazer a vontade do Pai.
    Marcos ensina que até Maria, a criatura mais estreitamente ligada a Jesus pelos laços de sangue (maternidade) teve que elevar a ordem mais alta dos seus valores.
    Depois de ter levado Jesus no seu ventre, era preciso que Ela o gerasse no coração, cumprindo a vontade de Deus. Uma vontade que se torna manifesta naquilo que Jesus dizia e realizava.
    Assim, a figura de Maria “mãe” se harmoniza e se completa com a figura de “discípula” e “primeira cristã”.
    2)Mc 6, 1-6: JESUS DE NAZARÉ ( O SANTO DE CASA NÃO FAZ MILAGRES)
    1 Saiu Jesus dali, e foi para a sua terra, e os seus discípulos o seguiam.
    2 Ora, chegando o sábado, começou a ensinar na sinagoga; e muitos, ao ouví-lo, se maravilhavam, dizendo: Donde lhe vêm estas coisas? e que sabedoria é esta que lhe é dada? e como se fazem tais milagres por suas mãos?
    3 Não é este o carpinteiro, filho de Maria, irmão de Tiago, de José, de Judas e de Simão? e não estão aqui entre nós suas irmãs? E escandalizavam-se dele.
    4 Então Jesus lhes dizia: Um profeta não fica sem honra senão na sua terra, entre os seus parentes, e na sua própria casa.
    5 E não podia fazer ali nenhum milagre, a não ser curar alguns poucos enfermos, impondo-lhes as mãos.
    6 E admirou-se da incredulidade deles. Em seguida percorria as aldeias circunvizinhas, ensinando.
    Contexto: O texto de Marcos refere-se a um acontecimento concreto: a rejeição dos Moradores de Nazaré ao anúncio de Jesus e à sua pessoa. Eles não se colocam como inimigos de Jesus, mas se escandalizam dele por sua incredulidade. A fé é um grande requisito para o seguimento de Jesus.
    a)Mc 6, 3: O “Filho de Maria”
    3 Não é este o carpinteiro, filho de Maria, irmão de Tiago, de José, de Judas e de Simão? e não estão aqui entre nós suas irmãs? E escandalizavam-se dele.
    4 Então Jesus lhes dizia: Um profeta não fica sem honra senão na sua terra, entre os seus parentes, e na sua própria casa.
    No costume judeu, o nome da pessoa era conferido ou vinha relacionado por referência ao Pai. Temos alguns exemplos:
    - Simão, filho de Jonas (Mt 16,13)
    - Tiago, filho de Zebedeu (Mt 4,21)
    - Levi, filho de Alfeu (Mc 2,13)
    Sendo assim, surge a grande pergunta: por que Jesus não é chamado “filho de José”?. Para esta pergunta há quatro tipos de respostas:
    - Marcos queria enfatizar os traços humanos de Jesus;
    - É uma referência à concepção virginal de Jesus (obra do Espírito Santo);
    - Foi um intento de difamação contra Jesus (desvalorizar a sua pessoa pela profissão humilde de José);
    - José não é citado porque já havia morrido.
    b) “Os irmãos e as irmãs de Jesus” (v3):
    Versículo de caráter polêmico principalmente entre os “evangélicos” onde se afirma a existência de outros filhos de Maria.
    A verdade é que para os conceitos orientais tradicionais, não se define a família como pequeno núcleo “pai-mãe-filhos”, como conhecemos hoje, mas num amplo leque no qual se incluem tanto os parentes próximos como os distantes.
    No aramaico falado, usado por Jesus e seu povo, não havia uma diferenciação nos conceitos de parentesco (primo, tio, tia, irmão, sobrinho, etc…). A palavra que exprimia e englobava todo este parentesco era “irmãos”, que os gregos traduziram por “adelfos”. Assim, quando ouvimos falar que “tua mãe e teus irmãos estão lá fora…” significa que Maria e os parentes de Jesus queriam protegê-lo um pouco da multidão.
