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domingo, 17 de julho de 2011

A Igreja nas Sagradas Escrituras - III

Veremos, agora, com a ajuda da Sagrada Escritura, as quatro propriedades que a teologia sempre viu presentes na Igreja.
a) A Igreja é una
A Igreja de Cristo é una e não poderia deixar de sê-lo:
۰ una, porque brota do Deus que é trino na unidade perfeita e é a realização na história e no mundo do seu único plano de amor e salvação:
Há diversidade de dons mas um mesmo é o Espírito. Há diversidade de ministérios mas um mesmo é o Senhor. Há diferentes atividades mas um mesmo é Deus que realiza todas as coisas em todos (1Cor 12,4ss).
۰ una, porque um só é o seu Fundador, que sonhou com sua Igreja como o único rebanho (cf. Jo 10,16), seu único corpo (cf. 1Cor 12,12s); o único templo pleno do seu Espírito, do qual ele mesmo, Cristo, é a pedra angular (cf. Ef 2,20s).
۰ una, porque a missão de Cristo Jesus era congregar na unidade os filhos de Deus dispersos:
Jesus iria morrer... para congregar na unidade os filhos de Deus dispersos (Jo 11,52).
O Filho Jesus veio para
criar em si mesmo um só Homem Novo (Ef 2,15).
Por isso, de modo comovente, o Senhor Jesus rezou pela unidade de sua Igreja e deu-lhe esta unidade como dom irrevogável:
Não rogo somente por eles, mas pelos que, por meio de sua palavra, crerão em mim: a fim de que todos sejam um. Como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, que eles estejam em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste. Eu lhes dei a glória que tu me deste para que sejam um, como nós somos um: eu neles e tu em mim, para que sejam perfeitos na unidade e para que o mundo reconheça que me enviaste e os amaste como amaste a mim (Jo 17,20-23).
۰ una na mesma fé, no mesmo Senhor, no mesmo batismo, na mesma vida de unidade:
Há um só Corpo e um só Espírito, assim como fostes chamados por vossa vocação para uma só esperança. Há um só Senhor, uma só fé, um só batismo. 6 Há um só Deus e Pai de todos, que está acima de todos, por todos e em todos (Ef 4,4ss).
Os que receberam a palavra se batizaram, e naquele dia se converteram umas três mil pessoas. Eles mostravam-se assíduos à doutrina dos apóstolos, às reuniões em comum, ao partir do pão e às orações (At 2,42).
Esta unidade, que é dom de Cristo e fruto do Espírito, não pode ser perdida, apesar de tantas feridas na história da Igreja: os cismas, as heresias e as apostasias. Dessas feridas todos os cristãos são culpados e são sinal de uma grave infidelidade ao Senhor Jesus! Por isso mesmo, Cristo Senhor, além de ter dado o Espírito Santo como artífice primário e invisível da unidade eclesial, dotou sua Igreja de elementos visíveis que realizam e significam esta unidade no Espírito: a única Eucaristia, o único Colégio apostólico sucedido pelo Colégio dos Bispos e o ministério de Pedro, sobre os quais falaremos mais adiante.
É indispensável deixar claro que jamais Cristo pensou em diversas igrejas, nem a comunidade apostólica admitiu divisão de doutrina ou separação entre as comunidades:
A multidão dos que haviam crido era um só coração e uma só alma (At 4,32).
Exorto-vos, irmãos, pelo nome de Nosso Senhor Jesus Cristo: Sede todos unânimes no falar, e não haja entre vós divisões, antes sede concordes no mesmo pensar e no mesmo sentir (1Cor 1,10).
Eu me admiro que passastes tão depressa daquele que vos chamou à graça de Cristo, para um outro evangelho. De fato, não há dois evangelhos. O que há, são pessoas que semeiam a confusão entre vós e pretendem deturpar o Evangelho de Cristo. Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo descido do céu vos anuncie um evangelho diferente do que vos anunciamos, que seja anátema. Eu já vo-lo disse antes, e agora repito: se alguém vos pregar outro evangelho diferente do que recebestes, seja anátema (Gl 1,6-9).
