Para escrever a história do Papado
Por último, ainda em vista do opúsculo do pastor Aníbal, importa observar que, se alguém deseja escrever em termos sérios e científicos a história do Papado (ainda que seja para criticá-la), deve recorrer aos documentos-fontes e não a manuais escolares, que são geralmente obras de Segunda mão, derivados das fontes. Quem lê a bibliografia citada pelo pastor Aníbal à p. 66 do opúsculo, verifica que está longe das fontes da história; por isto, as ponderações do autor polemista carecem de autoridade científica.
Para escrever autêntica história do Papado, portanto, o estudioso há de recorrer aos seguintes documentários:
1) Chronicon e História Ecclesiastica de Eusébio de Cesaréia (+ 340), Patrologia Latina, ed. Migne, t. 19-24.
2) Liber Pontificalis, que, em seu núcleo originário, se deve provavelmente ao Papa São Dámaso I (366-384) e que foi sendo sucessivamente complementado no decorrer dos séculos; foi editado em termos críticos e científicos por Louis Duchesne.
3) Chronicon Pontificum et Imperatorum, de Martinho de Tropau O. P. (+ 1278). A terceira edição desta obra vai até Nicolau II (1277-1280). Cf. ed. L. Welland, em Monumenta Germanie Historica, Scriptoros XXII, pp. 327-345;
4) Liber de Vita Christi ae omnium Pontificum, de Platina. Editio Princeps, Venetiis 1479.
5) Epitome Pontificum Romanorum a S. Pedro usque ad Paulum III. Gestorum electionis singulorum et conclavium compandiaria narratio, de O. Panvínio, Roma 1557.
6) Annales de Barônio, Roma 1588. A cronografia de Barônio, que vai até 1198, foi reconhecida por quase todos os historiadores até o século passado.
7) Conatus chronologico-historicus ad universam seriem Romanorum Pontificum de Daniel Papebroch.
8) Mémoires, de Tillemont, Paris 1693-1712.
9) Chronologia Romanorum Pontificum in pariete australi basilicae S. Pauli Viae Ostiensis depicta saee. V seu aetate S. Leonis Pp. Magni cum additione reliquorum Summorum Pontificum nostra ad hace tempora perducta, de G. Marangoni, Roma 1751.
10) Regesta Pontificum, de Jaffé até 1198, e de Potthast até 1304.
11) Hierarchia Catholica, de Eubel, de 1198 em diante.
No século XX são três os autores que mais autoridade possuem no tocante à cronografia dos Papas: Duchesne, Ehrie e Mercati. Ora Aníbal P. dos Reis parece ter ficado à distância destes mananciais de historiografia.
Conclusão
Verifica-se que a história do Papado esteve sujeita às vicissitudes da fraqueza humana, que lhe deram uma face por vezes opaca. Isto, porém, não decepciona o fiel cristão por dois motivos:
1) É o Senhor Jesus quem sustenta a sua Igreja, e não a habilidade ou a santidade dos homens que a governam. Essa sua assistência indefectível, Jesus a prometeu não aos mais santos ou aos mais eruditos dos pastores da Igreja, mas a Pedro e a todos os que legitimamente sucedem a Pedro e aos demais Apóstolos. Com efeito, além de Mt 16, 16-19, importa citar
Mt 28,19s: "Ide, e fazei que todas as nações se tornem discípulos ... Eis que estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos".
Por conseguinte, o que dá ao cristão a garantia de estar sendo guiado por Cristo mediante os legítimos pastores é a adesão aos sucessores de Pedro e dos Apóstolos, independentemente das vicissitudes por que passou a Sé Apostólica.
2) É certo que a sucessão apostólica se vem mantendo na Igreja Católica. As fases sombrias e complexas da história do Papado - que são inegáveis - não chegaram a causar a quebra da linhagem papal.
O fato de que as listas de Papas confeccionadas pelos historiadores enumerem dois ou três nomes a mais ou a menos, se explica pelos motivos atrás indicados (dois nome semelhantes foram atribuídos ao mesmo Pontífice, contou-se cá ou lá algum antipapa, que não devia ser considerado ...); não implica perda da linha sucessória, mas elucida-se e entende-se pela reconstituição dos fatos históricos caso por caso.
3) Quem com objetividade estuda a história do Papado e a da Igreja, encontra especial motivo para ter fé ainda mais ardente, pois verifica de maneira quase palpável a presença e a ação do Espírito Santo na Igreja. Se Esta é hoje o grande baluarte da paz e da concórdia entre os povos apesar das tormentas por que passou, a Igreja é de origem divina e não humana, pois nenhuma obra meramente humana teria atravessado os séculos guardando a sua plena vitalidade, como a Igreja.
A Deus deem-se graças por causa mesmo dessa história da Igreja!
1 Sabe-se que o Papa é sempre o bispo de Roma, visto que é o sucessor de São Pedro, martirizado como bispo de Roma.
1 Deformação de Domnus (= Senhor) ou Bonus (= bom).
2 Kletos, em grego, quer dizer chamado. Ana-kletos é aquele que é chamado de novo ou para cima.
1 "Prima sedes a nemine iudicatur (a sé primacial por nenhuma instância é julgada)", afirma um princípio do antigo Direito da Igreja ainda hoje incluído no Código de Direito Canônico.
1 Referente à Divindade de Jesus Cristo.
2 O Papa Félix I governou de 269 a 274, como legítimo Pontífice.
Nenhum comentário:
Postar um comentário