    Não podemos confundir: “irmãos” de Jesus significa “parentes próximos” dele. Tiago e Joset, chamados de “irmãos de Jesus” são considerandos, dentro desta lógica explicativa, de “parentes próximos” de Jesus e não “irmãos carnais” dele.
    Se assim não fosse, qual seria a necessidade de Jesus, no alto da cruz, entregar a João, o discípulo a quem amava, os cuidados de Maria quando disse: ” Filho, eis aí a tua mãe” (Jo 19,27)? Não seria mais comum, Tiago e José, se fossem realmente filhos carnais de Maria, tomar conta de sua “mãe” após a morte do “irmão” Jesus?
    Quando estudarmos o dogma da Virgindade de Maria entenderemos mais esta questão.
    Com isso, o evangelista quer mostrar a necessidade da fé no ato do seguimento de Jesus. Condição indispensável para reconhecer a sua presença e caminhar com Ele.
    MARIA NO EVANGELHO DE MATEUS
    SINOPSE:
    Mateus (também chamado de Levi), um dos Doze apóstolos, foi sem dúvida um judeu que também era publicano romano.
    Mateus escreveu o seu evangelho por volta do ano 70 d.C. Tinha como destinatários principalmente os judeus. Este ponto de vista está confirmado pelas referencias às profecias hebraicas, cerca de sessenta, e pelas aproximadamente quarenta citações do Antigo Testamento.
    Ressalta especialmente a missão de Cristo aos judeus.
    A intenção de Mateus é a de mostrar que Jesus foi o Messias prometido no Antigo Testamento através do cumprimento das promessas feitas a Abraão e a Davi, passando por todos os profetas.
    Maria é apresentada como a mãe virginal de Jesus que o concebe pela ação do Espírito Santo sem intervenção humana, mostrando a gratuidade da iniciativa divina.
    O Evangelho de Mateus amplia bastante a imagem de Maria.
    Ela aparece na narrativa da origem e da infância de Jesus (Mt 1-2) e em alguns textos referentes à vida pública de Jesus (Mt 12, 46-50 e Mt 13, 53-58).
    I – GENEALOGIA DE JESUS (Mt 1, 1-25)
    1 Livro da genealogia de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão.
    2 A Abraão nasceu Isaque; a Isaque nasceu Jacó; a Jacó nasceram Judá e seus irmãos;
    3 a Judá nasceram, de Tamar, Farés e Zará; a Farés nasceu Esrom; a Esrom nasceu Arão;
    4 a Arão nasceu Aminadabe; a Aminadabe nasceu Nasom; a Nasom nasceu Salmom;
    5 a Salmom nasceu, de Raabe, Booz; a Booz nasceu, de Rute, Obede; a Obede nasceu Jessé;
    6 e a Jessé nasceu o rei Davi. A Davi nasceu Salomão da que fora mulher de Urias;
    7 a Salomão nasceu Roboão; a Roboão nasceu Abias; a Abias nasceu Asafe;
    8 a Asafe nasceu Josafá; a Josafá nasceu Jorão; a Jorão nasceu Ozias;
    9 a Ozias nasceu Joatão; a Joatão nasceu Acaz; a Acaz nasceu Ezequias;
    10 a Ezequias nasceu Manassés; a Manassés nasceu Amom; a Amom nasceu Josias;
    11 a Josias nasceram Jeconias e seus irmãos, no tempo da deportação para Babilônia.
    12 Depois da deportação para Babilônia nasceu a Jeconias, Salatiel; a Salatiel nasceu Zorobabel;
    13 a Zorobabel nasceu Abiúde; a Abiúde nasceu Eliaquim; a Eliaquim nasceu Azor;
    14 a Azor nasceu Sadoque; a Sadoque nasceu Aquim; a Aquim nasceu Eliúde;
    15 a Eliúde nasceu Eleazar; a Eleazar nasceu Matã; a Matã nasceu Jacó;
    16 e a Jacó nasceu José, marido de Maria, da qual nasceu JESUS, que se chama Cristo.
