INTRODUÇÃO
Frequentemente escutamos membros de algumas, como adventistas e testemunhas de Jeová, seitas negando a existência do inferno. Para os católicos contudo, o inferno é dogma de fé.
A este respeito o ensinamento do Catecismo da Igreja Católica Ensina:
“1033 Não podemos estar unidos a Deus se não fizermos livremente a opção de amá-lo. Mas não podemos amar a Deus se pecamos gravemente contra Ele, contra nosso próximo ou contra nós mesmos: “Aquele que não ama permanece na morte. Todo aquele que odeia seu irmão é homicida; e sabeis que nenhum homicida tem a vida eterna permanecendo nele" (1 Jo 3,14-15). Nosso Senhor adverte-nos de que seremos separados dele se deixarmos de ir ao encontro das necessidades graves dos pobres e dos pequenos que são seus irmãos morrer em pecado mortal sem ter-se arrependido dele e sem acolher o amor misericordioso de Deus significa ficar separado do Todo-Poderoso para sempre, por nossa própria opção livre. E é este estado de autoexclusão definitiva da comunhão com Deus e com os bem-aventurados que se designa com a palavra "inferno".”
Mais adiante continua o catecismo:
“1035 O ensinamento da Igreja afirma a existência e a eternidade do inferno. As almas dos que morrem em estado de pecado mortal descem imediatamente após a morte aos infernos, onde sofrem as penas do Inferno, "o fogo eterno". A pena principal do Inferno consiste na separação eterna de Deus, o Único em quem o homem pode ter a vida e a felicidade para as quais foi criado e às quais aspira.”.
FUNDAMENTO BÍBLICO DO INFERNO
Igualmente a doutrina da imortalidade da Alma, a revelação da existência do inferno ao povo de Deus, foi progressiva.
Durante os oito primeiros séculos de redação da bíblia, o termo hebreu Sheol designava a morada das pessoas que morreram, bons e maus igualmente, mas em seus livros mais recentes se encontra uma clara diferença entre o castigo dos ímpios em contraposição a recompensa dos justos, tal como assinala o livro de Daniel em seu capítulo 12.
“E muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para vida eterna, e outros para vergonha e desprezo eterno. Os que forem sábios, pois, resplandecerão como o fulgor do firmamento; e os que a muitos ensinam a justiça, como as estrelas sempre e eternamente.” (Daniel 12,2-3)
“E sairão, e verão os cadáveres dos homens que prevaricaram contra mim; porque o seu verme nunca morrerá, nem o seu fogo se apagará; e serão um horror a toda a carne.” (Isaías 66, 24)
“Depois disso serão cadáveres sem honra, desterrados entre os mortos, numa eterna ignomínia, porque ele os ferirá, e os precipitará sem voz, abatê-los-á nas suas bases e os mergulhará na última desolação. Eles serão entregues à dor, e a memória deles perecerá. Comparecerão aterrorizados com a lembrança de seus pecados, e suas iniqüidades se levantarão contra eles para os confundir.” (Sabedoria 4,19-20.)
Já na doutrina do Novo Testamento do inferno é muito mais clara, especialmente na pregação de Jesus, que ameaça os pecadores com castigo do inferno usando a figura do Gena.
“Portanto, se o teu olho direito te escandalizar, arranca-o e atira-o para longe de ti; pois te é melhor que se perca um dos teus membros do que seja todo o teu corpo lançado na Gena.” (Mateus 5,29)
“E não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei antes aquele que pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo.” (Mateus 10,28)
“Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que percorreis o mar e a terra para fazer um prosélito; e, depois de o terdes feito, o fazeis filho do inferno duas vezes mais do que vós.” (Mateus 23,15)
“Serpentes, raça de víboras! Como escapareis da condenação do inferno?”(Mateus 23,33)
“E, se o teu pé te escandalizar, corta-o; melhor é para ti entrares coxo na vida do que, tendo dois pés, seres lançado no inferno, no fogo que nunca se apaga, Onde o seu bicho não morre, e o fogo nunca se apaga. E, se o teu olho te escandalizar, lança-o fora; melhor é para ti entrares no reino de Deus com um só olho do que, tendo dois olhos, seres lançado no fogo do inferno, Onde o seu bicho não morre, e o fogo nunca se apaga. Porque cada um será salgado com fogo, e cada sacrifício será salgado com sal.” (Marcos 9,45-49)
É abundante também o uso de expressões como “fogo que não se apaga”, “forno de fogo”, “ Suplício Eterno”, “ser lançados nas trevas”, “ranger de dentes” para referir-se as penas do inferno.
