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quarta-feira, 29 de setembro de 2010

O testemunho da Igreja primitiva depõe contra a Sola Scriptura

Uma outra prova incontestável de que a Sola Scriptura jamais foi usada pelos primeiros cristãos é a sua total ausência nos escritos dos Pais da Igreja. E o pior: a Sola Scriptura não só está ausente dos antigos escritores como também esses Pais contradizem totalmente essa doutrina.
Se a Sola Scriptura fosse verdadeira, ao verificarmos os escritos dos Pais da Igreja ali a acharíamos. No entanto, não achamos lá nada que insinue a doutrina. O que acharemos é eles defendendo a Fé baseando-se nas Escrituras e no ensino oral dos apóstolos, como também reconhecendo a autoridade interpretativa da Igreja, e isso logicamente depõe contra a Sola Scriptura. A Sola Scriptura exige SOMENTE a Escritura e nega a autoridade da Igreja e da Tradição. Percorramos, porém, os escritos dos antigos Pais e vejamos que testemunho quanto a isso eles nos deixam:
Recomendamos ao leitor que a cada testemunho patrístico lido se pergunte: diria isso tal pai da Igreja, se ele cresse que a Escritura é mesmo a única regra de fé?
São Clemente de Roma (+100) disse-nos: "Devido às repentinas e repetidas calamidades e desventuras que se têm abatido sobre nós, precisamos reconhecer que tardamos um pouco em voltar nossa atenção para os assuntos de disputas entre vocês, amados; e especial-mente a abominável e ímpia rebelião, alienígena e estrangeira aos eleitos de Deus, que umas pessoas temerárias e rebeldes inflamaram a tal loucura que o seu nome venerável e ilustre, digno de ser amado por todos os homens, têm sido difamado. " (Carta aos Coríntios, Palestra, 80 D.C).
Ainda na mesma carta, diz ele: "Se, porém, alguns não obedecerem ao que foi dito por nós, saibam que se envolverão em pecado e perigo não pequeno" (Carta aos Coríntios 59,1).
Diz ainda o santo: "Aceitem o nosso conselho e não terão nada a lamentar." (Carta aos Coríntios 58,2).
Escreve ainda ele: “Sigamos a gloriosa e veneranda norma da nossa tradição.”
S. Clemente aqui explicitamente reconhece a Tradição e o Magistério da Igreja.
S. Inácio de Antioquia, martirizado no ano 107, conforme o historiador Eusébio de Cesaréia, "Advertia, antes de tudo, as igrejas das diversas cidades, que evitassem, sobre todas as coisas, as heresias que começavam então a se alastrar e exortava-as a se aterem tenaz-mente à Tradição dos Apóstolos" (Euséb., Hist. Eccles., 3, 36 / MG, 20, 287); "Antes exortei-vos a vos conservardes unânimes na doutrina de Deus, pois Jesus Cristo nossa vida insepar-vel, é a doutrina do Pai, como a doutrina de Jesus Cristo são os bispos constituídos nas dive-sas regiões da terra" (S. Inácio, in Ad Ephesios, 3-4).
"Onde quer que o Bispo apareça, deixe o povo estar; assim como onde quer que Jesus Cristo esteja, lá está a Igreja Católica." (Sto Inácio. Carta aos Cristãos de Esmirna 8,1).
"De maneira semelhante, que todos respeitem os diáconos como eles respeitariam Jesus Cristo, e assim como eles respeitam o Bispo como uma tipologia do Pai, e os presbíteros como o Concílio de Deus e o colégio dos apóstolos. Sem estes, não se pode chamar de uma Igreja." (Sto. Inácio. Carta aos Trallians 3,1).
Não há dúvida, nesses comentários Sto. Inácio aponta para a autoridade do Magistério eclesiástico e para a Tradição.
S. Policarpo de Esmirna, discípulo de S. João Evangelista (+156) chama a Tradição de “a palavra que nos foi transmitida desde o princípio.” (Filip. 7,2; cfr. 3,2; 4,2). No capítulo XI, na carta a Diogneto tem-se: ”Desde que me tornei discípulo dos apóstolos, sou doutor do povo. O que me foi transmitido, ofereço-o aos discípulos, que são dignos da verdade.”
Veja também o testemunho de Sto. Irineu de Lião (+202): "Quando são [os gnósticos] vencidos pelos argumentos tirados das Escrituras retorcem a acusação contra as próprias Escrituras, (...) E quando, por nossa vez, os levamos à Tradição que vem dos apóstolos e que é conservada nas várias igrejas, pela sucessão dos presbíteros, então se opõem à tradição." (Contra as Heresias 2,1-2 Livro III).
