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segunda-feira, 29 de setembro de 2014

A Bíblia como a "única regra de fé"



Por David Goldstein

Tradução: Stephen Adams

Fonte: Catolicismo

Obs: o autor é ex-judeu convertido ao catolicismo

Os católicos têm a Bíblia como regra de fé, entretanto não a “única regra de fé”. As primeiras coisas entram primeiro na religião dos católicos. Então, os católicos são guiados em seus julgamentos religiosos, primeiro pela Igreja; e segundo, pela Bíblia, como interpretada pela Igreja católica, para a qual o mundo está endividado pela existência da Bíblia cristã.
As pessoas que usam seus “cérebros” corretamente vão para um médico quando estão doentes, e não usam a auto-medicação, para terem suas próprias prescrições. Este princípio é seguido pelos católicos que, tendo Jesus Cristo como o Médico Divino das almas, usam seus “cérebros” como o Médico Divino lhes ordenou que fossem usados, quando Cristo disse “ouça a Igreja”; a Igreja para a qual Ele delegou Sua autoridade quando Ele deu as Chaves a Pedro, com o poder de “ligar e desligar”(S. Mt. 16) que é a Igreja católica.
Se a Bíblia é a“única regra de fé”, nomeie o texto no Novo Testamento que garante tal falsa conclusão que o padre renegado, Martinho Lutero, criou! Se você usasse seu“cérebro” em vez de suas emoções anti-católicas, você perceberia o absurdo de sua suposição. Cristo prometeu estar com Sua Igreja, e não a Bíblia, até o fim do mundo. Os funcionários da Igreja cujo “cérebro” você repudia, são compostos de padres a quem S. Paulo chama de Embaixadores de Cristo (II Cor. 5,20). Repudiá-los é repudiar a Pessoa a quem eles representam. .
É lógico que os apóstolos não dependeram de uma Bíblia cristã como um guia religioso e moral porque ela ainda não existia. De fato, houve somente um dos doze apóstolos que pôde ter visto os escritos que formaram Novo Testamento. Este foi S. João, pois os outros onze tinham ido para a recompensa eterna antes que S. João escrevesse seu Evangelho, que a Igreja católica declarou ser inspirado por Deus.
A Igreja católica veio à existência antes que uma linha do Novo Testamento fosse escrita: os apóstolos pregaram o Cristo crucificado; S. Pedro converteu 3000 judeus; o Concílio de Jerusalém foi reunido e a lei judaica foi ab-rogada, antes que uma única linha do Novo Testamento fosse escrita. Antes que S. João escrevesse seu Evangelho, a Igreja católica celebrou seu jubileu de ouro; e S. Paulo poderia dizer que a fé de Cristo tinha sido proclamada por toda parte no mundo (até então conhecido- Rom. 1,8).
Você diz que a Bíblia é a Palavra de Deus, mas que evidência você tem, ou qualquer outro protestante que rejeita a autoridade da Igreja católica, para provar tal afirmação? Logicamente, os escritos em si não podem provar que eles foram inspirados por Deus. Só a resposta católica para esta questão pode estar no teste de raciocínio de direito, isto é: Eu acredito que a Bíblia é a Palavra de Deus porque a Igreja católica, por sua Divina autoridade, disse assim no Concílio de Cartago (397 d.C.), com a confirmação do Papa, quando ela selecionou os escritos que foram inspirados por Deus, para formar o cânon cristão das Sagradas Escrituras. A racionalidade disto foi reconhecida por um professor protestante, Dr. Marcus Dods, que veio da Escócia aos EUA para dar uma série de conferências que foram publicadas em um livro chamado "A Bíblia, Sua Origem e Natureza” (1940). Ele diz (pp. 31-32):
“Se você pergunta para um romanista por que ele aceita certos livros como canônicos, ele terá uma resposta perfeitamente inteligível. Ele aceita estes livros porque a Igreja o licita a fazer assim. A Igreja determinou quais livros são canônicos e ele aceita a decisão da Igreja. Se você pergunta para um protestante o porquê dele acreditar que apenas esses livros que constam na Bíblia são canônicos, e não mais nem menos, creio que 99% dos protestantes seria incapaz de oferecer uma resposta satisfatória para o homem razoável. Os protestantes desprezam os romanistas porque estes confiam na autoridade da Igreja, mas o protestante não pode lhe dizer em que autoridade que ele confia. A senha protestante é: ‘a Bíblia, a Bíblia inteira e nada mais que a Bíblia’, mas quantos protestantes poderiam deixar claro que os livros que eles têm em suas Bíblias são os livros canônicos e nada mais que a Bíblia"?
São João Crisóstomo, o arcebispo católico de Constantinopla, foi o que deu o nome à "Bíblia". Certamente, Santo Agostinho, o bispo de Hipona, não estava deixando de usar seu cérebro quando disse: "Eu não acreditaria na Bíblia se não fosse pela autoridade da Igreja Católica”.
 
Fonte eletrônica;
 

sábado, 20 de setembro de 2014

Revista Fortune desmente mito das “grandes riquezas” do Vaticano


LIMA, 16 Set. 14 / 03:03 pm (ACI/EWTN Noticias).-A revista norte-americana Fortune, especializada em temas econômicos, desmentiu o mito das “grandes riquezas” do Vaticano, e informou que se a Santa Sé fosse uma corporação, nem sequer chegaria perto das 500 mais ricas da sua famosa lista Fortune 500.

No seu artigo intitulado “This pope means business” (“Este Papa leva a sério”), a Fortune indicou que “frequentemente é assumido que o Vaticano é rico, mas se fosse uma companhia, não chegaria nem perto da lista Fortune 500”.

A Fortune assinalou que o orçamento operacional do Vaticano é de apenas 700 milhões de dólares, e “em 2013 registrou um pequeno superávit global de 11,5 milhões de dólares”.

A revista estadunidense assinalou, além disso, que a maioria dos ativos mais valiosos do Vaticano, “alguns dos maiores tesouros de arte do mundo, são praticamente sem avaliação e não estão à venda”.

“A Igreja Católica é altamente descentralizada financeiramente. Em termos de dinheiro, o Vaticano basicamente está por conta. Essa é uma importante razão pela qual as suas finanças são muito mais frágeis e a sua situação econômica é muito mais modesta que sua imagem de luxuosa riqueza”.

O Vaticano, indicou a revista econômica, não tem acesso ao dinheiro nem das dioceses nem das ordens religiosas.

Explicou que “cada diocese”, em termos econômicos, “é uma corporação separada, com seus próprios investimentos e orçamentos, incluindo as arquidioceses metropolitanas”.

A Fortune assinalou que as dioceses de todo o mundo “mandam quantidades importantes de dinheiro para o Vaticano todos os anos, mas a maior parte deste dinheiro é destinada ao trabalho missionário ou às doações de caridade do Papa”.

O Vaticano, indicou, “paga salários relativamente baixos, mas oferece benefícios generosos de saúde e aposentadoria”.

“Os cardeais e bispos das congregações e dos conselhos muitas vezes não recebem mais de 46 mil dólares por ano”.

“Os empregados leigos do Vaticano têm emprego vitalício, e praticamente ninguém se aposenta antes da idade”, assinalou

Jornalista escreve:Afinal, quem são “os evangélicos”?

Silas Malafaia e Martin Luther King: duas faces da mesma moeda?
Silas Malafaia e Martin Luther King: duas faces da mesma moeda?
De tanto que se falou sobre os evangélicos nas últimas semanas, nos jornais e nas redes sociais, talvez caiba uma pergunta: afinal, quem são “os evangélicos”?

Homofóbicos, cortejados pela presidente, fundamentalistas. Massa de manobra de Silas Malafaia, conservadores, determinantes no segundo turno das eleições. De tanto que se falou sobre os evangélicos nas últimas semanas, nos jornais e nas redes sociais, talvez caiba uma pergunta: afinal, quem são “os evangélicos”?

A resposta mais honesta não poderia ser mais frustrante: os evangélicos são qualquer pessoa, todo mundo, ou, mais especificamente, ninguém. São uma abstração, uma caricatura pintada a partir do que vemos zapeando pelos canais abertos misturado ao que lemos de bizarro nos tabloides da internet com o que nosso preconceito manda reforçar. Dizer que “o voto dos evangélicos decidirá a eleição” é tão estúpido quanto dizer a obviedade de que
22,2% dos brasileiros decidirão a eleição. Dizer que “os evangélicos são preconceituosos”, significa dizer o ser humano é preconceituoso. É não dizer nada, na verdade.

Acreditar que há uma hegemonia de pensamento, de comportamento ou de doutrina evangélica é, em parte, exatamente acreditar no que Silas Malafaia gosta de repetir, mas é, em parte, desconhecer a história. A diversidade de pensamento é a razão de existir da reforma protestante. E continuou sendo pelos séculos seguintes, quando as igrejas reformadas do século 16 deram origem ao movimento evangélico, estes aos pentecostais e estes aos neopentecostais, todos microdivididos até o limite do possível, graças, novamente, à diversidade de pensamento – sobre forma de governo, vocação e pequenos pontos doutrinários. Boa parte destas, sem organização central, sem “presidência” nem representante, com as decisões sendo tomadas nas comunidades locais, por votação democrática.