“Em sua mão tem a pá, e limpará a sua eira, e recolherá no celeiro o seu trigo, e queimará a palha com fogo que nunca se apagará.” (Mateus 3, 12)
“E os filhos do reino serão lançados nas trevas exteriores; ali haverá pranto e ranger de dentes.” (Mateus 8, 12)
“e os lançarão na fornalha acesa; ali haverá choro e ranger de dentes.” (Mateus 13,42.50)
“Disse, então, o rei aos servos: Amarrai-o de pés e mãos, levai-o, e lançai-o nas trevas exteriores; ali haverá pranto e ranger de dentes” (Mateus 22,13)
“Então dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos;” (Mateus 25, 41)
“E, se a tua mão te escandalizar, corta-a; melhor é para ti entrares na vida aleijado do que, tendo duas mãos, ires para o inferno, para o fogo que nunca se apaga,” (Marcos 9, 43)
“Se de fato é justo diante de Deus que dê em paga tribulação aos que vos atribulam, E a vós, que sois atribulados, descanso conosco, quando se manifestar o Senhor Jesus desde o céu com os anjos do seu poder, Como labareda de fogo, tomando vingança dos que não conhecem a Deus e dos que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo; Os quais, por castigo, padecerão eterna perdição, ante a face do Senhor e a glória do seu poder,” (II Tessalonicenses 1, 6-9)
“Porque, se pecarmos voluntariamente, depois de termos recebido o conhecimento da verdade, já não resta mais sacrifício pelos pecados, Mas uma certa expectação horrível de juízo, e ardor de fogo, que há de devorar os adversários.” (Hebreus 10, 26-27)
“Mas, quanto aos tímidos, e aos incrédulos, e aos abomináveis, e aos homicidas, e aos fornicadores, e aos feiticeiros, e aos idólatras e a todos os mentirosos, a sua parte será no lago que arde com fogo e enxofre; o que é a segunda morte.” (Apocalipse 21, 8)
“E o diabo, que os enganava, foi lançado no lago de fogo e enxofre, onde está a besta e o falso profeta; e de dia e de noite serão atormentados para todo o sempre.” (Apocalipse 20, 10)
A parábola de Lázaro e o rico (Lucas 16) ensina como aqueles que foram reprovados sofriam o tormento de forma eterna e irrevogável.
As penas do inferno. Pena de dano e de sentido.
O catecismo da Igreja católica ensina que “a pena principal do inferno consiste na separação eterna de Deus no qual o homem unicamente pode ter a vida e a felicidade para que foi criado e as que aspira”. Esta separação eterna de Deus ou suplício de privação, que é causada pela separação voluntário de Deus que se realiza pela morte em pecado mortal, se chama “pena de dano”.
É a principal pena do inferno por que implica na perca definitiva da visão beatifica. Os condenados estão irrevogavelmente separados de Deus, e a esta separação é a que fazem referência textos como Mateus 25, 41: “Apartai-vos de mim, malditos...”, ou II Tessalonicenses 1, 9 “Estes sofrerão a pena de uma ruina eterna, diante da presença do Senhor e da glória de seu poder”
A pena de sentido se refere a mudança do tormento dos condenados causado externamente por meios sensíveis. A este tormento se referem textos bíblicos como Apocalipse 20, 10: “serão atormentados de dia e de noite por todos os séculos dos séculos”. E “ali haverá choro e ranger de dentes”.