Sto. Irineu também disse: "(...) Mas, quando os hereges acusam as Escrituras, como se as mesmas estivessem erradas, fossem desautorizadas, mutantes e como se nelas não pudessem encontrar qualquer verdade por aqueles que são ignorantes na Tradição... E, quando em desafio, nós lhes apontamos a mesma Tradição, que nos veio dos apóstolos, que é resguardada pela sucessão dos antigos nas igrejas, eles se opõem a esta Tradição, julgando-se mais sábios, não somente do que os antigos, mas, igualmente, do que os apóstolos." (Contra as Heresias)
"Sob Clemente, havendo nascido forte discórdia entre os irmãos de Corinto, a Igreja de Roma escreveu-lhes uma carta enérgica, exortando-os à paz, reparando-lhes a fé, e anunciando-lhes a Tradição que havia pouco tinham recebido dos apóstolos" (Contra as Heresias 3, c.3,n.3) ; "Aí está claro, a quantos querem ver a verdade, a tradição dos apóstolos, manifesta em toda a Igreja disseminada pelo mundo inteiro..."(Contra as heresias 3, 3, 1); "Não devemos buscar nos outros a verdade que é fácil receber da Igreja, pois os apóstolos a mãos cheias, versaram nela, como em riquíssimo depósito, toda a verdade... Este é o caminho da vida" (Idem, In Contra as heresias 3, 4, 1); "E se os apóstolos não nos houvessem deixado as Escrituras, não cumpria seguir a ordem da Tradição por eles ensinada a quem confiavam à sua Igreja? Esta norma é seguida por muitos povos bárbaros que creem em Cristo sem papel e sem tinta, enquanto possuem a mensagem da salvação, escrita em seu coração pelo Espírito Santo e ciosamente conservam a antiga Tradição." ( Idem, In contra as heresias 3, 4,1)
Santo Irineu na mesma obra escreveu: "Desde então, a mesma Tradição dos apóstolos existe na Igreja, e permanece conosco (...). “ (Contra as Heresias 3,5,1)
O mesmo Sto. Irineu ainda disse: "Portanto, a Tradição dos apóstolos, que foi manifestada no mundo inteiro, pode ser descoberta e toda igreja por todos os que queiram ver a verdade. Poderíamos enumerar aqui os bispos que foram estabelecidos nas igrejas pelos apóstolos e seus sucessores até nós; e eles nunca ensinaram nem conheceram nada que se parecesse com o que essa gente [os hereges] vai delirando. [...] Mas visto que seria coisa bastante longa elencar numa obra como esta, as sucessões de todas as igrejas, limitar-nos-emos à Tradição da maior e mais antiga e conhecida por todos, à igreja fundada e constituída em Roma, pelos dois gloriosíssimos apóstolos, Pedro e Paulo, e, indicando a sua tradição recebida dos apóstolos e a fé anunciada aos homens, que chegou até nós pelas sucessões dos bispos, refutaremos todos os que de alguma forma, quer por enfatuação ou vanglória, que por cegueira ou por doutrina errada, se reúnem prescindindo de qualquer legitimidade. Com efeito, deve necessariamente estar de acordo com ela, por causa da sua origem mais excelente, toda a igreja, isto é, os fiéis de todos os lugares, porque nela sempre foi conservada, de maneira especial, a tradição que deriva dos apóstolos." (Contra as Heresias, III,3,1-2). Grifos nossos.
Disse ainda o santo:"A mensagem da Igreja é, portanto, verídica e sólida, pois é nela que um único caminho de salvação aparece no mundo inteiro" (Contra as Heresias 5,20,1).
Aqui, Sto. Irineu não só reconhece a autoridade da Tradição dos apóstolos como testemunha a favor do Primado da Igreja de Roma.
Tertuliano de Cartago (+220) também afirmou: "A crença uniformemente professada por diversas comunidades não deriva do erro, mas da legítima Tradição". É dele ainda as palavras: "De nada vale as discussões das Escrituras. A heresia não aceita alguns de seus livros, e se os aceita, corrompe-lhes a integridade, adulterando-os com interpolações e mutilações ao sabor de suas ideias, e se, algumas vezes admitem a Escritura inteira, pervertem-lhe o sentido com interpretações fantásticas..." (Tertuliano séc 3 In De Praescriptionibus., c. 19 / ML, II,31). Na mesma obra, Tertuliano assevera que onde estiver a verdadeira Igreja, "aí se achará a verdade das Escrituras, da sua interpretação e de todas as tradições cristãs" (Idem, De Praescript., c. 19 ML, 2, 31).
