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segunda-feira, 18 de julho de 2011

O Diabo. Quem é ele? PARTE 1

DEUS criou os Anjos num alto estado de perfeição natural e além disso os elevou à ordem sobrenatural. É de fé que todos os espíritos angélicos foram criados bons. Essa é uma conseqüência obrigatória da verdade de fé, de que todos os espíritos angélicos foram criados por Deus, atestada pelo símbolo niceno-constantinopolitano (o Credo da Missa), o qual proclama: “Creio em Deus Pai Todo-poderoso, criador ... das coisas visíveis e invisíveis”; essa verdade foi ainda definida nos Concílios de Latrão IV e Vaticano I.
A Sagrada Escritura, com efeito, chama-os “filhos de Deus" (Jó 38, 7), “santos” (Dan 8, 13), “anjos de luz” (2 Cor 11, 14). Entretanto, os próprios Livros Sagrados se referem a “espírito imundos” (Lc 8, 29); “espíritos malignos” (Ef 6, 12); “espíritos piores" (Lc 11, 26); e outras expressões análogas. Isto indica que certos anjos tornaram-se maus, tiveram sua vontade pervertida. Em suma, pecaram. 
A batalha no Céu: 
“Tu, desde o princípio, quebraste o meu jugo, rompeste os meus laços e disseste: — Não servirei!” (Jer 2, 20).
Este versículo do Profeta Jeremias sobre a revolta do povo eleito contra Deus tem sido aplicado à revolta de Lúcifer. Mas ao brado de rebelião de Lúcifer “Não servirei!” — respondeu São Miguel com o brado de fidelidade: “Quem é como Deus!” (significado do nome Miguel em hebraico: מיגל ). No Apocalipse, São João descreve essa misteriosa batalha que então se travou no céu: 
"E houve no céu uma grande batalha: Miguel e os seus anjos pelejavam contra o dragão, e o dragão com os seus anjos pelejavam contra ele; porém estes não prevaleceram e o seu lugar não se achou no céu. E foi precipitado aquele grande dragão, aquela antiga serpente, que se chama o Demônio e Satanás, que seduz todo o mundo; e foi precipitado na terra e foram precipitados com ele os seus anjos” (Apoc 12,7-9). O próprio Jesus dá testemunho dessa queda: “Eu via Satanás cair do céu como um relâmpago” (Lc 10, 18). “O Demônio foi homicida desde o principio, e não permaneceu na verdade" (Jo 8,44). 
Os anjos podiam pecar: 
Como poderia o anjo ter pecado, uma vez que ele não está sujeito às paixões ou ao erro no entendimento, como nós homens? "Como compreender semelhante opção e rebelião a Deus em seres de tão viva inteligência?” — pergunta João Paulo II. O Pontífice responde: “Os Padres da Igreja e os teólogos não hesitam em falar de cegueira, produzida pela supervalorização da perfeição do próprio ser, levada até o ponto de ocultar a supremacia de Deus, a qual exigia, ao contrário, um ato de dócil e obediente submissão. Tudo isto parece expresso de maneira concisa nas palavras: "Não servirei" (Jer 2, 20), que manifestam a radical e irreversível rejeição de tomar parte na edificação do reino de Deus no mundo criado. Satanás, o espírito rebelde, quer seu próprio reino, não o de Deus, e se levanta como o primeiro adversário do Criador, como opositor da Providência, antagonista da sabedoria amorosa de Deus”(Apud Mons.C. BALDUCCI, El díablo, p. 20.) 
E o Papa explica que os anjos, por serem criaturas racionais, são livres, isto é, têm a capacidade de escolher a favor ou contra aquilo que conhecem ser o bem: “Também para os anjos a liberdade significa possibilidade de escolha a favor ou contra o bem que eles conhecem, quer dizer, o próprio Deus”. (João Paulo II, Mcm, ibidem). Criando os anjos racionais e livres, quis Deus que eles - com o auxílio da graça — fossem os agentes de sua própria felicidade ou de sua perda, caso cooperassem ou resistissem à graça. Para que merecessem a felicidade eterna, submeteu-os a uma prova. É de fé que todos os espíritos angélicos foram submetidos a uma prova. Entretanto, não sabemos qual teria sido essa prova. Os teólogos procuram excogitar qual teria sido. 
