A exposição de Mons. Julien pode ser assim recapitulada:
1) A pesquisa científica do universo deixa o estudioso humilde, longe do cientificismo que absolutiza a ciência como chave para responder às indagações e aspirações.²
2) A humildade decorre não somente de que a ciência está sempre colocada diante de novos e novos desafios no plano mesmo da pesquisa, mas também do fato de que ela é incapaz de responder a perguntas fundamentais que surgem na mente humana à medida que o pesquisador vai estudando: qual o sentido do universo, da vida, do homem? Por que isso tudo existe? Parece haver uma Inteligência (= Logos) que preside à lógica ou às sábias leis da natureza, (...) Inteligência que a Filosofia depreende, ao raciocinar sobre os dados fornecidos pelas ciências empíricas.
3) Todavia a própria Filosofia não profere a resposta cabal para as interrogações do homem, pois certos mistérios (como o do mal e o do sofrimento) não são explicáveis apenas pela razão. "A Filosofia põe o homem na estrada, mas não o dispensa do salto para dentro da fé".
4) Por conseguinte, a própria razão humana indica ao homem o recurso aos dados da fé ou à Palavra de Deus, que revela a si e o seu plano criador em termos que o homem, entregue a si mesmo, não consegue alcançar. A fé não sufoca a inteligência, mas, ao contrário, é a atitude mais inteligente da inteligência; é a inteligência da inteligência.
5) Por isso cientistas, filósofos e teólogos, longe de anularem os estudos uns dos outros, ao contrário se complementam mutuamente. De um lado, todo pensador precisa de conhecer a realidade que a ciência investiga; doutro lado, todo pesquisador, para satisfazer plenamente à sua procura de verdade, precisa de saber o por quê e o para quê das maravilhas do universo que ele vai descobrindo. De resto, todo homem, inclusive o cientista, tem dentro de si uma tendência a filosofar ou a fazer, através de seus estudos e reflexões, uma síntese de respostas que atendam às interrogações que ele concebe dentro de si: donde venho? Para onde vou? Qual o sentido do meu trabalho, da minha luta, da minha vida..., da minha morte? - Em última análise somente a fé ou a visão que o Criador tem de tudo, pode responder a tais perguntas. Daí a necessidade da síntese "ciência empírica-filosofia-teologia".
APÊNDICE
Transcrevemos, a seguir, uma exposição sintética da teoria do Big-Bang tal como Jorge Luiz Calife a redigiu e publicou no Jornal do Brasil de 23/02/90, 1.º caderno, p. 10:
Um desafio à imaginação e à ciência
"Quando os astrônomos começaram a mapear o Universo, no início do século, descobriram que os conjuntos de galáxias pareciam estar-se afastando da Terra em velocidades crescentes. Quanto mais distante um objeto, maior sua velocidade de fuga. Era como se os aglomerados de galáxias fossem fragmentos de uma granada que tivesse explodido há bilhões de anos. Esse fenômeno deu origem à teoria do Big-Bang, segundo a qual o Universo se condenou a partir dos fragmentos de uma gigantesca explosão.
A partir das velocidades relativas, observadas nas galáxias mais distantes, a época da explosão foi calculada em aproximadamente 15 bilhões de anos. Nessa época, uma massa de matéria comprimida teria explodido numa nuvem de energia e partículas elementares, aquecidas a uma temperatura inimaginável. À medida em que o Universo esfriava, a matéria se condensava em átomos, que formavam gás hidrogênio. Esse gás, movido pela força da gravidade, se reunia em concentrações de matéria. Desses núcleos de matéria teriam surgido as estrelas e as galáxias.
A teoria do Big-Bang ganhou apoio da maior parte da comunidade científica depois que os radiotelescópios, gigantescas antenas de rádio, captaram uma radiação de fundo: um brilho cósmico vindo de todas as regiões do espaço, que seria a energia restante da grande explosão. No entanto, a teoria não é aceita por todos os astrônomos e físicos. Um pequeno grupo acredita que o Universo é eterno, não teve começo e nem terá fim. É a teoria do estado constante.
Defensores dessa teoria, como o físico brasileiro Mário Novello, acham que o Universo passa por contrações e expansões e que nós estaríamos vivendo num período de expansão, quando as galáxias se afastam umas das outras. Matéria e energia estariam sendo criadas o tempo todo, num processo eterno e infindável. Ainda é cedo para afirmar qual dos pontos de vista será beneficiado pela descoberta dos gigantescos feixes de galáxias que formam as muralhas e paliçadas cósmicas".