"... Resta, pois, demonstrar que nossa doutrina, cuja regra formulamos acima, procede da tradição dos apóstolos e, por isso mesmo, as demais procedem da mentira. Nós estamos em comunhão com as igrejas apostólicas, se nossa doutrina não difere da sua: eis o sinal da verdade" (Tertuliano, Da Prescrição dos Hereges, XIII-XX).
S. Clemente de Alexandria (+215), dizia: "Mas ele, salvaguardando a verdadeira Tradi-ção dos ensinamentos abençoados, que nos vêm direto dos apóstolos Pedro, Tiago, João e Paulo e foram transmitidos de pai para filho, chegara até nós, com a ajuda de Deus para que em nós fossem depositadas as sementes destes apóstolos." (Stromata 1, 11). Grifos nossos.
"Para nós,... que crescemos com as Escrituras, que preservamos a correta doutrina dos apóstolos e da Igreja, que vivemos de acordo com o Evangelho, é nos permitido descobrir as provas da Lei e dos Profetas que eles tanto buscam." (Stromata, 7, 104). Grifos nossos.
Hipólito de Roma (+235) dizia: "Justamente por não observarem as Sagradas Escrituras e não guardarem a Tradição de algumas santas pessoas é que os hereges criaram essas [ímpias] doutrinas" (Refutação de Todas as Heresias 1, Prefácio).
Orígenes de Alexandria (+253) firma como princípio “que só se deve crer nas verdades ligadas às tradições eclesiástica e apostólica” (De princ. Prae., 2).
"Esta pedra é inacessível às serpentes, é ela é mais forte que os portões do inferno em oposição, é por causa disso que as forças dos portões do Hades não prevalecerão contra ela; mas a Igreja, como uma construção feita pelo próprio Cristo construindo sua morada, é incapaz de admitir que os portões do Hades prevaleçam sobre qualquer um que esteja fora desta pedra, mas não possui forças para tal" (Orígenes, Sobre Mateus,12,11).
Orígenes disse também: "Quando hereges nos mostram as Escrituras canônicas – nas quais o cristão crê e confia – parecem dizer: ‘Oh, ele está restrito’. Contudo, não cremos neles, nem abandonamos a Tradição original da Igreja, nem acreditamos em outras coisas que não nos foram trazidas pela sucessão existente na Igreja de Deus" (Homilia sobre Mateus 4,6).
S. Cipriano de Cartago (+258) também dizia: "Depois de tudo isto, eles ainda, tendo um falso bispo que hereges lhes ordenaram, atreveram-se a selar e carregar cartas de pessoas cismáticas e profanas para a Cátedra de Pedro (que é) a Igreja principal, de onde surge a unidade do pastoreio. Eles não refletiram que os romanos são os mesmos cuja fé foi louvada publicamente pelos apóstolos, e aos quais a descrença jamais terá acesso.” (Epist. 59,14). Grifos nossos.
“Julga conservar a fé quem não conserva esta unidade recomendada por Paulo? (Ef 4,4-6). Confia estar na Igreja quem abandona a cátedra de Pedro sobre a qual está fundada a Igreja?" (S. Cipriano).
É de S. Cipriano ainda o seguinte: “A Esposa de Cristo não pode tornar-se adúltera, ela é incorruptível e casta [Cf Ef 5,24-31]. Conhece só uma casa, observa, com delicado pudor, a inviolabilidade de um só tálamo. É ela que nos guarda para Deus e torna partícipes do Reino os filhos que gerou. Aquele que, afastando-se da Igreja, vai juntar-se a uma adúltera, fica privado dos bens prometidos à Igreja. Quem abandona a Igreja de Cristo não chegará aos prêmios de Cristo. Torna-se estranho, torna-se profano, torna-se inimigo. Não pode ter Deus por Pai quem não tem a Igreja por mãe. Como ninguém se pôde salvar fora da arca de Noé, assim ninguém se salva fora da Igreja.” (Sobre a unidade da Igreja, cap. 4). Diria isso S. Cipriano se ele fosse solascripturista?
Lactâncio, convertido no ano 300, disse: “Só a Igreja Católica é que conserva o verdadeiro culto. Esta é a fonte da verdade; este o domicílio da fé, o templo de Deus, no qual se alguém não entrar, do qual se alguém sair, está privado da esperança de vida e salvação eterna” (livro 4º cap. 3º).
