O preconceito que iguala os evangélicos é o mesmo que considera Marina sua representante
A Igreja Universal do Reino de Deus, na figura do bispo Edir Macedo, é favorável à interrupção voluntária da gestação, ao aborto. O pastor Silas Malafaia, de um dos ramos da Assembléia de Deus, é contra. E também é contra ampliar os direitos da comunidade LGBTTT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros).
Tal atitude é bem diferente da Comunidade Cidade de Refúgio, igreja evangélica de matriz neopentecostal liderada por um casal de lésbicas, as pastoras Lanna Holder e Rosania Rocha, para as quais Deus distribui seu amor igualmente entre todos.
Muitos adventistas são vegetarianos.
A bispa Sônia Hernandes, da Igreja Apostólica Renascer em Cristo, não é vegetariana. Ela adora assistir às sangrentas lutas de MMA enquanto se veste com roupas de grifes famosas (sem dispensar as jóias H. Stern, é claro!).
Já o apóstolo Valdemiro Santiago, da Igreja Mundial do Poder de Deus, nem sabe bem o que é uma grife. Para ele, o legal é usar um chapéu de vaqueiro e uma toalha branca no pescoço, que ele chama de “ungida” (depois de empapada de suor, ele a oferece aos milhares de fiéis que comparecem aos seus cultos; dizem que faz milagres).
Tem igreja evangélica para todos os gostos e humores.
Tem a Bola de Neve, do surfista e empresário Rinaldo de Seixas Pereira, cujos cultos são celebrados em um púlpito em forma de prancha, ao som de reggae e rock.
Tem o Ministério de Louvor Diante do Trono, da cantora, compositora e pastora Ana Paula Valadão, que já ministrou uma cerimônia vestida com uniforme militar, para ordenar a todas as mulheres presentes que “batessem continência para o General Jesus”, e “erguessem suas Bíblias como se fossem armas para derrotar os inimigos da família, inimigos da vida financeira, inimigos do chamado ministerial e da vida profissional”.
A amostra já deu? Pois tem muito mais. É só percorrer as ruas das grandes cidades para ver quantas milhares de combinações produzem as palavras-chave Ministério, Amor, Jesus, Cristo, Caminho, Luz, Senhor, Deus, Jeová, Canaã, Igreja, Missão, Missionário, para formar nomes de igrejas.
São denominações minúsculas, instaladas tantas vezes na garagem da casa do pastor, até chegar a outras, gigantescas, com milhões de fiéis e sistema de rádio e TV. Encontram-se nos bairros ricos, nas periferias, nas tribos de índios, nas cadeias. Nos quilombos e nos muquifos.
Cada uma vem com sua visão de mundo, estratégia de sobrevivência, formas de arrecadação de fundos.
Há as que aceitam cartão de crédito e débito, as que só trabalham com dinheiro e as que não estão nem aí para o vil metal, como uma que encontrei em Tocantins, que só aceita doações em mandioca, para alimentar a fábrica de farinha que funciona atrás do templo pobrezinho.
Tal diversidade explica-se pela origem. A nota mais característica da Reforma Protestante de Martinho Lutero (século 16) é exatamente aquela que deu a cada leitor da Bíblia o poder de acessar a palavra de Deus sem intermediários –na tradição católica, esse papel é monopolizado pela Igreja e seus sacerdotes. É, portanto, constitutiva do protestantismo a polifonia de interpretações sobre a religião, a moral e a vida.
Esqueça o “manda quem pode, obedece quem tem juízo”, vigente entre os católicos. Discordou do pastor, dos métodos, dos cânticos, dos ensinamentos? Vá para outra igreja! Ou, se não houver nenhuma boa o suficiente para os seus propósitos e sonhos, funde a sua própria!
Eis a razão por que é tão estúpido o preconceito contra os evangélicos. Porque trata todos como se fossem iguais, como se acreditassem nas mesmas coisas, como se tivessem um pensamento único, um só líder (como o papa), uma só hierarquia (como a Católica).
Aliás, a rivalidade atual, verdadeira guerra fratricida cheia de denúncias recíprocas, entre a Igreja Universal do Reino de Deus (do bispo Edir Macedo) e a sua dissidência, a Igreja Mundial do Poder de Deus (do apóstolo Valdemiro Santiago) mostra que, às vezes, o maior inimigo de uma igreja evangélica é… outra igreja evangélica.
Marina Silva (PSB), portanto, não é a representante dos evangélicos na disputa presidencial. Ela é apenas mais uma evangélica entre 42,3 milhões de brasileiros (Censo IBGE 2010), gente que, em comum, tem o fato de acreditar na justificação única pela fé que vem de Deus. Daí para frente, é o mundão.
Laura Capriglione
Fonte Eletrônica;
http://macabeuscomunidades.blogspot.com.br/
Nenhum comentário:
Postar um comentário