Assim como não existe “os evangélicos” também não existe “os pentecostais”, nem “os assembleianos”: dizer que Malafaia é o “papa da Marina Silva” como disse Leonardo Boff, apenas porque ambos são membros da Assembleia de Deus, é ignorar que, por trás dos 12,3 milhões de membros detectados pelo IBGE, a Assembleia de Deus é rachada entre ministérios Belém, Madureira, Santos, Bom Retiro, Ipiranga, Perus e diversos outros, cada um com seu líder, sua politicagem e sua aplicação doutrinária. A Assembleia de Deus Vitória em Cristo de Malafaia, aliás, sequer pertence à Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil.

Ignorância parecida se manifesta em relação ao uso do termo “fundamentalista”, como sinônimo de “literalista”, aquele incapaz de metaforizar as verdades morais dos textos sagrados. A teologia cristã debate há dois mil anos sobre a observação, interpretação e aplicação dos escritos sagrados, quais são alegóricos e quais são históricos, quais são “poesias” e quais são literais. O deputado
Jean Wyllys, colunista da Carta Capital, do alto de alguma autoridade teológica presumida, já chegou à sua conclusão: o que não for leitura liberal, é fundamentalista e, portanto, uma ameaça às minorias oprimidas. (Liberalismo teológico é uma corrente teológica do final do século 19 que lançou uma leitura crítica das escrituras, completamente alegorizada, negando sua autoridade sobrenatural, a existência dos milagres, e separando história e teologia).

Só que isso simplesmente não é verdade. Dentro da multifacetação das igrejas de tradição evangélicas, há as chamadas “inclusivas”, mas há diversas igrejas históricas, tradicionais, teologicamente ortodoxas, que acreditam nos absolutos da “sola scriptura” da Reforma Protestante, mas que têm política acolhedora e amorosa com as minorias. Algumas criaram pastorais para tratar da questão homossexual, outras trabalham para integrá-los em seus quadros leigos; outros, como disse o pastor batista Ed René Kivitz, estão mais dispostos a aprender como tratar “uma pessoa que está diante de mim dizendo ter sido rejeitado por sua família, pelo meu pai, pela minha igreja” do que discutir a literalidade dos textos do Velho Testamento.

O panorama da questão pode ser melhor entendido em Entre a cruz e o arco-íris: A complexa relação dos cristãos com a Homoafetividade (Editora Autêntica), livro qual tive a honra de editar. Nele, o pastor batista e sociólogo americano Tony Campolo, ex-conselheiro do presidente Bill Clinton, diz: “Se você vai dizer à comunidade homossexual que em nome de Jesus você a ama (…) não teria que lutar por políticas públicas que demonstrem que você as ama? Pode haver amor sem justiça? Eu luto pela justiça em favor de gays e lésbicas, porque em nome de Jesus Cristo eu os amo.” Campolo, entretanto, faz distinção entre direitos e casamento: “O governo não deve se envolver nem declarar, de forma alguma, o que é casamento, quem pode ou não se casar”, ele disse. “Governo existe para garantir os direitos das pessoas. Casamento é um sacramento da igreja – governos não devem decidir quem deve ou não receber esse sacramento.” Campolo acredita que esta será a visão dominante entre cristãos americanos “em cinco ou seis anos”.

Entre os evangélicos brasileiros há quem pense desde já como Campolo – distinguindo união civil de casamento. Há quem pense de forma ainda mais radical: que a união civil, com implicações patrimoniais e status de família, deveria valer não apenas para casais homossexuais, mas para irmãos, primos ou quem quer que se entenda como família. Há quem defenda o acolhimento dos gays nas igrejas, mas o celibato para eles. Quem, embora sabendo que mais da metade das famílias brasileiras já não são no formato pai-mãe-filhos, ainda luta para restabelecer esse padrão idealizado. Há, sim, quem acredite que o seu conjunto de doutrinas e o seu modo de vida são fundamentais. Há aqueles que, enquanto estamos discutindo aqui, está mais preocupado se a melhor tradução do grego é a João Ferreira de Almeida ou a Nova Versão Internacional. E há quem acorde diariamente acreditando ser porta-voz do “povo de Deus”, pague espaço em redes de televisão para multiplicar esse delírio (mas, a julgar pelo 1% de intenção de voto do Pastor Everaldo, somente ativistas gays e jornalistas desmotivados acreditam nesse discurso). Esses são “os evangélicos”.

Na fatídica sexta-feira em que o PSB divulgou seu programa de governo, enquanto Malafaia gritava no Twitter em CAPSLOCK furibundo, o pastor presbiteriano Marcos Botelho, postou: “Marina, que bom que vc recebeu os líderes do movimento LGBTs, receba as reivindicações com a tua coerência e discernimento de sempre e um compromisso com o estado laico que é sua bandeira. Vamos colocar uma pedra em cima dessa polarização ridícula entre gays e evangélicos que só da IBOPE para líderes políticos e pastores oportunistas.”

Botelho não representa “os evangélicos” porque não existe “os evangélicos”. Mas Marcos Botelho existe e é evangélico. Assim como existe William Lane Craig, o filósofo que convida periodicamente Richard Dawkins para um debate público, do qual este sempre se esquiva; existe o geneticista Francis Collins vencendo o William Award da Sociedade Americana de Genética Humana; existe Jimmy Carter, dando aula na escola bíblica no domingo e sendo entrevistado para a capa da Rolling Stone por Hunter Thompson na segunda-feira; existe o pastor congregacional inglês John Harvard tirando dinheiro do próprio bolso para fundar uma universidade “para a honra de Deus” nos Estados Unidos que leva seu sobrenome; existe o pastor batista Martin Luther King como o maior ativista de todos os tempos; existe o jovem paulista Marco Gomes, o “melhor profissional de marketing do mundo”, pedindo licença para “
falar uma coisa sobre os evangélicos”. E existe o Feliciano, o Edir Macedo, a Aline Barros, o Thalles Roberto, o Silas Malafaia e o mercado gospel. Como existe bancada evangélica, mas existem os que lutaram pela “separação entre igreja e estado” na constituição, e existem os que acreditam que levar Jesus Cristo para a política é trabalhar não para si, mas para os menos favorecidos.

Existe o amor e existe a justiça, como existe o preconceito, o dogmatismo, o engano, o medo, a vaidade e a corrupção. Não porque somos evangélicos, mas porque somos humanos.

Ricardo Alexandre, na
CartaCapital
 
Fonte Eletrônica;
 



 

Jornalista afirma: O maior inimigo de uma igreja evangélica é… outra igreja evangélica.



O preconceito que iguala os evangélicos é o mesmo que considera Marina sua representante

A Igreja Universal do Reino de Deus, na figura do bispo Edir Macedo, é favorável à interrupção voluntária da gestação, ao aborto. O pastor Silas Malafaia, de um dos ramos da Assembléia de Deus, é contra. E também é contra ampliar os direitos da comunidade LGBTTT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros).

Tal atitude é bem diferente da Comunidade Cidade de Refúgio, igreja evangélica de matriz neopentecostal liderada por um casal de lésbicas, as pastoras Lanna Holder e Rosania Rocha, para as quais Deus distribui seu amor igualmente entre todos.

Muitos adventistas são vegetarianos.

A bispa Sônia Hernandes, da Igreja Apostólica Renascer em Cristo, não é vegetariana. Ela adora assistir às sangrentas lutas de MMA enquanto se veste com roupas de grifes famosas (sem dispensar as jóias H. Stern, é claro!).

Já o apóstolo Valdemiro Santiago, da Igreja Mundial do Poder de Deus, nem sabe bem o que é uma grife. Para ele, o legal é usar um chapéu de vaqueiro e uma toalha branca no pescoço, que ele chama de “ungida” (depois de empapada de suor, ele a oferece aos milhares de fiéis que comparecem aos seus cultos; dizem que faz milagres).

Tem igreja evangélica para todos os gostos e humores.

Tem a Bola de Neve, do surfista e empresário Rinaldo de Seixas Pereira, cujos cultos são celebrados em um púlpito em forma de prancha, ao som de reggae e rock.

Tem o Ministério de Louvor Diante do Trono, da cantora, compositora e pastora Ana Paula Valadão, que já ministrou uma cerimônia vestida com uniforme militar, para ordenar a todas as mulheres presentes que “batessem continência para o General Jesus”, e “erguessem suas Bíblias como se fossem armas para derrotar os inimigos da família, inimigos da vida financeira, inimigos do chamado ministerial e da vida profissional”.

A amostra já deu? Pois tem muito mais. É só percorrer as ruas das grandes cidades para ver quantas milhares de combinações produzem as palavras-chave Ministério, Amor, Jesus, Cristo, Caminho, Luz, Senhor, Deus, Jeová, Canaã, Igreja, Missão, Missionário, para formar nomes de igrejas.

São denominações minúsculas, instaladas tantas vezes na garagem da casa do pastor, até chegar a outras, gigantescas, com milhões de fiéis e sistema de rádio e TV. Encontram-se nos bairros ricos, nas periferias, nas tribos de índios, nas cadeias. Nos quilombos e nos muquifos.

Cada uma vem com sua visão de mundo, estratégia de sobrevivência, formas de arrecadação de fundos.

Há as que aceitam cartão de crédito e débito, as que só trabalham com dinheiro e as que não estão nem aí para o vil metal, como uma que encontrei em Tocantins, que só aceita doações em mandioca, para alimentar a fábrica de farinha que funciona atrás do templo pobrezinho.

Tal diversidade explica-se pela origem. A nota mais característica da Reforma Protestante de Martinho Lutero (século 16) é exatamente aquela que deu a cada leitor da Bíblia o poder de acessar a palavra de Deus sem intermediários –na tradição católica, esse papel é monopolizado pela Igreja e seus sacerdotes. É, portanto, constitutiva do protestantismo a polifonia de interpretações sobre a religião, a moral e a vida.