Veja o testemunho de Eusébio (+ ou – 317), Bispo de Cesareia e historiador da Igreja nos tempos primitivos: "[Os apóstolos] Anunciaram o reino dos céus a todo orbe habitado, sem a menor preocupação de escrever livros. Assim procediam porque lhes cabia prestar um ser-viço maior e sobrehumano. Até Paulo, o mais potente de todos na preparação dos discursos, o mais dotado relativamente aos conceitos, só transmitiu por escrito breves cartas, apesar de ter realidades inúmeras e inefáveis a contar [...] Outros seguidores de nosso Salvador, os primeiros apóstolos, os setenta discípulos e mil outros mais não eram inexperientes das mesmas realidades. Entretanto, dentre eles todos, somente Mateus e João deixaram memória dos entretenimentos do Salvador. E a Tradição refere que estes escreveram forçados pela necessidade. [...] Quanto a João [o apóstolo], diz-se que sempre utilizava o anúncio oral. Por fim, também ele pôs-se a escrever pelo seguinte motivo. Quando os três evangelhos precedentes já se haviam propagado entre todos os fiéis e chegaram até ele, recebeu-os, atestando sua veracidade. Somente careciam da história das primeiras ações de Cristo e do anúncio primordial da palavra. E trata-se de verdadeiro motivo." (História Eclesiástica Livro III, 24,3-7. Eusébio de Cesareia) Depois, Eusébio nos remete a uma imensa lista de autores e seus respectivos livros, pelos quais deixaram para a memória cristã a autêntica pregação apostólica.
"A Clemente [3º sucessor de São Pedro na Cáthedra de Roma] sucedeu Evaristo; a Evaristo, Alexandre, depois, em sexto lugar desde os apóstolos, foi estabelecido Xisto; logo, Telésforo, que prestou glorioso testemunho; em seguida, Higino; após este, Pio, e depois, Ani-ceto. Tendo sido Sotero o sucessor de Aniceto, agora detém o múnus espiscopal Eleutério, que ocupa o duodécimo lugar na sucessão apostólica. Em idêntica ordem e idêntico ensinamento na Igreja, a tradição proveniente dos apóstolos e o anúncio da verdade chegaram até nós." (História Eclesiástica Livro V, 6,4-5. Eusébio de Cesareia).
Veja a observação de Eusébio quanto à degeneração doutrinária das seitas: "Extinguiram-se, pois rapidamente as maquinações dos inimigos, confundidas pela atuação da Verdade. As heresias, uma após outras, apresentavam inovações; as mais antigas continuamente desvaneciam e desvirtuavam-se, de difrentes modos, para dar lugar a idéias diversas e variadas. Ao invés, ia aumetando e crescendo o brilho da única verdadeira Igreja católica, sempre com a mesma identidade, e irradiando sobre gregos e bárbaros o que há de respeitável, puro, livre, sábio, casto em sua divina conduta e filosofia. [...] Além do mais, na época de que tratamos, a verdade podia apresentar numerosos defensores, em luta contra as heresias ateias, não somente através de refutações orais, mas também por meio de demonstrações escritas." (História Eclesiástica Livro IV, 7,13.15. Eusébio de Cesareia, + ou - 317 d.C).
S.Gregório de Nissa (+340) testemunhava: "Se um problema é desproporcional ao nosso raciocínio, o nosso dever é permanecer bem firmes e irremovíveis na Tradição que recebemos dos Padres" (- Quod non sint tres dii, MG 45,117).
Veja o que Santo Atanásio de Alexandria (+373) ensinava: "Mas nossa fé é correta, começando com o ensinamento do apóstolos e Tradição dos padres, sendo confirmada por ambos os Testamentos." (Epis 60). Grifos nossos.
Esse grande Padre da Igreja ainda dizia: "Mas depois do demônio, e com ele, vêm todos os que inventam heresias ilegais, que muito embora se refiram à Escritura, não mantém as mesmas opiniões que os Santos transmitiram, e, não as conhecendo nem ao seu poder, recebem tradições de homens caindo em erro." (Festal Letter 2)
"Estamos de acordo com o fato de que este não é o ensinamento da Igreja Católica, nem os pais o sustentam". (S. Atanásio, A Epicleto, Epístola 59,3).
Como se vê Santo Atanásio não só conservava a Tradição como também cria no Magistério da Igreja. Dizia ele ainda: "A confissão chegada a Nicéia era, afirmamos, mais suficiente e bastante a si mesma para a subversão de toda heresia contrária à religião, e para a segurança e desenvolvimento da doutrina de Cristo." (Ad Afros 1) "Mas a Palavra de Deus que veio através do Sínodo Ecumênico de Nicéia, permanece para sempre". (Ad Afros 2) "Eles não cometem um crime ao pensar que podem contradizer Concílio tão grande e universal?" (De decretis 4) E como sabemos, o referido Concílio professava: "Creio na Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica".