O pecado dos anjos maus. Qual teria sido a prova a que foram submetidos os anjos? E qual teria sido o pecado dos que sucumbiram à prova? 
Um pecado de soberba: 
Acredita-se comumente que tenha sido um pecado de orgulho, de soberba, pois a Escritura diz que “foi na soberba que teve início toda a perdição” (Tob 4, 14). 
Santo Atanásio (séc. IV) o afirma explicitamente: "O grande remédio para a salvação da alma é a humildade. Com efeito, Satanás não caiu por fornicação, adultério ou roubo, mas foi o seu orgulho que o precipitou ao fundo do inferno. Porque ele falou assim: "Eu subirei e colocarei meu trono diante de Deus e serei semelhante ao Altíssimo" (Is 14, 14). E é por essas palavras que ele caiu e que o fogo eterno se tornou sua sorte e sua herança”.(Apud Card. P. GASPARRI, Catechisme Catholique pour Adultes. p 345.)
Em que teria consistido essa soberba? 
Segundo São Tomás de Aquino, essa soberba consistiu em que os anjos maus desejaram diretamente a bem-aventurança final, não por uma concessão de Deus, por obra da graça, e sim por sua virtude própria, como mera decorrência de sua natureza. Desse modo, quiseram manifestar sua independência em relação a Deus; eles recusaram assim a homenagem que deviam a Deus como seu criador e desejaram substituir-se a Ele e ter o domínio sobre todas as coisas: ser como deuses (cf. Gen 3,5). 
São Tomás faz igualmente referência à seguinte passagem de Isaías — referente ao rei de Babilônia, mas geralmente aplicada a Satanás — para ilustrar o pecado dele e dos anjos maus que o acompanharam na revolta: “Como caíste do céu, ó astro brilhante ['Lúcifer', do Latim lux fero], que ao nascer do dia brilhavas? ... Que dizias no teu coração: ...serei semelhante ao Altíssimo.”(Is 14, 13-14). 
O pecado de Lúcifer e dos anjos que se revoltaram com ele teria sido, pois, um pecado de soberba, ou seja de complacência na própria excelência, com menosprezo da honra e respeito devidos a Deus. Estes elementos se encontram em todo pecado — explica o Pe. Bujanda — pois quem ofende a Deus prefere a própria vontade, em vez da vontade divina, e nela se compraz. 
Revelação da Encarnação: 
Não está formalmente revelado no que consistiu exatamente a prova dos anjos; os teólogos fazem hipóteses teológicas, como a de São Tomás, exposta acima. Francisco Suárez, teólogo jesuíta do século XVII, levanta outra hipótese: a prova dos anjos teria consistido na revelação antecipada por Deus, da Encarnação do Verbo. Os anjos maus se teriam revoltado contra a submissão em que ficariam em relação à natureza humana do Verbo Encarnado, a qual, enquanto natureza, seria à natureza angélica. Uma variante dessa hipótese é a que afirma que Lúcifer e os anjos revoltados não quiseram submeter-se à Mãe do Verbo Encarnado, pela sua dignidade ficaria colocada acima dos próprios anjos, embora inferior a eles por natureza. Essa hipótese, entretanto, está ligada a uma outra questão: se o Verbo se teria encarnado mesmo sem o pecado de Adão. Suárez, com algumas adaptações, segue a opinião de Duns Escoto e de Santo Alberto Magno, a qual sustenta que sim; São Francisco de Sales também participa dessa opinião. São Tomás, porém, é de outro parecer. Argumenta ele: "Seguindo a Sagrada Escritura, que por toda a parte apresenta como razão da Encarnação o pecado do primeiro homem, é conveniente dizer-se que a obra da Encarnação está ordenada por Deus como remédio contra o pecado. De tal modo que, se não existisse o pecado não teria havido a Encarnação, embora a potência divina não esteja limitada pelo pecado, podendo, pois, Deus encarnar-se, mesmo que não houvesse o pecado” (Suma Teológica, 3, q. 1, a. 3.) 
São Boaventura reconhece que a opinião tomista é mais consoante com a Fé, enquanto a outra favorece mais a razão. (In III Sent.,Dist.I,a.2,q.2). Embora ambas as opiniões sejam sustentáveis, o comum dos Doutores acha que a hipótese tomista é mais provável, sendo predominante entre os Santos Padres.  