Esqueça o “manda quem pode, obedece quem tem juízo”, vigente entre os católicos. Discordou do pastor, dos métodos, dos cânticos, dos ensinamentos? Vá para outra igreja! Ou, se não houver nenhuma boa o suficiente para os seus propósitos e sonhos, funde a sua própria!

Eis a razão por que é tão estúpido o preconceito contra os evangélicos. Porque trata todos como se fossem iguais, como se acreditassem nas mesmas coisas, como se tivessem um pensamento único, um só líder (como o papa), uma só hierarquia (como a Católica).

Aliás, a rivalidade atual, verdadeira guerra fratricida cheia de denúncias recíprocas, entre a Igreja Universal do Reino de Deus (do bispo Edir Macedo) e a sua dissidência, a Igreja Mundial do Poder de Deus (do apóstolo Valdemiro Santiago) mostra que, às vezes, o maior inimigo de uma igreja evangélica é… outra igreja evangélica.

Marina Silva (PSB), portanto, não é a representante dos evangélicos na disputa presidencial. Ela é apenas mais uma evangélica entre 42,3 milhões de brasileiros (Censo IBGE 2010), gente que, em comum, tem o fato de acreditar na justificação única pela fé que vem de Deus. Daí para frente, é o mundão.

Laura Capriglione

Fonte Eletrônica;

http://macabeuscomunidades.blogspot.com.br/

sábado, 6 de setembro de 2014

Lucas 23 e a hora da ida do Ladrão aos céus


INTRODUÇÃO

O presente estudo visa trazer um esclarecimento sobre a polêmica passagem de Lucas 23, 43, sobre a hora que o ladrão que morreu ao lado de Jesus na cruz foi aos céus e a correta pontuação da frase. Muito embora as melhores traduções do mundo sejam quase que unânimes em traduzir a passagem da seguinte forma: "E disse-lhe Jesus: Em verdade te digo, hoje estarás comigo no Paraíso.", há ainda quem questione esta tradução e pontuação, sugerindo que ela na realidade não fala que o ladrão iria para a cruz no mesmo dia em que Jesus falou estas palavras, como as Testemunhas de Jeová e outros que acreditam na heresia do sono e da mortalidade da alma. Baseado nas argumentações apresentadas por estes, nos propomos a fazer aqui uma completa refutação ao que eles chamam de "correta tradução". 
 
OBJEÇÃO I

A Tradução do Novo Mundo (TNM) das Testemunhas de Jeová pontua este versículo da seguinte forma:

E ele lhe disse: 'Deveras, eu te digo hoje: Estarás comigo no Paraíso.'” (Lucas 23, 43)
Em defesa da colocação da vírgula depois de “hoje”, a Torre de Vigia escreve:
O relato de Lucas mostra que um ladrão, que está sendo executado ao lado de Jesus Cristo, falou palavras em defesa de Jesus e pediu que Jesus se lembrasse dele quando ele entresse em seu reino. A resposta de Jesus foi: “Em verdade vos digo hoje: Estarás comigo no Paraíso.” (Lucas 23, 39-43) A pontuação mostrada na prestação dessas palavras deve, é claro, depender da compreensão do tradutor do sentido das palavras de Jesus, uma vez que nenhuma pontuação foi usada no texto original grego. Pontuação no estilo moderno não se tornou comum até por volta do século IX d.C. Considerando que muitas traduções colocam uma vírgula antes da palavra “hoje” e, assim, dá a impressão de que o malfeitor entrou no Paraíso naquele mesmo dia, não há nada no resto das Escrituras para apoiar isso. O próprio Jesus estava morto e no túmulo até o terceiro dia e depois foi ressuscitado como “as primícias” da ressurreição. (Atos 10, 40, 1 Coríntios 15. 20; Col 1, 18) Ele ascendeu ao céu 40 dias depois. João 20, 17; Atos 1, 1-3, 9.
A prova é, portanto, que o uso da palavra “hoje” por Jesus não foi para dar tempo que o malfeitor estaria no Paraíso, mas, sim, chamar a atenção para o tempo em que a promessa foi feita e enquanto o malfeitor mostrava uma medida de fé em Jesus. Foi um dia em que Jesus foi rejeitado e condenado pelos maiores líderes religiosos de seu próprio povo e depois foi condenado a morrer pela autoridade romana. Ele tinha se tornado um objeto de escárnio e ao ridícularização.Assim, o malfeitor ao lado dele mostrou uma qualidade notável e atitude louvável de coração em não ir junto com a multidão, mas, sim, falando em nome de Jesus e expressando a crença em seu reinado vindouro. Reconhecendo que a ênfase está colocada corretamente na hora que a promessa foi feita e não no momento da sua realização, outras traduções, como aquelas em Inglês feitas por Rotherham e Lamsa, aquelas em alemão por Reinhardt e W. Michaelis, bem como no curetoniano sírio do século V d.C, tornou o texto de uma forma semelhante à leitura de Tradução do Novo Mundo, aqui citada.” (Insight on the Scriptures. 2 Volumes. Brooklyn, NY:  Watchtower Bible and Tract Society of New York, Inc. "Paradise").

RESPOSTA I

Gostaria em primeiro lugar salientar que a pontuação deste verso é de pouca importância para os cristãos ortodoxos. Nossa teologia não é negativamente impactada se a vírgula ocorre depois de “hoje” em vez de antes. No entanto o mesmo não acontece com a teologia da Torre de Vigia. O ensinamento da Torre de Vigia que o morto cessa de existir, exceto na mente de Deus e que Jesus estava realmente “morto” no túmulo é colocado em risco, se Jesus estiver, de fato, prometendo o ladrão que ele iria estar com o Senhor no paraíso no mesmo dia. A torre de vigia é obrigada a defender sua colocação da vírgula para preservar sua teologia; Os cristãos ortodoxos não têm tal fardo. Se a evidência apoia fortemente a maioria das traduções contra a TNM, é razoável concluir que a tradução da Torre de Vigia deve mais a teologia do que a uma busca rigorosa de precisão na tradução.
 
