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domingo, 29 de julho de 2012

Existe? "IGREJA CRISTA EVANGÉLICA"

Em síntese: O Prof. Eurípedes Cardoso de Menezes responde a um amigo presbiteriano que lhe enviou um folheto intitulado "Sete Diferenças Fundamentais entre a Igreja Católica e a Igreja Cristã Evangélica". O texto, que vai a seguir, publicado, mostra que não existe Igreja Cristã Evangélica, visto que o protestantismo não é uno, mas congrega sob o nome "protestante" as correntes mais diversas e contraditórias de pensamento religioso; diferem entre si não apenas no acidental, mas também no essencial, como é o conceito de Jesus Cristo. "Se da soma de todas as denominações surgisse mesmo uma Igreja Cristã Evangélica, com que Símbolo de Fé, com que Credo viria à luz? Não é possível existir uma Igreja Cristã Evangélica a não ser que seja uma igreja adogmática, sem doutrina. Nesse caso não seria nem Igreja, nem Cristã nem Evangélica".

O diálogo entre católicos e protestantes no Brasil não tem sido fácil. São freqüentes os folhetos e panfletos que agridem o Catolicismo de maneira "barata", sem fundamento ou às vezes com fundamento falso. O teor desses escritos é passional e cego, de modo que nem sempre interessa aos católicos responder-lhes. Neste contexto distingue-se a resposta dada pelo Prof. Eurípedes Cardoso de Menezes a um amigo presbiteriano que lhe ofertou o folheto "Sete Diferenças Fundamentais entre a Igreja Católica e a Igreja Cristã Evangélica". O Prof. Cardoso de Menezes foi protestante, nascido de pastor protestante; converteu-se ao Catolicismo, tornando-se um expoente notável do pensamento católico nas esferas legislativas e administrativas do Brasil. Conhece, portanto, o protestantismo por experiência pessoal.

A resposta que dirigiu a um amigo presbiteriano vai, a seguir, publicada na sua íntegra muito significativa;([1]); seguir-se-lhe-á breve comentário elucidativo.

1.O TEXTO

Meu caro amigo:

Lamento não dispor de tempo suficiente para conversar longamente com o meu querido amigo sobre "a única coisa necessária", sobre o mais empolgante, o mais palpitante e sempre de todos o mais atual dos assuntos.

Eis por que me limitarei a fazer apenas um ligeiro comentário não do texto, mas simplesmente do título do folheto com que me obsequiou: "Sete diferenças fundamentais entre a Igreja Católica e a IGREJA CRISTÃ EVANGÉLICA".

Se o preclaro autor do folheto se impusesse a tarefa de defender a "Igreja Protestante Presbiteriana", da qual faz parte, assumiria, convenhamos, uma atitude perfeitamente compreensível. Veio a público, entretanto, com a responsabilidade do seu nome ilustre, defender o protestantismo em conjunto, a que deu o nome de... "IGREJA CRISTÃ EVANGÉLICA" — instituição que se não pode atacar nem defender, apenas porque... inexistente.

Realmente, meu caro amigo, não existe uma "IGREJA CRISTÃ EVANGÉLICA". O que de fato existe, a despeito de muito esforço sincero, mas até agora inútil em prol da unidade, são trezentas e tantas agremiações religiosas, oriundas da reforma luterana, e que discordam umas das outras, não apenas em questões secundárias, mas até mesmo no que há de essencial na religião. Senão vejamos: para umas, os sacramentos são veículos da Graça; para outras, simples sinais comemorativos.

Asseveram umas que a Bfblia é infalível e inspirada até mesmo verbalmente; outras, que a Escritura é falível, está cheia de erros, de contradições e não passa de um vasto repositório de fábulas e de "preciosidades" que só interessam aos... folcloristas. Há denominações que, de certo modo, acreditam na presença real de Cristo na Eucaristia; outras que a negam como blasfêmia monstruosa.

Umas condenam como pagão e diabólico o batismo de crianças; outras o defendem, recomendam e praticam como de origem divina. Há também os que rejeitam todo e qualquer batismo e os que não celebram mais a "Santa Ceia" nem mesmo como simples comemoração...

