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domingo, 30 de janeiro de 2011

Não haverá mais tempo! EB

Revista: "PERGUNTE E RESPONDEREMOS"

D. Estevão Bettencourt, osb
Nº 464 - Ano 2001 - p. 1

Não haverá mais tempo! (Ap 10,6)
Fim e começo de ano lembram sempre a passagem do tempo. "Como voa!", costuma-se exclamar. Segundo Ap 10, 6, um anjo proclamará certa vez: "Já não haverá mais tempo!" - Estes dizeres poderão suscitar imensa alegria a quem, fatigado se vier emancipado das vicissitudes do tempo e feliz por ter preenchido santamente os seus dias. Todavia poderão despertar susto e dissabor a quem for colhido de surpresa e despreparado. Com efeito; é freqüente verificar que os homens só apreciam os valores que têm, depois que desaparece, é que os usuários tomam consciência de haver lidado com grandes bens sem se dar plena conta disto. Assim também é o tempo; pode parecer insignificante (há mesmo quem procure "passa-tempos" ociosos), mas, uma vez perdido, aparece com todo o seu valor.

Ora o começo de novo ano sugere uma reflexão sobre estes fatos, a fim de que não se respiram. Para o cristão, o tempo é o valor básico, pois sem ele nenhum outro valor pode existir. E não somente no plano racional é valor fundamental; mais ainda o tempo vale no plano da fé; sim, é o tempo resgatado pelo sangue de Cristo, "o tempo oportuno, os dias da salvação" (cf. 2Cor 6, 2). E por que tão importante? - Porque nas 24 horas de cada dia já se iniciou o Reino de Deus. Consciente disto, dizia São Paulo: "O tempo se fez breve" (1Cor 8, 29). Breve... não porque os dias sejam mais curtos, mas porque dentro das 24 horas de cada dia se instaurou algo de tão grande e momentoso que "não há mais tempo". O tempo do cristão é polarizado pela presença do Eterno dentro da volubilidade do mundo. Aliás "passa a figura deste mundo" (1Cor 7,31).

Estas verdade se tornam ainda mais significativas no começo de novo ano. Com efeito; ressoa então mais vivamente a advertência do Apóstolo: "A nossa salvação (consumação) está agora mais próxima do que quando começamos a acreditar ou a viver a nossa fé" (Rm 13, 11). E continua o Apóstolo: "A noite vai adiantada, o dia se aproxima"; na verdade, para quem sofre de insônia, a noite é tanto mais penosa quanto mais adiantada: mas este especial penar é penhor de muito próximo término. Assim é a vida do cristão: passada na penumbra ou mesmo na noite da fé, quanto mais avançada em anos ela é, tanto mais penosa pode ser, mas também tanto mais penetrada pelos albores do dia que vai despontando e aos poucos dissipará as trevas.
Importa, pois, a todo discípulo de Cristo levar cada vez mais a sério a exortação do Senhor: "Vigiai, pois não sabeis nem o dia nem a hora" (cf. Lc 12, 35-40). Qualquer momento pode ser o último e há de ser intensamente vivido na presença do Eterno.

Possa o novo ano significar para todos os nossos leitores uma aproximação ainda mais consciente da luz do Dia sem ocaso para o qual noites e dias sucessivamente nos encaminham!



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