Pelo conforto que há em Cristo, pela consolação que há no Amor, pela comunhão no Espírito, por toda ternura e compaixão, completai minha alegria, permanecendo unidos no mesmo pensar, no mesmo amor, no mesmo ânimo, no mesmo sentir (Fl 2,1s).
Quem ensina doutrinas estranhas e discorda das palavras salutares de Nosso Senhor Jesus Cristo e da doutrina conforme à piedade, é um obcecado pelo orgulho, um ignorante que morbidamente se compraz em questões e discussões de palavras. Daí é que nascem invejas, contendas, insultos, suspeitas, porfias de homens com mente corrompida e privados da verdade que fazem da piedade assunto de lucro (1Tm 6,3-5).
São numerosos os textos do Novo Testamento que deixam claro que a Igreja é una e deve viver na unidade: 2Ts 3,6;1Tm 3,15; 4,16; 6,3-5.14.20s; 2Tm 2,14; 2,20-26; 3,13-14; 4,3-5; Tt 1,10-11. As faltas contra a unidade da Comunidade na mesma fé e na mesma caridade são repreendidas com dureza pelos apóstolos! Exatamente porque povo de Deus, corpo de Cristo e templo do Espírito, a Igreja é una e única. O Concílio Vaticano II, recolhendo a doutrina sempre presente na Igreja ensinou de modo admirável:
Assim, a Igreja, única grei de Deus, como um sinal levantado entre as nações, administrando o Evangelho da paz para todo o gênero humano, peregrina na esperança, rumo à meta da pátria celeste. Este é o sagrado mistério da unidade da Igreja, em Cristo e por Cristo, realizando o Espírito Santo a variedade dos ministérios. Deste mistério o supremo modelo e princípio é a unidade de um só Deus, o Pai e o Filho no Espírito Santo, na Trindade das pessoas (UR 2ef).
b) A Igreja é santa
A santidade da Igreja é clara no Novo Testamento. Já o povo de Israel era considerado santo, quer dizer, separado por Deus e para Deus:
Vós sereis para mim um reino de sacerdotes e uma nação santa (Ex 19,6).
A Igreja, como já vimos, nasceu de Cristo, o Santo de Deus (cf. Lc 1,35); ele, doando aos seus discípulos o Espírito de Santidade, santificou sua Igreja:
Pai, santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade... Por eles, a mim mesmo me santifico, para que sejam santificados na verdade (Jo 17,17.19).
É graças a esta vontade é que somos santificados pela oferenda do corpo de Jesus Cristo, realizada uma vez por todos. De fato, com esta única oferenda, levou à perfeição, e para sempre, os que ele santifica (Hb 10,10.14)
Dizer que a Igreja é santa é dizer que ela é totalmente separada para Cristo e com Cristo na potência do Espírito para a glória do Pai, é dizer que ela pertence totalmente a Cristo, pelo Espírito que a penetra, invade, vivifica e dirige:
Cristo amou a Igreja e se entregou por ela, a fim de purificá-la com o banho da água e santificá-la pela Palavra, para apresentar a si mesmo a Igreja, gloriosa, sem mancha nem ruga, ou coisa semelhante, mas santa e irrepreensível (Ef 5,26s).
Por isso, a Escritura pode dizer, falando da Igreja:
Mas vós sois uma raça eleita,um sacerdócio régio, uma nação santa, o povo de sua particular propriedade, para apregoar os grandes feitos daquele que vos chamou das trevas para a sua luz admirável (1Pd 2,9).
É importante compreender que é Cristo quem santifica a Igreja, é ele a fonte de sua santidade, porque lhe dá seu Espírito Santo:
Quando a bondade e o amor de Deus, nosso Salvador, se manifestaram, ele salvou-nos, não por causa dos atos justos que houvéssemos praticado, mas porque, por sua misericórdia, fomos lavados pelo poder regenerador e renovador do Espírito Santo, que ele ricamente derramou sobre nós, por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador, a fim de que fôssemos justificados pela sua graça, e nos tornássemos herdeiros da esperança da vida eterna (Tt 3,4-7).
