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sexta-feira, 13 de maio de 2011

TUDO ESTÁ NA BÍBLIA

A Bíblia é suficiente em questões de fé?

Penso que o mais preocupante na separação doutrinária existente entre católicos e protestantes se encontra na pergunta do título: “Tudo está na Bíblia?”. À esta pergunta, os protestantes respodem que “sim”, usando a mesma Bíblia usada pelos católicos para dizer que “não”. Por que há tão grande diferença numa pergunta tão simples?

Para entender isto, o importante é analisar o seguinte: os protestantes dizem que tudo está na Bíblia. Se fosse assim, a Bíblia deveria dizê-lo e auto-responder questões que estão contidas nela. Se é como dizem os católicos, que nem tudo está ali, a mesma Bíblia deveria dizê-lo e mostrar que outra coisa existe fora dela.

ARGUMENTOS PROTESTANTES

- Só a Bíblia contém a verdade de Deus.
- Tudo para a salvação está na Bíblia.

Em que se baseiam para afirmar isso? Obviamente, quando pergunto a um protestante sobre a doutrina da “sola Scriptura” (=somente a Bíblia), ele me responde com passagens [bíblicas] que “supostamente” sustentam [sua crença].

Antes de mais nada, quero deixar claro que nós, católicos, CREMOS SIM na Bíblia e sabemos que ela é inspirada por Deus, porque às vezes nos recriminam como se duvidássemos da sua inspiração.

O hino nacional dos protestantes para argüir a “sola Scriptura” é este:

“Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito, inteiramente preparado para toda boa obra” (2Timóteo 3,16-17; versão Valera, 1960).

Analisemos por partes essa passagem;

A primeira parte diz: “toda a Escritura é inspirada por Deus”. É triste que um protestante diga que a Bíblia é a Palavra de Deus baseando-se nela mesma. Se lermos o Alcorão, [veremos que] também diz que é Palavra de Deus e, mesmo assim, um protestante não seguirá Alá por causa disso. Nós, católicos, cremos que a Bíblia é Palavra de Deus porque sabemos, pela História, que Jesus fundou uma Igreja visível e que esta Igreja determinou quais livros deveriam ser considerados como Palavra de Deus e quais não deveriam; nisto, corroboramos com o que ela (a Igreja) diz e não como fazem os protestantes que porque a Bíblia diz então eles crêem. O importante desta passagem é que ela aponta a autoria da Bíblia para Deus; não diz nada que esta Palavra seja a única regra de fé e contenha tudo.

A segunda parte é: que é utíl para várias coisas. A passagem não diz que “SOMENTE a Escritura é útil para…”, o que talvez sim nos faria pensar que nela se encontraria tudo. Um evangélico convertido ao Catolicismo, James Akin, escrevia uma reflexão sobre essa passagem, comparando-a a um martelo. Ele diz: “Um martelo é útil para fixar pregos, porém, não quer dizer que todos os pregos devam ser fixados por martelos”. Com a Palavra é igual. É útil para várias coisas, porém, não quer dizer que todas as coisas devam ser conhecidas pela Bíblia.

A Palavra é uma excelente ferramenta dada por Deus ao homem para que O conheçamos melhor; porém, há que se dar-lhe a sua correta interpretação. Acerca disto, cito o Cardeal John Newman, um sacerdote que fora anglicano e se convertera ao Catolicismo nos últimos anos do século XIX. Ele nos levava a refletir sobre toda a passagem de Timóteo e não apenas os versículos 16 e 17. Paulo diz a Timóteo:

“Porém, persiste tu no que tens aprendido e te convenceste, sabendo de quem aprendeste, e que desde a infância tens conhecido as Sagradas Escrituras, as quais podem te fazer sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus” (2Timóteo 3,14-15).