    17 De sorte que todas as gerações, desde Abraão até Davi, são catorze gerações; e desde Davi até a deportação para Babilônia, catorze gerações; e desde a deportação para Babilônia até o Cristo, catorze gerações.
    18 Ora, o nascimento de Jesus Cristo foi assim: Estando Maria, sua mãe, desposada com José, antes de se ajuntarem, ela se achou ter concebido do Espírito Santo.
    19 E como José, seu esposo, era justo, e não a queria infamar, intentou deixá-la secretamente.
    20 E, projetando ele isso, eis que em sonho lhe apareceu um anjo do Senhor, dizendo: José, filho de Davi, não temas receber a Maria, tua mulher, pois o que nela se gerou é do Espírito Santo;
    21 ela dará à luz um filho, a quem chamarás JESUS; porque ele salvará o seu povo dos seus pecados.
    22 Ora, tudo isso aconteceu para que se cumprisse o que fora dito da parte do Senhor pelo profeta:
    23 Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, o qual será chamado EMANUEL, que traduzido é: Deus conosco.
    24 E José, tendo despertado do sono, fez como o anjo do Senhor lhe ordenara, e recebeu sua mulher;
    25 e não a conheceu enquanto ela não deu à luz um filho; e pôs-lhe o nome de JESUS.
    Primeiramente o objetivo desta genealogia é o de mostrar que Jesus descende de Abraão e Davi e que, portanto, Ele herda as promessas feitas a esses dois patriarcas de Israel. De Abraão, a promessa da numerosa descendência (Gn12); de Davi, a promessa da eterna realeza (2Sam7).
    A genealogia de uma pessoa e de uma família tinha enorme importância jurídica e trazia conseqüências para a vida social e religiosa. A pureza de uma linha genealógica dava participação ao descendente nos méritos de seus antepassados.
    Mateus remonta a origem de Cristo a partir de Abraão passando por todas as gerações até chegar a José, esposo de Maria, da qual nasceu Jesus. Esse elenco de nomes que vai de Abraão a Cristo é subdividido em três grupos e cada grupo abrange 14 gerações:
    1o grupo: de Abraão a Davi
    2o grupo: de Davi a Jeconias ( exílio na Babilônia)
    3o grupo: de Jeconias a Cristo
    A grande novidade nesta descrição genealógica que passou de geração em geração foi a intervenção da Providencia Divina através do Espírito Santo na geração de Jesus por Maria.
    Se antes o encadeamento paterno era o elemento fundante na genealogia, aqui nós temos agora uma ruptura visível e explicita: apesar de pertencer a descendência de Abraão e sucessão, José não é o pai biológico de Jesus. Assim, a mensagem do relato resume-se em: o nascimento de Jesus se deve à ação do Espírito Santo em Maria. Mostra que Jesus, o Messias esperado, é fruto da intervenção divina que gratuitamente irrompe a história da humanidade e oferece o seu filho para a salvação do seu povo.
    José ao receber Maria em sua casa e assumir Jesus dando-lhe o nome (de Jesus), sela definitivamente o vínculo histórico da descendência messiânica. Por outro lado revela a concepção virginal de Jesus.
    Mt 2, 10-23: ADORAÇÃO DOS MAGOS E FUGA PARA O EGITO
    10 Ao verem eles a estrela, regozijaram-se com grande alegria.
    11 E entrando na casa, viram o menino com Maria sua mãe e, prostrando-se, o adoraram; e abrindo os seus tesouros, ofertaram-lhe dádivas: ouro incenso e mirra.
    12 Ora, sendo por divina revelação avisados em sonhos para não voltarem a Herodes, regressaram à sua terra por outro caminho.
    13 E, havendo eles se retirado, eis que um anjo do Senhor apareceu a José em sonho, dizendo: Levanta-te, toma o menino e sua mãe, foge para o Egito, e ali fica até que eu te fale; porque Herodes há de procurar o menino para o matar.