Santo Agostinho afirma: “Se o homem não tivesse caído não se teria feito carne.”(Serm. 174,2) Em favor dela fala igualmente o Símbolo dos Apóstolos, isto é, o Credo, quando proclama: “O Qual [o Verbo], por nós homens, e por nossa salvação, desceu dos céus". Também a liturgia pascal, que canta: “Ó culpa feliz, que nos mereceu um tal Redentor!" 
O Pe. Christiano Pesch S.J. diz que a posição tomista de tal modo se tornou comum, que hoje há poucos defensores da esposada por Suárez, quanto à Encarnação do Verbo. Daí decorreria que a hipótese de Suárez com relação ao pecado dos anjos ficaria também prejudicada. (C. PESCH 53, De Angelis, III, p. 71; cf. também Mons. P. PARENTE. Incarnazioni, col 1.751; I. SOLANO, De Verbo incarnato, pp. 15-24). 
A obstinação dos demônios: 
Nós homens temos certa dificuldade psicológica em compreender que os demônios, por um só pecado, tenham sido condenados eternamente, enquanto Adão e Eva puderam ser perdoados. Por isso, desde os primeiros tempos do Cristianismo, não faltaram autores que sustentaram a possibilidade de reconciliação dos anjos decaídos com Deus. Essa doutrina foi condenada pela Igreja e São Tomás explica a razão pela qual isso não é possível: em primeiro lugar porque a prova a que os anjos foram submetidos, a fim de merecerem a bem-aventurança eterna, teve para eles o mesmo efeito que tem para nós homens a morte; ou seja, encerra o período em que podemos adquirir méritos, e nos introduz na vida eterna, imutável por natureza. Os anjos bons, tendo sido fiéis, passaram a gozar da bem-aventurança eterna; os anjos maus ou demônios foram precipitados no inferno por toda a eternidade. Em segundo lugar, por causa da natureza angélica: os anjos, uma vez feita uma escolha, não podem voltar atrás, seja para o bem, seja para o mal. Porque eles não estão sujeitos à mobilidade das paixões humanas, sua inteligência é perfeita, de modo que eles não podem fazer escolhas provisórias, como o homem. Antes de fazer uma escolha, o anjo é perfeitamente livre; feita esta, sua vontade adere a ela para sempre, pois todas as razões que o levaram a fazer essa escolha já estavam perfeitamente claras para ele antes que a fizesse. 
O lugar de condenação dos demônios. O Inferno: 
A tremenda realidade do inferno, como lugar criado para os demônios e os malditos, é atestada pelo Divino Salvador ao falar do Juízo Final: “Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, que foi preparado para o Demônio e para os seus anjos” (Mt 25,41). São Pedro ensina que Deus não perdoou aos anjos que pecaram. Prepitou-os no tártaro, para serem atormentados (2 Ped 2, 4). E São Judas escreve que Deus “prendeu em cadeias eternas, no seio das trevas", os anjos prevaricadores (Jud 6). Assim como o lugar para os anjos bons é o Céu, para os demônios é o inferno. Mas os demônios têm dois lugares de tormento: um em razão de sua culpa, que é o inferno; outro, em função das tentações a que submetem os homens: a atmosfera tenebrosa, pelo menos até terminar o mundo. 
Os demônios dos ares: 
A doutrina de que os demônios vagueiam pelos ares para tentar os homens é claramente afirmada por São Paulo na Epístola aos Efésios: “O príncipe que exerce o poder sobre este ar ... os dominadores deste mundo tenebroso, os espíritos malignos espalhados pelos ares” (Ef 2,2; 6,12). E é confirmada pela Igreja, por exemplo, na oração a São Miguel Arcanjo, que o Papa Leão XIII compôs e mandou recitar ao fim da Missa, na qual invoca o Príncipe da milícia celeste, para que — pelo divino poder — precipite no inferno "a Satanás e aos outros espíritos malignos que andam pelo mundo para perder as almas”.