Veja isto ainda: "Mas o que também é importante, deixe-nos notar que a própria Tradi-ção, ensinamento e fé da Igreja Católica desde o começo, que foi dada pelo Senhor, foi pregada pelos apóstolos e preservada pelos Pais. Nisso foi fundada a Igreja; se alguém se afasta disso, ele não é e nem deveria mais ser chamado Cristão." (Santo Atanásio, Cartas a Serapião de Thmuis, 1,28-).
Veja agora S. Basílio de Cesareia (+380): "Meta comum de todos os adversários, inimigos da sã doutrina, é abalar o fundamento da fé em Cristo, arrasando, fazendo desaparecer a Tradição apostólica. Por isso, eles, aparentando ser detentores de bons sentimentos, recorrem a provas extraídas das Escrituras, e lançam para bem longe, como se fossem objetos vis, os testemunhos orais dos Padres." (Tratado sobre o Espírito Santo, Cap 25).
Disse ainda o santo: "Um dia inteiro não nos bastaria se quiséssemos expor os mistérios da Igreja que não constam das Escrituras. Deixando de lado tudo mais, pergunto de quais passagens retiramos a profissão de fé no Pai e no Filho e no Espírito Santo. Se a extraímos da tradição batismal, de acordo com a piedade (pois devemos crer segundo a maneira como fomos batizados), para entregarmos uma profissão batismal, essencial ao batismo, consequentemente nos seja permitido também glorificar conforme nossa fé. Mas, se esta forma de dar glória nos é recusada, por não constar das Escrituras, sejam-nos mostradas provas escritas da profissão de fé e de todo o restante, que enumeramos. Desde que há tantas coisas que não foram escritas, e coisas tão importantes para o mistério da piedade, ser-nos-á recusada uma só palavra, proveniente dos Pais, que nós vemos persistir por um uso espontâneo nas Igrejas isentas de desvios, uma palavra muito razoável, e que muito contribui para a força do mistério?" (Tratado sobre o Espírito Santo. Cap 67.).
Diz ele ainda: “Entre as verdades conservadas e anunciadas na Igreja, umas nós as recebemos por escrito e outras nos foram transmitidas nos mistérios, pela Tradição apostólica. Ambas as formas são igualmente válidas relativamente à piedade. Ninguém que tiver, por pouco que seja, experiência das instituições eclesiásticas, há de contradizer. De fato, se tentássemos rejeitar os costumes não escritos, como desprovidos de maior valor, prejudicaríamos imperceptivelmente o evangelho, em questões essenciais. Antes, transformaríamos o anúncio em palavras ocas." (Tratado sobre o Espírito Santo. Cap 66.).
Nos dois escritos Contra Eunômio (1,1-3) e Sobre o Espírito Santo (29, 71), diz outra vez o santo: “Considero apostólica a firme adesão às tradições que não estão contidas na Escritura” (Cfr. 27,66; Migne, 32,188).
Sto Ambrósio de Milão (+397) afirmava: "Mas, se eles não acreditam na Doutrina dos Padres, que acreditem nos oráculos de Cristo, nas admoestações dos anjos que dizem ‘para Deus nada é impossível’. Que acreditem no Credo apostólico que a Igreja de Roma sempre manteve intacto."
"Ao despontar do dia que fora escolhido para a disputa com Simão [Mago], Pedro [Apóstolo], levantando-se aos primeiros cantos do galo, despertou também a nós; todos juntos, éramos treze a dormir no mesmo aposento. [...] À luz da candeia [...] sentamo-nos todos. Pedro, vendo-nos alertas e bem atentos, saudou-nos e começou seu discurso: 'É surpreendente, irmãos, a elasticidade de nossa natureza, a qual me parece ser adaptável e maleável a tudo. Digo-o apelando para o eu mesmo tenho experimentado. Logo depois da meia-noite, costumo acordar espontaneamente e não consigo voltar a dormir. Isto me acontece porque me habituei a evocar em minha memória as palavras que ouvi de meu Senhor Jesus Cristo. Desejo de as revolver no espírito, incito o meu ânimo e a minha mente a se despertarem, a fim de que, em estado de vigília, recorde cada palavra de Jesus em particular e as guarde todas ordenadamente na memória. Já que desejo com profundo deleite meditar no meu coração as palavras do Senhor, adquiri o hábito de ficar em vigília, mesmo que nada, fora deste intento, me preocupe o espírito" (Pseudo-Clemente, século III, Recognitiones II,1).