Mas fostes lavados, mas fostes santificados, mas fostes justificados em nome do Senhor Jesus Cristo e pelo Espírito do nosso Deus (1Cor 6,11).
É porque a Igreja é santificada pelo seu Espírito, sobretudo através da Palavra e dos sacramentos, que os seus membros são chamados santos (= santificados).
À Igreja de Deus, que está em Corinto, àqueles que foram santificados em Cristo Jesus, chamados a ser santos... (1Cor 1,2)
Então, a Igreja não é santa porque somos santos ou santinhos; ela é santa porque Cristo a santifica com seu Espírito, e porque nela fomos santificado pela Palavra e os sacramentos (sobretudo o batismo e a eucaristia), somos chamados santos (= santificados)! Esta santidade, tanto na Igreja quanto em nós, é real, mas deve ir crescendo sempre: santos e chamados a ser santos! Esta santidade é também indefectível (= não pode ser perdida!), já que o Espírito Santo permanecerá sempre agindo na Igreja:
Eu rogarei ao Pai e ele vos dará outro Paráclito, para que convosco permaneça para sempre, o Espírito da Verdade, que o mundo não pode acolher, porque não o vê nem o conhece. Vós o conheceis, porque permanece convosco (Jo 14,16s).
Por isso, falando da sua Igreja, Jesus disse a Pedro:
As portas do inferno nunca prevalecerão contra ela (Mt 16,18).
Afirmar que a Igreja não é santa, seria contradizer clara e gravemente o próprio Cristo e negar a ação do Espírito na comunidade dos discípulos. Dizer que a Igreja perdeu a santidade é negar a fidelidade de Cristo e blasfemar gravemente contra o Espírito, ele que é a própria santidade divina na Igreja do Senhor!
Esta Igreja, que é santa, é formada por pecadores. Basta, como exemplo, pensar na Primeira Epístola aos Coríntios. Aí, após chamar de “santos” os membros da Igreja coríntia, São Paulo passa a falar dos tantos e tantos escândalos na Comunidade: as divisões entre os fiéis (cf. 1,10-16), os casos de imoralidade (cf. 5,1-13; 6,12-19), as disputas levadas aos tribunais pagãos (cf. 6,1-11), etc. A Igreja é santa e é uma comunidade de santificados, chamados a agir como tais... mas não é uma comunidade de santinhos e certinhos. Ela reúne em seu seio santos e pecadores, contudo, quem persevera no pecado, é membro da Igreja somente de modo exterior e não segundo o Espírito de Santidade!
Uma última observação: já dissemos que os sacramentos são o modo principal pelo qual o Senhor Jesus, no Espírito Santo, santifica sua Igreja: eles, celebrados na força do Espírito, dão-nos a graça santificante do Cristo Jesus:
Ou ignorais que todos nós, batizados em Cristo Jesus, é na sua morte que fomos batizados? Com ele fomos sepultados pelo batismo na morte para que, assim como Cristo ressuscitou dos mortos pela glória do Pai, assim também andemos em novidade de vida. Pois, se estamos nos tornamos uma só coisa com ele por uma morte semelhante à sua, seremos uma coisa só com ele também por uma ressurreição semelhante à sua. Sabendo que nosso velho homem foi crucificado para que fosse destruído o corpo de pecado e já não servíssemos ao pecado (Rm 6,3ss).
Porque minha carne é verdadeiramente comida e meu sangue é verdadeiramente bebida. Quem come minha carne e bebe meu sangue permanece em mim, e eu nele. Assim como o Pai, que vive, me enviou, e eu vivo pelo Pai, assim também quem comer de minha carne viverá por mim (Jo 6,55ss).
Também a Palavra proclamada santifica continuamente a Igreja, já que é proclamada na potência do Espírito Santo:
Cristo amou a Igreja e se entregou por ela, a fim de purificá-la com o banho da água e santificá-la pela Palavra, para apresentar a si mesmo a Igreja, gloriosa, sem mancha nem ruga, ou coisa semelhante, mas santa e irrepreensível (Ef 5,26s).
