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domingo, 30 de janeiro de 2011

A dor salvífica - EB ( Parte 1 )

Revista: "PERGUNTE E RESPONDEREMOS"

D. Estevão Bettencourt, osb

Nº 277 - Ano 1984 - Pág. 471
Em síntese: Abordando o delicado tema do sofrimento, João Paulo II mostra que ele é inerente à vida do homem. Introduzindo no mundo pelo pecado, foi assumido por Cristo, o segundo Adão, que lhe deu valor redentor: o homem é salvo do pecado e da morte pelo sofrimento expiatório de Cristo. Todo cristão que aceite padecer com Cristo, compartilha o valor salvífico da Cruz de Cristo. Assim o sofrimento, que antes de Cristo era tido em Israel como sinal da justiça punitiva de Deus, aparece no novo Testamento como testemunho do amor divino, que se compadece do homem.. Com muita ênfase, João Paulo II elucida o mistério do sofrimento, citando o texto de Jo 3,15: "A tal ponto Deus amou o mundo que lhe deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que nele crê não pareça, mas tenha a vida eterna"; por amor o Pai entregou o seu Filho à sorte do homem pecador para que este pudesse compartilhar a herança do Filho de Deus. Se o sofrimento é assim apresentado, compreende-se que o cristão o considere com otimismo e alegria, consoante o texto de Cl 1,24, muito citado por João Paulo II: "Alegro-me nos sofrimentos suportados por vossa causa. Completo na minha carne o que falta à Paixão de Cristo em favor do seu corpo, que é a Igreja".

A Carta de João Paulo II é um monumento de profundidade e de valor ascético-místico.

Aos 11/02/84 o S. Padre João Paulo II assinou um documento de grande importância pastoral, a saber: a Carta Apostólica "Salvifici Doloris" (Da Dor Salvífica). É este o primeiro texto pontifício que, sob forma de Carta, trata do sofrimento (seu sentido teológico e seu valor pastoral). Consta de sete títulos e trinta e um parágrafos, que merecem atenta meditação, pois abordam uma temática que toda a filosofia e toda a humanidade sempre consideraram com muito interesse. O documento tem significado não apenas bíblico e teológico, mas também pastoral e ascético. Eis por que, nas páginas seguintes, proporemos uma síntese do seu conteúdo, seguida de algumas observações.

I. Introdução (§§ 1-4)

2. O tema do sofrimento não só condiz com as linhas da espiritualidade do Ano Santo (Redenção pela cruz), mas é assunto que acompanha o homem de todos os tempos e de todas as latitudes. O sofrimento "parece particularmente essencial à natureza do homem".

"O sentido do sofrimento é tão profundo quanto o homem mesmo, precisamente porque manifesta, a seu modo, a profundidade própria do homem e ultrapassa esta. O sofrimento parece pertencer à transcendência do homem" (nº 2).

"De uma forma ou de outra, o sofrimento parece ser, e de fato é, quase inseparável da existência terrestre do homem" (nº 3).
Em nosso comentário, à p. 484s, voltaremos à consideração deste aspecto.

Ora, se o roteiro da Igreja passa pelo homem compreende-se que passe pelo homem que sofre (aliás, todo homem sofre). É para este que a Igreja se volta com especial atenção.

4. O sofrimento inspira compaixão, respeito e, também, intimida, "pois traz em si a grandeza de um mistério específico". É a fé que nos leva a penetrar dentro do que parece inacessível em cada homem; doutro lado, o coração nos incita a vencer a timidez e a aproximar-nos do irmão sofredor.

II. O mundo do sofrimento humano (ns. 5-8)

5. Mesmo que o sofrimento pareça inexprimível e incomunicável, porque fato subjetivo e pessoal, ele exige, mais do que outra realidade, ser tratado de maneira objetiva; trata-se de um problema que deve ser explicitado e que suscita perguntas as quais exigem resposta.

O homem sofre não somente no plano físico, quando o corpo lhe dói, mas também no plano moral, quando padece a dor da alma. A dor moral não é menos ampla e complexa do que a dor física; alem do quê, mais dificilmente pode ser atingida e diagnosticada pelos recursos terapêuticos do que a dor física.