São João Crisóstomo (354-407): também expressava: "Dessa forma, irmãos, fiquem firmes e guardem as tradições que lhes foram ensinadas, seja por palavra ou por carta. Isso deixa claro que eles não transmitiram tudo por carta, mas que havia muita coisa também que não foi escrita. Como a que foi escrita, a não escrita também é digna de crédito. Então vamos considerar a tradição da Igreja como sendo digna de crédito. Isto é uma tradição? Não procure outra coisa." (Homilias sobre a 2ª Epístola aos Tessalonicenses 4,2).
Dizia ainda o santo: "Não te afaste da Igreja: nada é mais forte que ela. Ela é a tua esperança, o teu refúgio. Ela é mais alta que o céu e mais vasta que a terra. Ela nunca envelhece".
S. Epifânio de Salamina (+403) apresenta a Tradição como um complemento da Bíblia: “Também a Tradição é necessária, pois que nem tudo se pode tirar da Escritura; os apóstolos deixaram-nos uma parte de seu ensinamento nas Escrituras, os demais acha-se nas tradições” (Haer. 41,6; Migne, 41, 1047).
S. Epifânio falou também: "A Igreja deve guardar este costume, recebido como tradição dos Pais. E quem haverá de suprimir o mandato da mãe ou a lei do pai? Conforme o que diz Salomão, 'tu, filho meu, escuta as correções de teu pai e não rejeites as advertências da tua mãe'. Com isto, se ensina que o Pai, o Deus unigênito e o Espírito Santo, tanto por escrito como sem escritura, nos deram doutrinas, e que nossa Mãe, a Igreja, nos legou preceitos, os quais sãos indissolúveis e definitivos" (Haer. 75,8).
S. Jerônimo (+420) também dissera: "Você quer uma prova da Escritura? Poderá encontrar nos Atos dos Apóstolos. E se não restar provado com a autoridade da Escritura, o consenso de todo o mundo (=isto é, da Igreja Católica) sobre esse assunto serve como força de comando" (Diálogo com os Luciferanos 8).
Veja o que dizia Sto. Agostinho de Hipona (+433): “Eu não creria no Evangelho, se a isso não me levasse a autoridade da Igreja católica.” (Contra a Carta de Mani 5,6) Obviamente isso é o mesmo que dizer: "Creio na Bíblia porque a Igreja me manda crer".
"Mas com relação àquelas observâncias que seguimos cuidadosamente e que o mundo todo mantém, e que não vêm da Escritura, mas da Tradição, é-nos concedido compreender que foi ordenado e recomendado que a guardássemos seja pelos próprios apóstolos, seja pelos Concílios plenários, a autoridade que é tão vital para a Igreja." (Carta de Agostinho para Januário 54,1,1, 400 D.C).
"Acredito que esta prática venha da tradição apostólica, assim como tantas outras práticas não encontradas nos escritos deles nem nos concílios de seus sucessores, mas que, porque são observadas por toda a Igreja em todos os lugares, acredita-se que tenham sido confiadas e concedidas pelos próprios apóstolos." (Sto. Agostinho, Batismo 1,12,20, 400 D.C.)
"Eles guardaram o que encontraram na Igreja; o que lhes foi ensinado, ensinaram; o que receberam dos pais, transmitiram aos filhos." (Santo Agostinho, Contra Juliano, 2,10,33, 421 D.C).
"Assim pelo favor de Cristo somos Cristãos católicos:" (Santo Agostinho, Carta a Vitalis, 217,5,16, 427 D.C.).
"Vocês nasceram pela mesma palavra, pelo mesmo Sacramento, mas não obterão a mesma herança de vida eterna, a menos que retornem para a Igreja Católica." (S. Agostinho, Sermões, 3, 391 D.C).
"Esta Igreja é santa, a única Igreja, a verdadeira Igreja, a Igreja Católica, lutando como o faz contra todas as heresias. Ela pode lutar, mas não pode ser vencida. Todas as heresias são expelidas dela, como galhos inúteis são podados de uma vinha. Ela permanece fixa à sua raiz, em sua vinha, em seu amor. As portas do inferno não a conquistarão." (S. Agostinho, Ser-mão aos Catecúmenos sobre o Credo, 6,14, 395 D.C).