Por tudo isso, a Igreja, desde as mais antigas épocas é chamada Comunhão dos Santos!
c) a Igreja é católica
Em geral, diz-se com muita simplicidade que o adjetivo “católico” significa universal. Não é bem assim! Antes de tudo, convém deixar claro que a palavra “católica” não é o nome da Igreja, mas um adjetivo, uma qualidade que distingue a Igreja de Cristo das comunidades que não são expressão completa da única Igreja do Senhor. Neste sentido, é bom saber que, ao menos até onde as pesquisas atuais alcançam, o primeiro a usar o adjetivo “católica” para distinguir a Igreja dos grupos heréticos, foi Santo Inácio, Bispo de Antioquia e sucessor de Pedro naquela sede episcopal, mártir de Cristo pelo ano 97 da nossa era. Aos cristãos de Esmirna, ele escreveu:
Ninguém ouse fazer sem o Bispo coisa alguma concernente à Igreja. Como válida só se tenha a eucaristia celebrada sob a presidência do Bispo ou de um delegado seu. Onde está o Bispo, aí está a comunidade, como onde está Jesus Cristo, aí está a Igreja católica.
O adjetivo católico (kat’olou) significa “segundo a totalidade” (= katha: segundo + olou: totalidade). Isto significa: a Igreja vive e guarda em si a totalidade dos meios deixados por Cristo para a salvação: a Palavra, os sacramentos, os carismas e ministérios, as estruturas eclesiais, etc. Não é, portanto, uma Igreja mutilada!
E sujeitou a seus pés todas as coisas e o constituiu cabeça suprema de toda a Igreja, que é o seu corpo, a plenitude daquele que plenifica tudo em todos (Ef 1,22).
E não poderia ser diferente, pois ela é habitada pelo Espírito da Verdade (cf. Jo 14,15-17) e, por isso mesmo, é coluna e sustentáculo da verdade (cf. 1Tm 3,15).
A Igreja é também católica porque é e deve ser sempre aberta a todos os povos e culturas, sem discriminar raça ou condição social:
Os onze discípulos foram para a Galiléia, ao monte que Jesus lhes tinha indicado. Logo que o viram prostraram-se; alguns, porém, duvidaram. Então Jesus se aproximou e lhes disse: “Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide, pois, fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a observar tudo quanto vos mandei. Eis que eu estou convosco, todos os dias, até o fim do mundo” (Mt 28,16-20).
Recebereis uma força, o Espírito Santo que virá sobre vós; e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria, até os confins da terra (At 1,8).
Daqui vem também o dever que a Igreja tem de uma sadia inculturação: ela deve falar o Evangelho a cada cultura, respeitando e assumindo os valores de cada cultura (cf. At 17,16-34 – Paulo no areópago) e, ao mesmo tempo, transformando cada cultura com o sal e a luz de Cristo (cf. At 14,8-18 – Paulo na Licaônia):
Eu que, sendo totalmente livre, fiz-me escravo de todos para ganhar a todos. Fiz-me judeu com os judeus a fim de ganhar os judeus. Com os que vivem sob a Lei fiz-me como se estivesse submetido a ela, não o estando, para ganhar os que sob a Lei estão. Com os que não tinham Lei fiz-me como se estivesse sem Lei, para os ganhar, não estando eu sem a Lei de Deus, senão sob a lei de Cristo. Com os fracos, tornei-me fraco, para ganhar os fracos; fiz-me tudo para todos, para por todos os meios salvar a alguns (1Cor 9,19-22).