A Igreja ensina que este suplício sensível atormenta agora todos os demônios e as almas dos condenados e atormentará também aos corpos dos condenados logo depois da ressurreição dos corpos.
INFERNO NO ENSINAMENTO DOS PAIS DA IGREJA
A Igreja primitiva e os pais da Igreja acreditavam não só na doutrina da imortalidade da alma, mas também na condenação eterna dos condenados, com exceção de Orígenes e alguns de seus seguidores que erroneamente pensavam que as penas do inferno eram temporárias e de alguns hereges gnósticos que afirmavam que os que não se salvassem seria aniquilados (curiosamente o que hoje creem dos testemunhas de Jeová e Adventistas).
Já os primeiros símbolos de fé afirmavam a existência da condenação eterna, como o símbolo de Atanásio, também chamado Quicumque, no qual disse: “Os que fizeram o bem, irão para a vida eterna, os que fizeram o mal, o fogo eterno”. (Dz 40/76)
Apocalipse de Pedro
Dos textos apócrifos primitivos é um dos mais importantes, por sua antiguidade (foi escrito entre o ano 125 e 150, o que é o mesmo que 25 ou 50 anos após a morte do último apóstolo), e foi tido com grande estima pelos escritores eclesiásticos da antiguidade. Clemente de Alexandria o considerava como um escrito canônico (ver Eusébio de Cesaréa. HE 6, 14, 1). Figura também no fragmento muratoriano (a lista mais antiga do cânon do Novo Testamento), mas com a adição: “Alguns não que seja lido na Igreja”. Outros padres como Eusébio e Jerônimo o rejeitaram.
Um fragmento grego importante do Apocalipse foi encontrado em Akhmin em 1886 – 1887 e seu conteúdo descreve visões que incluem a beleza do céu e o horror do inferno e o castigo aos que são submetidos os condenados:
“E havia um grande lago, cheio de lama quente, onde havia alguns homens que haviam se separado da justiça; e os anjos que eram responsáveis por atormentá-los estavam em cima deles.”
Inácio de Antioquia
Discípulo de Pedro e Paulo, segundo bispo de Antioquia e mártir durante o reinado de Trajano por volta de 107 d.C. Quando ele foi condenado à morte foi ordenado ir da Síria para Roma para ser martirizado. No caminho de Roma escreveu sete epístolas às igrejas de Éfeso, Magnésia, Trália, Filadélfia, Esmirna, Roma e uma carta a São Policarpo. Ao escrever para aos Efésios testemunha como aqueles que morreram na impureza irão ao fogo eterno:
“Não vos iludais, meus irmãos, os corruptores da família não herdarão o Reino de Deus. Pois, se pereceram os que praticavam tais coisas segundo a carne, quanto mais os que perverterem a fé em Deus, ensinando doutrina má, fé pela qual Jesus Cristo foi crucificado? Um tal, tornando-se impuro, marchará para o fogo inextinguível, como também marchará aquele que o escuta. Por isso, recebeu o Senhor unção sobre a cabeça para exalar em favor da Igreja o perfume da incorrupção. Não vos deixeis ungir pelo mau odor da doutrina do príncipe deste mundo, de forma que vos leve cativos para longe da vida que vos espera. Por que não nos tornamos prudentes, aceitando o conhecimento de Deus, isto é, Jesus Cristo? Por que morrermos tolamente, desconhecendo o dom que o Senhor nos enviou de verdade?” (Inácio de Antioquia, Carta aos efésios, 16-17)
Justino Mártir
Mártir da fé cristã, viveu até o ano 165, quando foi decapitado, é considerado o maior apologista do século II.
“Porque entre nós, o príncipe dos demônios do mal chamado Satanás, diabo, serpente ou caluniador, como você pode saber, se você descobrir, por nossas escrituras, e que ele e todo o seu exército junto com os homens que o seguem serão enviados para o fogo para serem punido por toda a eternidade sem fim, que é o que de antemão foi anunciado por Cristo” (Justino Mártir, Apologia I, 28)
“E não se oponham a que costumam dizer os que se têm por filósofos, que não são mais que apenas ruído e espantalhos o que afirmamos sobre a punição que os ímpios devem sofrer no fogo eterno” (Justino Mártir, Apologia II, 9)
Martirio de Policarpo
É uma carta da Igreja de Esmirna a comunidade de Filomenio de onde se narra o martírio de São Policarpo de Esmirna, discípulo direto do apóstolo São João e bispo de Esmirna.
