Excertos resumidos do livro “Guia Politicamente Incorreto da América Latina”, de Leandro Narloch e Duda Teixeira
Stalinista convicto
“Para aqueles cidadãos de Cuba que trabalharam, tiveram idéias empreendedoras, arriscaram seu dinheiro em novos negócios, prosperaram com o turismo e a exportação de açúcar e lutaram pela democracia, o recado de Che era claro:
Jurei ante um retrato de velho camarada [Josef] Stálin não descansar até ver aniquilados estes polvos capitalistas” (p. 37)
Che, o odiento
“O ódio como fator de luta, o ódio intransigente ao inimigo, que impulsiona para além das limitações naturais do ser humano o converte em uma efetiva, violenta, seletiva e fria máquina de matar. Nossos soldados têm de ser assim; um povo sem ódio não pode triunfar sobre um inimigo brutal.” (p. 48)
Os assassinatos
“O primeiro cubano morto diretamente por Che Guevara foi Eutimio Guerra, um camponês que servia de guia aos guerrilheiros de Sierra Maestra. Acusado de ser informante das forças armadas, ele teve a pena de morte autorizada por Fidel em fevereiro de 1957. A identidade do executor de Eutimio ficou em segredo por 40 anos. Só em 1997, depois que o biógrafo John Lee Anderson conseguiu com a viúva de Che o original de seu diário, foi possível saber quem o matou. O guerrilheiro conta que, no momento de sua execução, um forte temporal caiu sobre a terra. Como ninguém se dispunha a cumprir a ordem, ele tomou a iniciativa. Repare na frieza da narrativa:
‘Era uma situação incômoda para as pessoas e para [Eutimio], de modo que acabei com o problema dando-lhe um tiro com uma pistola calibre 32 ao lado direito do crânio, com o orifício de saída no temporal direito. Ele arquejou um pouco e estava morto. Ao tratar de retirar seus pertences, não consegui soltar o relógio, que estava preso ao cinto por uma corrente e então ele [ainda Eutimio] me disse, numa voz firme, destituída de medo: ‘Arranque-a fora, garoto, que diferença faz…’. Assim fiz, e seus bens agora me pertenciam. Dormimos mal, molhados, e eu com um pouco de asma.’ No diário de Che não há sinal de culpa ou de alguma inquietação quanto à execução. Horas depois da morte do camponês, seus interesses já eram outros. ‘Se Che ficou perturbado com o ato de executar Eutimio, no dia seguinte não havia qualquer sinal disso’, escreve Anderson. ‘No diário, comentando a chegada à fazenda de uma bonita ativista do 26 de Julho, escreveu: [Ela é uma] grande admiradora do Movimento e a mim parece que quer foder mais do que qualquer outra coisa’.
Segundo o Arquivo Cuba, foram pelo menos 22 execuções na Sierra Maestra entre 1957 e 1958. Quase todas as vítimas eram membros do próprio grupo rebelde de Fidel Castro e Che Guevara – três acusados de querer abandonar o grupo, oito considerados suspeitos de colaborar com o exército e os outros 11 mortos por cometer crimes ou por razões desconhecidas.
No dia a dia de paranóias e crises de confiança entre os guerrilheiros da Sierra Maestra, Fidel Castro tinha de segurar a onda de Che Guevara. O argentino com freqüência sugeria acabar com companheiros diante da menor desconfiança. Depois que os guerrilheiros ganharam comida na casa de uma família de camponeses e passaram mal, Che disse a Fidel para que voltassem lá para tirar satisfações – Fidel o deteve. A pressa em resolver as coisas à bala recaía até mesmo sobre companheiros antigos, como José Morán, ‘El Gallego’, um veterano do Granma. Diante da suspeita de que Morán traía o grupo, Che queria logo executá-lo. ‘É muito difícil saber a verdade sobre o comportamento do Gallego, mas para mim trata-se simplesmente de uma deserção frustrada’, escreveu em seu diário. ‘Aconselhei que ele fosse morto ali mesmo, mas Fidel descartou o assunto.’ Fidel acabaria se tornando o líder do regime não democrático mais duradouro do século 20. Imagine se Che assumisse esse posto.
De acordo com a organização Arquivo Cuba e dezenas de dissidentes cubanos, a invasão foi seguida por uma onda incontrolável de execuções. Policiais da cidade e moradores acusados de colaborar com o governo de Fulgêncio Batista foram mortos na rua. Che ficou dois dias e meio na cidade e logo seguiu caminho para Havana. Antes de ir embora, ordenou diversas execuções a serem cumpridas por seus subordinados. Matou ou ordenou a execução de 17 moradores. A decisão de tantas mortes não foi baseada em julgamento nem houve qualquer possibilidade real de defesa. Domingo Alvarez Martínez, do serviço de inteligência das forças armadas, cuja sentença de morte foi assinada por Che em 4 de janeiro de 1959, foi morto na frente do filho de 17 anos.