Entremos na história: Timóteo se tornou bispo de Éfeso muito jovem. Quais Escrituras conheceu na infância? Com certeza, apenas as que pertenciam ao Antigo Testamento, pois na época de Timóteo não existia ainda o Novo Testamento. Portanto, sob a mentalidade protestante de querer provar, com esta citação, que tudo se encontra na Bíblia, deveríamos deixar de lado os Evangelhos, as Epístolas [dos Apóstolos] e o Apocalipse, porque estes [escritos] só foram considerados parte integrante da Bíblia muito tempo depois. Obviamente, ao ver isto, um protestante precisa sacudir a cabeça e refletir; essa passagem não inclui a totalidade dos seus 66 livros como prova de que são os únicos necessários como regra de fé. Desta forma, o cardeal Newman nos fazia ver que esse texto de Timóteo não consegue assegurar que as Escrituras sejam a única coisa necessária como regra de fé.

Outro texto usado pelos protestantes para demonstrar a suficiência da Bíblia é:

“Ademais, fez Jesus muitos outros sinais na presença dos seus discípulos, os quais não estão escritos neste livro. Porém, estes foram escritos para que creais que Jesus é o Cristo e para que, crendo, tenhais vida em seu nome” (João 20,30-31).

Os protestantes dão a entender que, ainda que Jesus tenha feito muitas [outras] coisas, somente as que se encontram na Bíblia são necessárias. Isto é completamente falso. Para começar, estaríamos nos referindo somente ao evangelho de João; então deixaríamos de fora coisas como o Pai Nosso (Mateus e Lucas), a infância de Jesus (Mateus e Lucas), a última ceia com pão e vinho (Mateus, Marcos e Lucas) etc. Este texto não está dizendo que o que está ali nos servirá para fazer tratados doutrinários sobre religião, mas apenas tentando mostrar para os judeus que Jesus é o Messias. Saber isto não nos dará a salvação, pois até os demônios sabem que Jesus é o Messias (Marcos 5).

Se analisarmos, as outras coisas que Jesus fez e não estão na Bíblia foram ensinadas pelos Apóstolos oralmente em suas pregações. Por acaso isto não era importante para as primeiras comunidades cristãs? Ou quando foram escritos os livros, desprezaram o ensino [oral] em decorrência da leitura? E se liam esses textos, não eram os apóstolos quem os explicava?

Um outro texto, pouco usado, mas que já ouvi:

“Pesquisais as Escrituras porque vos parece que nelas tens a vida eterna; e são elas que dão testemunho de mim” (João 5,39).

Como diz muito bem o texto, são os judeus e NÃO Jesus que crêem que na Bíblia encontrarão a vida eterna. Jesus se adapta à mentalidade do seu povo; não busca escandalizá-lo, mas fazer-lhe ver as coisas. Jesus sabe que os judeus crêem encontrar a vida eterna no Antigo Testamento e, por isso, os convida a verem que nessas Escrituras se dá testemunho de que Ele é o Messias.

Novamente, se formos literais como os protestantes, deixaríamos de lado o Novo Testamento. E, assim, qualquer citação que queiram buscar para justificar Lutero será um testemunho contra eles mesmos, pois nunca se referirá à Bíblia por inteiro.

A Escritura usa em muitos trechos a palavra “Evangelho”; nós a entendemos como se se referisse a um dos quatro existentes na Bíblia; porém, na verdade, se refere à TODA a mensagem de Jesus que era pregada pelos Apóstolos. Paulo nos ilustra isso muito bem em sua carta aos Gálatas:

“Vos recordo, irmãos, que o Evangelho com que vos evangelizei não é doutrina de homens” (Gálatas 1,11).

O Evangelho (usado no singular) a que Paulo se refere não é outro senão a mensagem que recebeu do Senhor. Ademais, Paulo nos confirma que suas cartas não contêm as verdades únicas; claramente diz que já os havia evangelizado antes (e deve ter sido oralmente) e agora, na Escritura, apenas os RECORDA, não diz que os evangeliza pela carta. Que os protestantes se detenham aqui e analisem bem isto.

Lendo um texto como Colossenses 3,16 – que fala da Palavra de Cristo – nos faz pensar que se até então não havia Evangelhos, essa Palavra era a Tradição transmitida de geração em geração.