“Um homem Cristão, é Católico enquanto vive no Corpo, separado é um herético, o Espirito não segue a um membro amputado." (Santo Agostinho)
Dizia ainda o santo: “Deve ser seguida por nós aquela reigião cristã, a comunhão daquela Igreja que é CATÓLICA, e Católica é chamada não só pelos seus, mas também por todos os inimigos.” (Verdadeira Religião c. 7; n 12).
"É óbvio que se a fé permite e a Igreja Católica aprova, então deve ser crido como verdade" (Santo Agostinho, Sermão 117,6).
"Roma locuta, causa finita est", ou seja, “Roma falou, acabou-se a questão”. (S. Agostinho, Sermão 131,10).
S. Vicente de Lerins, (+450) "Perguntando eu com toda a atenção e diligência a numerosos varões, eminentes em santidade e doutrina, que norma poderia achar segura, enquanto possível genérica e regular, para distinguir a verdade da fé católica da falsidade da heresia, eis a resposta constante de todos eles: quem quiser descobrir as fraudes dos hereges nascentes, evitar seus laços e permanecer sadio e íntegro na sadia fé, há de resguardá-la, sob o auxílio divino, duplamente: com a autoridade da Lei Divina e com a Tradição da Igreja Católica. Sem embargo, alguém poderia objetar: Posto que o Cânon das Escrituras é em si mais que suficientemente perfeito para tudo, que necessidade há de se acrescentar a autoridade da interpretação da Igreja? Precisamente porque a Escritura, por causa de sua mesma sublimidade, não é entendida por todos de modo idêntico e universal. De fato, as mesmas palavras são interpretadas de maneira diferente por uns e por outros. Se pode dizer que tantas são as interpretações quantos são os leitores. Vemos, por exemplo, que Novaciano explica a Escritura de um modo , Sabélio de outro, Donato, Eunomio, Macedônio, de outro; e de maneira diversa a interpretam Fotino, Apolinar, Prisciliano, Joviano, Pelágio, Celestino, e em nossos dias, Nestório. É pois, sumamente necessário, ante as múltiplas e arrevesadas tortuosidades do erro, que a interpretação dos Profetas e dos Apóstolos se faça seguindo a pauta do sentir católico. Na Igreja Católica deve-se ter maior cuidado para manter aquilo em que se crê em todas as partes, sempre e por todos. Isto é verdadeira e propriamente católico, segundo a ideia de universalidade que se encerra na mesma etimologia da palavra. Mas isto se conseguirá se nós seguimos a universalidade, a antiguidade e o consenso geral. Seguiremos a universalidade se confessamos como verdadeira e única fé a que a Igreja inteira professa em todo o mundo; a antiguidade, se não nos separamos de nenhuma forma dos sentimentos que notoriamente proclamaram nossos santos predecessores e pais; o consenso geral, por último, se, nesta mesma antiguidade, abraçamos as definições e as doutrinas de todos, ou de quase todos, os Bispos e Mestres." (Commonitorium).
S.João Damasceno (+749) assim se expressou: "Se alguém se apresentar com um Evangelho diferente daquele que a Igreja Católica recebeu dos Santos Apóstolos, dos Padres e dos Concílios, e que ela conservou até aos nossos dias, não o escuteis" (Discurso sobre as Imagens 3,3).
Tudo isso já basta para demonstrarmos que os primeiros cristãos sempre acataram realmente a autoridade da Igreja e da Tradição. Do contrário, as afirmações atrás citadas não seriam feitas.
Outra prova incontestável de que a Igreja primitiva não acreditava na Sola Scriptura é que os credos primitivos sempre dizem: "Creio na Santa Igreja Católica" e não simplesmente "Creio na Santa Escritura". Além disso, o fato de os primeiros bispos da Igreja redigirem Cartas Apostólicas constitui outra incontestável prova de que eles não acreditavam na Sola Scriptura, pois senão ficariam apegados tão somente à Escritura. Além disso, se a Sola Scritptura é verdadeiramente uma doutrina apostólica, porque não é aceita pelos Cristãos Coptas do Egito (que se separaram da Igreja Católica há quase 1500 anos) e pelos cristãos Ortodoxos (que se separaram da Igreja Católica há quase 1000 anos)? Se, conforme os solascripturistas, a Tradição só foi validada pela Igreja no século XVI, por que, então, essas Igrejas que se separaram da Igreja Católica muito antes desse século, também a conservam como regra de fé? É impossível que eles tenham se dobrado a uma decisão da Igreja Romana. Não acha?