A “hierarquia” entre os demônios: 
Entre os demônios existe urna “hierarquia”, que decorre do fato de, sendo anjos, uns terem a natureza mais perfeita do que outros. Por isso se diz que Satanás é o príncipe, o chefe dos demônios. Não que exista entre eles uma submissão por amor ou respeito, como na verdadeira hierarquia; os demônios se odeiam mutuamente e só se unem circunstancialmente para atormentar os homens. É o mesmo que — explica São Tomás — se dá entre os homens maus: eles formam quadrilhas e se submetem a um chefe, apenas como meio de melhor cometerem seus roubos ou homicídios contra os homens honestos (Suma Teológica, 1,Q. 109, A.1-2) 
Os nomes dos demônios: 
Os judeus não tinham uma palavra específica para indicar os espíritos malignos; a designação geral de demônio para os anjos decaídos vem da versão grega do Antigo Testamento. A palavra /daimon/ entre os gregos [Gr: δαιμονίου], designava os seres com forças sobre-humanas, especialmente os maléficos. A palavra hebráica /sâtân/ [Hb: שטן ] significa adversário, acusador. Satanás, o chefe dos demônios, é também conhecido nas Escrituras como Diabo (do gr: διαβολος , que quer dizer 'caluniador'). Nas Sagradas Escrituras aparecem os nomes de vários demônios: Azazel, demônio que habita o deserto (Lev 16, 8-10, 26); Asmodeu, que matou os sete maridos de Sara (Tob 3, 8); o nome Belzebu (ou Beelzebul, cuja significação parece ser “deus do esterco”, nome com que os rabinos indicariam os sacrifícios oferecidos aos ídolos) é apresentado como sinônimo para Satanás ou príncipe dos demônios (Mt 12,14; Mc 3, 22-26). Lúcifer foi a palavra escolhida na Vulgata para traduzir para o latim a expressão “astro brilhante" ou “estrela brilhante”, da profecia de Isaías (Is 14, 12), que costuma ser interpretada como uma referência à queda do Demônio; em geral esse apelativo é utilizado igualmente como sinônimo de Satanás.  
O termo 'Vulgata' foi a tradução latina da Bíblia feita em grande parte por São Jerônimo, que iniciou seu trabalho por volta do ano 384. Essa tradução latina foi aperfeiçoada por iniciativa da Santa Sé, dando origem a chamada Vulgata Sixto-Clementina publicada em 1592 pelo Papa Clemente VIII, em uso ainda hoje. Após o Concílio Vaticano II, por determinação do Papa Paulo VI, foi realizada uma revisão da 'Vulgata', sobretudo para uso litúrgico. Esta revisão, terminada em 1995, e promulgada pelo Papa João Paulo II em 25 de abril de 1997, é denominada 'Nova Vulgata', em Latim 'Neo-Vulgata'. 
A Psicologia do demônio: 
"Ele foi homicida desde o princípio e não permaneceu na verdade; é mentiroso e pai da mentira".(Jo 8,44)
Com base nas Sagradas Escrituras e em outras fontes, poderíamos ressaltar alguns aspectos da psicologia de Satanás e seus anjos malignos. Embora os demônios sejam diferentes entre si, assemelham-se em seu desejo de fazer o mal e em sua natureza decaída; por isso o que é dito a respeito de Satanás, seu chefe, pode-se dizer dos outros demônios. 
Os demônios, puros espíritos, como anjos que são, não têm as fraquezas e as debilidades dos homens; de onde, sua revolta contra Deus ser permanente, imutável, eterna. Sua vontade, deixando de ter como objeto o Sumo Bem, tornou-se uma vontade pervertida fixada no mal. Dessa forma, os demônios não desejam senão o mal em todos os seus atos voluntários, e mesmo quando fazem algum bem (como, por exemplo, restituir a saúde a alguém, obter-lhe riquezas ou ensinar-lhe algo), fazem-no apenas para dai tirar o mal, conduzir a pessoa à perdição eterna, que é a única coisa que almejam para os homens. Tendo sido criados bons por Deus, sua natureza ainda continua boa em si mesma; porém, eles se tornaram seres pervertidos em sua vontade, buscando não mais seu fim último, que é o serviço e a glória de Deus, mas justamente o contrário, isto é, tudo fazer para impedir que Deus seja glorificado. Não podendo atingi-Lo diretamente, eles procuram agir sobre as criaturas de Deus, na medida em que Ele o permite. 