A torre de vigia está correta que a colocação da vírgula deve depender da compreensão do tradutor do que Jesus quis dizer. Também está correto quando diz que “muitas” traduções colocam a vírgula antes hoje[1]. A questão, então é, por que tantas traduções colocam a vírgula antes de “hoje”, se este versículo não é teologicamente significativo para a maioria dos tradutores. Não se pode dizer que isso é apenas uma questão de convenção, pois todas as traduções não são uniformes em pontuar outros versos, mesmo aqueles mais teologicamente significativos para os cristãos ortodoxos do que Lucas 23, 43 (por exemplo Romanos 9, 5). Em outras palavras, deve haver boas razões para além da teologia ou convenção gramatical para dar conta da quase uniformidade com que estudiosos tratam este versículo.
“Em verdade vos digo...” as frases de Jesus.
A resposta está nas características da fórmula Jesus usa em Lucas 23, 43: “Em verdade vos digo...” O Dicionário de Jesus e dos Evangelhos descreve esta fórmula da seguinte maneira:
Amém’ é usada cem vezes nos Evangelhos... É sempre a primeira palavra da expressão estereotipada “Em verdade vos digo” e é sempre e somente falada por Jesus, aparentemente para enfatizar o significado das palavras que ele está prestes a falar. Nenhuma outra pessoa - apóstolo ou profeta - da igreja primitiva sentiu a liberdade de seguir o seu exemplo, fazendo uso dessa mesma fórmula” (Dicionário de Jesus, p. 7).
Assim, temos uma fórmula -aparentemente inventada por Jesus- usada quase 100 vezes nos evangelhos, que precede uma expressão solene de grande importância. A fórmula nunca é modificada por um advérbio de tempo; tudo o que se segue é considerado parte da expressão que Jesus enfatiza. Entendendo “hoje” como parte da promessa que Jesus faz ao ladrão se adapta perfeitamente ao contexto, pois, como John Gill aponta em seu comentário, citado acima, o ladrão estava pedindo a Jesus que se lembrasse dele no seu reino futuro. Mas Jesus disse-lhe: “Em verdade vos digo que, hoje estarás comigo no paraíso.”.
Parece óbvio que a grande maioria dos tradutores ao longo dos séculos têm entendido que Jesus está aqui usando justamente a fórmula “Em verdade te digo...” como ele faz em cerca de 100 exemplos em outros lugares nos Evangelhos. É extremamente improvável que só aqui -onde a colocação da vírgula significa muito para a Torre de Vigia- Jesus alterou sua fórmula, adicionando “Hoje”.
A Torre de Vigia afirma que nada nas Escrituras apoia a ideia de que o ladrão entrou no Paraíso e foi com Jesus naquele dia. Mas este argumento baseia-se na interpretação da Torre de Vigia do restante da Escritura, que em si é no mínimo discutível. Além disso, se Jesus está realmente usando a fórmula em Lucas 23, 43 exatamente como ele faz em qualquer outro versículo em que ele a usa, este versículo nega expressamente a interpretação da Torre de Vigia do resto das Escrituras. De fato, há evidências substanciais no Novo Testamento que os crentes são tomados imediatamente após a sua morte a uma existência consciente com Jesus no Paraíso. Paulo, por exemplo, escreve:
 “Mas de ambos os lados estou em aperto, tendo desejo de partir, e estar com Cristo, porque isto é ainda muito melhor. Mas julgo mais necessário, por amor de vós, ficar na carne.” (Felipenses 1, 23-24; veja também II Coríntios 6, 6; 8-9)
A torre de vigia, é claro, tem a sua própria interpretação idiossincrática desse versículo que se harmoniza com a sua própria teologia, mas deve-se admitir que a leitura simples do texto é que Paulo está esperando para ver o Senhor, quando ele partir e não na futura ressurreição dos santos. Se somarmos a isso a representação de santos mortos no céu, no livro de Apocalipse (por exemplo, Apocalipse 6, 9-10), a parábola de Lázaro e do rico (Lucas 16,  19-31), e a promessa de Jesus que aqueles que creem n’Ele “nunca morrerá” (João 11, 25-26), é claro que as Escrituras contêm um amplo suporte para a ideia de que o ladrão poderia, de fato, estar com Jesus naquele mesmo dia.
Se esta evidência não é suficiente, considere uma passagem apenas alguns capítulos depois no Evangelho de Lucas:
E eles, espantados e atemorizados, pensavam que viam algum espírito. E ele lhes disse: Por que estais perturbados, e por que sobem tais pensamentos aos vossos corações? Vede as minhas mãos e os meus pés, que sou eu mesmo; apalpai-me e vede, pois um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que eu tenho.” (Lucas 24, 37-39)
Se o resto da Escritura não apoia a ideia de que a alma do ladrão poderia existir fora de seu corpo, então certamente os discípulos saberia disso e, portanto, não teria pensado que um Jesus vivo poderia ser um espírito. Mesmo que os discípulos estivessem confusos quanto a este ponto, por que Jesus não corrigi-os, em vez de incentivá-los nessa crença “antibíblico”? De fato, Jesus confirma a ideia de que ele poderia ter sido um espírito, mas pelo fato de que ele possuía o seu corpo! Se os espíritos podem existir fora de seus corpos, é perfeitamente razoável concluir que o espírito do ladrão iria estar com Jesus no dia em que morresse, e concluir que estaremos com Ele, também, se colocarmos a nossa fé n’Ele, como o ladrão fez.
Outras Traduções
A Defesa final da Torre de Vigia é que um punhado de outras traduções e a curetoniana síria também coloca “hoje” com “Em verdade vos digo” e não na expressão seguinte. Deve ser primeiro salientado que este argumento de autoridade, não prova que a vírgula é deslocada na maioria das traduções. A TNM não pode ser a única em sua pontuação deste versículo, mas esse fato não estabelece sua correção.
As duas versões em inglês mencionadas pela Torre de Vigia são Rotherham e Lamsa. A tradução de Rotherham de Lucas 23, 43 pode muito bem ser influenciada por EW Bullinger, a quem Rotherham conhecia os pontos de vista e a respeito[2]. Se as visões de Bullinger foram bem fundamentadas serão analisadas mais adiante neste ensaio. Em qualquer caso, a tradução de Rotherham não foi reconhecida pelos estudiosos da Bíblia de qualquer persuasão teológica como sendo autoritária. A tradução de George Lamsa pode ter sido uma vez pontuada como afirmam, mas todas as edições eu vi colocam a vírgula no local tradicional. Além disso, se a fonte aramaica da Lamsa foi a Peshitta (Bruce Metzger manifestou algumas dúvidas sobre este ponto[3]), as traduções inglesas da Peshitta por James Murdock e JW Etheridge, também, colocam a vírgula antes de “Hoje”.
 A versão Curetiana Siríaca
Em relação ao curetoniano siríaco, é verdade que ele coloca “hoje” com “Em verdade vos digo”, mas é problemático usar este fato em apoio a uma compreensão correta do texto original grego. Os antigos evangelhos siríacos são preservados em dois manuscritos: O Sinaitico e a curetoniano. Ambos contêm Lucas 23, 43. O Sinaitico provavelmente antecede ao curetoniano por cerca de 100 anos. Burkitt postula que o Sinaitico é um texto siríaco mais preciso, enquanto o curetoniano foi corrigido a partir de um texto grego mais tardio (uma contendo um número de passagens espúrias (Burkitt, Crawford, Evangelion Da-Mepharreshe, Vol 2, Gorgias Press, 2003.))
Lucas 23, 43 no texto do Sinaitico lê-se:
Jesus disse a ele, Em verdade eu te digo, hoje estarás comido no Paraíso[4]
A Peshitta Siríaca concorda com o texto sinaítico, contra o curetoniano, assim como o siríaco Diatessaron, oSahidiccopta, e uma série de manuscritos do latim antigo. Efrém, comentarista do século IV sobre os Evangelhos siríacos, cita este verso três vezes, omitindo o “hoje”. No entanto, diz ele:
 “Nosso Senhor encurtou sua liberalidade distante e deu uma promessa próxima, hoje e não no final.... Assim, através de um ladrão o paraíso foi aberto.[5]
O manuscrito curetoniano é, portanto, de nenhum valor para determinar a pontuação correta de Lucas 23, 43. Não pode ser demonstrado que a sua leitura foi considerada como normativa dentro da tradição siríaca do evangelho. Mais importante ainda é que a sua ligação a um original grego não pode ser estabelecida. O máximo que se pode dizer é que um tradutor siríaco ou corretor tornou o verso de uma forma semelhante à TNM. Não foi estabelecido que esta tradução é precisa. A evidência que temos sugere que não foi. Como estudioso siríaco dos Evangelhos P.J. Williams diz:
Enquanto o Grego podem ter sido ambíguo, intérpretes antigos esmagadoramente escolheram a interpretação oposta à da Torre de Vigia.[6]

OBJEÇÃO II

O apologista pró testemunha de Jeová, Greg Stafford, oferece uma série de argumentos em favor da pontuação da TMN de Lucas 23, 43.
 
Codex Vaticanus
Sua primeira argumentação é que um grande manuscrito antigo do Novo Testamento contém um sinal de pontuação - o equivalente a uma vírgula - depois de “hoje”, assim como faz a TNM:
 “Enquanto a pontuação em manuscritos do NT dos primeiros séculos d.C não é comum, um dos melhores, se não o melhor testemunho do texto do NT, o Codex Vaticanus ou B (Vaticano 1209) do século IV dC, tem uma marca de pontuação em Lucas 23, 43; a pontuação não é depois de “digo”, mas depois da grega palavra sêmeron, ‘hoje’”. (Stafford, jehovah's Witnesses Defended: An Answer to Scholars and Critics.  2nd Edition.  Huntington Beach, CA: Elihu Books. pp. 546-547).
Stafford diz que um estudioso da Biblioteca do Vaticano verificou por carta que a marca em questão não parece ser por um copista posterior, devido à cor da tinta. Sr. Stafford conclui que data do século IV e, portanto, oferece suporte textual para a pontuação da TMN a partir de um antigo manuscrito grego confiável.

RESPOSTA II

Não é de totalmente claro que o ponto no Codex B é uma marca intencional de pontuação. Pode ser nada mais do que um ponto ou uma mancha de tinta acidental.    
 
Uma mancha de tinta “acidental” ou ponto no Codex Vaticanus. A mancha aparece entre o rho e kappa em sarkos (‘carne’) em Romanos 9, 8.A imagem publicada da Torre de Vigia da alegada pontuação em Lucas 23, 43, Codex Vaticanus.
 
Se o ponto é, de fato, uma marca de pontuação intencional, ele quase certamente não foi feito pela mão original. O escriba original não usou o ponto, pois quando o manuscrito faz o uso de pontuação (o que ele faz raramente), ele geralmente adiciona um espaço extra, que não é o caso aqui:
 
