John Lennon J. da Silva .
No fim do I séc. d.C. alguns grupos de judeus não observavam ardentemente as prescrições mosaicas sobre o uso de imagens, registra-se neste momento, o uso comum de afrescos e mosaicos figurativos entre os judeus, principalmente em construções religiosas como as sinagogas, a prova deste costume artístico, é vista em famosas sinagogas, como a sinagoga de Dura-Europos (que data do início do séc. III), o uso destes mosaicos no interior de ambientes judeus é fruto da interpretação e leitura sobre o uso de imagens, que vigora entre os judeus nos séculos II a.C. e século III d.C. orientada sob a luz, dos casos de utilização de imagens entre os hebreus no Antigo Testamento.
Analisaremos neste texto especificamente a “economia das Imagens”¹ no AT seu uso, prescrições e finalidade para época, visto que Deus não havia ainda se encarnado e o povo hebreu vivia em constante perigo de envolver-se com a adoração de Ídolos e sua fabricação, como mostrou-se antes de Moisés trazer ao Povo a lei, aos pés do monte Sinai com o “Bezerro de ouro” (Ex 32, 1-6. 19) Este mesmo recebeu de Deus este mandamento.
“Não terás outros deuses diante de minha face. Não farás para ti escultura, nem figura alguma do que está em cima, nos céus, ou embaixo, sobre a terra, ou nas águas, debaixo da terra. Não te prostrarás diante delas e não lhes prestarás culto. Eu sou o Senhor, teu Deus, um Deus zeloso que vingo a iniqüidade dos pais nos filhos, nos netos e nos bisnetos daqueles que me odeiam. Mas uso de misericórdia até a milésima geração com aqueles que me amam e guardam os meus mandamentos.” (Ex 20, 3-6).
Mas esculturas e pinturas foram produzidas por ordem de Deus no Antigo testamento vejamos três casos bíblicos:
Arca da Aliança:
“Farás dois querubins de ouro; e os farás de ouro batido, nas duas extremidades da tampa, um de um lado e outro de outro, fixando-os de modo a formar uma só peça com as extremidades da tampa. Terão esses querubins suas asas estendidas para o alto, e protegerão com elas a tampa, sobre a qual terão a face inclinada.” (Êxodo 25,18-20)
Lembrando que as Sagradas Escrituras dizem que Deus falava através desta arca com os israelitas (cf. Ex 25, 22). Que era o símbolo de uma aliança de Javé com o povo destinado ao sacerdócio real o povo hebreu.
Serpente no Deserto:
“O povo veio a Moisés e disse-lhe: “Pecamos, murmurando contra o Senhor e contra ti. Roga ao Senhor que afaste de nós essas serpentes.” Moisés intercedeu pelo povo, e o Senhor disse a Moisés: “Faze para ti uma serpente ardente e mete-a sobre um poste. Todo o que for mordido, olhando para ela, será salvo.” Moisés fez, pois, uma serpente de bronze, e fixou-a sobre um poste. Se alguém era mordido por uma serpente e olhava para a serpente de bronze, conservava a vida.” ( Nm 21,7-9.)
Serpente confeccionada a mando de Deus, através dela realizava-se curas: posteriormente os hebreus curvam-se à idolatria e começarão a adorar a serpente como a um deus. Resultado, o Rei Ezequias terá que destruí-la (Cf. 2 Rs 18,4). De forma analógica a “serpente estendida” simbolizará Cristo Jesus no Novo Testamento (cf. Jo, 14-17).
Templo de Jerusalém:
Durante a construção do templo de Jerusalém empreendida pelo rei Salomão no “quarto ano do seu reinado” (I Reis 6, 1) foram postos no interior do edifício os seguintes objetos narrados nos textos abaixo:
“Fez no santuário dois querubins de pau de oliveira, que tinham dez côvados de altura.” ( I Reis 6,23).
“Nos painéis enquadrados de molduras, havia leões, bois e querubins, assim como nas travessas igualmente. Por cima e por baixo dos leões e dos bois pendiam grinaldas em forma de festões.” (I Reis 7, 29)
“Para o interior do Santo dos Santos, mandou esculpir dois querubins e os revestiu de ouro.” (II Cr 3,10)
Mesmo o famoso véu do templo tinha querubins desenhados nele, como vocês poderão ler em (II Cr 3,7-14).