d) A Igreja é apostólica
A Igreja é apostólica porque seu fundamento são os apóstolos; e isto em três sentidos complementares:
(i) A Igreja é apostólica porque sua fé é e será sempre fundamentada no testemunho dos Apóstolos, eles que foram escolhidos pelo Senhor e por eles enviados como suas testemunhas após a ressurreição:
Depois lhes disse: “Isto é o que vos dizia enquanto ainda estava convosco: é preciso que se cumpra tudo o que está escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos a meu respeito”. Então Jesus abriu-lhes a inteligência para compreenderem as Escrituras, e lhes disse: “Assim estava escrito que o Cristo haveria de sofrer e ao terceiro dia ressuscitar dos mortos e, começando por Jerusalém, em seu nome seria pregada a todas as nações a conversão para o perdão dos pecados. Vós sois testemunhas disso. Eu vos mandarei aquele que meu Pai prometeu. Por isso, permanecei na cidade até que sejais revestidos da força do alto” (Lc 24,44ss).
Mas recebereis a força, o Espírito Santo que virá sobre vós; e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria, até os confins da terra (At 1,8).
Não sou livre? Não sou apóstolo? Não vi Jesus Nosso Senhor? Não sois vós minha obra no Senhor? Se para outros não sou apóstolo, ao menos para vós o sou, pois sois o selo do meu apostolado no Senhor (1Cor 9,1s).
Estais edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, do qual é Cristo Jesus a pedra angular (Ef 2,20).
(ii) A Igreja é apostólica porque, como Cristo prometeu, é conservada na verdade da fé pregada e vivida pelos apóstolos, graças à ação do Espírito dado pelo Senhor Jesus:
Quem vos ouve a mim ouve, e quem vos rejeita a mim rejeita, e quem me rejeita também rejeita aquele que me enviou (Lc 10,16).
Disse-vos estas coisas enquanto estou convosco. Mas o Paráclito, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, ele vos ensinará tudo e vos trará à memória tudo quanto eu vos disse (Jo 14,25s).
Quando vier o Espírito da verdade, ele vos guiará em toda a verdade, porque não falará de si mesmo, mas do que ouvir, e vos anunciará as coisas futuras. Ele me glorificará porque receberá do que é meu e vos anunciará. Tudo que o Pai tem é meu. É por isso que eu disse: receberá do que é meu e vos anunciará (16,13-14).
“Eu te digo que tu és Pedro (= Pedra), e sobre esta Pedra edificarei minha Igreja, e as portas do Inferno nunca prevalecerão contra ela (Mt 16,18).
Os apóstolos e os anciãos ... saudações! De fato, pareceu bem ao Espírito Santo e a nós... (At 15,23.28).
Eles mostravam-se assíduos ao ensinamento dos apóstolos, às reuniões em comum, ao partir do pão e às orações (At 2,42).
Recordo-vos, irmãos, o Evangelho que vos tenho pregado e recebestes, no qual estais firmes. Por ele sereis salvos, se o conservardes como eu vos preguei. De outra forma em vão tereis abraçado a fé (1Cor 15,1s).
Mantém o modelo das palavras salutares que de mim recebeste, inspiradas na fé e na caridade em Cristo Jesus. Guarda o depósito precioso pela virtude do Espírito Santo, que habita em nós (2Tm 1,13s).
(iii) A Igreja é apostólica porque, até que Cristo retorne, continuará sendo dirigida pelos legítimos sucessores dos apóstolos, dentro duma sucessão apostólica ininterrupta. Eis alguns elementos que nos ajudam a compreender tal processo:
۰ Cristo prometeu à sua Igreja que não a abandonaria e, concretamente, deu-lhe o ministério apostólico como instituição perene para o ministério da santificação, da direção e da pregação:
Estais edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, tendo por pedra angular o próprio Cristo Jesus (Ef 2,20).
Isso aparece muito claro já na própria preocupação dos apóstolos em constituir varões apostólicos, como Tito, Timóteo, Silas, João Marcos, Barnabé, Clemente Romano, Inácio de Antioquia, etc... para auxiliá-los e sucedê-los pelo rito da imposição das mãos, que confere o Espírito Santo:
Olhai por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu epíscopos, para apascentardes a Igreja de Deus, que ele adquiriu com seu sangue. Sei que, depois de minha partida, virão a vós lobos vorazes que não pouparão o rebanho e, dentre vós mesmos, se levantarão homens que ensinarão doutrinas perversas, para arrastar os discípulos consigo (At 20,28ss).