Homicida e mentiroso— Astuto, falso, enganador 
O divino Redentor resumiu em poucas palavras essa psicologia diabólica: “Ele foi homicida desde o princípio, e não permaneceu na verdade; porque a verdade não está nele; quando ele diz a mentira,fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira" (Jo 8, 44). O demônio é homicida e o pai da mentira, o mentiroso por excelência que odeia a verdade, porque a verdade nos conduz a Deus: "Eu sou o caminho, a verdade, a vida” (Jo 14, 5); ele odeia o Criador e, tendo-se separado de Deus, separou-se para sempre da verdade e da vida. E através da mentira que ele dá a morte, a morte espiritual. Santo Agostinho, a respeito da afirmação de Jesus de que o demônio é homicida e mentiroso, comenta: “Perguntamos de onde veio ao diabo o ser homicida desde o princípio, e respondemos que matou o primeiro homem, não enterrando-lhe o punhal ou infligindo-lhe qualquer outro dano no corpo, senão persuadindo-o a que pecasse precipitando-o da felicidade do paraíso”. (Apud J. MALDONADO S.J., Comentarios a los Cuatro Evangelios, p. 563) 
Pe. João Maldonado, erudito exegeta jesuíta do século XVI, observa sobre essa mesma frase - “Porque é mentiroso e pai da mentira” (Jo 8, 44): “A maior parte dos autores entendem isto daquelas palavras que o diabo disse a Eva: ‘Sereis como deuses, conhecendo o bem e o mal.’ (Gen 3, 5); palavras em que evidentemente mentiu; quer dizer, uniu a mentira com o homicídio (espiritual), perpetrando os dois crimes ao mesmo tempo. ... Chama-se ao diabo pai da mentira porque é ele o autor e inventor da mesma, de tal modo que pode dizer-se que deu à luz a ela” (J. MALDONADO S.J., op. cit., pp. 564-566). Quando tenta o homem, procurando afastá-lo de Deus, ele mente apresentando uma falsa imagem da realidade, escondendo seus verdadeiros fins e enredando sua vítima no engano, no sofisma e na falsidade. 
Ele é astuto, falso, enganador: 
“Satanás se distingue por sua astúcia — escreve Mons. Cristiani. O que quer dizer esta palavra? A astúcia é um artifício enganador. O ser que age por astúcia tem más intenções. Se ele fala, não é para dizer a verdade, mas para enganar, para conduzir ao erro, à inverdade. Satanás é falso. Não se pode confiar nele. O que falta antes de tudo nele é a eqüidade, a lealdade, a franqueza. Ele é equívoco, voluntariamente obscuro e dissimulado” (Mgr L. CRISTIANI, Présence de satan dons le monde moderne, p. 306.) 
Soberba demencial, inveja mortal: 
Por detrás dessa dissimulação se esconde o seu desejo oculto, assim expresso por Mons. Cristiani: “Ser como Deus! Este ato de orgulho é o fundo mesmo da psicologia de Satanás! ... ‘Vós sereis como deuses!’ Ele próprio, na sua queda, se considera como um deus. Seu orgulho não está morto. O orgulho levado até à adoração de si mesmo é o que faz o demônio voltar-se contra o Criador. É o orgulho que, tendo-o afastado de Deus, fez dele o Adversário. No livro do Eclesiástico esta conseqüência do orgulho é posta em evidência: ‘O princípio do orgulho é abandonar o Senhor e ter seu coração afastado do Criador, porque o princípio do orgulho é o pecado, aquele que se entrega a ele espalha a abominação.‘ (Eclo 10, 12-13). ... Compreendemos, então, porque Jesus Cristo, que é a Via, a Verdade, a Vida, tenha definido Satanás como o Pai da mentira, o homicida desde o começo. E, para nós, este termo de homicida longe de ser excessivo, não diz senão um aspecto da verdade total: Satanás é, com efeito, acima de tudo, o DEICIDA!” (Mgr L. CRISTIANI, op. cit., p. 308.) 
O orgulho de Satanás e seus anjos malignos não conhece limites: "Que orgulho demencial — comenta ainda Mons. Cristiani — nessa palavra de Satanás a Cristo, mostrando-lhe em espírito todos os reinos da terra: ‘Tudo isto eu te darei se prostrado por terra me adorares!´O fundo último da ambição satânica é este: Tirar de Deus seus adoradores, fazer convergir as adorações dos homens para ele próprio! 
"Resumamo-nos: o orgulho, a vontade de se fazer deus, a astúcia, a inveja e o ódio do homem, tudo isto desembocando na mentira, no homicídio, no deicídio: eis Satanás!”. (Mgr L.CRISTIANI, op. cit., p. 308.) 
Não lhe importam as derrotas que sofre continuamente, nem mesmo a final e definitiva a que está condenado; sua soberba se satisfaz com os pequenos triunfos que obtém, no esforço de levar as almas à eterna perdição.