6. A S. Escritura nos oferece exemplos múltiplos de dor, visto que ela é "um grande livro sobre o sofrimento": assim o perigo de morte suportado por Ezequias (cf. Is 38,1-3); a ameaça de morte do filho, no caso de Agar (cf. Gn 15-16), no de Jacó (cf. Gn 38,33-35), no de Davi (cf. 2Sm 19,1); a nostalgia da pátria (cf. Sl 136); a perseguição e a hostilidade (cf. Sl 21,1-21; Jr 18,18); a solidão e o abandono (cf. Sl 21,2s; 30,13; 37,12; 87,9.19; Is 53,3); a ingratidão dos amigos e dos vizinhos (cf. Jó 19,19; Sl 40,10; Jr 20,10); os remorsos da consciência (cf. Sl 50,5; Is 53,3-6; Zc 12,10).

O Antigo Testamento frisa que o sofrimento é psicossomático, associando a dor moral à dor física nos ossos (cf. Is 38,13; Jr 23,9; Sl 30,10s...), nos rins (cf. Sl 72,21; Jó 16,13; Lm 3,13), no coração (cf. 1Sm 1,8; Jr 4,19; 8,18; Lm 1,20.22)...

7. O sofrimento não é algo de meramente passivo no homem ("estou afetado de... experimento uma sensação de angústia..."), mas tem índole ativa; o homem assim atingido reage com atitudes de dor, tristeza, decepção, abatimento ou mesmo desespero...

Estas considerações suscitam naturalmente a pergunta: que é o mal? Tal questão é inseparável do tema do sofrimento.

O cristão não responde em termos dualistas, como se o bem e o mal fossem realidades subsistentes, das quais participariam as criaturas. Não há substância má por si. O mal é um bem alterado, diminuído ou privado de valores que lhe são devidos; é precisamente esta privação que constitui o mal.

8 O sofrimento existe espalhado pelos homens ou carregado por numerosos sujeitos. Embora assim dispersa, a dor provoca solidariedade ou comunhão entre aqueles que sofrem. Vem a ser um apelo à união entre os homens, especialmente quando ela se faz muito densa como no caso das calamidades que afetam as populações (epidemias, catástrofes, cataclismos...); mormente as guerras, e de modo particular a guerra atômica que ameaça hoje em dia a humanidade, despertam o sentimento de solidariedade entre as vítimas; a ameaça de autodestruição do gênero humano faz-nos mais ainda enfatizar o mundo do sofrimento e o sofrimento do mundo.

III. O sentido do sofrimento (ns. 9-13)

9. No âmago de todo sofrimento colocam-se inevitavelmente as perguntas? Por quê? Para quê? Somente o homem é capaz de formular tais indagações, visto que os animais sofrem, mas não refletem sobre o sentido da sua dor.

Tais perguntas são geralmente dirigidas a Deus, Criador e Senhor, e não aos homens, pois estes não são capazes de responder-lhes cabalmente. Muitos dos que assim indagam, chegam a negar a existência de Deus; o mal e a dor no mundo, sem aparente explicação, obscurecem, na mente de vários pensadores, a imagem de Deus.

10. Ora Deus não recusa o questionamento do homem, como bem provam os escritos bíblicos.

No livro de Jó, por exemplo, aparece um homem reto que é profundamente afetado pela perda dos filhos e da própria saúde. Os amigos que o vão visitar em tais condições, propõem-lhe a tese antiga adotada pelos israelitas: Jó deve ter cometido alguma falta grave, pois todo sofrimento é castigo ou pena devida a uma transgressão da Lei de Deus, como parecem ensinar Dn 3,27s; Sl 18,10; 35,7; Ml 3,16-21; Mt 20,16; Mc 10,31; Lc 17,34; Jo 5,30; Rm 2,2. Aliás, de modo geral, os homens são propensos a admitir que todo pecado acarreta nesta vida mesma uma pena ou uma punição da parte de Deus; cf. Jó 4,8.