Espaçamento típico acrescentado depois de uma pontuação em Codex Vaticanus (entre Lucas 22, 30 e 22, 31)
Além disso, se o escriba tinha a intenção de colocar uma vírgula após sêmeron, ele provavelmente teria usado o ponto médio como fez após ‘sarka’ em Romanos 9, 5 (e vários outros lugares) não, o ponto mais baixo, o que era mais ou menos equivalente ao nosso ponto e virgula.
Por fim, que eu saiba, não houve comentaristas ou críticos textuais que mencionassem a suposta vírgula no Vaticanus. Bruce Metzger, em seu Comentário Textual do Novo Testamento em grego, não diz nada sobre isso, mesmo que ele abordando o curetoniano Syraic (ver acima) em relação à pontuação correta de Lucas 23, 43, e discute o sinal de pontuação do Vaticanus em Romanos 9, 5.
O manuscrito Vaticanus foi originalmente escrito no século IV em tinta marrom, com um corretor logo depois de fazendo algumas pequenas mudanças. Em seguida, um escriba mais tarde, no século X ou XI, traçou sobre as letras em tinta preta, ignorando aquelas letras ou marcas que ele pensava estar errado, e fazer algumas mudançasadicionais. Como se observa, o Sr. Stafford (citando uma carta de um estudioso da Biblioteca do Vaticano) diz que o ponto é ‘marrom desbotado’ e conclui que data do século IV e não do copista medieval mais tardio. Sobre a cor poder indicar uma data de início para o ponto, isso não é certo. Mesmo que seja, não é estabelecido que é da mão original ou corretor do século IV, e o fato de que não foi reforçada pelo corretor mais tardio, indica que ele considerou esse ponto como não intencional ou por erro. Dr. Peter M. Head, especialista em manuscritos do Novo Testamento, escreve:
Eu não acho que é a pontuação. Certamente não na produção de escriba original: não há nada parecido em toda a abertura (a pontuação no Vaticanus é quase inteiramente apenas pelo espaçamento), ele não se parece com um ponto, mais como uma mancha ou como você disse, uma mancha; e o espaçamento está todo errado para ser a pontuação do escriba original. Suponho que é adicionado mais tarde por alguém querendo repontuar o texto, mas mesmo assim eu não estou convencido de que a cor é a mesmo que o outro material introduzido pelo potenciador / acentuador, então você tem que atribuí-la a um leitor/ pontuador desconhecido.
Portanto, o máximo que se pode dizer é que, se o ponto é pontuação intencional, não foi copiado de um exemplar do escriba original, mas foi introduzido - por uma razão desconhecida - por mão desconhecida em um momento incerto. Isto pareceria evidência incerta, de fato, de uma tradição textual nos manuscritos gregos que datam do século IV, como o Sr. Stafford propõe.
Mas e se pudesse ser estabelecido que a marca é intencional e data do século IV (como improvável que pareça) - então, fornece apoio inicial para a pontuação da TMN? Sim e não. Seria forneceria provas além do curetoniano siríaco que alguém há muito tempo, devido à ambigüidade do grego, entendeu (ou incompreendida) o verso como a Torre de Vigia faz. Mas não provaria nada em relação ao que Lucas tinha em mente. Os estudiosos textuais que pontuam o nosso Novo Testamento grego não fazem com base na pontuação de manuscritos antigos:
A presença de marcas de pontuação em manuscritos antigos do Novo Testamento é tão esporádica e casual que não se pode inferir com confiança a construção dada pelo pontuador a passagem.” (Metzger, p. 460, n. 2.)
Assim, mesmo concedendo ao Sr. Stafford seu argumento, a presença de um sinal de pontuação (se é que é) em um manuscrito antigo não nos diz nada sobre como pontuar corretamente Lucas 23, 43. A pontuação correta é uma questão de exegese, não de crítica textual.

OBJEÇÃO III

Muito dos que advogam a localização da vírgula depois de sêmeron, Greg Stafford inclui citando E.W. Bullinger em suporte da visão que “hoje” em Lucas 23, 43 é um hebraísmo que expressa definição de ocasião:
"A palavra “verdade’ nos aponta para a solenidade da ocasião, e para a importância do que está prestes a ser dito. A circunstância solene em que as palavras foram proferidas marcou a maravilhosa fé do malfeitor moribundo; e o Senhor se referiu a este ligando a palavra “hoje” com “eu digo”. "Em verdade, te digo hoje.". Este dia, quando tudo parece perdido, e não há esperança; Neste dia, quando, em vez de reinar estou prestes a morrer. Este dia, eu te digo: “Tu estarás comigo no paraíso.”
“‘Eu te digo hoje’ era uma expressão hebraica comum para enfatizar ocasião de fazer uma declaração solene (Ver Deuteronômio IV. 26, 39, 40; v. 1; vi. 6; VII.11; VIII. 1; 11, 19; IX. 3; X. 13; XI. 2, 8, 13, 26, 27, 28, 32; XIII. 18; XV. 5; XIX. 9; XXVI. 3, 16, 18; XXVII. 1, 4, 10; XXVIII. 1, 13, 14, 15; XXIX. 12; XXX. 2, 8, 11, 15, 16, 18, 19; XXXII. 46).” (E. W. Bullinger, How to Enjoy the Bible, 5th ed. (London: Eyre & Spottiswoode, 1921), p. 48.)
Stafford então conclui:
Dos 40 exemplos listados por Bullinger pelo menos 33 são paralelos a Lucas 23, 43 em usar um verbo de discurso ou comando com ‘hoje’” (Stafford, p. 550)
RESPOSTA III

Seria, na verdade, uma evidência impressionante em favor da pontuação TNM se houvesse 33 paralelos do AT de Lucas 23, 43. Mas eu acredito que Bullinger e aqueles que o citam estão exagerando. Nem uma só vez em qualquer um dos textos listados por Bullinger que o orador começar com as palavras “Em verdade”. Como mencionado acima, este recurso de expressão de Jesus é único que usa “Em verdade vos digo...” sem qualquer outra coisa parecida na linguagem bíblica. Além disso, em nenhum desses textos do AT o falante usa a palavra legô. Moisés, por exemplo, usa vários verbos de discurso em suas frase com “hoje” em Deuteronômio, mas ele não usa legô sequer uma vez nestes contextos. Assim, nenhum dos exemplos listados por Bullinger (ou os outros listados por Stafford) como “paralelos” de  Lucas 23, 43 contém as palavras “em verdade” ou “legô”.
 
Quando nos voltamos para o NT, não parece que essa “expressão hebraica comum” é comum a todos. Há apenas um versículo (deixando de lado Lucas 23, 43) que pode ser um exemplo des expressão idiomática: Atos 20, 26. Aqui, Paulo está usando uma linguagem quase legal, semelhante à linguagem de aliança de Deuteronômio. É significativo que aqui, como no Antigo Testamento, o verbo não é legô. Em vez disso, Paulo usa um verbo que significa “testemunhar’: “eu testifico a você neste dia que...” (marturomai humin en tê sêmeron Hemera Hoti...). Isto é semelhante a Deuteronômio 8, 19 na LXX: “Eu testemunho contra você hoje...” (O verbo aqui é diamarturomai, um cognato próximo de marturomai).
Jesus é citado usando a palavra sêmeron 12 vezes no evangelho. Em nenhum dessas, ela ocorre como parte de uma frase introdutória. Jesus, no entanto, faz uma série de declarações solenes e formais precedidas da expressão “Eu vos digo...” (alguns com “Em verdade”, alguns sem). Na verdade, uma pesquisa de Gramcord revela 144  exemplos do tipo. Assim, temos 144 casos de Jesus fazendo uma proclamação formal e nenhuma delas usando a palavra “hoje”, e nenhuma delas reflete a chamada a “expressão hebraica comum”.
Deixando de lado Lucas 23, 43, há apenas uma ligeira evidência de que a expressõa idiomática hebraica, como definido por Bullinger, na verdade ocorre no NT (somente Atos 20, 26, onde o verbo é “testemunhar”). Não há evidências de que esta linguagem ocorre com o verbo legô, e não há evidências de que Jesus usa essa expressão com qualquer verbo. Se colocarmos essa evidência contra 74 exemplos de Jesus dizendo: “Em verdade vos digo...” (e 70 mais de onde Ele simplesmente diz: “Eu te digo...”), parece claro que Lucas 23, 43 é paralelo destes exemplos, e não aqueles listados por Bullinger e Stafford.

OBJEÇÃO IV  (O não uso do “hoti”= “que”)

Aqueles que advogam a pontuação TNM também citam Bullinger em apoio da sua tese de que o não-uso de Hoti (uma conjunção que muitas vezes significa “que”) indica que sêmeron vai com “em verdade vos digo” e não o que se segue:
A interpretação deste versículo depende inteiramente da pontuação, a qual repousa inteiramente na autoridade humana, os manuscritos gregos não tinham a pontuação de qualquer tipo até o século IX, e então é só um ponto no meio da linha que separa cada palavra.
O verbo “dizer”, quando seguido de Hoti, introduz o ipsissima verba do que é dito; e respostas às nossas aspas. Então, aqui (em Lucas 23, 43), na ausência de Hoti (= “que”), pode haver uma dúvida quanto às palavras reais incluídas na cláusula dependente. Mas a dúvida é resolvida (1) pelo expressão hebraica comum, “te digo isto hoje” que é constantemente utilizado para dar ênfase muito solene; bem como (2) pelo uso observável em outras passagens onde o verbo está conectado com a palavra sêmeron = hoje.
 1. Com hoti:
Marcos 14, 30: “Em verdade te digo, que (Hoti) este dia... tu me negaras três vezes.”
Lucas 4, 21: “E Ele começou a dizer-lhes que (Hoti) ‘Este dia esta Escritura se cumpriu em vossos ouvidos. ’”.
Lucas 5, 26: “Dizendo (Hoti = que), ‘Temos visto coisas estranhas hoje.’”
Lucas 19, 9: “Jesus disse-lhe que (Hoti), ‘hoje a salvação entra nesta casa’”
Para outros exemplos do verbo “dizer”, seguido por “Hoti”, mas não conectado com sêmeron (hoje), ver Mat. 14,26; 16, 18; 21, 3; 26, 34; 27, 4; Marcos 1,40; 6, 14.15.18.35; 9, 26, 14, 25; Lucas 4, 24.41; 15, 27; 17, 10; 19, 7.
2. Sem hoti:
Por outro lado, na ausência de hoti (= que), a relação da palavra “dia” deve ser determinada pelo contexto.

Lucas 22, 4: “E Ele disse: ‘Digo-te, Pedro, de modo algum o galo cantarará hoje, antes que tu negues três vezes que tu conheces-me.’”. Aqui, a palavra “dia” está ligada com o verbo “cantar”, uma vez que o contexto o exije. Compare Heb. 4, 7.
É o mesmo em Lucas 23,43: “E Jesus disse-lhe: ‘Em verdade te digo hoje [ou este dia de hoje, quando, embora eles estivessem prestes a morrer, este homem tinha expressado tão grande fé no Reino vindouro do Messias, e, portanto, a ressurreição do Senhor para ser seu rei - agora, sob tais circunstâncias solenes] tu estarás, comigo, no Paraíso’”. Porque, quando o Messias reina, Seu Reino irá converter a terra prometida num paraíso. Leia Isa. 35, e veja nota em Eclesiastes. 2, 5.” (The Companion Bible (London: Oxford University Press, 1932), Appendix 173.)
Stafford escreve: 
Se Lucas queria separar “hoje” de “Eu te digo”, depois de tudo o que Lucas tinha que fazer era colocar semeron (“hoje”) após Hoti, o que ele faz não uma, nem duas, nem três vezes, nem quatro vezes, mas cinco vezes!... Na verdade, Lucas 23, 43 é a única instância desde Lucas 22, 34, onde um verbo de expressão é usado com semeron e onde Hoti não o separa daquele verbo.” (Stafford pg. 551-552).