Os protestantes "fundamentalistas" crêem na inspiração da Bíblia, na divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo, na personalidade de Satanás, nas penas eternas, nos milagres; os protestantes "modernistas" negam tudo isto.

A "IGREJA CRISTÃ EVANGÉLICA", somando todos os protestantes, teria forçosamente de admitir em seu seio os que aceitam e os que rejeitam o dogma do pecado original. Os que cantam, quase pulando de alegria:

"O sangue de Jesus Me lavou, me lavou"

... e também os metodistas do norte dos Estados Unidos que, negando o dogma da redenção, acabaram riscando do seu hinário todos os hinos que se referiam ao Sangue de Jesus. ... Os que anatematizam a maçonaria por "incompatível com a profissão de fé cristã" e os que, de peito aberto e calça arregaçada, juram nas lojas secretas. Os luteranos e anglicanos que têm altar, imagens, velas, hóstia, confissão, liturgia e também os que se horrorizam com tudo isto.

Como juntar na mesma Igreja os que guardam o sábado e os que guardam o domingo, os que crêem e os que não crêem na imortalidade da alma?

Há protestantes que proclamam o individualismo puro, levando às suas conseqüências lógicas o princípio falso, desagregador e dissolvente do livre-exame; e os que negam na prática o livre-exame e, de certo modo, se "catolicizaram" aceitando símbolos de fé como a Confissão de Augsburg e a Fórmula Concordiae dos luteranos, os Catecismos de Westminster dos presbiterianos, os 39 Artigos anglicanos da Rainha Isabel, os 28 Artigos dos Congregacionalistas, etc., etc., etc.
Há presbiterianos que adotam livros de oração comum, que têm liturgia, e cujos pastores usam vestes talares, como também há presbiterianos que nesse particular preferiram ser tão iconoclastas quanto os batistas, da extrema esquerda.

Quanto as formas de governo eclesiástico, variam extraordinariamente as igrejas dissidentes. Umas têm Bispos e até Arcebispos e Primazes; outras apenas Bispos, presbíteros e diáconos; nalgumas o Bispo é vitalício, noutras não; umas são regidas por pastores, presbíteros e diáconos; outras só por pastores e diáconos; aqui os "presbitérios" e "concílios" têm jurisdição; acolá não passam os "sínodos" e "convenções" de mero laço federativo; há comunidades que admitem pastoras, não celibatárias... outras que instituíram a categoria das diaconisas, celibatárias... e há denominações, como a darbista, que não têm nem bispos, nem pastores nem presbíteros nem diáconos...

Em relação à Cristologia, radical é a divergência entre luteranos e "reformados", que se excomungam reciprocamente. Para os calvinistas, Lutero é papista; para os luteranos, Calvino é apóstata, Zuinglio é falso profeta, "o pai das seitas", e Felipe Melanchton pusilânime e protetor do "diabólico cripto-calvinismo".

Para muitos evangélicos, o dogma da Santíssima Trindade constitui ainda a base do Cristianismo; mas para outros é "pedra de escândalo", "aberração politeísta". E, por absurdo, incrível e impossível que pareça, vivem de mãos dadas unitários e trinitários, considerando secundárias tais diferenças.

De um lado, existem as denominações que levam mais ou menos a sério as questões doutrinárias; doutro, há agremiações como a "Union Church", onde praticamente se admitem todas as doutrinas.

Sintetizando: não há um só ponto em que o protestantismo todo concorde: nem mesmo a respeito da Pessoa adorável de Nosso Senhor Jesus Cristo, que uns dizem que é e outros insistem em que não é CONSUBSTANCIAL COM O PAI. E haverá ponto mais importante, mais fundamental do que este?

E se da soma de todas as denominações surgisse mesmo uma "Igreja Cristã Evangélica", com que "Símbolo de Fé", com que Credo viria à luz?

Não, não é possível existir uma "Igreja Cristã Evangélica". A não ser que seja uma igreja adogmática, sem doutrina, como queria Schleiermacher. Nesse caso, não seria nem Igreja, nem Cristã, nem Evangélica...