    14 Levantou-se, pois, tomou de noite o menino e sua mãe, e partiu para o Egito.
    15 e lá ficou até a morte de Herodes, para que se cumprisse o que fora dito da parte do Senhor pelo profeta: Do Egito chamei o meu Filho.
    16 Então Herodes, vendo que fora iludido pelos magos, irou-se grandemente e mandou matar todos os meninos de dois anos para baixo que havia em Belém, e em todos os seus arredores, segundo o tempo que com precisão inquirira dos magos.
    17 Cumpriu-se então o que fora dito pelo profeta Jeremias:
    18 Em Ramá se ouviu uma voz, lamentação e grande pranto: Raquel chorando os seus filhos, e não querendo ser consolada, porque eles já não existem.
    19 Mas tendo morrido Herodes, eis que um anjo do Senhor apareceu em sonho a José no Egito,
    20 dizendo: Levanta-te, toma o menino e sua mãe e vai para a terra de Israel; porque já morreram os que procuravam a morte do menino.
    21 Então ele se levantou, tomou o menino e sua mãe e foi para a terra de Israel.
    22 Ouvindo, porém, que Arquelau reinava na Judéia em lugar de seu pai Herodes, temeu ir para lá; mas avisado em sonho por divina revelação, retirou-se para as regiões da Galiléia,
    23 e foi habitar numa cidade chamada Nazaré; para que se cumprisse o que fora dito pelos profetas: Ele será chamado nazareno.
    Nas cenas (adoração dos Magos e Fuga para o Egito) se repete várias vezes “o menino e sua mãe” (v.13, v.14, v.20) . Isso reforça a real maternidade de Maria não aludindo à “paternidade real” de José.
    II – MARIA NA VIDA PÚBLICA DE JESUS.
    Apesar de usar a mesma fonte de Marcos quando fala de Maria e dos “irmãos de Jesus” e a cena da casa e da rejeição em Nazaré, Mateus interpreta num outro sentido.
    1) Mt 12, 46-50: a família de Jesus e os seguidores
    46 Enquanto ele ainda falava às multidões, estavam do lado de fora sua mãe e seus irmãos, procurando falar-lhe.
    47 Disse-lhe alguém: Eis que estão ali fora tua mãe e teus irmãos, e procuram falar contigo.
    48 Ele, porém, respondeu ao que lhe falava: Quem é minha mãe? e quem são meus irmãos?
    49 E, estendendo a mão para os seus discípulos disse: Eis aqui minha mãe e meus irmãos.
    50 Pois qualquer que fizer a vontade de meu Pai que está nos céus, esse é meu irmão, irmã e mãe.
    Aqui aparece claro a idéia e a importância de seguir a Jesus e fazer a sua vontade. Não há, portanto, referencia negativa à família biológica de Jesus.
    2) Mt 13, 53-58: O profeta rejeitado em sua pátria
    53 E Jesus, tendo concluido estas parábolas, se retirou dali.
    54 E, chegando à sua terra, ensinava o povo na sinagoga, de modo que este se maravilhava e dizia: Donde lhe vem esta sabedoria, e estes poderes milagrosos?
    55 Não é este o filho do carpinteiro? e não se chama sua mãe Maria, e seus irmãos Tiago, José, Simão, e Judas?
    56 E não estão entre nós todas as suas irmãs? Donde lhe vem, pois, tudo isto?
    57 E escandalizavam-se dele. Jesus, porém, lhes disse: Um profeta não fica sem honra senão na sua terra e na sua própria casa.
    58 E não fez ali muitos milagres, por causa da incredulidade deles.
    Mateus substitui aqui o “filho de Maria” que aparece em Marcos por “filho do carpinteiro” e suprime a palavra “parentes”.
