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sexta-feira, 4 de março de 2011

As setenta semanas de Daniel - EB (Parte 2)

No v. 27, a aliança firmada com muitos seria a nova e definitiva aliança estabelecida por Cristo com todo o gênero humano. O sacrifício e a oblação que cessam, seriam o ritual do Antigo Testamento, tornado inútil após o sacrifício de Cristo na Cruz. A devastação do santuário referir-se-ia ao que se deu em 70 d.C., quando os romanos entraram em Jerusalém.

Agora pergunta-se: que dizer de tal corrente exegética?

- A mais de um título, é falha:

a) Ressente-se de um erro fundamental, pois comete circulo vicioso: supõe de antemão que Daniel tenha tido em vista diretamente o Messias (coisa que deveria ser provada) e, a partir desse pressuposto, tenta provar que realmente o Messias como tal é focalizado pela profecia. A data do "decreto" ou da "palavra" (v. 25) é então calculada em função da provável cronologia da vida de Cristo e, para que haja plena convergência entre a profecia e o Evangelho, alguns intérpretes chegam a admitir uma pretensa elevação de Artaxerxes I à co-regência no ano de 474 - hipótese este que é assaz arbitrária, pois não há documentos nem testemunhos para provar que Artaxerxes tenha sido nomeado co-regente de Xerxes.

b) A teoria diretamente messiânica negligencia a perspectiva geral do livro de Daniel. Este tem em mira geralmente os tempos dos Macabeus ou o séc. II a.C.: são assim orientados, de modo especial, os capítulos 7,8, 10 e 11, que cercam a profecia das setentas semanas (c. 9); seria, portanto, muito estranho que o autor sagrado neste vaticínio tivesse fugido ao cenário geral das suas descrições. "Bom número de traços se unem, compenetram e identificam do c. 7 ao c. 12 do livro de Daniel, de modo que, colocados tão perto uns dos outros, logicamente não podem significar coisas diferentes" (l. Bigot, em "Dictionnaire de Théologie Catholique" IV 1911, 102).

c) A exegese judaica geralmente interpretou o oráculo em função da era dos Macabeus, e não diretamente em vista do Messias.

Conscientes destas dificuldades, abalizados exegetas propõem outra sentença, a saber:

II) A interpretação diretamente macabaica (ou referente à era dos Macabeus no séc. II a.C.).

1) Os fautores desta tese partem do princípio de que o decreto ou a palavra mencionada em Dn 9, 25 é a profecia de Jeremias (25, 11-13) concernente à ruína de Jerusalém em 587-86.

Baseados nisto, há exegetas que começam a contar as sete primeiras semanas de anos (cf. v.25) a partir de 587/86; com mais 49 anos (7 x 7 anos), chegam a 538/37, quando justamente apareceu o "Príncipe Ungido", que, segundo ls 45,1, seria Ciro, rei da Pérsia; este, com efeito, em 538/37 promulgou um decreto que permitia aos judeus voltar ao exílio para a Terra Santa e lá reconstruir Jerusalém com seu templo.

A seguir, partindo de 538, tais autores (segundo Dn 9,25) contam 62 semanas de anos, isto é, 434 anos... Pretendem chegar à morte do "Príncipe Ungido", que seria Onias III, Sumo Sacerdote em Jerusalém, o qual, por instigação de Menelau, foi assassinado em 171 a.C. (cf. 2Mc 4,27-50).

Acontece, porém, que entre a intervenção de Ciro (538/37) e a morte de Onias III decorreram 367 anos apenas, e não 434. Já que um desses números não se pode reduzir ao outro, os adeptos de tal sentença se vêem em embaraço... Outros então retomam a explicação nos seguintes termos:

O ponto de partida do cálculo há de ser o ano de 606, em que Jeremias proferiu o seu oráculo concernente à reconstrução de Jerusalém (cf. Jr 25, 11-13). Acrescentadas a este termo sete semanas de anos, atinge-se o ano de 557, em que Ciro se tornou rei de Asan; tem-se então o aparecimento do Ungido do qual fala Dn 9, 25. - Voltemos agora ao ano de 606 e acrescentemos-lhe 62 semanas de anos, isto é, 434 anos; chegamos assim ao ano de 171 a.C., quando de fato outro Ungido que não Ciro, isto é, o sacerdote Onias III foi morto! - A última ou a septuagésima semana estender-se-ia de 171 a 164; ora precisamente no meio desta semana, em 168, Antíoco Epifanes, rei da Síria, fez cessar ou proibiu os sacrifícios e as oblações em Jerusalém (cf. 1Mc 1, 45); profanou o Templo, colocando sobre o altar a estátua de Júpiter Olímpico, ou seja, a "horrível abominação" (o autor de 1Mc repete esta expressão de Dn 9, 27). Antíoco também "firmou aliança com muitos", isto é, procurou aliciar muitos judeus para pactuarem com a cultura helenística pagã. Ter-se-ão assim cumprido os vv. 26 e 27 na época dos Macabeus pelas ímpias façanhas do rei Antíoco.