Quando surgiu o filme “Stigmata”, se divulgou uma mensagem de que a Igreja possuía livros ocultos como o Evangelho de Tomé; isto só rendeu fama ao filme, nada mais. A verdade é que esses livros são vendidos em qualquer livraria católica e até eu os lia quando estudava na Universidade. Porém, surge uma pergunta: Por que não foram reconhecidos como parte do Novo Testamento? Quando no séc. II se tentou mostrar que a revelação [pública] de Deus continuava normalmente após o Apocalipse, surgiram livros como o evangelho de Pedro, de Tomé, o proto-evangelho de Tiago etc. Esses livros não foram acolhidos pela Igreja.

Mas se até esse momento não havia um Novo Testamento, como sabiam que não deveriam considerar esses livros? Onde estava a Bíblia como regra de fé para excluí-los?

Foi a Igreja, com a autoridade que tinha de ligar e desligar, concedida por Cristo, que determinou que esses livros não estavam de acordo com O ENSINAMENTO dos Apóstolos, ou seja, com a Igreja nesse momento (ela não disse que ia contra a Escritura nesse momento!). Analise-se o por quê da Igreja ter autoridade para determinar a Bíblia.

O QUE DIZ A BÍBLIA

Visto que já sabemos que as passagens ensinadas pelos protestantes como provas da “sola Scriptura” estão mal interpretadas, verifiquemos agora como a Bíblia expressa que o que está escrito não é o único [regramento].

Comecemos pela era apostólica. Sabemos que Paulo foi o primeiro a escrever e sabemos que em sua Carta aos Coríntios fala da Última Ceia. Como aprendeu isto se ele não estava lá [na Ceia]? Certamente, não leu em parte alguma, pois até então não existia nenhum livro do Novo Testamento. De alguma pregação dos apóstolos é que aprendeu este mistério. Isto quer dizer que o ensino oral era o que berçava as primeiras comunidades cristãs.

São João, em sua segunda Carta, expressa:

“Tenho muitas outras coisas para escrever-vos, porém, não quero fazê-lo por tinta e papel, pois espero ir até vós e falar-lhes face a face, para que nosso gozo seja completo” (2João 1,12).

João não está dizendo que quer ir explicar-lhes a carta; para ele, é mais importante o ensino que lhes possa dar oralmente ao invés daquele lido em suas cartas. João sabe que ao ir pregar-lhes oralmente, o gozo dos fiéis será completo. Ademais, Jesus mandou que pregasse e não que escrevesse (Mateus 28,20); tão somente cinco apóstolos decidiram escrever: Pedro, João, Tiago Menor, Judas e Mateus; mas TODOS os Doze pregavam sem papel.

A razão pela qual se passou a escrever Cartas foi a impossibilidade dos Apóstolos alcançarem todos os povos. Perante esta situação, as cartas eram usadas para fazer-lhes algumas recomendações e exortações, PORÉM, NUNCA SUBSTITUÍRAM o ensino oral. Se lermos as Cartas, veremos que há muitas coisas que as comunidades deviam saber para que os autores apenas fizessem recomendações sobre elas. Eles não estendem suas cartas para ensinar-lhes coisas novas.

- Na Carta aos Coríntios, Paulo não os ensina como fazer a fração do pão, mas bem os repreende pela forma com que celebravam (1Coríntios 11).
- Na Carta aos Hebreus, não lhes repete os primeiros ensinamentos sobre Cristo; lhes dá por conhecidos (Hebreus 6,1-3).

Se lermos a Carta aos Gálatas, diz:

“Quisera estar convosco agora mesmo e mudar de tom, pois estou perplexo quanto a vós” (Gálata 4,20).