“Quem não admiraria a generosidade deles, a perseverança e o amor ao Senhor? Dilacerados pelos flagelos a ponto de ser ver a constituição do corpo até as veias e artérias, permaneciam firmes, enquanto os presentes choravam de compaixão. A sua coragem chegou a tal ponto que nenhum deles disse uma palavra ou emitiu um gemido. Eles mortravam em seus corpos, mas que o Senhor, aí presente, conservava com eles. Atentos à graça de Cristo, eles desprezavam as torturas deste mundo e adquiriram, em uma hora, a vida eterna. O fogo dos torturadores desumanos era frio para eles. De fato, tinham diante dos olhos escapar do (fogo) eterno, que jamais se extingue; com os olhos do coração olhavam os bens reservados à perseverança, bens que o ouvido não ouviu, nem o olho viu, nem o coração do homem sonhou, mostrados pelo Senhor àqueles que não que não eram mais homens, mas que já eram anjos.” (Martirio de Policarpo, 2, 3-4)
Discurso a Diogneto
É um breve tratado apologético dirigido a alguém chamado Diogneto o qual aparentemente havia perguntado algumas coisas que chamaram a atenção sobre as crenças e modo de vida cristãos: É de um autor desconhecido e se estima que foi composto no fim do século II.
“Então, ainda estando na terra, contemplarás porque Deus reina nos céus. Aí começarás a falar dos mistérios de Deus, amarás e admirarás aqueles que são castigados por não querer negar a Deus. Condenarás o engano e o erro do mundo, quando realmente conheceres a vida no céu, quando desprezares esta vida que aqui parece morte e temeres a morte verdadeira, reservada àqueles que estão condenados ao fogo eterno, que atormentará até o fim aqueles que lhe forem entregues. Se conheceres esse fogo, ficarás admirado, e chamarás de felizes aqueles que, pela justiça, suportaram o fogo passageiro.…” (Discurso a Diogneto, 10, 7-8)
Atenágoras
Reconhecido como apologista cristão primitivo do século II:
“Sei que com o que eu disse estou defendido diante de vós. De fato, superando a todos por vossa inteligência, sabeis que aqueles que tomam a Deus como regra de vida, para que cada um de nós esteja sem culpa e sem mancha em sua presença, não podem ter, em pensamento, o mais leve pecado, e acreditássemos que nada existe além desta vida presente, poder-se-ia suspeitar que pecássemos, submetendo-nos à servidão da carne e do sangue ou sendo dominados pelo lucro e pelo desejo. Sabendo, porém, como sabemos, que Deus vigia nossos pensamentos e nossas palavras, tanto de dia como de noite, e que ele é todo luz e vê até dentro do nosso coração; acreditando, como cremos, que, ao sair desta vida, viveremos outra melhor, contando que permaneçamos com Deus e por Deus inquebrantáveis e superiores às paixões, com alma não carnal, mas com espírito celeste, embora na carne; ou acreditando que, se cairmos como os demais, espera-nos uma vida pior no fogo (porque Deus não nos criou como rebanhos ou bestas de carga, de passagem, só para morrer e desaparecer); crendo nisso, dizíamos, não é lógico que nos entreguemos voluntariamente ao mal e nos joguemos a nós mesmos nas mãos do grande juiz para sermos castigados.” (Atenágoras, Petição a favor dos Cristãos, 31)
Ireneu de Lião
Santo Irineu (bispo e Mártir). Foi discípulo de São Policarpo que por sua vez foi discípulo do apóstolo São João. Conhecido por seu tratado “Contra as Heresias” onde combate as heresias de seu tempo, em especial a dos gnósticos.