Ninguém te desconsidere a juventude. Ao contrário, torna-te modelo para os fiéis no modo de falar e de viver, na caridade, na fé, na castidade. Enquanto eu não chegar, aplica-te à leitura, à exortação, ao ensino. Não te descuides do dom da graça que há em ti, que te foi conferido no meio de intervenção profética, quando o presbitério te impôs as mãos. Põe nisto toda a diligência e empenho de modo que se torne manifesto para todos teu aproveitamento. Olha por ti e pela instrução dos outros com insistência (1Tm 4,12ss).
Eu te exorto a reavivar o dom de Deus que há em ti pela imposição das minhas mãos. Guarda o bom depósito, por meio do Espírito Santo que habita em nós (2Tm 1,6.14).
A Tito, meu filho verdadeiro, pela mesma fé, a graça e a paz da parte de Deus Pai e de Cristo Jesus, nosso Salvador. Eu te deixei em Creta para acabares de organizar tudo e colocar presbíteros em cada cidade, de acordo com as normas dadas por mim (Tt 1,4s).
Neste sentido, vale a pena analisar com cuidado 2Tm 2,2:
O que de mim ouviste na presença de muitas testemunhas, confia-o a homens fiéis, que sejam idôneos para ensina-lo a outros.
Aparecem aqui claramente os três elementos necessários para que se possa falar de uma verdadeira e própria sucessão apostólica: a) a sucessão ininterrupta das pessoas que formam uma cadeia, b) o idêntico depósito, c) a fiel transmissão deste de uma pessoa a outra da cadeia. A este respeito é muito importante observar o testemunho das primeiríssimas gerações cristãs, guardado com amor e fidelidade por todas as Igrejas apostólicas: católicos, ortodoxos, coptas, armênios, etíopes, etc. Baste-nos, como exemplo, o que escreve São Clemente Romano, discípulo de São Paulo (cf. Fl 4,3), aos coríntios, no século I:
Também os nossos apóstolos sabiam, através do Senhor nosso, Jesus Cristo, que surgiriam contestações a propósito do ofício episcopal. Por este motivo, sabendo com antecedência esse conhecimento, estabeleceram aqueles (homens apostólicos) de quem falamos e ao mesmo tempo emanaram uma lei pela qual, uma vez mortos, outros homens provados no seu ofício lhes sucedessem. Homens, portanto, estabelecidos pelos apóstolos e, depois, por outros homens ilustres, com o consenso de toda a Igreja.
E também o que escreve Santo Irineu, bispo de Lião (séc. II), discípulo de São Policarpo de Esmirna, que foi discípulo de São João Evangelista, apóstolo do Senhor:
A tradição dos apóstolos, manifestada em todo o mundo, pode ser comprovada em toda Igreja por aqueles que desejam conhecer a verdade. Podemos aqui os bispos estabelecidos pelos apóstolos e os seus sucessores até nós: estes não ensinaram nem conheceram aquilo que aqueles outros (= os hereges gnósticos) vão delirando... Mas porque é muito longo enumerar em um volume como este as sucessão de todas as Igrejas, vamos nos limitar à Igreja maior e mais antiga, conhecida por todos, fundada e construída em Roma pelos gloriosíssimos apóstolos Pedro e Paulo e, indicando a sua tradição, recebida pelos apóstolos e chegada a nós através da sucessão de seus bispos, confundiremos aqueles que por complacência de si mesmos ou por vanglória, por cegueira ou erro se afastam da unidade da Igreja.
۰ A própria Tradição da Igreja, primeiro oral, depois colocada por escrito nos livros do Novo Testamento, era e é constantemente supervisionada pelos legítimos sucessores dos apóstolos:
Quando parti para a Macedônia, pedi que ficasses em Éfeso a convencer alguns a não ensinarem doutrinas extravagantes nem a se ocuparem de mitos e genealogias intermináveis. Tais coisas servem mais para ocasionar disputas do que para promover o plano de salvação de Deus na fé (1Tm 1,3s).