RESPOSTA IV

Deve salientar-se que Bullinger não vai tão longe como Stafford ou outro apologista testemunha de Jeová ao afirmar que se Lucas quisesse separar “Eu te digo” de “hoje”, ele teria usado Hoti. Bullinger simplesmente demonstra o fato bem conhecido que Hoti muitas vezes é usado para introduzir o discurso direto nogrego do Novo Testamento, sendo neste uso mais ou menos equivalente as nossas aspas. Ele corretamente diz que sem Hoti, o contexto deve determinar onde a cláusula introdutória termina e a oração principal começa. Bullinger, claro, coloca “hoje” com “Eu te digo”, alegando que ele reflete uma “expressão hebraica comum”. Conforme detalhado acima, este ponto de vista é quase certamente errado.
 
O fato de que Lucas poderia ter usado Hoti para separar “Eu te digo” de “hoje” é verdade, mas não prova nada; Lucas também poderia ter usado Hoti para incluir “hoje” com “Eu te digo’, colocando-o depois sêmeron. O uso ou não uso deHoti parece ser puramente uma escolha estilística dos autores do NT em uma base de caso-a-caso. Lucas, por exemplo, usa Hoti em 4 frases com “em verdade” (4, 24; 12, 37; 18, 28; 21, 32) e omite-o em dois (18, 17 e 23, 43). Das 74 palavras “Amen” registradas nos Evangelhos, 34 omite hoti. Não parece haver nenhuma diferença semântica entre o uso de hoti ou sua omissão nesses versículos. Este fato é ilustrado por Marcos 9, 41 e 11, 23, que contêm hoti, e as passagens paralelas em Mateus 10, 42 e 21, 21, que não contém. Curiosamente, Marcos 14, 25 é vagamente acompanhado por Mateus 26, 29 e Lucas 22, 18. Apesar de muitas variações destas versos, as frases introdutórias de cada um são bastante similar.Marcos usa hoti, enquanto Mateus não. Lucas provavelmente não usa hoti, também. Mas nenhum estudioso grego argumenta que o significado da frase introdutória é alterada substancialmente pela presença ou ausência de hoti.
Significativamente, em nenhum lugar dos 144 exemplos das frases de Jesus “Eu te digo” ou “Vos digo” hoti é usado para incluir um advérbio na frase introdutória. É claro que a expressão regular de Jesus é “eu te digo” ou “Em verdade vos digo”, e não “Eu te digo hoje”.
Stafford está correto que cinco vezes Lucas coloca hoti entre um verbo de fala e sêmeron, mas este fato não provar nada que Lucas teria feito isso em Lucas 23, 43, com a intenção de separar “hoje” de “eu te digo”. Em quatro dos cinco exemplos, hoti é utilizado em sua função regular para marcar o que segue como uma citação direta (4, 21; 5, 26; 19, 9; 22, 61); nenhuma destas expressões é paralela a frase de Jesus “Digo-vos”. No exemplo restante (2,11), as funções hoti é como uma conjunção causal (“porque”)[7] e por isso não pode ser justamente comparada com o função que hoti iria realizar, se Lucas usasse em 23, 43.
Stafford e outros defensores que argumentam que a ausência de hoti exige que sêmeron modificque o verbo precedente está lendo demais para as provas que eles apresentam. A não utilização da hoti não é problema na pontuação correta de Lucas 23, 43.

OBJEÇÃO V (“HOJE” NA LXX)

Os apologistas das Testemunhas de Jeová afirmam que o uso de sêmeron na LXX apoia a opinião de que em Lucas 23, 43 a palavra deve se modificar “Eu te digo” em vez de “Você estará comigo...” Referindo-se a citação de Bullinger do livro “How to Enjoy the Bible” citada acima, Greg Stafford escreve:
Em cada um dos exemplos listados por Bullinger, se elas envolvem o uso de um verbo de fala ou não, “hoje” é sempre usado com o verbo que o precede” (Stafford, p. 551).
Sr. Stafford também cita Atos 20, 26 em apoio do seu ponto de vista.

RESPOSTA V

Quando se considera exemplos LXX, além dos listados por Bullinger, é claro que sêmeron pode, e muitas vezes, modificar o verbo seguinte (Levítico 10, 19; Josué 5, 9; 22, 31; I Samuel 10, 19; 11,13; 2 Samuel 14, 22; 15, 20; 16, 3; Salmo 2, 7; 95, 7; Provérbios 7, 4). Mais importante, quando se considera o uso de Lucas de sêmeron em Lucas e Atos, das 20 ocorrências, oito modificam o verbo que se segue (Lucas 4, 21; 13, 33, 19, 5.9, Atos 4, 9; 13, 33; 26, 2; 27, 33). Assim, Lucas a colocação de sêmeron antes do verbo modifica 40% das vezes. Mais uma vez, a conclusão do Sr. Stafford parece exagerada.

OBJEÇÃO VI

Apologistas das testemunhas de Jeová e sites têm frequentemente citado evidências apresentadas em um tópico na lista de discussão do B-Grego no início de 2000 que sugere que pelo menos alguns cristãos já no século IV entendiam Lucas 23, 43 como sendo pontuado como é na TNM. Eles citam o fato de que o moderador da lista, Carl Conrad, foi convencido a mudar seu ponto de vista como resultado desta evidência. Uma cópia do post público de Conrad detalhando por que ele mudou de ideia pode ser encontrada aqui.

RESPOSTA VI

Parece pela própria admissão de Conrad que ele mudou de ideia depois de analisar em vários lugares (dois, que remonta a 1996) ao longo de uma noite. Não parece que ele teve tempo para investigar as provas apresentadas para avaliar completamente o mérito. Eu acredito que essa investigação vai revelar que a evidência mostra um pouco menos do que parece inicialmente.
 
Já foram discutidas duas evidências introdutórias à lista do B-Grego acima (Codex B e o curetoniano siríaco). A evidência restante é uma série de citações de textos cristãos, cada um, referido na nota de Lucas 23, 43 do Novo Testamento Grego de Tischendorf. Deve notar-se que Tischendorf colocou a vírgula antes sêmeron no seu texto crítico, e cita um número de fontes de suporte essa pontuação; aparentemente, em sua opinião, a evidência postou seletivamente para B-grego não foi significativa na determinação da pontuação adequada do texto.
Hesiquio de Jerusalém
A primeira citação fornecida à lista B-grego era de Hesychius de Jerusalém um escritor eclesiástico que morreu cerca de 434 d.C:
Tines men houtos anaginoskousin* Amen lego soi semeron* kai hypostizousin* eita epipherousin, hotiet' emou ese e to paradeiso
Tradução:
Alguns realmente leem assim: ‘Em verdade vos digo hoje’, e colocam uma vírgula, em seguida, eles acrescentam: ‘Você estará comigo no Paraíso.’” (Patrologia Graeca, Vol. 93, columns 432, 1433.) 
Esta citação é de “Coleção de Dificuldades e Soluções” (retirado de seu “Harmonia dos Evangelhos”). Os textos associados Hesíquio na Patrologia Graeca de Migne não são todos do Hesíquio de Jerusalém século V, e parece haver alguma dúvida se a coleção é realmente deste e não algum outro.[8]
Assumindo que a coleção é realmente uma obra de Hesíquio de Jerusalém, é importante colocar a sua citação no contexto.  A coleção é composta de uma série de “dificuldades” do texto bíblico, seguido por “soluções” do autor. Na seção “dificuldade” de Lucas 23, 43, Hesíquio escreve:
Como o Senhor pode cumprir de imediato sua promessa ao ladrão: “Hoje estarás comigo no Paraíso?”(Sêmeron met emou esê en to puradeiso)se de fato após a crucificação, Cristo estava no Hades libertando os mortos; ao contrário, é apropriado que o ladrão fosse responsável por sua natureza,” (ou, em uma leitura variante, que o ladrão foi para Hades) (Migne, PG, 93, 1431, tradução minha).
Hesíquio, então, entendia seus exemplares como apresentando sêmeron como modificando “você estará comigo...” e não “Em verdade vos digo...” a questão aberta de Hesíquio pressupõe  que essa compreensão de “hoje” é a opinião da maioria. Mas como poderia uma “dificuldade” surgir em primeiro lugar? Hesíquio não está sozinho entre os pais da igreja pós-Nicéia em ensinamento que Jesus desceu ao Hades para pregar aos espíritos em prisão durante os três dias que o seu corpo jazia no túmulo (1 Pedro 3, 19). Para explicar a “dificuldade” em Hesíquio, podemos postular uma de duas possibilidades:
1 - Lucas pretendia com sêmeron modificar “Em verdade vos digo...” e foi assim entendido pela Igreja primitiva. Mas por causa da ambigüidade do grego, a maioria dos cristãos começou a levá-la a modificar “Você vai estar comigo...”, apesar do fato de que esta pontuação criava uma dificuldade em relação ao ensino da descida de Cristo ao Hades.
2 - Lucas pretendeu com sêmeron modificar “Você estará comigo...” e foi assim entendido pela Igreja primitiva. Mas por causa da ambiguidade do grego, alguns cristãos começaram a levá-lo a modificar “Em verdade vos digo...”, porque essa pontuação removia uma dificuldade em relação ao ensino da descida de Cristo ao Hades.
Uma vez que exegetas e comentadores de todas as épocas procuram resolver as dificuldades ao invés de criá-las (assim como Hesíquio faz), a opção 2 parece de longe o mais correta.