“No Novo Testamento, [1062] cresceu fé dos homens em Deus, ao receberem o Filho de Deus como um bem adicionado a fim de que os homens tivessem a participação de Deus. Da mesma forma aumentou a perfeição do comportamento humano, pois somos instruídos a abster-se não só de más ações, mas também dos maus pensamentos (Mt 15,19) de palavras ociosas, expressões vãs (Mt 12, 36) e licenciosos discursos (Ef 5, 04): deste modo também ampliou a punição daqueles que não acreditam na Palavra de Deus, que desprezam sua vinda e recusam, porque não vai ser mais temporária, mas eterna. Para tais pessoas, o Senhor dirá: ‘Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno’ (Mateus 25:41), e será para sempre condenado. Mas aos outros vai dizer: ‘Vinde, benditos de meu Pai, recebam por herança o reino preparado para vós desde sempre’(Mt 25, 34), e receberão o reino onde eles terão um progresso perpétuo. Isso mostra que um e o mesmo Deus, o Pai, e que a Sua Palavra está sempre do lado da humanidade, com economias diferentes, realizando vários trabalhos, poupando aqueles que foram salvos desde o início, isto é, para aqueles que amam a Deus e de acordo com a sua capacidade de seguir a sua palavra e, a julgar aqueles que estão condenados, ou que se esquecem de Deus, blasfemam e violam a sua palavra.” (Santo Ireneu, contra as heresias IV, 28,2)
Tertuliano
Estritamente falando, Tertuliano não é considerado um pai da Igreja, mas um apologista e escritor eclesiástico, já que no final de sua vida cai em heresia abraçando o montanismo. Porém foi lido antes de seu abandono da Igreja Católica. Tanto em seu período ortodoxo quanto em seu período herético temos em Tertuliano um testemunho sem igual que nos informa sobre a prática primitiva da penitência na Igreja.
Quando escreve De Paenitentia (aproximadamente no ano de 203 d.C. sendo todavia católico), fala aqui de uma segunda penitência que Deus ‘há colocado no vestíbulo para abrir a porta aos que chamam, mas somente uma vez, por que esta já é a segunda’, mas para quem rejeita esta penitência descreve a condenação eterna do inferno, castigo de quem não quis se arrepender e confessar seus pecados.
“ Se recusas a penitência pública, medita em teu coração acerca da gena que para ti há de ser extinguida mediante a penitência. Imagina-te antes de tudo a gravidade da pena, a fim de que não vaciles em assumir o remédio. Como devemos considerar esta caverna do fogo eterno, quando através de algumas suas lareiras se produzem tais erupções de vigorosas chamas, que fizeram desaparecer as cidades próximas ou estão a espera de que isto lhes ocorra a qualquer dia? Montes altíssimos saltam feito pedaços por causa do fogo que encontram, e como resultado para nós um indício da perpetuidade deste fogo o fato de que, por mais que estas erupções quebrem e destruam as montanhas, nunca cessa esta atividade. Quem diante dos choques dos montes poderá deixar de considerá-los como um sinal de iminente juízo? Quem poderá pensar que tais chamas não sejam uma espécie de armas de arremesso que provém de um fogo colossal e indescritível?" (Tertuliano, De la penitencia, 12: PL 1,1247)
Cipriano de Cartago
São Cipriano nasceu em torno do ano 200, provavelmente em Cartago, de família rica e culta. Dedicou-se, em sua juventude, à retórica. O desgosto que sentia diante da imoralidade dos ambientes pagãos contrastados com a pureza de costumes dos cristãos o induziu a abraçar o Cristianismo por volta do ano 246. Pouco depois, em 248, foi eleito bispo de Cartago. Durante a perseguição de Décio, em 250, julgou melhor afastar-se para outro lugar, para continuar a se ocupar com seu rebanho de fiéis. Dele conservamos uma dezena de opúsculos sobre diversos temas de então e, particularmente, uma coleção de 81 cartas.
