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quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Quem eram os "demônios caprinos" mencionados na Bíblia?

A palavra hebraica sa‘ir, significando literalmente "peludo ou hirsuto", refere-se usualmente a um bode ou cabrito. (Gên. 37,31; Lev. 4,24) No entanto, em quatro textos, os tradutores costumam, em geral, considerar a palavra hebraica como tendo significado além de seu uso comum. — Lev 17,7; 2Crô. 11,15; Isa. 13,21; 34,14.
Em Levítico 17,7 e 2Crônicas 11,15, o termo (se‘irim, no plural) é usado com referência a coisas a que se dá adoração e se oferecem sacrifícios em conexão com o paganismo. Na Versão dos Setenta grega, a palavra é vertida "coisas sem sentido" e na Vulgata latina, "os demônios" (a versão Ave Maria traduz como "sátiros"). Tradutores modernos e lexicógrafos muitas vezes adotam o mesmo conceito, traduzindo-a por "demônios", "sátiros" (Al, ALA, CBC, PIB) ou "demônios caprinos". — NM; Lexicon in Veteris Testamenti Libros, Hebrew, German and English Lexicon of the Old Testament.
Aparentemente, os israelitas haviam sido influenciados até certo ponto pela idolatria praticada no Egito. (Jos. 24,14; Eze. 23,8,?1) Por isso, alguns eruditos acham que Levítico 17,7 e 2Crônicas 11,15 indicam que existia alguma forma de adoração de bodes entre os israelitas, como havia de modo destacado no Egito. Heródoto afirma que os gregos derivaram deste culto egípcio a sua crença em Pan e nos sátiros, deuses lascivos da floresta, representados com chifres, rabo de bode e pernas de bode.
A Bíblia não diz o que, exatamente, eram tais "peludos ou hirsutos". O termo não necessariamente indica ídolos em forma de bode, pois o uso de "bodes" pode apenas ser uma expressão de desprezo, assim como a palavra para "ídolo" se deriva dum termo que originalmente significava "bolotas de esterco". É possível que "peludos" ou "bodes" simplesmente indicasse que, na mente dos que os adoravam, tais deuses falsos eram concebidos como de forma caprina ou peluda na aparência.
O sentido de se’irim em Isaías 13,21 e 34,14 não é tão claro, visto que não se condena ali diretamente o paganismo. Descrevendo a ruína desolada em que se tornaria Babilônia, Isaías escreveu: "Porém, nela, as feras do deserto repousarão, e as suas casas se encherão de corujas; ali habitarão os avestruzes, e os sátiros pularão ali." (Isa. 13,21) É interessante notar que a Versão dos Setenta diz neste caso "demônios" (a versão da Bíblia Judaica de Lesser diz "espíritos maus" e a Bíblia de Rotherham diz "criaturas peludas"); e em Ap. 18,2, a descrição de Babilônia, a Grande, menciona que ela é moradia de aves impuras e de "demônios".
Por conseguinte, se se’irim, em Isaías 13,21 e 34,14, há de ser entendido como se referindo a algo além do significado de "bode", é apropriada a tradução "demônios caprinos", coerente com a tradução em Levítico 17,7 e 2Crônicas 11,15.
Isaías pode ter intercalado na sua lista de animais e aves literais uma referência aos demônios, não querendo dizer que se materializariam em forma de bodes, mas que os pagãos em redor de Babilônia e de Edom imaginariam que tais lugares fossem habitados por demônios. A História mostra que o povo da Síria e da Arábia já por muito tempo associava criaturas monstruosas com tais ruínas. E se houve animais hirsutos nas ruínas desoladas de Edom e de Babilônia, os observadores talvez fossem induzidos a pensar em demônios.

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