Segundo esta sentença, a bonança predita em Dn 9,24 seria a restauração do santuário e do culto sagrado realizada pelos Macabeus em reação contra Antíoco; esta restauração (dizem os fautores da sentença) podia muito bem ser predita nos termos grandiosos do v. 24, pois era o prenúncio da plena restauração que o Messias mais tarde devia trazer a Israel; o "Santo dos Santos", no caso, seria o templo de Jerusalém, que foi novamente "ungido" ou dedicado sob Judas Macabeu em 165 a.C., ou, possivelmente, o altar dos holocaustos, que foi consagrado de novo, conforme 1Mc 4,42-58.

Quanto à reconstrução de Jerusalém (com sua praça e seu fosso) mencionada em Dn 9,25, seria a que se deu no séc. V, logo após o exílio ou a volta dos judeus à Terra Santa.

2. Como julgar esta outra tentativa exegética?

A sentença "macabaica" se apresenta, sem dúvida, bem arquitetada. Contudo não pode deixar de suscitar reservas por parte do leitor; principalmente estranho é o processo de volta ao ano de 606 para se contarem as 62 semanas até Onias III (estranho, sim, mas necessário... para que o cálculo dê certo). - Não obstante, esse outro modo de explicar o texto sagrado evita as dificuldades feitas à sentença diretamente messiânica; é, ao menos, mais plausível do que esta, e merece a preferência.

Os autores católicos que admitem a interpretação macabaica de profecia das setenta semanas, estão de acordo em atribuir a este oráculo um sentido tipicamente messiânico, isto é, asseveram que os acontecimentos - inglórios uns, gloriosos outros - ocorridos no período dos Macabeus eram tipo ou figura dos fatos análogos que se deram na época do Messias, ou seja, no séc. I da nossa era, em torno de Jesus Cristo e do Templo de Jerusalém (devastado pelos romanos em 70). Compreende-se assim que Jesus, ao predizer a profanação do Santuário de Israel em 70, tenha podido aludir à "horrível abominação" profetizada por Daniel e já uma vez instalada no Templo sob o rei Antíoco Epifanes em 168 a.C. (cf. Mt 24, 15); Daniel predisse o que havia de se dar - primeiramente na qualidade de tipo durante a era dos Macabeus, depois na qualidade de antítipo, nos tempos do Messias. Dentre os personagens da história mencionada, o Ungido (= Christós, em grego; Messias, em hebraico), Onias seria o tipo de Jesus Cristo; Antíoco, o do Anticristo ou dos poderes deste mundo perseguidores de Cristo. - Além do mais, as expressões do bonança do v. 24 são tão grandiosas e categóricas que muitos intérpretes julgam que não podem significar apenas a purificação do Templo e a restauração do altar verificadas na época dos Macabeus, mas hão de designar os bens messiânicos ou os bens do reino de Deus consumado. Neste caso, o v. 24 deve ser considerado diretamente (e não apenas em tipo) messiânico.

Com efeito, no v. 24 a salvação vindoura é solenemente anunciada em termos negativos (três expressões) e termos positivos (três outras expressões).

O pecado desaparecerá por completo, pois lhe será dado fim (ele será encerrado e selado ou lacrado, diz o texto original hebraico) e as culpas serão expiadas.

Em substituição ao pecado, difundir-se-ão os bens espirituais da era messiânica:

a justiça eterna será introduzida, isto é, não haverá mais tratamento injusto para os cidadãos do Reino de Deus;

visões e profecias serão seladas, isto é, cumpridas, e o seu cumprimento será o sinal da sua autenticidade;

algo ou alguém de muito santo será ungido, palavras suscetíveis de mais de um sentido: significam ou o templo de Deus vivo que é a Santa Igreja, ou o Messias.

Em conclusão: deveremos contentar-nos com uma atitude sóbria diante da profecia das setenta semanas, renunciando a querer deduzir de seus dizeres datas precisas ou indicações muito minuciosas. Ela fala, sim, da vinda do reino de Deus messiânico sobre a terra; fala, porém, no estilo habitual dos profetas, isto é usando de tipos e figuras, o que dizer:.. aludindo diretamente a personagens e fatos (tipos) da história antiga, pré-cristã, que devem simbolizar, para o leitor, o antítipo ou a realidade final, messiânica. O estudioso portanto desistirá de forçar artificialmente (mediante cálculos cronológicos rebuscados) a aplicação do texto à vinda de Jesus Cristo; admitirá, antes, que os números 7, 70 e 490 no vaticínio são cifras arredondadas e simbólicas, destinadas a caracterizar perfeição e boas notícias em geral, conforme a linguagem mística dos antigos.

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¹ O cálculo é forçado ou artificioso, pois 483 - 444 dá 39, e não 29.





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