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sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Religião e Religiões

“Fizeste-nos para Ti e inquieto está o nosso coração enquanto não repousar em Ti”, exclama Santo Agostinho nas primeiras linhas de suas “Confissões”(Conf. I,1). Esse coração inquieto, em sua insaciável busca de Deus, ofereceu ao mundo belas páginas de reconfortante espiritualidade. O Santo empenhou sua inteligência nesse esforço de conhecer a amar a Deus para compreender a verdadeira religião.

A humanidade sempre buscou um modo de se relacionar com Deus. Nem sempre de modo correto, é claro. Muitas vezes se desviou do caminho, criando dificuldades para tantos irmãos. Isto, porque se apoiou em princípios errados que, necessariamente, conduziam a resultados errados.

Diante dos desafios naturais da vida, o homem buscava soluções imediatistas que acabavam por se deter nas criaturas em vez de se apoiar no Criador. As mais antigas expressões culturais revelam essa disposição em divinizar a natureza e seus fenômenos, chegando, em grande maioria de civilizações antigas, a cultuar ídolos criados por mãos humanas. Faziam isso, para expressar sua necessidade de apoiar-se em algo que as transcendesse, embora ocorresse o inverso.

Deus, porém, em sua misericórdia, não abandonou a sua Criação. Ele vem ao encontro da humanidade de diversos modos: na inquietude do coração que questiona a necessária divindade; na consciência que mostra uma orientação para o bem e o desvio do mal; nas “vias” do conhecimento de Deus, apresentadas por Aristóteles e, bem mais tarde, desenvolvidas por Santo Tomás de Aquino e outros. Preparando a humanidade para sua vinda, Deus vai formando um povo e o conduz, passo a passo, em direção a um relacionamento pessoal com ele.

Diante disso, é fácil entender como o homem procurou se relacionar com o transcendente. Raramente o povo como tal, entendeu o Deus que se revelava. Em todas as civilizações, sempre existiu uma instituição religiosa que conduzia o povo a um comportamento particular.

Ao longo de tantos séculos, a humanidade conheceu muitas formas de se relacionar com Deus – mesmo dando-lhe nomes e funções diversas – criando um grande complexo de sistemas religiosos. Até mesmo filosofias e simples costumes tribais acabavam sendo confundidos com religiões. Um grande número de crenças orientais tem características nitidamente politeístas, que se expressam em grandes culturas, nos dias de hoje. 

Do mesmo modo, as religiões monoteístas (judaísmo, islamismo e cristianismo) constituem a grande maioria em nossa atual civilização. No entanto, mesmo dentro dos sistemas mais bem estruturados, encontramos fundamentalismos, fanatismo e indiferentismo religioso. É quase impossível relacionar todas as denominações religiosas de hoje, mesmo aquelas chamadas cristãs, uma vez que a religião se esfacelou em inúmeras denominações religiosas, seitas propriamente ditas que se multiplicam cada vez mais: imediatistas, fundamentalistas, lendárias, utilitaristas, etc. Há verdadeiros profissionais da crença e muitas vezes iludem as camadas mais simples da população com promessas de soluções imediatas para seus problemas e angústias.

O Concílio Vaticano II foi uma grande resposta da Igreja a essa problemática das distâncias entre os irmãos e procurou aproximá-los pelo caminho do Ecumenismo. Um homem exemplar, que preparou toda a perspectiva do diálogo ecumênico e, conseqüentemente, as linhas mestras do próprio Concílio, foi o Papa João XXIII e o Cardeal Agostinho Béa. Quanto ao Cardeal Béa, ainda hoje é mencionado como o articulador de muitos caminhos de aproximação entre os cristãos. Presidiu durante décadas o Pontifício Conselho para Promoção da Unidade dos Cristãos, em suas primeiras expressões. A busca do diálogo parece ser a mais eficiente chave para se compreender, hoje, esses caminhos diversos. Os encontros em Assis, a convite do Santo Padre, reunindo os líderes de tantas religiões é um sinal de grande esperança.

Um dos grandes desafios do nosso novo século é o indiferentismo religioso, mais que o ateísmo prático. Uma boa parte da nova geração está mais voltada à própria satisfação pessoal, a interesses particulares e pouco voltada para o transcendente. Com isso, são alvos fáceis de oportunistas que os manipulam a seu bel prazer. Com facilidade caem na depressão e buscam nas drogas uma forma de fugir da realidade.

Por outro lado, podemos antever alguns sinais de esperança. A busca de expressões religiosas aumentou consideravelmente entre os jovens. As Jornadas Internacionais da Juventude reúnem milhares de jovens em torno ao Papa, dando um belo testemunho de renovação na Igreja em suas expressões mais autênticas de dedicação e entusiasmo. Procuram sempre mais descobrir caminhos autênticos para suas vidas, orientando-se por uma filosofia sadia. Uma nova geração de santos já pode ser percebida na juventude de nosso tempo.

Pessoas que deixam tudo para seguir o Senhor, nos seminários, nos mosteiros, na vida consagrada em geral, nos serviços eclesiais e no voluntariado.

Se, um dia, a túnica sem costura do Cristo foi dividida em tantas facções, como dizia Santo Agostinho, hoje podemos perceber que aquele manto sagrado volta a ser tecido com o amor e a dedicação de nossos abnegados jovens, as famílias cristãs que dão testemunho seguro da autenticidade de sua fé, religiosos e religiosas que buscam conformar-se ao carisma dos seus fundadores, configurando-se sempre mais Cristo Jesus, leigos e leigas que testemunham sua fé nos ambientes de trabalho e mesmo no lazer. Todos buscam a unidade de fé e são, no mundo, esse sinal do amor de Deus.

Como podemos perceber, caminhamos lentamente para a sonhada unidade. Quando Jesus nasceu, os anjos anunciaram a paz na terra aos homens de boa vontade. Serão esses mesmos homens de boa vontade que garantirão, um dia, o sonho do Senhor, que disse: “...E haverá um só rebanho e um só pastor” (Jo 10, 16)!

Dom Oscar Euzebio Sheid

Fonte: Arquidiocese do Rio de Janeiro

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