Comenta o Cardeal Lepicier: “Escudado na satisfação de certas vitórias parciais e na esperança de grandes triunfos e, ao mesmo tempo, não se preocupando com as vergonhosas derrotas sofridas, Satanás prossegue loucamente na sua faina de tentar arrastar as almas para a eterna perdição. O seu pendão está sempre erguido e o seu grito insensato de desafio e revolta ouve-se por toda parte: ‘Eu não quero servir! ‘ (Jer 2, 20)”. (Card. A.LEPICIER. O Mundo invisível p. 240.) 
O pai da vulgaridade: 
Outro aspecto da psicologia maldita do demônio é a vulgaridade. Odiando a Deus, ele odeia tudo aquilo que é verdadeiro, belo, bom. Ele odeia a compostura, a dignidade, a seriedade, a serenidade. 
O abade João Cassiano já observava no século V: “É fora de dúvida que existe entre os espíritos impuros o que o vulgo chama espíritos vagabundos, que são antes de tudo sedutores e bufões. Eles se postam constantemente em certos lugares e se divertem em enganar, muito mais do que em atormentar, aqueles que eles encontram. Eles se contentam em fatigá-los por seus escárnios e suas ilusões..." (Apud Mgr L. CRISTIANI, op. cit., p. 311.). São os famosos demônios bufões, que fazem talhar a manteiga, secam o leite das vacas, desencadeiam enxames de vespas ou de abelhas, etc., tudo para fazer os homens perderem a paciência, praguejarem, blasfemarem. Mons. F. M. Catherinet, demonólogo francês, analisando a ação dos demônios segundo as narrações evangélicas, traça deles o seguinte perfil: "Medrosos, obsequiosos, poderosos, malfazejos, versáteis e mesmo grotescos... (Mgr F. M. CATHERINET, Les Démoniaques dans l´Évangile, P.319. ) 
Em carta a Mons. Cristiani, o Pe. Berger-Bergès, famoso exorcista, escreve: "Vós me perguntais ... qual é a psicologia de Satanás, quando ele está submetido à ação dos exorcismos... É preciso definir e resumir a psicologia de Satanás por estas palavras: ORGULHO, DESPREZO DE SUA VÍTIMA, TENACIDADE!"(Mgr L. CRISTIANI, op. cit., p. 312.) 
O poder dos demônios."O próprio Satanás se disfarça em anjo de luz”.(2 Cor 11,14): 
TUDO QUANTO DISSEMOS a respeito do poder e do modo de agir dos anjos sobre a matéria aplica-se igualmente aos demônios, que são anjos decaídos, mas que conservaram a natureza angélica e os poderes a ela inerentes. 
Já vimos anteriormente como a presença dos anjos em um lugar não se dá fisicamente (contato físico), pois são seres incorpóreos, e sim por meio de sua atuação (contato operativo): os anjos estão onde atuam. Em virtude de sua natureza espiritual, eles podem exercer sua atividade e tanto de fora dos corpos, como no interior deles, conforme observa São Boaventura: “Os demônios, em razão de sua sutileza e espiritualidade, podem penetrar em qualquer corpo e aí permanecer sem o menor obstáculo e impedimento”. (In II Sent., Dist. 8, p. 2, a. um., q. 1, apud Mons. C. BALDUCCI, Gli Indemoniati, p.12.) 
De um modo direto e imediato os demônios podem produzir na matéria apenas movimentos locais, ou extrínsecos, transferindo uma coisa de um lugar para outro, sem entretanto alterar a natureza ou substância dessa coisa; de modo indireto, através desses movimentos locais, eles podem agir sobre a própria substância da matéria, ao modificar a posição ou a quantidade dos elementos constitutivos da mesma. 
Caso Deus o permitisse, os demônios, por sua natureza angélica, poderiam causar toda espécie de transtornos físicos. O Cardeal Lepicier afirma que se pode dizer que praticamente não há fenômeno no mundo que não possa ser realizado, de um modo ou outro, pelos anjos; logo, também pelos demônios. (Cardeal A. LEPICIER, O Mundo invisível, pp. 74.75.) E não raro o fazem, provocando tempestades, cataclismos, incêndios e outros desastres como também aparições fantasmagóricas, ruídos infernais e perturbações de toda ordem.

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