Logo depois, em janeiro de 1959, Che foi nomeado comandante do presídio do Forte de La Cabaña e chefe dos Tribunais Revolucionários que aconteciam ali. Eram enviados para aquele presídio mulheres, políticos anticomunistas, companheiros rebeldes que divergiam da cúpula da revolução, cidadãos que oferecessem resistência à nova ordem revolucionária e até mesmo parentes de opositores que haviam fugido da ilha. Os números de mortos quando La Cabaña era chefiada por Che variam muito. O Arquivo Cuba lista o nome de 104 vítimas. Já os cubanos que foram presos ou trabalharam no presídio falam em até 800 mortes até o fim de 1959. Para o cargo de juiz dos Tribunais Revolucionários, Che designou Orlando Borrego, um rapaz de 23 anos sem qualquer formação em direito. José Vilasuso, que tinha acabado de se formar advogado, virou assistente na preparação das sentenças. É bom preparar o estômago antes de ler o que Vilasuso, décadas depois, lembra daquela época:
‘Muitas pessoas se reuniam no escritório de Che Guevara e participavam de agitadas discussões sobre a Revolução. No entanto, as falas de Che costumavam ser cheias de ironia – ele nunca mostrava nenhuma alteração de temperamento ou dava atenção a opiniões diferentes. Ele dava reprimendas em particular e em público, chamando a atenção de todos: ‘Não demorem com esses julgamentos. Isso é uma revolução: provas são secundárias. Temos que agira por convicção. Eles são uma gangue de criminosos e assassinos’.
As execuções aconteciam nas primeiras horas da manhã. Assim que uma sentença era transmitida, os parentes e amigos caíam em prantos horríveis, suplicando piedade para seus filhos, maridos etc. Diversas mulheres tinham que ser tiradas de lá à força. Aconteciam de segunda a sábado, e em cada dia um a sete prisioneiros eram executados, às vezes mais. Casos de pena de morte tinham carta-branca de Fidel, Raúl ou Che e eram decididos pelo tribunal ou pelo Partido Comunista. Cada membro do esquadrão da morte ganhava 15 pesos por execução. Os oficiais, 20.
Em frente ao paredão, cheio de buracos de balas, eram abandonados os corpos agonizantes, amarrados em paus, ganhados em sangue e imóveis em posições indescritíveis, com mãos convulsivas, expressões tenebrosas de choque, mandíbulas fora do lugar, um buraco onde antes havia um olho. Alguns dos corpos, por causa do tiro de misericórdia, tinham o crânio destruído e o cérebro exposto.’
Nem menores de idade ficaram de fora da pena de morte instituída por Che Guevara. No fim de 1959, um garoto de 12 ou 14 anos chegou ao presídio de La Cabaña sob a acusação de ter tentado defender o pai antes que os revolucionários o matassem. Dias depois, o garoto foi levado ao paredão com outros dez prisioneiros. ‘Perto do paredão onde se fuzilava, com as mãos na cintura, caminha Che Guevera de um lado para o outro’, escreveu Pierre San Martín, um dos prisioneiros de La Cabaña. ‘Deu a ordem para trazer antes o garoto e o mandou se ajoelhar diante do paredão. O garoto desobedeceu à ordem com uma valentia sem nome e ficou de pé. Che, caminhando por trás do garoto, disse: ‘Que garoto valente’. E deu um tiro de pistola na nuca do rapaz’.
Assassinos de renome internacional ajudaram Che e Fidel nos expurgos. O americano Herman Marks, condenado por assalto, roubo e estupro, virou um dos principais atiradores de La Cabaña.
Anos depois da Revolução Cubana, já guerrilheiro famoso com a tomada de poder em Cuba, Che rodou o mundo propagandeando o comunismo. Participou em 1964 da Conferência das Nações Unidas, em Nova Iorque. Durante o discurso, disse:
‘Fuzilamentos? Sim, temos fuzilado. Fuzilamos e seguiremos fazendo isso enquanto for necessário. Nossa luta é uma luta à morte.’