Eis a instrução que te dou, meu filho Timóteo, conforme as profecias que antes foram feitas a teu respeito: amparado nelas sustenta o bom combate com fé e boa consciência. Alguns, que a rejeitaram, naufragaram na fé. É o caso de Himeneu e Alexandre, que entreguei a Satanás para aprenderem a não blasfemar (1Tm 1,18ss).
Como homem de Deus, foge destas coisas. Segue a justiça, a piedade, a fé, a caridade, a paciência, a mansidão. Combate o bom combate da fé, conquista a vida eterna, para a qual foste chamado e da qual fizeste solene profissão diante de muitas testemunhas. Eu te recomendo diante de Deus, que faz viver todas as coisas, diante de Cristo Jesus, que diante de Pilatos testemunhou abertamente a verdade, que te conserves sem mancha nem culpa no mandato, até à manifestação de Nosso Senhor Jesus Cristo. Ó Timóteo, guarda o depósito que te foi confiado. Evita as conversas frívolas de coisas vãs e as contradições da falsa ciência. Alguns, por segui-las, se transviaram da fé. (1Tm 6,11-14.20s).
Mantém o modelo das palavras salutares que de mim recebeste, inspiradas na fé e na caridade em Cristo Jesus. Guarda o depósito precioso pela virtude do Espírito Santo, que habita em nós (2Tm 1,13s).
Lembra-lhes tais coisas e conjura-os por Deus a evitarem discussões vãs, que de nada servem a não ser para a perdição dos ouvintes. Empenha-te em apresentar-te diante de Deus como homem digno de aprovação, como operário que não tem de que se envergonhar, mas expõe corretamente a palavra da verdade (2Tm 2,14).
Tu, porém, permanece fiel ao que aprendeste e que é tua convicção, considerando de quem o aprendeste. Desde a infância conheces as Sagradas Escrituras e sabes que podem instruir-te para a salvação pela fé em Cristo Jesus. Pois toda Escritura é divinamente inspirada e útil para ensinar, para repreender, para corrigir, para educar na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e capacitado para toda boa obra.
Conjuro-te diante de Deus e de Cristo Jesus, que julgará os vivos e os mortos, pela sua aparição e por seu reino: prega a palavra, insiste oportuna e inoportunamente, repreende, ameaça, exorta com toda a paciência e empenho de instruir. Porque virá tempo em que os homens já não suportarão a sã doutrina. Levados pelas próprias paixões e pelo prurido de escutar novidade, arregimentarão mestres e afastarão os ouvidos da verdade a fim de voltá-los para os mitos. Tu, porém, sê prudente em tudo, suporta os trabalhos, pratica obra de pregador do Evangelho, cumpre teu ministério (2Tm 3,14 – 4,5).
O teu ensino, porém, seja conforme à sã doutrina (Tt 2,1).
۰ É precisamente neste ofício apostólico que se insere também o ministério de Pedro. Todas as grandes tradições do Novo Testamento (os evangelhos sinóticos, o Quarto Evangelho, os Atos, os escritos paulinos) atestam e afirmam o primado do apóstolo Pedro. Uma tal importância deixada em testemunho para todas as gerações seguintes, mostra – e a tradição da Igreja confirma sem interrupção! – o papel apostólico do ministério petrino. Eis alguns exemplos:
Mc 3,16; Mt 10,2; Lc 6,14: “Primeiro Simão, também chamado Pedro”;
Jo 1,42: Simão, chamado Cefas
Mt 16,13-19: Pedro, a Pedra da Igreja, com poder de ligar e desligar;
Lc 22,31s: Pedro encarregado de confirmar os irmãos;
Lc 24,33s: o Senhor apareceu a Simão;
1Cor 15,3ss: apareceu a Cefas e depois aos Onze;
Jo 20,1-9: Pedro entra primeiro no sepulcro;
Jo 21,15ss: o Senhor entrega a Pedro seu rebanho;
At 2,14: Pedro com os Onze em Pentecostes;
At 1,15ss: Pedro preside à eleição de Matias;
At 5,1ss: Pedro pune Ananias e Safira;
At 10: Pedro é o primeiro a introduzir um grupo pagão na Igreja;
Gl 1,18-20: Paulo foi a Jerusalém para ver Cefas;
Gl 2,1-10: Paulo vai conferir seu Evangelho com Tiago de Jerusalém e Cefas, chefe da Igreja.