Paulo está consciente de que um povo deve estar escutando a pregação adequada para cada circunstância. Por isso fala em “mudar de tom”. Com a simples Escritura, isso não era possível e, por essa razão, Paulo desejava ir à Galácia para fazer-lhes ver as coisas mediante um tom de voz apropriado. Se, por exemplo, alguém deixasse um recado a outra pessoa sobre algo, esta, quando chegasse, não saberia em que tom foi dito se a pessoa que tomou o recado não disser-lhe pessoalmente. Imagine-se, então, quando se tratar de levar o Evangelho de Cristo!

Fica-nos claro, assim, como a própria Escritura não busca ser autosuficiente, mas uma ferramenta a mais de Deus para comunicar-Se ao homem. Não que esteja abaixo da pregação apostólica, mas sujeita a esta.

FALTA ALGO IMPORTANTE NA BÍBLIA…

Comecemos por uma pergunta simples:

Se tudo está na Bíblia, em que passagem dela se diz que o Novo Testamento deve conter 27 livros e quais são esses livros?

Nenhum protestante a encontrará. Quem decidiu [essa matéria]? Geralmente, os protestantes se fazem de distraídos quanto a isto. Posso dizer isso porque eu lhes tenho feito essa pergunta e a resposta mais comum é: “O Senhor o revelou pelo Espírito Santo”.

Ahhhhh! Isso foi revelado pelo Espírito, mas quando falamos de algo que a Igreja ensina e não está na Bíblia, e dizemos que foi revelado pelo Espírito, aí não pode ser. Um cristão não se acomoda à árvore que oferece mais sombra.

Que dizemos nós, católicos?

Dizemos que há uma só Revelação dada pelo Espírito Santo; e que esta Revelação está contida na Sagrada Escritura e na Sagrada Tradição. Ambas procedem da mesma fonte, diferenciando apenas na forma em que se manifesta.

Então, vemos que para os católicos existe algo à parte da Bíblia: a Tradição.

A respeito da Tradição, os protestantes têm buscado classificá-la como coisa de homens e não como revelação de Deus. Primeiro, mostrarei as citações que eles usam para atacar a Tradição. Antes, porém, cabe dizer que, para eles, qualquer passagem em que apareça a palavra “tradição” já se refere ao que dizem os católicos; mas isso é falso.

“Assim, invalidastes o mandamento de Deus por vossa tradição” (Mateus 15,6).

Nesta passagem, Jesus condena os fariseus porque davam mais importância a uma tradição judaica como “lavar as mãos” do que cumprir o mandamento de Deus. Esta passagem não vai contra a Sagrada Tradição ensinada pela Igreja, já que esta Tradição está baseada no ensinamento de Jesus transmitido oralmente, e não em tradições judaicas. De todo modo, analisemos algo: a palavra grega para “tradição” se traduz como “paradosis”; é a mesma palavra usada em Tessalonicenses:

“Assim, irmãos, estai firmes e retei a doutrina que aprendestes, seja por palavra ou por carta nossa” (2Tes. 2,15).

O interessante é que os evangélicos tenham usado esta palavra e a tenham traduzido por “doutrina”, que possui outra palavra em grego, “didaskaleo”. É certo que aqui se poderia usar doutrina ou tradição, mas POR QUE quando se refere aos homens colocam “tradição” e quando se refere ao ensinamento apostólico usam “doutrina”? Ora, por que não deixar em ambos os casos “tradição”, se assim está mais de acordo com o texto grego? Isto é o que os seguidores protestantes não sabem, como os seus líderes jogam com a Bíblia, fazendo crer que os Testemunhas de Jeová são os únicos que a alteram (1). Seja como for, a última citação nos faz ver que os próprios apóstolos apoiavam qualquer das formas de ensino: oral e escrito.

Outra passagem modificada é 1Cor 11,2, onde se altera a palavra “tradições” para “instruções”, que tem outro significado em grego, “paideia”, nunca “paradosis”. É triste ver um protestante vangloriar-se da “sola Scriptura” sendo que até esta foi alterada (se os protestantes não crêem nisto, podem conferir consultando uma tradução interlinear espanhol-grego editada por eruditos sérios).