11. Todavia Jó contesta tal princípio, afirmando que sofre com inocência. É, aliás, esta a tese que o autor do livro de Jó quer incutir no final da sua obra: nem todo sofrimento é conseqüência de um pecado do sujeito sofredor. No caso de Jó, por exemplo, tem o significado de provação: Jó é chamado a conceber fé e amor tão vivos que ele continua a servir a Deus, mesmo que privado de seus bens materiais e da sua saúde; ora o patriarca atravessa firmemente a prova e não se revolta contra Deus. O Antigo Testamento, em outras passagens, apresenta o sofrimento como apelo à conversão ou a triunfar do mal mediante a penitência; cf. 2Mc 6,,12.
12. Todavia o livro de Jó não representa a palavra final da Revelação Divina sobre o assunto.

13. Para entender bem o porquê do sofrimento, os escritos do Novo Testamento nos incitam a voltar nosso olhar para o amor de Deus, fonte suprema do sentido de tudo o que existe. Com efeito, o Evangelho nos apresenta Jesus Cristo que sofre o suplício da cruz para salvar os homens ou por amor à humanidade.

IV. Jesus Cristo, o sofrimento vencido pelo amor (ns. 14-18)

14. "Deus tanto amou o mundo que entregou seu Filho único para que todo aquele que nele crer, não pereça, mas tenha a vida eterna" (Jo 3,16). Estas palavras de Cristo nos introduzem no âmago da ação salvífica de Deus.

Salvar é libertar do mal ou da morte. Ora Deus amou os homens a ponto de entregar seu Filho único para que Este, assumindo a dor e a morte dos homens, lhes possibilitasse participar da vida do próprio Deus. O Filho de Deus foi dado à humanidade para protegê-la contra o mal definitivo que implica a perda da vida eterna. As raízes desta perda mergulham no pecado. Isto quer dizer que Jesus quis sofrer para vencer o pecado.

15. Donde se vê que, na perspectiva do Novo Testamento, a dor não é necessariamente correlativa a pecados pessoais cometidos pela vítima; Cristo, por exemplo, foi inocente, o Santo por excelência, e, não obstante, sofreu atrozmente. Mas não se pode deixar de perceber que o sofrimento é associado ao pecado das origens ou original: "Não se pode renunciar ao critério segundo o qual, na base dos sofrimentos humanos, existem implicações múltiplas com o pecado" (nº 15):

"O mal, de fato, permanece ligado ao pecado e à morte. E, ainda que se deva ter muita cautela em considerar o sofrimento do homem como conseqüência de pecados concretos (como mostra precisamente o exemplo do justo Jó), ele não pode contudo ser separado do pecado das origens, daquilo que em São João é chamado "o pecado do mundo" (Jo 1,29)" (nº 15).

Destas verdades se segue que o sofrimento é transfigurado pelo amor: vem a ser vitória sobre o pecado e a morte; na medida em que é vivificado pelo amor, extingue as conseqüências destruidoras que o pecado dos primeiros pais acarretou para a humanidade.

"Em conseqüência da obra salvífica de Cristo, o homem, no decorrer da sua existência terrestre, tem a esperança da vida... eterna. Mesmo se a vitória sobre o pecado e a morte, obtida por Cristo mediante a Cruz e a Ressurreição, não suprime os sofrimentos temporais da vida humana e não isenta de sofrimento a existência humana na totalidade da sua dimensão histórica, ela projeta uma luz nova - a luz da salvação - sobre toda essa dimensão histórica e sobre o sofrimento. E essa luz é a do Evangelho, a da Boa-Nova" (nº 15).

16. Cristo se tornou próximo ao mundo do sofrimento, assumindo sobre si esse sofrimento: quis experimentar o cansaço, a pobreza, a incompreensão, a hostilidade... de maneira consciente, isto é, sabendo que dessa maneira Ele faria que o homem não parecesse, mas tivesse a vida eterna. Foi por isto que São Paulo pôde escrever: "Ele me amou e se entregou por mim" (Gl 2,20).
17. Aliás, a missão de Cristo assim entendida já foi esboçada, no Antigo Testamento, pelo quarto cântico do Servidor de Javé (Is 52,13-53,12): este frisou bem que o servidor inocente tomaria sobre si os nossos pecados (cf. Is 53,2-6); Ele sofreu em "substituição" ou fazendo as vezes de ..., para redimir o homem. "No seu sofrimento os pecados são apagados precisamente porque Ele só, como Filho único, os pôde assumir sobre si com amor ao pai que ultrapassa o mal de todo pecado; em certo sentido, ele aniquila esse mal no espaço espiritual das relações entre Deus e os homens e preenche esse espaço com o bem" (nº 17).

