Todo estudante americano sabe que os peregrinos desembarcaram em Plymouth Rock, mas eles sabem qual a Bíblia que os peregrinos usaram? A maioria das pessoas, se questionadas, diria que os puritanos usaram a boa e velha King James Version (Versão Do Rei Tiago - KJV). Errado. A Bíblia King James foi a “Versão Autorizada” da igreja estabelecida na Inglaterra e os puritanos eram dissidentes religiosos desta igreja. A Bíblia dos puritanos por escolha foi a Bíblia de Genebra, que foi traduzida pelos protestantes que fugiram da Inglaterra para Genebra durante o reinado da rainha Maria.
A Bíblia de Genebra foi inovadora para as Bíblias impressas. Foi a primeira Bíblia a atribuir capítulo e versículos ao texto e as suas copiosas notas marginais, qualificaram-na como a primeira Bíblia de Estudo. As notas marginais eram de uma perspectiva “Reformada” e a Bíblia de Genebra (1599) ainda é reverenciada por muitos protestantes “reformados” hoje.
Como quase todas as Bíblias protestantes antigas, a Bíblia de Genebra continha os Deuterocanonicos reunidos em um apêndice entre o Antigo e Novo Testamento, intitulado “Apócrifos” (Na direita - a tabela de 1599 do conteúdo da bíblia de Genebra). Por “apócrifo”, os primeiros “reformadores” entendiam que eram aqueles livros que são bons e benéficos para os cristãos lerem, mas não com a finalidade de confirmar a doutrina.
A Bíblia de Genebra também ostentou (como as primeiras edições de suas contrapartes autorizadas) referências aos “apócrifos” no Novo Testamento. A importância dessas referências não deve ser minimizada, pois elas demonstram que os editores antigos acreditavam que os “apócrifos” tinham um papel integral no texto do Novo Testamento e que os textos referenciados ajudavam o leitor protestante na compreensão e interpretação do Novo Testamento. Com o passar do tempo, esses benefícios foram ofuscados pelo preconceito anti-católico e o desejo de minimizar os livros que a Igreja Católica sempre afirmou e reafirmou como Escritura Inspirada. As referências lentamente começaram a desaparecer das margens da Versão do Rei Tiago e da Bíblia de Genebra, até que todas elas e os “apócrifos” desaparecessem completamente.
A seguir, os exemplos mais interessantes das referências aos “apócrifos” que foram omitidos (suprimidos?) em edições posteriores.
Genebra 1560 - Mateus 27, 43 / Sabedoria 2, 18
Genebra 1599 – Sabedoria Omitida
A edição de 1560 da Bíblia de Genebra listava duas referências cruzadas para Mateus 27,43, o Salmo 22, 9 e a Sabedoria 2, 18. Ao contrário do Salmo 22, 9, somente Sabedoria 2, 18 liga a promessa de Deus de resgatar o Justo que clamava ser o Filho de Deus. No entanto, a edição 1599 da mesma Bíblia mantém apenas Salmo 22, 9 substituindo Sabedoria 2, 18 como uma referência cruzada para o Evangelho de Mateus.
Genebra 1560 - Tiago 3, 2 - Eclesiástico
Genebra 1599 – Omitido
A edição de 1560 dá a Tiago 3, 2 três referências cruzadas consecutivas ao livro do Eclesiástico (Eclo. 14, 1; 19,16 e 25, 11). Não há nada mais claro que essas referências. Ainda assim, é interessante que os editores da edição de 1560 viram várias referências a Eclesiástico, enquanto os editores da1599 omitiram totalmente todas.
Genebra 1560 - Hebreus 1, 3 – Saberia 7, 26
Genebra 1599 - Omitido
A edição de 1560 oferece uma importante referência de Hebreus 1, 3 a Sabedoria 7, 26. Hebreus fala de Jesus como o “esplendor” (Bíblia de Genebra “brilho”) da glória de Deus. A palavra grega “Apaugasma” é usada apenas em Hebreus 1, 3 e Sabedoria 7, 26 na Bíblia grega. Além disso, o contexto da descrição do livro da Sabedoria a respeito da Sabedoria personificada lança muita luz (trocadilho intencional) sobre quem é Jesus. Infelizmente, os leitores da edição de 1599, foram deixados no escuro quanto a esta conexão.
Genebra 1560 - Hebreus 11, 5 - Omitido
Genebra 1599 - Referência a II Macabeus
A edição 1560 de Genebra estranhamente omite uma referência a II Macabeus 7, 1-42 em Hebreus 11,35, embora a ligação entre estes dois textos seja incontestável. Não é só Macabeus 7, 1-42 o único lugar na Bíblia grega, onde as pessoas sofreram tortura e morte explicitamente por a sua esperança na ressurreição (II Macabeus 7, 9, 11, 14, 23, 29), mas Hebreus 11, 35-36 descreve o seu sofrimento usando as mesmas palavras como Macabeus (tympanizo e empaigmos). A edição 1599 sanou este defeito anterior, não por referências II Macabeus 7, 1-42, mas pela inserção da declaração enigmática: “Ele [o escritor aos Hebreus] diz respeito a perseguição que Antíoco fez.”
Em meu livro, “Why Catholic Bibles Are Bigger: The Untold Story of the Lost Books of the Protestant Bible” (Por que Bíblias católicas são maiores: A História não contada dos livros perdidos da Bíblia protestante) eu narro a morte dos “apócrifos” nas Bíblias protestantes. E, francamente, foi uma das seções mais difíceis de escrever do meu livro já que eu podia ver como muitos protestantes hoje em dia têm sido enganados sem saber de sua herança protestante, porque os editores posteriores estavam envergonhados das crenças dos antecessores. Parecia claro para mim então (como agora) que estas omissões não foram o resultado de superlotação de margens. Elas foram removidos por outra finalidade. Como o teólogo protestante William Daubney explica:
“Claramente, as referências à apócrifos conta uma inconveniente história do uso que a Igreja entendia que deveria ser feito; então... essas referências desapareceram das margens” (a utilização dos apócrifos Na Igreja Cristã (London: Clay e Sons, 1900), 21).
Daí, vemos a antiga forma histórica da Bíblia protestante. Não só isso, mas ainda o mais importante, vemos uma renuncia ainda maior da forma das Bíblias históricas e das antigas bíblicas cristãs, que sempre incluíram os deuterocanônicos entremeadamente no corpo do Antigo Testamento.
Para citar
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MICHUTA, Gary. Apologistas Católicos. A Bíblia de Genebra e os Deuterocanônicos. Disponível em: < http://apologistascatolicos.com.br/index.php/apologetica/deuterocanonicos/533-a-biblia-de-genebra-e-o-os-deuterocanonicos>. Desde: 12/08/2012. Tradutor: Rafael Rodrigues
FONTE ELETRÔNICA;
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