Tomamos a liberdade de acrescentar, à guisa de comentário, que a teoria da eternidade do Universo faz do Universo um Absoluto ou um Deus. Só Deus é eterno; só Deus não teve começo e não terá fim. O eterno é perfeito; não evolui, como o Universo evolui.
Ver a propósito a obra de Dadeus Grings: A Descoberta Científica de Deus. Ensaio de Diálogo Pós-Científico. Porto Alegre 1989 - Brevemente apresentado à p. 287 deste fascículo.
¹ Big-Bang é a grande explosão inicial que, segundo correntes modernas, deu origem ao universo em expansão hoje existente.
¹ J'entre dans la Vie. Derniers entretiens. Cerf DDB 1973, p. 223.
¹ Du Big-Bang au trou noir (Da grande explosão ao buraco preto). Flammarion 1987, 236 pp.
² L'Odyssée Cosmique. Quel destin pour I'univers? (A Odisséia cósmica. Que destino haverá para o universo?). Denöel Paris 1986, p. 54 e 128.
³ Id. P. 11
4 Nouvel Observateur, 21/12/1989, p. 49.
5 Dominique Laplane, un neurologue, 120 p. Entretiens avec Jacques Vautier.
Id. Jacques Arsac, un informaticien, id. 117 p.
6 Flammarion 1989, 309 p.
¹ Revue des Questions Scientifiques, Rue de Bruxelles 61B, 5000 Namur n. 1-2/1988.
² L'Absurde et le Mystère, DDB 1984, p. 73.
¹ John Barrow, L'Homme et le Cosmos. Imago 1984, p. 12.
² L'Odyssée Cosmique, op. Cit. p. 12 e 21.
³ J. Julien na obra coletiva: Des motifs d'espèrer, la procréation artificialle. Cerf, Paris 1986, p. 129, cf. p.117.
¹ Contra as Heresias IV 6/6.
² Hubert Reeves, L'Homme et le Cosmos, op. Cit., p. 110.
³ X. Le Pichon, Le Savant et la Foi, op. Cit. p.1.
4 Por fideísmo entende-se a fé cega, que não pede credenciais ou razões para crer. (N.d.T.).
¹ Cf. G. Friedmann, La Puissance et la Sagesse - NRF 1970.
² Ainda em 23/02/90, o Jornal do Brasil, 1.º caderno, p. 10, publicava a seguinte notícia:
"WASHINGTON - Uma equipe internacional de astrônomos descobriu uma gigantesca fileira de galáxias que lembra uma paliçada - espécie de cerca descontínua cujos elementos são aglomerados de galáxias prolongando-se por milhões de anos-luz (um ano-luz eqüivale a nove trilhões de quilômetros). Descrita num artigo para a revista científica Nature, a paliçada cósmica desafia o conceito fundamental de que o Universo seria um espaço uniforme. Se essa descoberta for confirmada, os cientistas terão que voltar ao quadro-negro, diz Nick Raiser, professor de Astronomia da Universidade de Toronto, no Canadá.
A paliçada cósmica, onde cada conjunto de galáxias forma um segmento de galáxias que se repete a intervalos regulares, pode obrigar os cientistas a revisarem suas teorias sobre a formação do Universo, e está sendo encarada com um misto de entusiasmo e ceticismo. Nenhuma teoria proposta até agora consegue explicar como o Universo pode ter uma estrutura tão grande e regular, diz David Koo, astrônomo da Universidade da Califórnia que participou da descoberta.
Por muito tempo os astrônomos acreditaram que a gravidade - a força que faz os corpos se atraírem entre si - era a lei maior na composição do Universo. Graças à gravidade, a poeira cósmica se condensaria em estrelas que, por sua vez, formariam galáxias e os grande aglomerados de galáxias. De acordo com a teoria do Big-Bang, é isso que teria acontecido nos 15 bilhões de anos de existência do Universo. A paliçada cósmica, todavia, é um conjunto grande demais de galáxias e não poderia ter-se formado somente pela força da gravidade. Diante disso, descortinam-se duas possibilidades: ou existem outras forças agindo ou o Universo é ainda mais velho do que se pensa".
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