Hesíquio responde à “dificuldade” da seguinte forma:
Alguns, de fatoensinam: ‘Em verdade te digo hoje’ - e uma vírgula - em seguida, acrescentam: “Comigo você estará no paraíso.” Como se dissesse: ‘Em verdade vos digo hoje, embora você esteja na cruz, estará comigo no Paraíso’. Mas, se a [difícil] leitura é correta, não há contradição; uma vez que divindade de nosso Salvador é ilimitada, Ele não foi apenas no Hades, mas também para o paraíso com o ladrão, e do Hades, e com o Pai, e no túmulo, na medida em que Ele enche todas as coisas”. (Migne, PG, 93, 1432 -1433; tradução minha)
Hesíquio confirma que “alguns” em sua época colocavam uma vírgula depois de “hoje”. Ele não nos diz quem ou quantos eram, o que torna difícil avaliar os méritos de seu ponto de vista, mas ele não explica o que quis dizer com a sua pontuação preferida: Não era para enfatizar quando Jesus estava falando, nem a utilização de uma “expressão hebraico comum” nem para seguir convenção da LXX, mas para resolver a posição atual do ladrão na cruz naquele dia, em contraste com o seu estado futuro e abençoado no Paraíso. Este fato é mais uma prova de que os vários argumentos gramaticais discutidos anteriormente eram desconhecidos no início da igreja, até mesmo por aqueles que defendem colocar a vírgula depois de “hoje”.
Hesíquio então continua a dizer que, se a leitura em sua seção de “dificuldade” estiver correta (ou seja, que “hoje” modifica “Eu estarei com você..”), não é um problema, porque a divindade de Cristo não se limita a um único lugar, mas permite que Ele esteja presente de uma só vez no Hades e no Paraíso, e - de fato - em todos os lugares ao mesmo tempo.
Assim, Hesíquio fornece apenas evidências marginais que Lucas destina uma vírgula depois de “hoje”, pelas seguintes razões:
1- Não é certo que Hesíquio de Jerusalém é o autor da coleção. Se não, pode datar de muito depois do século V.
2- Não sabemos quem são os “alguns” que ensinaram que a vírgula deveria ser colocada após sêmeron.
3- Não sabemos quão disseminado o seu ensino era nem quantos anos ela tinha.
4- Sabemos que a opinião da maioria foi que sêmeron modificava “Você estará comigo...”.
5- É muito mais provável que a pontuação que resolveu uma dificuldade doutrinal veio mais tarde.
6- A colocação da vírgula não era devido ao uso LXX ou uma expressão hebraica.
Teofilato

A próxima citação fornecida à lista B-Grego foi Teofilato da Bulgária um escritor eclesiástico que morreu por volta de 1112 d.C:
 “Alloi de ekbiazontai to rhema, stizontes eis to Semeron, hin' e to legomenon toiouton* Amen ego soi semeron* eita to, met' emou ese  en to paradeiso epipherontes.
Tradução:
Mas outros pressionam sobre a expressão, colocando um sinal de pontuação depois de ‘hoje’, de modo que seria dito assim: ‘Em verdade vos digo hoje’, e, em seguida, eles acrescentam a expressão: ‘Você estará comigo no Paraíso.’” (Teofilato, Patrologia Graeca, Vol. 123, coluna 1104)
Esta citação é da Explicação de Teofilato do Santo Evangelho segundo Lucas. Ele foi escrito após Teofilato tornar-se arcebispo de Ochrid, a capital do Reino da Bulgária, por volta do ano 1090 d.C. Para entender melhor o que está dizendo Teofilato nesta citação, considere como Teofilato apresenta os seus comentários sobre a promessa de Jesus ao ladrão:
Quando o ex-blasfemador reconheceu por esta voz que Jesus era realmente um rei, ele repreendeu o outro ladrão, e disse a Jesus: “Lembra te de mim no teu reino.” Como o Senhor respondeu? “Hoje tu estarás comigo no Paraíso” (Semeron met' emou ese en to paradeiso). Como homem, Ele estava na cruz, mas como Deus, Ele está em toda parte, tanto na Cruz e no paraíso, preenchendo todas as coisas, e em nenhum lugar ausente.” (Stade, Christopher, trans., The Explanation by Blessed Theophylact of The Holy Gospels, vol 3 (House Springs, MO: Chrysostom Press), p. 310.)
Assim, como com Hesíquio (acima), mais uma vez descobrimos que o entendimento contemporâneo predominante é que “hoje” modifica, “você estará comigo... e não “Em Verdade te digo”. Como Hesíquio, Teofilato aborda várias contradições bíblicas aparentes se “hoje” for assim entendida; e ele oferece interpretações que as resolvem. No entanto, é importante notar que o verso repontuado não é uma solução que ele considera viável.
Na tradução oferecida pela lista B-Grego, ekbiazontai é traduzida como “pressionam sobre”, que tem uma conotação neutra - como se Teofilato está simplesmente dizendo que “os outros”, pressionam sobre o ponto que eles estão fazendo, colocando a vírgula depois Sêmeron. Mas ekbiazontai (uma forma flexionada de ekbiazo) tem um significado muito mais negativo. Enquanto “pressionar sobre” é uma glosa oferecida por LSJ, o sentido não é “pressionar” como na ênfase, mas “espremer” como na aplicação de pressão, vigor, ou praticar a violência. A tradução mais exata (o que, a seu crédito, o listador do B-grego pediu) seria:
Mas outros têm abusado da palavra, colocando uma marca depois de ‘hoje’ para dizer que: ‘Em verdade vos digo hoje’, e depois acrescentam: ‘Você estará comigo em Paradise’”.[9]
A desaprovação de Teofilato é enfatizada em sua próxima frase, onde se lê “Outros, que parecem ter atingido a marca, explicam desta maneira...”.[10] Estes cristãos, Teofilato nos diz, distinguem o “céu” de “paraíso”, o último sendo “um lugar de descanso espiritual”. Desta forma, o ladrão pode realmente estar com Jesus naquele dia no paraíso, mas não ainda no céu.
Esta citação de Teofilato não nos diz quase nada sobre aqueles que pontuam Lucas 23, 43 para que “hoje” modifique “Em verdade vos digo...” A lista B-grego é correta em concluir que alguns cristãos no final do século XI compreenderam o versículo de forma semelhante à Torre de Vigia, mas não sabemos quantos eram, nem como prevalente foi o seu ensino. Tal evidência tardia parece marginalmente útil, de qualquer forma, para determinar o que Lucas inicialmente disse. É evidente, porém, que como os Hesíquio menciona, a razão que estes “outros” pontuam o verso como eles fazem, não é porque seguem uma expressão hebraica, mas porque eles tentaram resolver uma dificuldade teológica. O fato de que Teofilato poder falar em termos tão negativos sobre a pontuação alternativa - mesmo que resolvesse as aparentes contradições que ele está discutindo - sugere que ele não tinha conhecimento de quaisquer argumentos razoáveis em seu apoio. 
Scholia