    Há dois motivos fundamentais nestas mudanças operadas por Mateus:
    a)Tiago, que aparece como sendo “o irmão do Senhor” que na verdade é primo de Jesus, é um membro ativo na comunidade atual onde Mateus vive (composta de natureza judeu-cristã)
    b)Mateus parece ter uma idéia bem clara sobre a concepção virginal de Maria
    Com isso tudo, fica claro que Maria é vista como mãe virginal do Messias, por ação do Espírito Santo.
    MARIA NO LIVRO DO APOCALIPSE 12
    Todo o livro do Apocalipse é repleto de uma linguagem de muitas imagens e números. Numa primeira vista, parece que o livro é enigmático, assustador e cheio de mistérios. Mas, apesar de usar uma linguagem “não muito clara”, o autor quer reforçar a fé e a esperança dos cristãos frente às perseguições de dificuldades que na qual se encontrava a Igreja primitiva.
    O uso deste tipo de linguagem (Gênero literário) é bem simples de se explicar: João está preso. Ele manda cartas para os cristãos. Usa linguagem simbólica que só os cristãos entendiam. Caso contrário, as correspondências não chegariam ao seu destino. Portanto, cada imagem, cada número, cada ação…tem o seu significado. Mas nós vamos nos ater somente naquelas passagens que podem fazer referência à pessoa de Maria. Neste caso, o capítulo 12, principalmente porque tem algumas referências sobre uma “mulher vestida de sol”.
    O Capítulo pode muito bem ser dividido em três partes que apresentam três cenas com os seguintes personagens:
    1)1ª cena (Ap 12, 1-6): a mulher, o dragão e a criança.
    2)2ª cena (Ap 12, 7-12): a guerra entre as forças de Deus (Miguel) e do mal (Satanás)
    3)3ª cena: (Ap 12, 13-17): a mulher perseguida pelo dragão que é vencido.
    Vamos analisar estas três cenas…
    1ª Cena : Ap 12, 1-6
    1 E viu-se um grande sinal no céu: uma mulher vestida do sol, tendo a lua debaixo dos seus pés, e uma coroa de doze estrelas sobre a sua cabeça.
    2 E estando grávida, gritava com as dores do parto, sofrendo tormentos para dar à luz.
    3 Viu-se também outro sinal no céu: eis um grande dragão vermelho que tinha sete cabeças e dez chifres, e sobre as suas cabeças sete diademas;
    4 a sua cauda levava após si a terça parte das estrelas do céu, e lançou-as sobre a terra; e o dragão parou diante da mulher que estava para dar à luz, para que, dando ela à luz, lhe devorasse o filho.
    5 E deu à luz um filho, um varão que há de reger todas as nações com vara de ferro; e o seu filho foi arrebatado para Deus e para o seu trono.
    6 E a mulher fugiu para o deserto, onde já tinha lugar preparado por Deus, para que ali fosse alimentada durante mil duzentos e sessenta dias.
    Este “grande sinal” significa a importância do acontecimento;
    ” Céu”, mais que morada de Deus, simboliza o lugar onde estão as forças transcendentais que interferem na história humana;
    “Mulher vestida de sol” numa primeira leitura não se refere a Maria (Maria não apareceu no céu, não deu à luz no céu e muito menos o menino foi levado para junto de Deus. Foi exatamente o contrário…Ele veio de Junto de Deus, no mistério da encarnação) faz alusão à glória de Deus que reveste o seu povo. O sol que ilumina;
    “Tem a lua debaixo de seus pés” significa o domínio sobre as coisas temporais;
    “Coroa de doze estrelas” lembra as doze tribos de Israel, bem como os doze Apóstolos recompensados no final dos tempos;
    “Dores de parto” recorda todo o sofrimento vivido pelo povo do Antigo Testamento, bem como as perseguições da comunidade do Novo Testamento que quer continuar gerando Jesus para a humanidade através do seu testemunho;
    “Dragão de sete cabeças e dez chifres” representa o poder político e dominador da época. As “sete cabeças” simboliza a plenitude (o número sete significa a plenitude, a totalidade) de poder. Os “dez chifres” representam os dez governadores senatorias do Império Romano; O “diadema” sobre cada uma das cabeças, referem-se à linhagem nobre de cada um dos governadores.