Como se vê, a Sola Scriptura está longe de ter sido uma doutrina de fé dos apóstolos. Ela estava totalmente ausente nos primórdios do Cristianismo. É uma criação recente e, portanto, alheia a fé dos pimeiros cristãos.
Além dos escritos patrísticos a respeito veja também testemunhos de alguns próprios evangélicos sobre o assunto:
Heiko Oberman, historiador protestante, afirma: “Em relação à Igreja pré-augustiniana, há recentemente uma tendência convergente entre os estudiosos da Bíblia de que a Escritura e a Tradição na Igreja Primitiva não eram excludentes: kerygma, Escritura e Tradição coincidiam perfeitamente.
A Tradição não deve ser entendida como uma adição ao kerygma, mas como a sua pregação de forma viva: em outras palavras, tudo que é encontrado na Sagrada Escritura está presente na Tradição.
Ela está presente no corpo visível de Cristo, inspirado e vivificado pela obra do Espírito Santo... A Escritura e a Tradição derivam de uma única fonte: a Palavra de Deus. Somente na Igreja este kerygma pode ser transmitido sem falhas...” (The Harvest of Medieval Theology, Grand Rapi-ds, MI: Eerdmans, rev. ed., 1967, 366-367)
Jaroslav Pelikan, historiador luterano, afirma: “Claramente há um anacronismo em su-por que as discussões dos séculos 2 e 3 derivam das controvérsias do século 16 em relação à Escritura e Tradição, pois ‘na Igreja ante-nicena não havia a noção de Sola Scriptura, como também não havia a Sola Traditio.’[1]
A Tradição apostólica era pública... tão palpável que mesmo se os apóstolos não estivessem com a Escritura em mãos para demonstrar uma norma de suas doutrinas, a igreja ainda assim seguiria ‘a estrutura da tradição que eles traziam a quem confiaram às igrejas’[2]. Isto foi, de fato, o que a igreja fez nos territórios bárbaros onde o material escrito não era disponível aos ouvintes, conservando o conteúdo da fé transmitida pelos apóstolos e sumarizada no credo...
O termo “regra de fé” ou “regra de verdade”... parece algumas vezes ter pertencido à Tradição, outras à Escritura, outras à mensagem do Evangelho...
Na Reforma... os advogados da autoridade final das Escrituras ignoraram a função da Tradição em conservar o que se conhecia como correta exegese das Escrituras contras as alternativas heréticas.” (The Christian Tradition: A History of the Development of Doctrine: Vol. 1 of 5: The Emergence of the Catholic Tradition (100-600), Chicago: Univ. of Chicago Press, 1971, 115-117, 119; citações: [1]. In Cushman, Robert E. & Egil Grislis, eds., The Heritage of Christian Thought: Essays in Honor of Robert Lowry Calhoun, New York: 1965, citado em Albert Outler, "The Sense of Tradition in the Ante-Nicene Church," 29. [2]. St. Irineu, Contra as Heresias, 3:4:1).
Edwin Tait, anglicano, escreveu: “Com certeza os Padres ensinaram que podiam provar suas conclusões a partir da Bíblia. Também ensinaram que a comunhão dos bispos sucessores dos apóstolos, reunidos em Concílio (com Roma tendo algum papel, o qual não pretendo abordar aqui), seriam os responsáveis pela correta interpretação da Bíblia. Todo este debate sobre a Sola Scriptura somente se tornou realidade quando um número considerável de cristãos começaram a afirmar que os bispos reunidos em Concílio haviam errado na interpretação bíblica durante vários séculos. Ambos os lados podem recorrer aos Pais, porque os Pais nunca ensinaram sobre a suficiência bíblica e a autoridade da Igreja/Tradição em discordância.”
É lógico que algumas expressões dos Pais da Igreja que parecem favorecer a Sola Scriptura precisam ser lidos à luz de tudo o que até agora foi exposto sobre os dizeres deles. Não é por falarem da Escritura como autoridade de fé que vamos concluir que eles defendiam a exclusividade dessa mesma Escritura. Uma coisa não implica outra. É impossível alguém ser solascripturista, se reconhece a autoridade da Tradição e do Magistério da Igreja. E isso ficou claríssimo nas próprias afirmações deles. Os Pais da Igreja acatavam apenas a suficiência material das Escrituras, não a formal, que como vimos, exclui a Tradição e a Igreja. Logo, fica evidente que o entendimento dos Santos padres difere totalmente do conceito reformista sobre essa suficiência das Escrituras. Sola Scriptura implica em negar a autoridade da Igreja e da Tradição e não foi isso, como vimos, que os padres ensinaram.


Professor Evaldo Gomes

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