“Que glória para os fiéis haverá então, que castigo para os não crentes, que dor para os infiéis por não haver querido crer em outro tempo neste mundo e não poder agora voltar atrás e crer. A gena sempre em chamas e um fogo devorador abrasará aos que ali irem, e não terão descanso seus tormentos nem fim em nenhum momento. Serão conservadas as almas com os corpos para sofrer com inacabáveis suplícios. Ali veremos sempre ao que aqui não olhamos por um tempo, e o breve prazer que tiveram os olhos cruéis nas perseguições será contrapesado pelo espetáculo sem fim, segundo o testemunho da Sagrada Escritura, quando disse “Seu verme não morrerá, e seu fogo não se extinguirá, e servirão de espetáculo a todos os homens... Então será em vazio o arrependimento, vãos os gemidos e sem eficácia os rogos. Tarde crêem na pena eterna os que não quiseram crer na vida eterna.” (Cipriano, A Demetriano, 24)
Basilio de Cesárea
Nasceu por volta do ano 330, do seio de uma família profundamente cristã. No ano 364 foi ordenado sacerdote e, 6 anos depois, sucedeu a Eusébio, bispo de Cesaréia, metropolita da Capadócia e exarca da diocese do Ponto. Faleceu no ano 379.
“É evidente que as obras são a causa de que alguém acabe por ser condenado ao suplício, uma vez que somos nós mesmos os que não nos dispomos para ser merecedores do queimamento, de modo que os vícios da alma são como faíscas de fogo que produzimos para acender as chamas da gena, como no caso daquele rico que se queimava no fogo de seus próprios prazeres que o abrasavam. Contudo, a intensidade do fogo devorador será maior ou menor, segundo sejam os dardos lançados sobre cada um pelo maligno.” (Basílio de Cesárea, Comentário sobre Isaías 1,64)
““... não está presente no inferno quem louva, nem no sepulcro quem se lembra de Deus, porque tampouco está presente o auxílio do Espírito Santo. Como se pode, pois, pensar que o juízo se efetua sem o Espírito Santo, enquanto que a Palavra mostra que Ele mesmo será também a recompensa dos justos, em vez do penhor, entregue a todos, e que será a primeira condenação dos pecadores quando se lhes despojar a mesma coisa que pareciam ter?” (Basílio de Cesárea, O Espírito Santo, 16,40)
Gregorio Nazianzeno
Arcebispo de Constantinopla e doutor da Igreja, nascido em Nazianzo, Capadócia no ano de 329 d.C, e morreu em 389. Celebre por sua eloquência e por sua luta em sua colaboração na luta contra o arianismo, junto com são Basílio e são Gregório de Nissa. É conhecido com um dos 4 grande doutores da Igreja Grega.
“Conheço o temor, a agitação, a inquietude e o quebramento do coração, a vacilação dos joelhos e outras penas semelhantes com que são castigados os ímpios. Vou dizer, todavia, que os ímpios são entregues aos tribunais da outra vida pela justiça parcimoniosa deste mundo, de modo que se mostra preferível ser castigados e purificados agora, que ser encaminhados aos suplícios da vida após a morte, quando já será o tempo de castigo e não da purificação.” (Gregório Nazianzeno, Discursos, 16,7)
Gregório de Nissa
Nasceu entre os anos 331 e 335. Era irmão de São Basílio Magno, que o consagrou bispo de Nissa em 371. Faleceu no ano 394. Gregório de Nissa também fala repetidas vezes do “fogo inextinguível” e da imortalidade do “verme” de uma pena eterna e ameaça o pecador com sofrimentos eternos e eterno castigo, no entanto, igualmente a Orígenes cai no erro de pensar que as penas do inferno não eram eternas.
