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domingo, 30 de janeiro de 2011

Bebês para queimar - EB (Parte 1)

Revista: "PERGUNTE E RESPONDEREMOS"

D. Estevão Bettencourt, osb

Nº 380 - Ano 1994 - p. 26

por M. Litchfield e S. Kentish
Em síntese: Este artigo reproduz o conteúdo do livro "Bebês para Queimar" (Babies for Burning) dos jornalistas ingleses Michael Litchfield e Susan Kentish. Estes, munidos de gravador e dissimulando-se como se fossem casados ou namorados entre si, foram Ter a diversas Clínicas e vários médicos, a fim de pedir aconselhamento, pois "suspeitavam estar Susan grávida". Puderam então perceber a trama existente a fim de orientar os clientes de tais casos para a prática do aborto: embora Susan não estivesse grávida, o laudo resultante do exame de urina era geralmente "Grávida"... Mais: puderam os jornalistas averiguar que mais de um médico vendia as crianças extraídas do seio materno a fábricas de sabonetes e cosméticos, visto que a gordura natural é a mais recomendada para a confecção de tais artigos!

Certas Clínicas da Inglaterra tinham então agentes no estrangeiro, que faziam a publicidade comercial de suas "vantagens": aborto em fim de semana com todas as garantias e comodidades desejáveis!
Aliás, também nos Estados Unidos da América e na Holanda Michael e Susan averiguaram procedimentos semelhantes aos da Inglaterra.

O livro é de grande valor, pois desperta o público para uma realidade que a imaginação e o bom senso dificilmente poderiam conceber. E ajuda a refletir sobre os inconvenientes da legalização do aborto no Brasil.

A prática do aborto, autorizada pelos governantes das nações a título de atendimento aos interesses das mulheres grávidas, pode-se tornar uma fonte de exploração da mulher e do seu filho. É o que atestam dois jornalistas ingleses, que relatam os resultados de suas pesquisas no livro "Bebês para Queimar. A Indústria do Aborto na Inglaterra"¹ (Edições Paulinas, 1977); verificam que na Inglaterra existe "a indústria do aborto" como existe a da fabricação de sabonetes e cosméticos com a gordura das criancinhas abortadas.

Já em PR 213/1977, pp. 377-390 foi exposto o conteúdo de tal livro. Reproduzimos este artigo, visto que oferece oportunos dados de reflexão neste momento em que se propugna a legalização do aborto no Brasil.

A LEI DO ABORTO NA INGLATERRA

Em 1967 o Parlamento inglês aprovou a lei do aborto, que permite interromper a gravidez nos quatro casos abaixo:

1) A continuação da gravidez comportaria risco de vida para a mulher grávida, risco maior do que se interrompesse a gravidez.

2) A continuação da gravidez comportaria risco de prejudicar a saúde física ou mental da mulher grávida, risco maior do que se se interrompesse a gravidez.

3) A continuação da gravidez comportaria risco de prejudicar a saúde física ou mental dos filhos já existentes, risco maior do que se se interrompesse a gravidez.

4) Existe um risco substancial de que a criança nasça com anomalias físicas ou mentais que a tornariam um excepcional.

Dois médicos devem decidir, de boa fé, se o aborto entra num dos casos previstos. Dois médicos devem assinar o formulário de consentimento do aborto, formulário oficial, de cor verde, subscrevendo que chegaram à decisão em boa fé e indicando as razões escolhidas para darem o seu consentimento.

A lei não limita o prazo dentro do qual seja legítimo o aborto, de modo que este pode ser legalmente praticado até mesmo no sétimo mês de gestação (e ainda depois deste, como têm mostrado os fatos recenseados pelo livro em foco).

Na primavera de 1974, uma comissão nomeada pelo Governo publicou os resultados de pesquisa realizada sobre a aplicação da lei do aborto, ... pesquisa que durou três anos. Esses resultados, registrados no relatório Lane (assim chamado porque a comissão era presidiada pela juíza Dra. Lane(, simplesmente coonestaram a prática vigente, apesar dos abusos que, aberta ou clandestinamente, se têm verificado no tocante à prática do aborto.