Após a construção do templo foi transladado para o mesmo, à arca da aliança e os levitas a colocaram “no santuário do templo, o Santo dos Santos” (cf. II Cr 5, 7) Após isto houve uma intensa celebração de Louvor ao Senhor (cf. II Cr 5, 13) frente à arca, observe que sobre a tampa dela havia duas “Imagens”, representações ou esculturas de “Querubins” (Ex 25, 18):
E o mais incrível, diz o texto de Crônicas que durante o “louvor ao Senhor” o templo “encheu-se de uma nuvem tão espessa” que os Sacerdotes não puderam exercer seu oficio; e continua “A glória do Senhor enchia a casa de Deus” II Cr 5, 14. Imaginemos a “glória de Deus” enchendo a casa do Senhor (o templo de Jerusalém) estando o edifício repleto de imagens e esculturas.
Haveria então controvérsia entre o mandamento Divino de não “esculpir imagem alguma”, e a “utilização de imagens pelos hebreus” nestes casos expostos? É obvio que não, pois as Escrituras estão livres de qualquer erro ou contradição como constata a [Inerrância bíblica] doutrina sobre a qual as Sagradas escrituras estão vetadas quanto a contradições, e nem se pode dizer que Deus é contraditório “ordenando e desordenando”, surge então a pergunta como devemos entender estes casos:
Como explicamos logo na introdução deste texto, Deus logo instituiu o Mandamento contra as Imagens, por conta do perigo que poderia ser aos hebreus, não ter nenhuma prescrição que os vetassem de se contagiar com os povos vizinhos que eram povos “politeístas” que rendiam e prestavam culto a vários deuses, ou seja falsas divindades “Ídolos”. Assim a condenação do Mandamento, resume-se na proibição de esculpir e adorar “falsos deuses” (cf. Ex 20,23 e 34,17; Lv 19, 4.26; Dt 4,23-24.27,15). Como era visto nos povos idólatras do oriente.
Sobre o uso de imagens entre os hebreus, como exposto no caso da Serpente erguida no deserto, Arca da aliança e no Templo de Jerusalém fica claro sob a ordem de Deus, que o Senhor não condenou a pintura, esculturas ou a arte, mas em primeira mão as representações, imagens e simulacros utilizados pelo povo com “a finalidade de serem adoradas e proclamadas como divindades”.
Por isto mais tarde a teologia católica vai entender que “O culto cristão das imagens [ou ícones] não é contrário ao primeiro mandamento, que proíbe os ídolos” (CIC 2132). Já a interpretação (hermenêutica) protestante tem muitos problemas ao entender a questão das Imagens e seu uso, pelo fato de a problemática esta também relacionada ao “culto respeitoso que se presta as Imagens e não se confunde com a Adoração prestada competida só a Deus”. (Catecismo da Igreja Católica nº 2132)
Como o costume piedoso das imagens, pinturas e outras representações foram utilizadas pelos primitivos cristãos e hoje, encontra-se testemunhada pela arqueologia que acabou por provar o uso de imagens, afrescos e representações já no fim do I século, não só entre os cristãos, mas como citamos no início entre os judeus, as catacumbas de culto dos cristãos e outros edifícios e lugares de celebração dos crentes, estendidas tanto no ocidente e oriente são as maiores provas disto, sem mencionar os textos hagiográficos e testemunhos patrísticas ou a grande Tradição Apostólica que nos guarneceu o uso de ícones nas celebrações como se expressou o II Concílio Ecumênico de Niceia:
“Na trilha da doutrina divinamente inspirada de nossos santos Padres e da tradição da Igreja católica, que sabemos ser a tradição do Espírito Santo que habita nela, definimos com toda certeza e acerto que as veneráveis e santas imagens, bem como as representações da cruz preciosa e vivificante, sejam elas pintadas, de mosaico ou de qualquer outra matéria apropriada, devem ser colocadas nas santas igrejas de Deus, sobre os utensílios e as vestes sacras, sobre paredes e em quadros, nas casas e nos caminhos, tanto a imagem de Nosso Senhor, Deus e Salvador, Jesus Cristo, como a de Nossa Senhora, a puríssima e santíssima mãe de Deus, dos santos anjos, de todos os santos e dos justos. ”(CIC n° 1161)
Notas:
¹ “Economia das Imagens” [termo teológico aplicado as disposições de Deus sobre o uso das Imagens entre os hebreus e cristãs na Historia da humanidade, neste a “economia” é o plano direcionado e orientado pela vontade de Deus].
FONTE ELETRÔNICA:
http://www.veritatis.com.br/apologetica/imagens-santos/1020-economia-das-imagens-no-antigo-testamento
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