A próxima citação é um resumo de Scholia de três manuscritos gregos:
alloi -- to rheton ekbiazontai* legousin gar dein hypostizontas (254: hypostizantas) anaginoskein* amen lego soi semeron* eith' houtos  epipherein to* met' emou ese etc.
Tradução:
Outros pressionam sobre o que é falado, pois eles dizem que se deve ler, colocando uma vírgula assim: ‘Em verdade vos digo hoje’, e em seguida, adicionando a expressão da seguinte forma: ‘Você estará comig’', etc.” (Scholia 237, 239, 254. Texto encontrado em Novum Testamentum Graece,  editio octava critica maior, por C. Tischendorf, Vol. I, Leipzig, 1869,  sobre Lucas 23, 43.
“Scholia” são anotações marginais ou notas de rodapé, adicionados a um manuscrito por um escriba, revisor posterior, ou comentarista. Sem uma descrição detalhada destas três anotações, é impossível determinar se eles datam da época da criação do manuscrito ou foram adicionados mais tarde. Em qualquer caso, as três manuscritos próprios são de muito mais tarde. De acordo com aparato crítico de Tischendorf, estes são minúsculos e datam da seguinte forma:
237 – Século X (Moscow syn 42)
239 - Século XI (Moscow syn 47)
254 - Século XI (Dresden reg A.100)
Anotações de rodapé datando de não antes do século X parecem ser uma evidência fraca, de fato, para tirar conclusões significativas sobre a intenção original de Lucas. Eles podem refletir nada mais do que “alguns” cristãos que tentam resolver a mesma dificuldade notada por Hesíquio (acima). Independentemente de quem eram “outros”, o autor doscholia dificilmente aprova a pontuação variante, pois ele usa a mesma palavra (ekbiazontai) como Teofilato (acima) para descrever a “violência” feita ao contexto em que “hoje” é juntado a “Em verdade te digo...”
Atos de Pilatos (Evangelho de Nicodemos)
A próxima citação é uma citação do apócrifo, Atos de Pilatos (também conhecido como o Evangelho de Nicodemos):
ho de eipen auto* semeron lego soi aletheian hina se ekho eis ton parad[eison] met' emou.
Tradução:
E ele disse-lhe: ‘Hoje eu digo a verdade, que eu o terei no paraíso comigo.’” (Evangelho de Nicodemos (Atos de Pilatos) B287, um escrito apócrifo do quarto ou quinto século d.C Texto encontrado em NovumTestamentum Graece, editio octava critica Major, por C. Tischendorf, vol. I, Leipzig, 1869, sob Lucas 23, 43)
O chamado, Atos de Pilatos, juntamente com a descida ao Inferno (ver abaixo) compreendem o que veio a ser conhecido como o Evangelho de Nicodemos. As duas obras, provavelmente, não foram do mesmo autor, e os manuscritos mais antigos não contêm a descida. Tischendorf publicou duas “formas” ou recensões dos Atos em grego (cada com base em diferentes manuscritos) e uma em latim. As formas gregas são mais antigas do que a latina, com recensão A data do século V e recensão B do século VI.[11]
Você notara que a citação de Tischendorf dada pela lista B-grego lê “b.287”. O “b” indica que esta citação é de recensão B, que data do século VI. James observa que a recensão A “deve ser considerada como a forma mais original dos Atos que temos”; enquanto recensão B “é um trabalho mais tardio e difuso do mesmo material”. (James, M.R., The Apocryphal New Testament, "Introduction" to the Gospel of Nicodemus.)
Significativamente, na mesma seção citada pela lista B-grego, Tischendorf lista a recensão A como suporte a pontuação tradicional, colocando hoti antes semeron. A tradução da recensão A no ANF diz o seguinte:
E Jesus lhe disse: Amém, amém; Eu te digo: Hoje é tu estarás comigo no Paraíso.
Assim, a forma original mais antiga, a maior parte dos Atos de Pilatos tem “hoje” modificando “Eu estarei contigo...”. É a recensão mais tardia que muda o texto para que sêmeron modifique “Em verdade te digo...” o revisor mais tardio não parece ter se preocupado com a preservação da precisão da sua fonte; de fato, Cowper observa que o revisor mais tardio não considerava seu exemplar como “dando a devida importância a Maria” (Cowper, pp XCII - XCIII). Se ele não estava acima de fazer revisões com base em suas inclinações teológicas, é muito possível que ele tentou remover a “dificuldade”, observada por Hesíquio (ver acima) ao repontuar sua citação de Lucas 23, 43.
A Descida ao Inferno (O Evangelho de Nicodemos)
A citação final, dada pela lista B-grego é uma citação do Apócrifo A Descida ao Inferno (também conhecido como o Evangelho de Nicodemos):
kai eutys eipen moi hoti amen amen semeron lego soi, met' emou ese en to parad[eiso].
Tradução:

E imediatamente ele me disse: “Verdadeiramente hoje eu te digo que tu estarás comigo no Paraíso.” (Descida ao Hades, é um escrito apócrifo do quarto século d.C. O texto é encontrado no Novum Testamentum Graece, editio octava critica Maior, por C. Tischendorf, vol. I, Leipzig, 869, em Lucas 23, 43.)
Como mencionado acima, a Descida compreende a parte 2 do chamado Evangelho de Nicodemos. Tischendorf publicou uma forma grega e duas formas em latim. Os manuscritos mais antigos do Evangelho de Nicodemos não contêm a descida. A forma grega é “intimamente ligada com o segundo texto de Nicodemus Parte I, na verdade as cópias não marcam qualquer divisão” (Cowper, p XCII.). Cowper data a recensão grega da descida “um pouco mais tarde” do que a Parte I (p. XCIII). A pontuação na descida grega, então, certamente está relacionada com a pontuação na recensão B da Parte I (Atos de Pilatos). Os mesmos comentários feitos sobre os Atos (acima) pode ser feito aqui: A pontuação neste texto representa uma tradição mais recente, que pode muito bem ter sido motivada por preocupações teológicas, em vez de fidelidade a uma fonte anterior.
CONCLUSÃO

A Torre de Vigia e seus apologistas têm oferecido várias linhas de evidência para apoiar a pontuação da TMN de Lucas 23, 43. Em cada caso, a prova não foi capaz de resistir ao rigoroso exame. Em suma, a evidência favorece fortemente a pontuação tradicional. Lucas 23, 43 é um dos 74 exemplos de uma expressão estereotipada, falada apenas por Jesus nos Evangelhos. Esta expressão nunca é modificada por um advérbio de tempo, a menos que Lucas 23, 43 fosse a única exceção. Além disso, quando todos as frases “eu te digo”, são tomados em conta, o número de expressões introdutórias não temporalmente modificadas crescem para 144. Por outro lado, não há nenhuma evidência de que Jesus nunca usou uma “expressão hebraica comum” a que se refere E.W Bullinger e tão frequentemente citada por defensores da TMN. Quando se deixa de lado justamente a evidência textual do curetoniano siriaco e Codex Vaticanus (não só porque a prova é marginal, na melhor das hipóteses, mas também porque toda a questão da pontuação correta não é propriamente caso de crítica textual), não há substancial evidência em favor da pontuação TMN.
 
As fontes patrísticas e apócrifas apresentadas na lista de discussão B-Grego provam que alguns cristãos ensinavam que Cristo desceu ao Hades após sua crucificação, e interpretavam Lucas 23, 43 em conformidade. Mas uma análise indutiva de todas as evidências sugerem que o entendimento anterior, mais importante foi que sêmeron modificava “Eu estarei com você...”, e foi mais tarde que comentaristas ofereceram a pontuação alternativa como uma maneira de evitar o que eles viam como um “dificuldade”.

Pode-se admitir que “Em verdade te digo hoje...” é gramaticalmente possível, mas improvável (se a probabilidade de 144 para 1 pode ser caracterizado como meramente “improvável”).

NOTAS

[1] Na verdade, que eu saiba, existem apenas cerca de uma dúzia de Bíblias em inglês que foram citados pela Torre de Vigia ou seus apologistas como colocadoras da vírgula depois de “hoje”. A maioria, se não todas, são obras de tradutores individuais, e não de comissões. Enquanto isso não prova que elas são tendenciosas ou imprecisas, é fácil de haver erros com um único tradutor, trabalhando sem os cheques-e-contrapesos de um comitê. Elas são traduções obscuras, raramente (ou nunca) são citados em trabalhos acadêmicos. O a lista de aparato de pontuação UBS4 não cita nenhuma destas para Lucas 23, 43. Em vez disso, as Bíblias citadas aparecem com mais frequência nos escritos de apologistas testemunhas de Jeová que encontram apoio ocasional para um dogma preferido em uma tradução idiossincrática. Vou abordar especificamente as Bíblias citada pela Torre de Vigia, mais adiante neste artigo.
[2] Reminiscenses of JB RotherhamCapítulo 10.
[3] George Lamsa, LAMSA, que em 1940 convenceu uma editora respeitável da Bíblia, na Filadélfia, a Winston Publishing Company, a emitir sua fraude absoluta, de “ A Bíblia traduzida do aramaico original”. Absolutamente um mercenário, e nada mais. Ele disse que “todo o Novo Testamento foi escrito em aramaico”, e ele traduziu a partir do aramaico, mas ele nunca mostrou a ninguém os manuscritos que ele traduziu. Em segundo lugar, por que Paulo escreveu em aramaico, digamos, para o povo da Galácia? Eles não sabiam mais o aramaico do que as pessoas do Rio ou São Paulo sabem aramaico.
[4] Lewis, Agnes Smith, The Four Gospels: Retranslated from the Sinaitic Palimpsest, with a Translation of the Whole Text, London: C.J. Clay and Sons, 1896.  See also, Wilson, E. Jan, The Old Syriac Gospels: Studies and Comparative Translations, Vol. 2, Piscataway, N.J., Georgias Press, 2002.
[5] Burkitt, op cit., P. 304 Burkitt também cita Barsalibi (1171) que admite que em “alguns” lugares, “hoje” vem com “Em verdade vos digo” mas não aprova essa leitura.
[6] P.J. Williams, PhD, email privado a Robert Hommel, de 06/01/2005.
[7] BDAG, p. 589.(3.a).
[8] Cf., Faulhaber, Michael, The Catholic EncyclopediaHesychius of Jerusalem.
[9] Minha própria tradução bastante literal. Stade oferece uma tradução muito mais suave: “Outros fizeram violência ao contexto destas palavras, fazendo uma pausa depois de hoje, para que se possa ler: ‘Em verdade te digo que hoje, Tu estarás comigo no Paraíso’ (Ibid.). Na patrologia Latina de Minge pode ser traduzida da seguinte forma: ‘Mas outros torcem a expressão (verbum torquent), colocando uma marca depois de hoje...”.
[10] Ibid.
[11] Cowper, B.H., The Apocryphal Gospels, p. xxvii and p. xcii

FONTE

For An Answere. Luke 23. Disponível em: < http://www.forananswer.org/Luke/Luke23_43.htm >. Acesso em: 01/08/2014.
PARA CITAR

Apologistas Católicos. Lucas 23 e a hora da ida do Ladrão aos céus. Disponível em: . Desde: 26/08/2014. Tradução: Rafael Rodrigues.