Ora, sequiosos de investigar a realidade oculta (como, aliás, é de boa praxe jornalística), Michael Litchfield e Susan Kentish se dispuseram a averiguar os fatos concernentes ao abortamento tanto em seu país natal como em outras regiões. Foi dessa "curiosidade" jornalística que resultou o livro em foco, o qual apareceu na Inglaterra no fim de 1974.

OS AUTORES DO LIVRO

Michael Litchfield nasceu em 1940; é casado e tem um filho. Como jornalista, trabalhou inicialmente no Daily Herald; depois, passou para a direção do Daily Mail e, mais tarde, como free lancer (jornalista autônomo), escreveu artigos para o Life Magazine dos Estados Unidos, para o Daily Telegraph e para o News of the World.

Susan Kentish nasceu em 1947; é divorciada e não tem filhos. Depois de trabalhar em vários jornais de província, passou a colaborar no Sun e no News of the World.

Ambos, há alguns anos, trabalham como jornalistas free lancers, jornalistas autônomos - o que significa que não estão subordinados à orientação de algum periódico ou de empresa. Ambos professam a fé cristã anglicana.

Começaram a abordar o problema do aborto por ocasião de uma pesquisa a respeito da adoção de filhos... Então certas afirmações de um médico lhes pareceram estranhas... Puseram-se a investigar também a prática do aborto. Munidos de gravador oculto dentro da pasta ou da bolsa respectiva, Michael e Susan foram Ter a Clínicas e outras fontes de informações, dialogando com médicos, enfermeiras e outros profissionais... a respeito do aborto. Os resultados desse trabalho foram publicados primeiramente sob forma de artigos no semanário News of the World... Apesar da pressão exercida contra os autores, esses artigos foram reunidos no livro "Babies for burning". Este provocou contestação ou a acusação de falso testemunho... Na verdade, o procedimento dos jornalistas pode ser considerado desonesto; todavia ninguém conseguiu demonstrar que transmitiram inverdades; nem mesmo a pesquisa pormenorizada empreendida pelo Sunday Times contra o trabalho de Michael e Susan pôde desfazer a credibilidade essencial e intrínseca do livro em questão.

É de notar que a jornalista Susan, antes de iniciar a sua pesquisa, quis submeter-se a um teste de gravidez... Então um ginecologista famoso declarou, após minucioso exame, que "não estava, nem alguma vez estivera, grávida". Apesar disso, sempre que Susan se apresentou aos médicos que trabalhavam no mercado do aborto, submetendo-se, por exemplo, a exames de urina, teve o laudo "Grávida". "Todos os ginecologistas que consultamos em nossa pesquisa, estavam preparados para fazer um aborto em Susan, que nem sequer estava grávida! Bastava pagar em dinheiro, e adiantado" (p. 12).

Passamos agora ao conteúdo dos principais capítulos do livro.

TESTE DE GRAVIDEZ

No primeiro capítulo, Michael e Susan reproduzem os colóquios que tiveram com as atendentes ou enfermeiras de casas especializadas para o exame de gravidez em Londres.

Apresentaram-se como namorados, noivos ou como cônjuges que suspeitavam gravidez em Susan e pediam um aconselhamento. Os exames então realizados davam sempre o resultado "Grávida", de modo que o aborto era insinuado pelas enfermeiras como algo a ser praticado sem demora: bastava que os pretensos "pais" da criança mostrassem o desejo de não ter filhos (por razões de comodismo, viagem de passeio ou outras) para que os profissionais consultados lhes assegurassem a legalidade do aborto; o caso era enquadrado dentro de uma das quatro situações em que a lei permite o aborto...
Em certa ocasião, Michael e Susan foram ter ao consultório do Dr. Mook-Sang, médico que se interessava por praticar o aborto, porque vendia a pais adotivos as crianças que ele extraía do seio materno. Eis o depoimento dos repórteres:

"A legalização do aborto produziu na Inglaterra uma queda na oferta de recém-nascidos para adoção. Médicos inescrupulosos, agindo como intermediários em leilões de crianças, chegam até a ganhar mil libras ou mais por criança no mercado de adoção.

Médicos como Mook-Sang estão convencidos de que hoje em dia podem ganhar mais dinheiro vendendo crianças do que abortando-as. É uma questão de oferta e procura. Mas o Dr. Mook-Sang não é tão exigente contanto que os seus negócios vão bem. A filosofia deste médico, suas ideologias, sua visão da vida, são capazes de deixar estupefatos os membros mais progressistas e liberais da sociedade.