“E a vida dolorosa dos pecadores não são comparáveis com as sensações dos que sofrem aqui. Mas ainda neste caso de que se aplique algum castigo além do nome com que se lhe conhece aqui, a diferença não é pequena. Efetivamente, ao escutar a palavra fogo, aprendi a pensar algo distinto do fogo daqui, porque nele se encontra uma qualidade que não há neste: aquele, de fato, não se extingue, enquanto que este daqui pode ser extinguido por múltiplos meios que ensina a experiência e a diferença é grande entre um fogo que se extingue e outro que é inextinguível. Portanto, é outro, e não o mesmo que o daqui. E também quando um ouve a palavra verme, que por a semelhança do nome não se deixe levado a pensar que este animalito terrestre, porque o acréscimo da qualidade “eterno” supõe que se deve pensar em outra natureza diferente da que conhecemos.” (Gregorio de Nissa, A grande Catequese, 40, 7-8)
Jerônimo
Reconhecido como um dos quatro doutores originais da Igreja Latina. Padre das ciências bíblicas e tradutor da Bíblia em Latim. Presbítero, homem de vida ascética, eminente literato. Nasceu no ano de 347 d.C e morreu em 420.
“ São muitos os que dizem que no futuro não haverá suplício pelos pecados nem se lhes aplicará castigos que venham do exterior, mas que a penas consistirá no pecado mesmo, e em ter consciência do delito, não morrendo o verme no coração e ardendo o fogo na alam de um modo semelhante a febre, que não atormenta o enfermo por fora, mas que, apoderando-se dos corpos, castiga sem usar qualquer instrumento externo de tortura. Estas persuasões são laços fraudulentos, palavras vazias e sem valor, que deleitam como flores aos pecadores, mas que lhes infundem uma confiança que lhes conduz aos suplícios eternos” (Jerônimo, Comentário a Carta a los Efésios, 3,5,6)
João Crisóstomo
São João Crisóstomo é o representante mais importante da Escola de Antioquia e um dos quatro grandes Padres da Igreja no Oriente. Nascido por volta do ano 350, talvez antes, foi ordenado sacerdote no ano 386 e em 397 foi consagrado bispo de Constantinopla. Morreu em 407.
São João Crisóstomo da uma explicação detalhada da diferença entre a pena de dando e de sentido, e de como a primeira é a principal pela do inferno por implicar a separação definitiva de Deus.
“ A dupla pena do inferno: o fogo e a privação de Deus. Aparentemente não há aqui mais que um só castigo, que é o ser queimado pelo fogo, porém, se cuidadosamente o examinamos, veremos que são dois, pois o que é queimado é ao mesmo tempo banido para sempre do reino de Deus. E este castigo é mais grave que o primeiro. Já sei que muitos só temem o fogo do inferno, mas eu não vacilo em afirmar que a perda da glória eterna é mais amarga que o próprio fogo. Agora que eu não possa expressar com palavras, não há o que se estranhar, pois tampouco sabemos a natureza dos bens eternos para podermos se dar conta da desgraça que é nos vermos privados deles... Certo é que insuportável é o inferno e o castigo que ali se padece. Contudo, ainda quando me ponha mil infernos diante de mim, nada me dirás comparável com a perda da glória da bem-aventurança, com a desgraça de ser odiado por Cristo, de ter que ouvir por sua boca “não te conheço”. De que nos acuse de que lhe vimos faminto e não o demos de comer. Mais valerá que mil raios nos abrasem do que não ver aquele manso rosto que nos rejeita e aqueles olhos serenos que não podem suportar nos olhar. ” (João Crisóstomo, Homilías sobre Mateus 23,8)
Agostinho de Hipona
Doutor da Igreja nascido em Tagaste (África) no ano 354, filho de Santa Mônica. Após uma vida ímpia, converteu-se no ano 387 e, posteriormente, foi eleito bispo de Hipona, ministério que exerceu durante 34 anos. É considerado um dos Padres mais influentes do Ocidente e seus escritos são de grande atualidade. Morreu no ano 430.