Che também foi tirano com seus companheiros na Bolívia. Segundo o brasileiro Cláudio Gutierrez, participantes do grupo de Che ‘foram executados pelos próprios companheiros de esquerda incrivelmente pelo consumo escondido, e solitário de latas de leite condensado’. Entre os mortos estaria Luís Renato Pires de Almeida, que até hoje consta da lista de vítimas da ditadura militar brasileira…’
Como se vê, os paredões e as execuções sumárias cometidas por Che Guevara não são novidade. Ele deixou claro ter diversos argumentos racionais para a violência, não sofria com dilemas morais ao matar e até se orgulhava de ter cometido assassinatos de motivação política. Essas frases e histórias estão disponíveis a qualquer pessoa que se interesse pela vida do guerrilheiro tanto em vídeos de seus discursos na internet quanto nos seus diários. Até mesmo as biografias mais adulatórias deixam passar um pouco de sua psicopatia. Por isso não dá para entender por que Che Guevara, um homem envolvido em pelo menos 144 mortes, segundo o maior banco de dados sobre as ditaduras da direita e da esquerda em Cuba, é reverenciado justamente por ativistas que fazem protestos politicamente corretos contra a pena de morte, a tortura, a redução da maioridade penal e a perseguição política. O movimento Madres de La Plaza de Mayo, que tenta promover o julgamento e a condenação de assassinos políticos na Argentina, inclui a íntegra de textos de Che Guevara numa de suas publicações, dá cursos sobre ele e divulga livros sobre as boas intenções do guerrilheiro. O grupo Tortura Nunca Mais, que pede a punição de pessoas responsáveis por mortes e desaparecimentos durante a ditadura militar no Brasil, deu a Che Guevara, em homenagem póstuma no ano de 1997, a Medalha Chico Mendes de Resistência. Segundo o grupo, o mérito é concedido (sem ironia), a pessoas que lutaram ou lutam pelos direitos humanos. Contradições assim sugerem o seguinte: ou esses ativistas não sabem quem foi Che Guevara, ou não são realmente contrários aos assassinos e aos torturadores. São contrários apenas a assassinos e torturadores com quem não concordam.” (pp. 53-60)
Desastroso à frente do Governo Cubano
“No fim de 1959, Che deixou a direção do presídio do Forte de La Cabaña. Passou a ocupar o cargo de presidente do Banco Nacional e, logo depois, o de ministro da Indústria de Cuba. Durante quatro anos, coube a ele repensar todo o sistema monetário da ilha, as recompensas aos trabalhadores e o critério para definir o preço de milhões de produtos. Durante essa experiência administrativa, o guerrilheiro produziu textos impagáveis sobre economia. Estão lá as três propostas acima. Contrário ao uso de incentivos materiais aos trabalhadores, para ele herança maldita do capitalismo, Che tentava achar um meio de incentivar os cubanos a trabalhar e desenvolver seu conhecimento profissional. Os modos que sugere para resolver esse problema são o controle, a punição e o castigo. ‘O importante é destacar o dever social do trabalhador e castigá-lo economicamente quando não o cumprir’, escreveu ele na Nota sobre o Manual de Economia Política da Academia de Ciências da URSS. ‘O não cumprimento da norma significa o não cumprimento de um dever social; a sociedade castiga o infrator com o desconto de uma parte de seus rendimentos. Aqui é onde devem se juntar a ação do controle administrativo com o controle ideológico.
Em diversas passagens, Che atribui à educação o papel fundamental de fazer as pessoas se disciplinarem e encararem o trabalho como um sacrifício, sem se importarem com interesses individuais. Segundo ele, a sociedade socialista ‘deve exercer a coerção dos trabalhadores para implantar a disciplina, mas fará isso auxiliada pela educação das massas até que a disciplina seja espontânea.’ A disciplina deveria chegar ao ponto de fazer os trabalhadores abrirem mão das férias e voltarem à fábrica sem ganhar mais por isso. Numa reunião administrativa de outubro de 1964, o governante disse aos seus companheiros que ‘é necessário estabelecer uma campanha para o trabalho nas fábricas durante as férias, instrução que já foi dada aos diretores’.
Nos 15 meses em que foi diretor do Banco Nacional, Che ia trabalhar vestido com seu uniforme militar verde-oliva e revólver na cintura. É difícil imaginar um chefe mais arrogante. Ele fazia convidados e subordinados esperarem horas para ser atendidos e os recebia com a prepotência dos pés sobre a mesa de trabalho. Ignorava as tarefas de seus funcionários, reduziu os ganhos de quase todos eles e convocou espiões para perseguir pessoas das quais desconfiava. Uma delas foi o economista José Illan, ex-vice ministro de Finanças do governo provisório de Cuba. ‘Che era um médico que tinha a presunção de saber tudo, mas não era minimamente preparado para os cargos aos quais foi nomeado’, afirma ele. Logo depois de assinar um decreto que desagradou Che, o economista Illan foi ameaçado de prisão e precisou fugir da ilha com a família. Assim como ele, mais da metade dos funcionários abandonou o banco em menos de um ano.” (pp. 62-64)
Fonte Eletrônica;
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