    Tanto a Mulher como o Dragão são colocados juntos e em contraposição, simbolizando que as forças do bem e do mal travam um conflito constante na história;
    A Mulher “deu à luz a um filho, um varão que irá reger todas as nações com um cetro de ferro”. Este versículo lembra o Salmo 2, 7b-9 (Tu és meu Filho, hoje te gerei.8 Pede-me, e eu te darei as nações por herança, e as extremidades da terra por possessão. 9 Tu os quebrarás com uma vara de ferro; tu os despedaçarás como a um vaso de oleiro. ). Não se refere ao nascimento de Jesus em Belém, mas sim na Paixão, quando então sairá vitorioso pela Ressurreição;
    O “deserto” tanto significa o lugar da tentação (Jesus foi tentado no deserto durante 40 dias e 40 noites) com também o lugar da proteção de Deus;
    2ª Cena: Ap 12, 7-12
    7 Então houve guerra no céu: Miguel e os seus anjos batalhavam contra o dragão. E o dragão e os seus anjos batalhavam,
    8 mas não prevaleceram, nem mais o seu lugar se achou no céu.
    9 E foi precipitado o grande dragão, a antiga serpente, que se chama o Diabo e Satanás, que engana todo o mundo; foi precipitado na terra, e os seus anjos foram precipitados com ele.
    10 Então, ouvi uma grande voz no céu, que dizia: Agora é chegada a salvação, e o poder, e o reino do nosso Deus, e a autoridade do seu Cristo; porque já foi lançado fora o acusador de nossos irmãos, o qual diante do nosso Deus os acusava dia e noite.
    11 E eles o venceram pelo sangue do Cordeiro e pela palavra do seu testemunho; e não amaram as suas vidas até a morte.
    12 Pelo que alegrai-vos, ó céus, e vós que neles habitais. Mas ai da terra e do mar! porque o Diabo desceu a vós com grande ira, sabendo que pouco tempo lhe resta.
    Entram em cena novos personagens: Miguel e seus anjos. A luta que começa no céu desce à terra. Nesta cena não aparece mais a figura da “mulher” e sim “Miguel e o Dragão”. O Dragão é descrito como a “antiga serpente”. Faz lembrar Gn 3,15 ( Porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua descendência e a sua descendência; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar) que já foi vencida. Conforme o texto, esta vitória sobre a serpente se deu “pelo sangue do cordeiro” (sacrifício deJesus).
    3ª Cena: Ap 12, 13-17:
    13 Quando o dragão se viu precipitado na terra, perseguiu a mulher que dera à luz o filho varão.
    14 E foram dadas à mulher as duas asas da grande águia, para que voasse para o deserto, ao seu lugar, onde é sustentada por um tempo, e tempos, e metade de um tempo, fora da vista da serpente.
    15 E a serpente lançou da sua boca, atrás da mulher, água como um rio, para fazer que ela fosse arrebatada pela corrente.
    16 A terra, porém acudiu à mulher; e a terra abriu a boca, e tragou o rio que o dragão lançara da sua boca.
    17 E o dragão irou-se contra a mulher, e foi fazer guerra aos demais filhos dela, os que guardam os mandamentos de Deus, e mantêm o testemunho de Jesus.
    18 E o dragão parou sobre a areia do mar.
    Esta cena tem como cenário, a terra. Os personagens são: o dragão e a mulher e sua descendência. Já que o dragão perdeu a batalha para Miguel e seus anjos, ele volta-se contra a mulher, que, por sua vez, consegue escapar pela proteção de Deus.
    Assim, a descendência da mulher (A Igreja), “os que guardam os mandamentos de Deus, e mantêm o testemunho de Jesus”, são continuamente ameaçados pelas forças do mal (serpente). Mas Deus aparece sempre com sua força protetora encorajando os filhos para a vitória final.