Outra citação usada pelos protestantes é:

“Olhai para que ninguém vos engane por intermédio de filosofias e vãs sutilezas, segundo as tradições dos homens” (Colossenses 2,8).

Novamente, esta passagem é usada apenas porque aparece a palavra “tradições”. Se entendermos o motivo da Carta aos Colossenses, poderemos ver que essa comunidade estava sendo invadida por novas ideologias que não correspondiam com o ensino apostólico e, por tal razão, Paulo a adverte para que não se deixe levar por isso. Essas correntes iam contra o que ensinavam ORALMENTE os apóstolos e não contra a Escritura. Como entender que isto não era o que a Igreja chama de “Tradição”? O próprio São Paulo responde esta pergunta em sua Carta a Timóteo:

“O que ouviste de mim perante muitas testemunhas, encarrega a homens fiéis, que sejam idôneos, para ensinar também a outros” (2Timóteo 2,2).

Se lermos bem, aqui são mencionadas quatro gerações consecutivas: 1-Paulo, 2-Timóteo, 3-Homens escolhidos por Timóteo e 4-Homens ensinados pelos homens imediatamente precedentes. Isto é o que a Igreja Católica chama de Sagrada Tradição: o ensino dos Apóstolos transmitido de geração em geração sob o selo do Espírito Santo; este ensino não é literal na Bíblia, mas se apóia nela e nunca a contradiz.

Poderiam refutar: “Como saber se este ensino se manteve sem intromissão humana?”. Partamos da base: Jesus. Ninguém duvida de que o que ensinou Jesus aos seus apóstolos foi diferente do que eles pregaram. Como puderam eles entender essas coisas? Muitas vezes os apóstolos não compreendiam a mensagem de Jesus (Mateus 15,16; 16,9), porém, chegou um momento em que eles puderam entender TUDO:

“Então se lhes abriu o entendimento, para que compreendessem as Sagradas Escrituras” (Lucas 24,45).

A partir desse instante, os Apóstolos entenderiam todos os mistérios contidos no Antigo Testamento e, assim mesmo, PODERIAM DISCERNIR quais livros conteria o Novo Testamento.

Apenas eles tiveram acesso a esse conhecimento?

NÃO. Jesus disse que lhes enviaria o Espírito Santo:

“Porém, quando vier o Espírito da Verdade, ele vos guiará a toda verdade (…) e vos fará saber as coisas que hão de vir” (João 16,13).

Ou seja, que o Espírito Santo ensinaria coisas novas. Essa presença ultrapassaria a morte dos Apóstolos, por isso, eles transmitiram seus conhecimentos a uma nova geração sob a ação do Espírito. O livro dos Atos nos mostra como foram escolhidos os sete diáconos:

“Buscai, pois, irmãos, dentre vós, a sete varões de bom testemunho, cheios do Espírito Santo” (Atos 6,3).

Mais adiante, se verá que este serviço se outorgava com a imposição das mãos sobre os diáconos (Atos 6,6). Que se obtia com isto? Que o ensino, conforme testemunhado pelo Espírito, não se perdia, igual ao que se sucedeu a Timóteo, em 1Tim. 4,14.

Se prosseguirmos lendo os Atos, veremos que estes diáconos possuíam a sabedoria para conhecer os mistérios do Antigo Testamento. Por exemplo, Estevão (At. 7) e Felipe (At. 8,26-39), sendo simples diáconos, tinham a mesma sabedoria dos Apóstolos. Isto não se pode explicar por outra razão senão a ação do Espírito Santo para manter a unidade da Igreja em uma só fé. Eles não leram as Escrituras como única forma para se alcançar a vida eterna. Foi a Tradição da Igreja que os levou a professar sua fé, fé que sempre esteve de acordo com as Escrituras desde então.