18. "O Cristo... traz a mais completa das respostas possíveis à questão do sentido da dor... Ele a dá não só por seu ensinamento, isto é, pela Boa-Nova, mas antes do mais, por seu próprio sofrimento, que é completado... pelo ensinamento da Boa-Nova. Tal é a palavra última, a síntese, desse ensinamento: a linguagem da cruz, como disse um dia São Paulo (cf. 1Cor 1,18)" (nº 18).

Esta linguagem da cruz é muito vivamente expressa pelas palavras do Senhor Jesus no horto das Oliveiras diante da perspectiva da sua Paixão: "Pai, se possível, que este cálice passe sem que o beba! Mas faça-se a tua vontade, e não a minha!" (Mt 26,42). Tais palavras atestam tanto a verdade do sofrimento como a dor amor de Cristo. Com o Senhor Jesus, todo homem pode experimentar a angústia da paixão, mas diga sempre: "Faça-se a tua vontade, e não a minha!"
Outras palavras do Senhor, que se seguiram às do horto, são as do Crucificado:: "Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?" (Mt 27,46). Estes dizeres brotam do fato de que o Pai fez recair sobre Jesus as nossas faltas (cf. Is 53,6), de modo que Ele experimentou o peso horrível da separação de Deus ou da ruptura com Deus. Mas foi precisamente por tal sofrimento que o Cristo realizou a Redenção do mundo e pôde dizer ao expirar: "Tudo está consumado" (Jo 19,30).

Em síntese, "o sofrimento humano atingiu o seu vértice na Paixão de Cristo; e, ao mesmo tempo, revestiu-se de uma dimensão completamente nova e entrou numa ordem nova: ele foi associado ao amor, àquele amor de que Cristo falava a Nicodemos, àquele amor que cria o bem, tirando-o mesmo do mal, tirando-o por meio do sofrimento, tal como o bem supremo da Redenção do mundo tirado da Cruz de Cristo e nela encontra perenemente o seu princípio. A Cruz de Cristo tornou-se também repropor-nos a pergunta sobre o sentido do sofrimento, e ler ai até o fim a resposta a tal pergunta" (nº 18).

V. Participantes dos sofrimentos de Cristo (ns. 19-24)

19. A Paixão de Cristo projeta nova luz sobre o sofrimento dos homens, pois ela o resgata: "Entregou-se pelos nossos pecados, a fim de nos subtrair ao mundo maligno em que vivemos" (Gl 1,4), diz o Apóstolo, que acrescenta: "Fostes comprados por elevado preço. Glorificai, pois, a Deus no vosso corpo" (1Cor 6,20).

Em conseqüência, "todo homem participa, de uma maneira ou de outra, na Redenção". "Realizando a Redenção mediante o sofrimento, Cristo elevou ao mesmo tempo o sofrimento humano a ponto de lhe dar valor de Redenção" (nº 19).

20. São Paulo exprime diversas vezes esta verdade:

"Em tudo somos atribulados, mas são oprimidos; perplexos, mas não desesperados; perseguidos, mas não abandonados; abatidos, mas não perdidos; por toda parte levamos sempre no corpo os sofrimentos de Jesus, para que também a vida de Jesus se manifeste no nosso corpo. De fato, enquanto vivemos, somos continuamente entregues à morte por causa de Jesus, para que a vida de Jesus se manifeste também na nossa carne mortal... com a certeza de que aquele que ressuscitou o Senhor Jesus, nos ressuscitará também a nós com Jesus" (2Cor 4,8-11.14).

Estas palavras do Apóstolo revestem-se de uma dupla dimensão:

"Se um homem se torna participante dos sofrimentos de Cristo, isto acontece porque Cristo abriu o seu sofrimento ao homem, porque Ele próprio no seu sofrimento redentor se tornou, num certo sentido, participante de todos os sofrimentos humanos. Ao descobrir, pela fé, o sofrimento redentor de Cristo, o homem descobre nele, ao mesmo tempo, os próprios sofrimentos, reencontra-os, mediante a fé, enriquecidos de um novo conteúdo e com um novo significado" (nº 20).