    Conclusão: O Capítulo 12 do Apocalipse é um texto que deve ser interpretado, primeiramente como sendo eclesiológico (A Igreja peregrina que sofre, é perseguida, mas que tem a força de Jesus e do Espírito Santo de Deus para vencer as armadilhas do mal), depois mariológico (Maria, mãe da Igreja que caminha).
    MARIA NO NOVO TESTAMENTO- SEGUNDO GÁLATAS
    Faremos um estudo mais detalhado, em ordem cronológica, dos livros bíblicos do Novo Testamento que falam explicitamente de Maria. São eles:
    - Gálatas (as informações mais antigas sobre Maria)
    - Livro escrito por volta do ano 50 d.C.
    - Marcos (escrito por volta do ano 60 d.C)
    Mateus (escrito por volta do ano 70 d.C)
    Lucas (escrito por volta do ano 70 d.C.)
    Atos (também escrito por volta do ano 70 d.C)
    João (escrito por volta dos anos 90-100 d.C)
    Apocalipse (também escrito por volta dos anos 90-100 d.C)
    I – GÁLATAS.
    Por conter a informação mais antiga sobre Maria, analisaremos um único versículo referente ao estudo mariano. Gal 4, 4. Eis o texto: “Mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido debaixo de lei, para resgatar os que estavam debaixo de lei, a fim de recebermos a adoção de filhos.”
    CONTEXTO:
    O tema central deste versículo é sobre a ENCARNAÇÃO do FILHO DE DEUS, ou seja, o modo através do qual Deus quis vir ao encontro do homem. E isso se deu na “plenitude dos tempos”, isto é, quando o Pai envia o seu Filho ao mundo os tempos do desígnio divino atingem a sua “plenitude”. A encarnação de Cristo é o ponto culminante desta etapa.
    E Maria é colocada exatamente nesse vértice do plano redentor. Através do seu ministério materno, o Filho do Pai, preexistente ao mundo, se radica na cepa da humanidade.
    Ela é a MULHER que o reveste com a nossa carne e o nosso sangue. São Paulo quer mostrar com isso a condição real e humana de Jesus. O apóstolo declara que a pessoa de Maria está vitalmente vinculada ao projeto salvífico de Deus.
    MARIA NOS OUTROS ESCRITOS DA IGREJA
    Se, no Novo Testamento, encontramos poucas alusões à Virgem Maria, são muitos os outros escritos, pertencentes ao tesouro da Igreja, que evocam a Mãe de Jesus.
    Primeiramente, temos os escritos da Tradição: dogmas e ensinamentos do Magistério da Igreja (pontifical, conciliar, apostólico), textos e homilias dos Padres da Igreja, textos da liturgia, tratados dos Doutores da Igreja;
    Há, também, escritos e comentários exegéticos dos teólogos;e ainda, os numerosos testemunhos dos grandes místicos reconhecidos e canonizados;
    há, enfim, os inumeráveis “Evangelhos Apócrifos” (1): estes escritos constituem mesmo a maior fonte de informação sobre a vida da Mãe do Cristo, porque foram redigidos na época e por pessoas diretamente relacionadas com a vida da Santa Família.
    Ainda que esses escritos não sejam canônicos(2), muitos deles são considerados escritos fidedignos e são citados, algumas vezes, pela própria Hierarquia da Igreja e seu Magistério.
    (1) O termo « apócrifo » (do grego apockryphos = escondido) designa um texto geralmente atribuído a um escritor próximo do meio ou da época do Cristo, mas que não foi incluído no cânone das Escrituras bíblicas cristãs.
    (2) O Cânone (do grego kânon = regra) é a lista das Escrituras cristãs reconhecidas como inspiradas. Um livro é “canônico” quando faz parte da Bíblia, e nisto difere do livro “apócrifo”.
    Fonte Eletrônica;