Tentar entender a Escritura sem a Tradição faz com que se criem muitas heresias, como as de Ário. Ele pensava que Jesus era Filho deDeus, mas apenas como forma de linguagem. Interpretando a seu modo a passagem de Colossenses 1,15, chegou a dizer que Cristo era uma criatura de Deus, o que ia contra o ensino da Igreja Católica sobre a Divindade de Cristo. Esta é uma amostra de que apenas os delegados por Cristo podem interpretar corretamente a Palavra de Deus, já que são eles os depositários da fé. A esse respeito, diz Paulo a Timóteo:

“Guarda o mandato, preservando-o de tudo o que possa manchá-lo ou adulterá-lo até a vinda gloriosa de Cristo Jesus, Senhor nosso” (1Tim. 6,14).

Isso é o que tem feito o Magistério da Igreja: preservar a mensagem de Cristo tal como Ele a pregou; por isso, eu peço para que busquem, com fundamento, nestes dois mil anos de história da Igreja, alguma doutrina alterada em algum ponto.

O impacto que tem na inteligência de um protestante essa doutrina da “sola Scriptura” os leva a querer justificar tudo ali, porém não são coerentes. Há uma pergunta que faço a eles para analisar esse fenômeno: “Crês no Purgatório?”; “Não, claro que não. Isso não está na Bíblia!”. Perante essa resposta, volto a perguntar-lhes: “Como não está? O que significa a palavra ‘purgatório’?”. Muitos se calam porque nem sequer sabem o que é realmente o Purgatório; já não sabiam quando eram “supostamente” católicos, muito menos agora!

Em geral, como os protestantes têm distorcido as nossas doutrinas, acabam por não querer entendê-las. De todo modo, embora a palavra “purgatório” não apareça na Bíblia, seu conteúdo está ali implicitamente. Então volto a perguntar aos protestantes: “Por que crês na Trindade se não aparece na Bíblia?”. Eles me dizem: “Claro que está. Está implícita!”. Eu lhes respondo: “O Purgatório também está implícito, mesmo que não apareça a palavra”. Eles se calam e se vão. Realmente, não entendo por que um questionamento como este não lhes faz sacudirem a cabeça para que caia a venda colocada pela sua igreja, que oferece-lhes uma meia-verdade, e mal-interpretada.

Seja como for, reflitamos algo. Ainda que se tenha deixado a Sagrada Tradição imperar como regra de fé juntamente com a Sagrada Escritura durante quinze séculos, não houve debilitação da unidade da fé. Apenas a Martinho Lutero se lhe ocorreu, para justificar as suas doutrinas, renunciar a Tradição da Igreja para ficar apenas com a Bíblia; daí surgiram milhares de seitas diferentes sob a denominação protestante: luteranos, calvinistas, pentecostais, evangélicos, testemunhas de jeová, mórmons, adventistas, moonistas etc. (não terminaria de enumerá-las), todas elas crendo ser as únicas donas da verdade. Se fizermos um exame da vantagem desta doutrina inventada há seis séculos, veremos que se tornou na pior fase do Cristianismo: uma amostra de que se trata de doutrina humana!

A Tradição, ainda que sustentada por homens, pelos sucessores de Pedro na sé apostólica, nunca levou a erros doutrinais. Jesus preservou a fé de Pedro, dando a entender que, com relação à doutrina, sempre teria a verdade, embora não tenha feito o mesmo acerca do seu comportamento humano; a prova é que negou a Jesus, deu mau exemplo quando Paulo o advertiu, visto que seu comportamento não ia de acordo com os seus ensinamentos. Portanto, ainda que muitos argumentem contra os papas e coisas [más] que possam ter feito, tais atos são errôneos em seu comportamento, nunca porém atingiram pontos doutrinários.

De toda forma, a verdade é uma: nem tudo está na Bíblia. Deus se nos manifestou na Escritura e na Tradição, no que se escreveu e no que se pregou.

—–
(1) O autor do artigo faz alusão à tradução espanhola da Bíblia de Reina-Valera, de pena e uso protestante [NdoT].

Autor: Anwar Tapias Lakatt (Colômbia)

Fonte: www.apologetica.org / www.veritatis.com.br

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