(...) Mook-Sang fala com entusiasmo e paixão do "pensamento progressista de Hitler". Fala da nova moralidade, que é simplesmente pôr a sociedade de cabeça para baixo, chamando o moral de imoral e o imoral de moral...

Há na Inglaterra uma corrente de médicos aborteiros - uma pequena Máfia médica - que compartilham a ideologia superavançada e fascista de Mook-Sang.

Sabe-se que muitos deles têm em suas folhas de pagamento alguns funcionários do Governo. A sua finalidade, o seu empenho é não deixar escapar ninguém de suas garras. As jovens grávidas, amedrontadas, desesperadas, são a matéria-prima para a conquista da riqueza.

O aborto não trouxe a libertação para as mulheres. Possibilitou, isto sim, serem mais exploradas por homens como Mook-Sang. Para onde vai o dinheiro conseguido com os abortos? Diretamente para os bolsos dos homens. Quase todos os médicos que praticam o aborto são homens. Todos os intermediários são homens. Todos os que se enriquecem com o aborto, são homens. Devemos tirar uma lição desta "coincidência" (...).
Chegamos à clínica do Dr. Mook-Sang e lhe dissemos claramente que queríamos estudar a possibilidade de comprar uma criança por seu intermédio... "Que tipo de criança têm vocês em mente?", perguntou. "Exigem que seja inglês? Pode ser de qualquer país da Europa? Tenho atualmente uma jovem que pode querer dar seu filho para ser adotado. É bonita, francesa, e está separada do marido. Veio aqui para interromper a gravidez, mas já está muito adiantada e acho que não vai conseguir. Conversamos ontem sobre o assunto e lhe disse que seria melhor que ela tivesse a criança e a desse para ser adotada. Trato também destes casos. Não é muito freqüente. Tenho uns três ou quatro por ano".

O Dr. Mook-Sang disse que a criança nos custaria mil libras. Os seus honorários seriam duzentas libras e a mãe faria uma operação cesariana. Este foi um dos aspectos mais grosseiros da sua proposta. A moça teria de submeter-se a uma operação cesariana, mesmo que não fosse necessária, para que não sentisse a emoção do parto e possivelmente não se apegasse à criança. Seria uma espécie de garantia para que nada saísse errado na operação financeira". (pp. 40-42).

Realmente tais dizeres são de uma significação inacreditável; revelam que a manipulação do ser humano é tranqüilamente negociada e praticada em vista de lucro financeiro; em última análise, o dinheiro e, conseqüentemente, o prestígio que esta possa conferir, são colocados muito acima da pessoa humana na escala dos valores dos profissionais em pauta.
Aparece no mesmo capítulo a figura da mãe de aluguel ou da mãe incubadora. Esta recebe o feto fecundado no seio da mãe verdadeira e o traz em seu seio durante nove meses, após os quais o gera e devolve a quem lho confiou:
"O Dr. Mook-Sang não estava satisfeito de nos impingir somente uma criança. Naturalmente ele viu que poderíamos ser fregueses de mais de uma operação financeira, possivelmente de uma operação por ano. Começou a delinear um plano para uma espécie de "família comprada" - realmente o planejamento familiar mais extravagante que já vi.

Disse-nos entusiasticamente: "Depois de conseguirem esta primeira adoção, devem pensar noutra daqui a um ano. Devem Ter pelo menos dois filhos. O segundo poderíamos já providenciar, encontrando a moça apropriada para conceber o filho do Sr. Litchfield. Leva tempo encontrar a pessoa certa que queira carregar uma criança durante nove meses, mas pode-se encontrar. É uma idéia digna de ser explorada, porque acho que é melhor do que uma simples adoção.

Se quisermos conseguir uma moça respeitável, que trabalhe em escritório, em Londres, ela irá pedir mais ou menos dez mil libras, muito mais do que uma call-girl se interessaria por cinco ou seis mil libras, mas uma moça de respeito... teríamos de comprar também a sua moralidade. Por outro lado, se usamos a mulher como incubadora, pouco importa se é call-girl ou moça de bem" (pp. 45s).

Muitos outros dados curiosos e importantes se poderiam colher do primeiro capítulo da obra de Litchfield e Kentish. Passemos, porém, ao capítulo 2.





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