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sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Novamente o caso Galileu

É o defensor da liberdade científica e a testemunha do obscurantismo religioso católico. Isso no imaginário popular e nos livros escolares. Mas a verdade histórica é outra. "No entanto ela se move!" Quem não se lembra desta famosa frase atribuída a Galileu Galilei que queria responder assim, segundo nos dizem, com orgulhosa carranca, à leitura da sentença daqueles ferozes inquisidores que o condenavam por suas descobertas científicas? Grande parte dos alunos está convencida. Processado, condenado, torturado, preso e assim acreditam em boa porcentagem; até queimado na fogueira. Este é conjunto de conhecimentos que a escola e os meios de comunicação em massa nos fazem crer sobre o cientista de Pisa. Somente uma minoria pequena, mais preparada, responderá que Galileu é justamente famoso por ter aplicado primeiro o método experimental, típico da ciência moderna, por ter aperfeiçoado e utilizado para fins científicos o telescópio, por ter descoberto o termômetro, a lei que regula as oscilações do pêndulo, as elevações da lua, a natureza estelar da Via Láctea, os 4 satélites de Júpiter, as anomalias de Saturno, as manchas solares e as fases de Vênus. Digamos a verdade: mais que para sua obra científica.

Galileu é conhecido pelos dois processos súbitos da Inquisição em 1616 e 1633, que o fizeram se tornar um defensor da ciência moderna e do progresso e uma vítima do obscurantismo religioso e conservador da Igreja Católica. Estamos, por isso, de frente a uma vítima inocente imolada sobre o altar daquele catolicismo que pretendia possuir verdades absolutas também em matéria científica, a um mártir da ciência, a uma testemunha da irredutível contraposição entre a Fé religiosa e a Ciência.
Sem a pretensão de esgotar o assunto, alguma consideração nos ajudará a ter as ideias mais claras.

Em primeiro lugar, Galileu não se considerou nunca adversário da Igreja, como tenta nos convencer uma das maiores mentiras que já foram alimentadas. Ele conservou a fé católica até a morte, foi amigo por longo tempo de papas e cardeais – o cardeal Mafeus Barberini, depois eleito Papa com o nome de Urbano VIII, foi seu grande admirador – e por muitos religiosos foi protegido e encorajado nas suas pesquisas. Quando em 1611 se dirigiu a Roma, foi muito bem acolhido pelo padre Cristóvão Klaus (Clávio) e pelos jesuítas do colégio romano. Foi recebido até mesmo pelo Papa Paulo V, com o qual teve um longo e caloroso colóquio. Algum mês antes, estava convicto das fases de Vênus análogas àquelas da Lua, sinal de que o planeta girava em torno do Sol do qual recebia a luz. O sistema ptolomaico foi assim contestado, o heliocêntrico não era certamente demonstrado, e tudo isso não parecia prejudicar as suas relações com o mundo eclesiástico. Pelo contrário, enquanto seus colegas cientistas, liderados pelo famoso Cremonini, acusavam Galileu de ver “manchas nas lentes do telescópio”, não faltava ao pisano o apoio dos poderosos astrônomos e filósofos da Companhia de Jesus (os jesuítas), liderados por São Roberto Bellarmino, superior da Ordem dos Jesuítas e consultor do Santo Ofício. E ainda. Quando o padre Cavini atacar Galileu em Florença, na igreja de Santa Novela, o cientista será defendido pelo padre Benedito Castelli, seu discípulo e professor de matemática em Pisa, e pelo mestre geral dos dominicanos, padre Luís Marafi. Será depois o cardeal Justiniano a ordenar Cavini a retratar-se de suas acusações. Não esquecendo que em Nápoles, um outro religioso, o padre Foscarini, publicava um elogio de Galileu e do sistema copernicano (que muitos jesuítas estudiosos aprovavam) obtendo a aprovação eclesiástica. E ainda. Mesmo depois da sentença de 1633, que, além da abjuração, o “condenava” a recitar uma vez por semana os sete salmos penitenciais por um período de três anos, foi hospedado na casa do cardeal de Sena, Ascânio Piccolomini, “um dos tantos eclesiásticos que lhe queriam bem.” (Messori)
Em seguida, mudou-se para sua casa em Arcetri, chamada “a jóia”, nos arredores de Florença. Morreu com a bênção do Papa e recebendo a indulgência plenária, sinal de que a Igreja certamente não o considerava um adversário nem ele considerava a Igreja como tal. É propriamente uma fábula aquela da inimizade, da contraposição invencível, da ruptura insanável entre o cientista pisano e a Igreja Católica. Uma fábula a qual, primeiramente, contestaria o próprio cientista pisano. Não se deve esquecer, de fato, que ao fim de sua vida movimentada, deixou escrito que “em todas as minhas obras, não haverá quem possa encontrar a menor sombra de algo que recuse a piedade e a reverência da Santa Igreja.”
Em segundo lugar, a teoria heliocêntrica (a Terra e os planetas girando em torno do Sol) não foi inventada por Galileu. Já Aristarco de Samos e a escola pitagórica, cinco/seis séculos antes de Cristo, tinham sustentado que fosse a Terra que girava anualmente em torno do Sol. Esta teoria foi retomada por Copérnico, sacerdote polonês, morto 21 anos antes do nascimento de Galileu. Se Copérnico decidiu publicar os seus estudos somente no ano de sua morte, foi por temor de ser ridicularizado por seus colegas de estudo, mas certamente não por homens da Igreja (os papas Clemente VII e Paulo III, aos quais a obra de Copérnico era dedicada), dos quais teve favores e encorajamentos. Assim como aconteceu com Galileu, que teve entre os seus mais vivazes adversários os colegas, apesar disso irritados pelo caráter do cientista pisano que não era fácil, não os religiosos.