Fiquemos hoje por aqui. Pedirei a Nosso Senhor que o ilumine e que o traga ao seio do Catolicismo, onde há "um só Senhor, uma só fé, um só batismo".

Essa nostalgia de unidade que sentem os irmãos separados, e que se reflete até no título do folheto que o amigo me deu, só terá remédio com o retorno à Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica. Nela encontrarão tranqüilidade e paz todos os sedentos de Luz e de Verdade, todos os que aspiram a uma vida de progresso espiritual, de santidade, de união íntima com Nosso Senhor Jesus Cristo.

II. COMENTÁRIO

O Prof. Eurípedes Cardoso de Menezes se refere às diferenças não apenas acidentais, mas essenciais, existentes entre as denominações protestantes; algumas delas já não são cristãs, pois negam a Divindade de Cristo e a SS. Trindade, como fazem as Testemunhas de Jeová, ou têm uma nova Bíblia como o Livro de Mórmon.

De modo especial, o Prof. Cardoso de Menezes se refere à facção protestante antitrinitária ou unitária, pouco conhecida no Brasil, mas existente na Europa e nos Estados Unidos. O seu mentor era Fausto Sozzini (Socinus) de Sena (+1604), que herdou de seu tio Lélio Sozzini (+1562) idéias e escritos inovadores no tocante ao conceito de Deus. Segundo os Socinianos, existe Deus em uma só Pessoa; Cristo é mero homem, mas merece adoração; a morte de Cristo não tem valor expiatório. Os sacramentos são apenas cerimônias venerandas. Fausto Sozzini desenvolveu sua atividade principalmente na Polônia, juntamente com a facção anabatista, infiltrando-se nas comunidades protestantes locais. O centro da nova denominação foi a cidade de Rakow (hoje Kielce), onde Fausto escreveu o Catecismo de Rakow, publicado em 1605, depois da sua morte.

Na Polônia, a Contra-Reforma católica provocou o ocaso das comunidades socinianas, que foi total em 1658. Todavia os socinianos expulsos se transferiram para a Holanda, a Inglaterra, os Estados Unidos e, principalmente, para a Transilvânia (Romênia), onde existe um grupo numeroso de unitários ou antitrinitários.

O Prof. Eurípedes tem em vista também os protestantes do século XX, que julgam poder conciliar a sua fé com o racionalismo, tais como Martin Dibelius, G. Bertram, M. Albertz, Rudolf Bultmann... Baseando-se na tese de Lutero segundo a qual a fé nada tem que ver com a razão, professam a fé fiducial (fé = confiança) luterana e dão plena autonomia à razão, cedendo ao racionalismo ou ao absolutismo da razão. Esse é o racionalismo que afirma ser a Bíblia um livro de ficções, lendas e mitos...

Os protestantes racionalistas são responsáveis pela destruição do caráter sagrado da Escritura, por mais que Lutero a tenha venerado. E, apesar de tudo, são protestantes, porque têm confiança em Deus, que os salva por Jesus Cristo (quem quer que tenha sido Jesus Cristo aos olhos da razão...; pouco importa a figura depauperada de Cristo que o racionalismo ainda concebe, porque o que vale não é o saber grandes verdades, mas é o confiar em Jesus Salvador)!

Mais: se o Prof. Cardoso de Menezes tivesse escrito em época mais tardia, não teria falado de trezentas ou pouco mais denominações protestantes, mas contaria um milheiro ou mais das mesmas... O esfacelamento do protestantismo se deve ao princípio estabelecido por Lutero: a única fonte de fé é a Bíblia lida segundo o livre exame de cada crente em seu íntimo sem atenção a alguma instância exterior...

Cada protestante assim é tido como "hábil" para entender a Bíblia da maneira que lhe pareça mais correta, independentemente da Tradição oral e do magistério da Igreja; da sua leitura tira as conseqüências que julgue oportunas, inclusive o propósito de fundar nova "igreja" dirigida por seu profeta fundador.

[1] O texto é extraído do livro "Aos Irmãos Separados", Editora Santa Maria, Rio de Janeiro, 1948, pp. 95-103.
Fonte:http://www.pr.gonet.biz/kb_frame.php

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