21. De resto, o mistério do sofrimento e da morte é inseparável da certeza da ressurreição. "O mistério da Paixão está contido no mistério da Páscoa". E, mediante a vitória de Páscoa, o sofrimento é colocado em relação com o Reino de Deus. "E mediante o sofrimento que amadurecem para o Reino os homens envolvidos pelo mistério da Redenção de Cristo" (nº 21).

22. Com outras palavras ainda: "Aqueles que participam dos sofrimentos de Cristo, são também chamados, mediante os seus próprios sofrimentos, a tomar parte na sua glória".

"importa reconhecer esta glória não só nos mártires da fé, mas também em muitos outros homens que, por vezes, mesmo sem a fé em Cristo, sofrem e dão a vida pela verdade e por uma causa justa. Nos sofrimentos de todos estes, é confirmada, de modo particular, a grande dignidade do homem".

Esta passagem de João Paulo II é importante porque põe em relevo o valor das atitudes fortes e coerentes daqueles que amam a verdade e o bem, mesmo que não tenham a fé em Cristo. São atitudes que podem encaminhar o homem não crente para a plenitude da sua nobreza e grandeza, a ser usufruída na comunhão de vida com Cristo.

23. O sofrimento, neste contexto, também é uma provação que torna o homem particularmente receptivo à ação salvífica de Deus. É um apelo à prática da virtude perseverante e tenaz. O Senhor quer que a força de Deus se manifeste precisamente na fraqueza do homem e que se dê uma renovação de energia espiritual em meio às provações e tribulações dos cristãos.

24. Mais um passo deve ser dado. O Apóstolo diz que "completa em sua carne o que falta à Paixão de Cristo em prol do seu corpo, que é a Igreja" (cf. Cl 1,24).

Quer isto dizer que a Redenção operada por Cristo não foi completa? - Não. A Redenção foi realizada em toda a sua plenitude pelo sofrimento de Cristo, mas ela toma em cada cristão que participa dos sofrimentos de Cristo, um suporte ou um cenário novo, que ela não tinha. "Ela se desenvolve como o Corpo de Cristo, que é a Igreja; e, nesta dimensão, todo sofrimento humano, em razão da sua união com Cristo no amor, completa o sofrimento de Cristo. Completa-o, como a Igreja completa a obra redentora de cristo". Associando os seus sofrimentos aos de Cristo na Igreja, o cristão se torna capaz de levar aos seus irmãos as graças adquiridas por Cristo em favor dos homens; ele vem a ser um canal portador dos dons da salvação. "É algo que parece fazer parte da própria essência do sofrimento redentor de Cristo: o fato de que Ele tende a ser incessantemente completado".
VI. O Evangelho do Sofrimento (ns. 25-27)

25. Cristo deixou à Igreja e à humanidade um Evangelho específico do sofrimento.

Antes de qualquer outra criatura, Maria SS. participa desse Evangelho:

"Testemunha da paixão pela sua presença, nela participante com a sua compaixão, Maria Santíssima ofereceu uma contribuição singular ao Evangelho do sofrimento, realizando antecipadamente aquilo que afirmaria São Paulo com as palavras citadas no início desta reflexão. Sim, Ela tem títulos especialíssimos para poder afirmar que "completa na sua carne - como igualmente no seu coração - aquilo que falta aos sofrimentos de Cristo".

Cristo não escondeu aos seus seguidores a necessidade do sofrimento. Pelo contrário, dizia-lhes muito claramente: "Se alguém quer vir após mim,... tome a sua cruz todos os dias" (Lc 9,23). O caminho que leva ao Reino dos Céus é estreito e apertado, em oposição ao caminho largo e espaçoso que conduz à perdição (cf. Mt 7,13s).

Para ser fiel a Cristo, o cristão tem que se dispor a suportar injúrias e tribulações: "O servo não é maior do que o seu senhor. Se perseguiram a Mim, também a vós hão de persegui" (Jo 15,18-21); "No mundo tereis que sofrer. Mas tende confiança. Eu venci o mundo" (Jo 16,33). Isto quer dizer que a vocação cristã é, entre outras coisas, um chamado especial à coragem e à fortaleza, apoiado na vitória de Cristo ressuscitado.



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