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terça-feira, 24 de julho de 2012

A irrupção de Paulo

Será possível recapitular esses primeiros passos daquilo que a Igreja se tornará?

Esses acontecimentos insignificantes que acabamos de mencionar ocorrem entre os anos 45-50. Os resultados dessa primeira pregação são ínfimos. Avançou-se um pouco rumo à Galiléia, Damasco, Gaza, Antióquia. Algumas centenas de quilômetros no máximo. No entanto, esse avanço desajeitado é cheio de lições. A transmissão da mensagem efetua-se primeiro nas comunidades judaicas. São judeus que falam para judeus. Os pagãos pouco interessam. Tudo se passa como se os judeus cristãos quisessem ser reconhecidos e admitidos pelos judeus ortodoxos. Quando os cristãos das origens pregam, é quase sempre nas sinagogas.

Em seguida, o eixo da pregação se modifica.

Ou os cristãos devem adaptar seu discurso a um público que eles não esperavam: pagãos, desconhecidos, em todo caso, homens e mulheres que se expressam em grego. Ou então alguns apóstolos privilegiavam esses desconhecidos.

É o segundo passo que a Igreja vai atravessar. Conscientemente ou não, ela passa do aramaico ao grego, dos judeus aos não-judeus; de Jerusalém a Antióquia, do centro inicial à periferia.

Trata-se de uma evolução que era previsível; o anúncio da Ressurreição de Jesus segue a inclinação natural. Já que as comunidades judaicas estão implantadas nas cidades gregas, passa-se das primeiras às segundas. A conseqüência será lógica: ou os convertidos devem aceitar os ritos rabínicos ou podem pular essa etapa. Depois de se apoiarem nas sinagogas, alguns dos apóstolos delas procuram se afastar. O que provoca um áspero debate no seio da Igreja e marca profundamente a mentalidade dos cristãos dos primeiros séculos. Vai-se, em parte, apagar a raiz comum ou insistir na irredutível novidade da Encarnação.

A Igreja precisará de tempo para transpor esse obstáculo decisivo. Os judeus não são totalmente inocentes nessa ruptura: nas vésperas da insurreição geral contra Roma, alguns judeus tentarão, através da fidelidade aos ritos, convencer os cristãos a aderirem à revolta.

É nesse momento da história que o papel de Paulo torna-se importante.

Ao contrário do que dizem os falsos sábios, não foi ele que "fez" o cristianismo. Paulo não existe sem Jesus, a condenação à morte e a Ressurreição. O primeiro não tem sentido sem o segundo. Mas é o primeiro que faz a pequena Igreja quase desconhecida passar para o imenso Império Romano. Não foi por acaso que Pedro e Paulo foram morrer em Roma. A seta disparada do Gólgota irá cravar-se no coração da capital do Império.

Aos poucos, Roma vai se tornar a Cidade Eterna.
Sobre Paulo, personagem excepcional, sabemos muitas coisas. Graças às cartas que ele dirigia às diversas comunidades e que chegaram até nós. Mas, sobre o homem propriamente dito, somos bem menos informados.

Ele teria nascido, como vimos, em Tarso, capital da Cilícia, por volta do ano 10 ou 12. Sem dúvida foi em Jischala (na Galácia) que seus avós teriam vivido. Por que Paulo era romano? Talvez porque seu avô tenha comprado - ou ganhado - esse título ao lutar do lado do exército romano. Talvez quando Pompeu conquista e ocupa a região, antes de ir morrer em Alexandria. Foi em 63 a.C.

Em todo caso, o recém-nascido recebe a educação tradicional dos fariseus. Não será portanto um moderado. A formação que ele recebe fortalece seu caráter. Encontraremos sinais disso no tom e no texto das epístolas. Ele tem 20 anos. Seu pai queria que ele fosse rabino. Paulo naturalmente não respondeu nem sim nem não. Enquanto isso, aprende o ofício de tapeceiro, que exercerá quando tiver tempo. A vida inteira. Terá ele estudado, feito cursos? Não é certo. No entanto, Tarso era na época um importante centro intelectual. Talvez o mais famoso do Oriente Médio. Ali podia-se aprender retórica, freqüentar institutos científicos. Os especialistas estimam que Tarso era então uma cidade mais culta que Atenas ou Alexandria.

Portanto, é provável que Paulo não tenha estudado. Captou alguns rudimentos esparsos e com eles fará as bases de sua cultura. O procedimento poderia ter sido desastroso, mas acabou sendo de uma eficácia espantosa. Paulo falava grego, naturalmente. Mas era uma língua curiosa, recheada de latim, hebraico e aramaico. Um grego popular e local que a maioria dos judeus, dos mercadores e do povo compreendia bastante bem. Era nessa língua que ele escrevia; ou, mais exatamente, ditava.

Quase não há citações clássicas gregas nas epístolas. Mas há um estilo, um tom, uma vibração, um equilíbrio das frases, um misto de violência e ternura que são só dele. Se os Evangelhos transmitem o essencial da mensagem cristã, Paulo consegue o incrível casamento entre uma reflexão religiosa e uma língua que domina o Mediterrâneo oriental há mais de seis séculos.

Recordemos alguns de seus textos (I, Co, 13, 1-7):
Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver caridade, sou como bronze que soa, ou como o címbalo que retine. Mesmo que eu tivesse o dom da profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência; mesmo que tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas, se não tiver caridade, não sou nada. Ainda que distribuísse todos os meus bens em sustento dos pobres, e entregasse o meu corpo para ser queimado, se não tiver caridade, isto nada me aproveita. A caridade é paciente, a caridade é benigna. A caridade não é invejosa, não se ufana, não se ensoberbece. A caridade nada faz de inconveniente, não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não suspeita mal. Não se alegra com a injustiça, mas se rejubila com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
A questão central talvez seja a seguinte: em que momento Paulo compreende que os não-judeus estão para se tornar os interlocutores privilegiados dos apóstolos? Sem dúvida em Konya e em Listra.

Nestas duas cidades, os judeus tentaram levantar o povo contra Paulo e Barnabé. No entanto, os dois homens haviam conseguido se fazer ouvir. Eles assistem ao nascimento de pequenas comunidades cristãs sem nenhum ponto em comum com a sinagoga.

Isto, sem dúvida, é uma surpresa, quase um constrangimento para os dois apóstolos. Eles não procuraram provocar essa mutação de sua platéia. Mas aconteceu sob suas vistas. Será necessário então administrar essa situação nova e imprevista. Isto será quase uma regra na Igreja: administram-se, como se pode, os acontecimentos inesperados.

Fonte: Tu és Pedro

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