“ Tens, ouvido, pois, no Evangelho que há duas vidas: uma presente, outra futura. A presente a possuímos: na futura cremos. Encontramo-nos na presente; a futura ainda não temos chegado. Enquanto vivemos a presente realizamos méritos para adquirir a futura, pois ainda não estamos mortos. Acaso se lê o Evangelho nos infernos? Se de fato fosse assim, em vão lhe ouviria o rico aquele, porque não poderia haver penitência frutuosa. A nós se nos é lido aqui e aqui o ouvimos, donde, enquanto vivemos, podemos ser corrigidos, para não chegar naqueles tormentos.” (Agostinho de Hipona, Sermão, 113-A, 3)
“Por isto o que sucede aqui, o entendimento humano poderia ter uma ideia do que nos está reservado no que há de vir. No entanto, que grande desproporção! Vive, não quer morrer; daqui o amor a vida inacabável, ao querer viver, ao não querer morrer nunca. Com tudo isso, os que irão as tortuosas penas do inferno desejarão morrer e não poderão.” (Agostinho de Hipona, Sermón 127, 2)
Gregorio Magno
Papa e doutor da Igreja, é o quarto e último dos originais Doutores da Igreja latina. Defendeu a supremacia do Papa e trabalhou pela reforma do clero e da vida monástica. Nasceu em Roma por volta do ano 540 e faleceu em 604.
“Se aos bons lhes ocorre mal e aos maus bem, talvez se deva por os bons, se pecaram em algo, recebem aqui o castigo para ser plenamente livres da condenação eterna, enquanto que os maus encontram aqui a recompensa pelo bem feito nesta vida afim de que na futura só sofram tormentos.” (Gregório Magno, Moral em Jó, V)
DEFINIÇÕES DO MAGISTÉRIO DA IGREJA
No concílio Lateranense IV (ano 1215) se define a existência do inferno e a eternidade das penas. O mesmo nos concílio de Lião II (ano de 1274), e Florença (ano de 1439) onde se declara que a condenação eterna começa imediatamente depois da morte.
Na Bula Benedictus Deus o papa Bento XVI (ano de 1336) lemos:
“Definimos que, segundo a disposição geral de Deus, as almas dos que morreram no pecado mortal atual descendem, depois de sua morte, ao inferno, onde são atormentados com penas infernais”. (Dz 531; cf. Dz 429, 464, 693, 835, 840)
“Definimos que, segundo a disposição geral de Deus, as almas dos que morreram no pecado mortal atual descendem, depois de sua morte, ao inferno, onde são atormentados com penas infernais”. (Dz 531; cf. Dz 429, 464, 693, 835, 840)
O magistério recente confirma a doutrina da Igreja sobre o inferno expressamente no concílio Vaticano II em sua Constituição Dogmática sobre a Igreja, nos exorta a velar para entrar na vida e apartamos do castigo eterno:
“E como não sabemos nem o dia nem a hora, por aviso do senhor, devemos vigiar constantemente para que, terminado o único prazo de nossa vida eterna (cf. Hb 9, 27), se queremos entrar com Ele nas núpcias mereçamos ser contados entre os escolhidos (cf. Mt 25, 31-46); não seja como aqueles servos maus e preguiçosos (cf. Mateus 25, 26), sejamos jogados ao fogo eterno (cf. Mateus 25, 41), as trevas exteriores onde ‘haverá pranto e ranger de dentes’ (Mateus 22, 13-25, 30).”
O mesmo o papa Paulo VI:
“Os que os rejeitaram (o amor e a piedade de Deus) até o final, serão destinados ao fogo que nunca cessará” (Paulo VI, Profissão de fé, AAS 60 (1968) 444.)
BIBLIOGRAFIA
Patrologia I, Johannes Quasten, BAC 206
Patrologia II, Johannes Quasten, BAC 217
Padres apologetas griegos, Edición bilingüe completa, Daniel Ruiz Bueno, BAC 116
Obras de San Juan Crisóstomo, Tomo I, Homilías sobre Mateo, BAC 141
Manual de teología dogmática, Ludwig Ott, Editorial Herder 1966
El más allá en los padres de la Iglesia, Guillermo Pons
El más allá, Iniciación a la escatología, José Luis R. Sanchez de Alva y Jorge Molinero
PARA CITAR
ARRAIZ, José Miguel. O Inferno na Bíblia e nos pais da Igreja . Disponível em: . Desde 06/07/2013. Tradução: Rafael Rodrigues
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