29.04.2011 - Uma campanha de sondagem de nível mundial, promovida pela empresa IPSOS, veio colocar em causa a noção de uma Europa católica, ao pôr a nu uma acentuada descrença em Deus ou em outro Ser Superior.
“Penso que este estudo ajuda a fazer tocar algumas campainhas de atenção sobre aquilo que está a acontecer na sociedade contemporânea e, do ponto de vista da Igreja Católica em Portugal, é uma boa altura para meditar sobre os perigos de se instalar,” realça Carlos Liz, representante da entidade, especialista em estudos de consumidor e opinião pública, numa entrevista hoje à AGÊNCIA ECCLESIA.
O inquérito, realizado entre 2 e 14 de março, envolveu perto de 19 mil pessoas, representativas de 24 países de todo o globo – desde nações em grande desenvolvimento, como a Rússia, o Brasil ou a Índia, outras atualmente em crise económica, como a Espanha ou a França, e ainda regiões do chamado Terceiro Mundo, como a Indonésia.
Tinha por base três perguntas essenciais, relacionadas com a existência ou não de Deus ou de outra entidade superior, a vida para além da morte e a origem da vida humana.
A partir dos resultados, foi possível verificar desde logo um mundo dividido, em que 51 por cento se diz crente em um (45%) ou vários deuses (6%); e outros 48 por cento em crise acentuada de crença (30%) ou que não acreditam em nada (18%).
“No caso europeu, o que me chamou mais a atenção foi o facto de Portugal estar rodeado de países em processo de descrença acelerado, como por exemplo a Espanha e a França, que durante bastante tempo foram referentes culturais para o nosso país” realça Carlos Liz, que identifica ainda uma relação de dependência bastante acentuada entre os níveis de bem-estar social e de crença.
Países emergentes, como o Brasil, Rússia e Índia, surgem com “francamente crentes”, ao contrário da Espanha e da França, onde “os fenómenos de instabilidade social e económica hão de ter algum reflexo” exemplifica.
Olhando também para nações como a Itália, Polónia, verificamos que, apesar de serem países tradicionalmente apontados como católicos, e o último ter dado até ao mundo um dos mais recentes Papas, João Paulo II, o estudo revela níveis de descrença total em Deus ou de dúvida na ordem dos 47 e 44 por cento, respetivamente.
Para o responsável pelo estudo, que tem colaborado com as ordens religiosas portuguesas na área do Marketing, a fatia da “fé intermitente”, que no total dos países inquiridos atinge os 30 por cento, deve servir como um desafio aos responsáveis católicos de todo o mundo, para “não descansarem na forma”.
“Esta distância e sobretudo o ‘às vezes acredito, outras vezes não’, é uma matéria que pode ser trabalhada pela Igreja, pois quando há dúvidas as coisas ainda estão em aberto” sublinha. Interessa agora “verificar se Portugal acompanha esta tendência”, sustenta ainda, revelando que esse inquérito poderá ser lançado em breve no nosso país.
Fundada em 1975, a IPSOS é atualmente a segunda maior empresa de estudos de mercado e de opinião a nível mundial, com mais de 9 mil colaboradores espalhados por 64 países.
Este tipo de inquérito atrás referido é feito mensalmente, com entrevistas a indivíduos entre os 16 e os 65 anos, e tem uma margem de erro entre os 3,1 e os 4,5 por cento.
Fonte: http://www.comshalom.org/blog/carmadelio/
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