A constante Tradição da Igreja interpretou o ministério de Pedro como uma realidade que pertence à Igreja de Cristo e deverá permanecer até o fim. Eis somente um exemplo:
Os bem-aventurados apóstolos que fundaram a Igreja romana transmitiram seu governo episcopal a Lino, que Paulo recorda na Carta a Timóteo (cf. 2Tm 4,21). Lino teve como sucessor Anacleto e depois de Anacleto foi Clemente, terceiro a partir dos apóstolos. Clemente tinha visto os bem-aventurados apóstolos, teve relação com eles (cf. Fl 4,3), conservava nos ouvidos a pregação deles e diante dos olhos a sua tradição. No seu tempo, portanto, ainda viviam muitos daqueles que foram ensinados pelos apóstolos... A Clemente sucedeu Evaristo, a Evaristo, Alexandre. O sexto após os apóstolos foi Sixto... Com esta ordem e sucessão chegou até nós na Igreja a Tradição apostólica e a pregação da verdade. Isto prova plenamente que foi conservada e transmistida fielmente pelos apóstolos a mesma, única e viva fé! (Eusébio, Bispo de Cesaréia, séc. IV)
Assim, ao Colégio dos Doze, tendo Pedro à frente, sucedeu o Colégio dos Bispos (= Epíscopos), tendo o Sucessor de Pedro à frente. Se toda a Igreja é sucessora da Comunidade apostólica, há, sem duvida nenhuma, um órgão ministerial que garante, sob o Espírito Santo, a Igreja na sucessão apostólica legítima e ininterrupta: o ministério episcopal, tento como centro de sua comunhão visível, o Bispo de Roma, sucessor de Pedro! A apostolicidade da Igreja não é, portanto, um conceito abstrato, aéreo ou subjetivo, mas uma realidade firmemente ancorada nas Escrituras, na Tradição ininterrupta da Igreja e na própria história.
e) Conclusão
A Igreja é indefectivelmente una, santa, católica e apostólica. No entanto, que fique claro o seguinte: (a) ela não o é por sua própria virtude e força, mas por pura graça de Cristo, que, como Esposo fiel, a conserva no seu Espírito Santo; (b) tudo isso é graça, mas é também responsabilidade para seus filhos: construir a unidade, viver na santidade, conservar a catolicidade e perseverar na apostolicidade; (c) somente na glória a Igreja terá a plenitude desses dons, mesmo que agora ela já os tenha de fato e, por ação do Espírito, não os possa perdê-los!
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Um pensamento final

A Igreja de Cristo é peregrina: vem do Pai pelo Filho no Espírito; caminha para o Pai, através do Filho no Espírito. Ela é peregrina: Esposa de Cristo, nossa Mãe caríssima, somente será plena na Glória. Mas caminha confiante, sustentada pelo Espírito:
O Espírito e a Esposa dizem: “Vem!”
Aquele que atesta estas coisas diz: “Sim, venho muito em breve!”
Amém! Vem, Senhor Jesus! (Ap 22,17.20).
Vale a pena terminar pensando no capítulo 21 do Apocalipse, que descreve de modo maravilhoso a Igreja plena, Jerusalém celeste. É esta Igreja, que, peregrina no mundo já é e sempre será uma, santa, católica e apostólica, nossa Mãe amantíssima que nos gerou para Cristo. É nela que através do Cristo Jesus e na força do único Espírito queremos ser um louvor de glória para Deus, o Pai! Amém!

FONTE ELETRÔNICA:

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