Em terceiro lugar, Galileu não levou nenhuma prova científica que pudesse sustentar sem sombra de dúvida a teoria heliocêntrica. Para “provar” que a Terra girava em torno do Sol, sustentava que as marés eram devidas à “agitação” das águas causada pelo movimento terrestre. Mas este argumento era cientificamente insustentável. Tinham razão os seus “juízes inquisitoriais”, os quais sabiam bem que as marés são devidas à atração lunar. Escutemos Messori: “Naquele 1633 do processo de Galileu, o sistema ptolomaico (Sol e planetas girando em torno da Terra) e o sistema copernicano (Terra e planetas girando em torno do Sol) eram duas hipóteses em par de igualdade, nas quais apostar sem provas decisivas. E muitos religiosos católicos mesmos estavam pacificamente para o “inovador” Copérnico, condenado, por outro lado, por Lutero.” O cardeal Bellarmino sustentava que a teoria heliocêntrica, considerada como “hipótese” científica (e devia se considerar hipótese corretamente, até que não se demonstre verdadeira) não era para se descartar a priori, mas era preciso levar as provas. A posição de Bellarmino é muito mais correta que a de Galileu, que sem provas a difundia como tese irrefutável. Aliás, neste caso específico, o próprio Bellarmino tinha tomado então uma posição que a física moderna, a dos nossos tempos, dá por assumida. Em quarto lugar, não se fala do processo de Galileu de 1616. Mas sucessivamente convocado ao Santo Ofício, lhe foi dirigida nota de condenação da tese copernicana e imposto de não ensiná-la antes que fosse corrigida (quatro anos depois, a teoria foi corrigida e qualificada como hipótese e não como tese). A injunção lhe foi comunicada em particular para não expô-lo ao ridículo dos colegas. Galileu prometeu obedecer (e não o fez) e foi recebido pelo Papa em pessoa. Uma “condenação” extraordinariamente suave.
Como suave foi a “condenação” súbita no processo de 1633. Galileu não passou nem um minuto na prisão, nunca foi torturado, não lhe foi impedido encontrar colegas e religiosos (encontrá-lo-ão homens do calibre de Hobbes, Torricelli e Milton), de escrever, de estudar e de publicar, tanto que sua obra-prima científica – discursos e demonstrações matemáticas em torno de duas novas ciências – remonta a 1638, cinco anos após a condenação. Falta-nos ainda um ponto: a famosa frase “No entanto se move” com a qual abrimos estas considerações. Uma outra história falsa. Foi inventada em Londres, em 1757, pelo brilhante e pouco confiável jornalista José Baretti. Como se vê, no caso Galileu, precisamos de um pouco de verdade.

Retirado de Il Timone - n.1 de maio / junho 1999.

Bibliografia:

Rino Cammilleri, La verità su Galileo, in Fogli, n. 90, Ano XI, setembro 1984.

Jean Pierre Lonchamp, Il caso Galileo, edições Paulinas, Cinisello Balsamo (MI) 1990.

Traduzido para o Veritatis Splendor por Marcos Zamith.

Fonte: http://christusveritas.altervista.org/Il_caso%20Galilei.htm, acessado em 25/09/2012.



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