Não sei se todos os meus leitores concluem do mesmo jeito, mas existe uma religião imediatista, mágica, às vezes infantil que nos dá recados quase que diários de Deus. Entusiasmada com as maravilhas que Deus fez e faz, a alma que repousa no colo Dele e para quem tudo vai bem, põe uma lente cor de rosa. É esse Deus maravilhoso que ela anuncia.
Tudo é bonito, tudo é suave, tudo é maravilhoso, tudo é grandioso. Pode até ser que uma parte da vida dessas pessoas seja isso, como aliás uma parte da vida da maioria das pessoas são riachos, regatos, flores, nuvens brancas, céu azul, suavidade.
Depois existe a outra parte e esta também é real: as incompreensões, as críticas, as ofensas, os empecilhos, as tentações, os sofrimentos e cruzes, as enfermidades não resolvidas, os conflitos agigantados, as ingratidões. Tudo isso também faz parte da vida da mesma vida que Deus nos deu. Ela não acabou com a dor humana num estalo de seus dedos infinitos, dedos que Deus não tem. Não é que Deus queira isso; mas o fato é que acontece. Então, o certo seria anunciar uma fé feita de sim e de não, de flores e de espinhos, de águas limpas e de águas poluídas, de graças e de pecados, porque esta é a realidade.
A vida não é cor de rosa, nem a fé! Uma Igreja que admite que tem pecados e até pede perdão por eles a cada eucaristia, está muito mais perto da maturidade do que uma Igreja que esconde o fato de que tem pecados e acentua apenas os seus sucessos e sua santidade.
É marketing cor de rosa, por conseguinte, falacioso.
Uma Igreja que permite que fale ao microfone o fiel que foi curado, mas nega o microfone para o fiel que dois meses depois volta dizendo que não foi curado, no mínimo é maliciosa e mal intencionada.
Igrejas que se pautam pela verdade admitem as luzes e as sombras; têm cruz, têm túmulo e têm ressurreição. Por isso o pregador que disse no rádio: “- Sorria, Deus está olhando pra você”, poderia ter dito também: “- Chore à vontade, Deus está olhando pra você”.
Igrejas cor–de–rosa acabam mudando de cor quando a dor acontece. É bem melhor a Igreja realista que administra a cruz e a ressurreição no coração do seu fiel. Crentes deslumbrados tentam ver o milagre onde o milagre não existe, ver o demônio onde o demônio não existe e, às vezes, de tanto procurar o sobrenatural e o deslumbrante, não conseguem ver a realidade que lhes roça os olhos.
Lembram o sujeito que abre um livro e não consegue ler o seu conteúdo porque o nariz está perto demais da página. Não toma a devida distância. Não tendo perspectiva não conseguirá ler. Para que saibamos que algo é milagroso ou não, teríamos que ter a devida perspectiva. Se quisermos desesperadamente ver milagres, veremos milagres, mas o milagre, quando existe, desafia o seu questionador.
Há pessoas que desesperadamente querem provar que não foi milagre embora a ciência, até onde chegou admite que não tem explicação. Se um dia terá, há de ser uma outra história, mas, por enquanto, um fato difícil de explicar pode ser chamado de milagre. Que um câncer desapareça em questão de dois ou três dias é algo que a ciência não sabe explicar. Então, os religiosos tem razão ao proclamar que milagre é fruto da oração, embora haja ateus que peremptoriamente, quase que desesperadamente garantam que a oração não muda absolutamente nada.
Quem dos dois está mais perto da verdade? Provar que Deus existe não é fácil, mas provar que Ele não existe também não é. Não é tudo assim tão claro, nem para o cientista ateu, nem para o crente que estuda a vida e seus fenômenos.
Padre Zezinho
FONTE ELETRÔNICA;
http://macabeuscomunidades.blogspot.com.br/2012/08/religiao-imediatista.html
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