+ Sergio da Rocha
Arcebispo de Brasília
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"Atenção! Tomai cuidado contra todo tipo de ganância (...) A vida de um homem não consiste na abundância de bens" (Lc 12,15). Nesta palavra de Jesus, encontra-se um resumo da Liturgia da Palavra deste domingo. Assim, ele respondeu a alguém que se queixava a respeito da divisão de uma herança. Naquele tempo, as pessoas recorriam aos mestres e doutores da Lei para resolver conflitos familiares a respeito de heranças. Jesus vai muito além do problema colocado, questionando a atitude face aos bens materiais. Após alertar a respeito do perigo da ganância, ele põe em pauta a questão do sentido da vida. Para explicar melhor a sua resposta, Jesus conta a parábola do rico insensato que acumulava bens e neles colocava a sua segurança. Este homem é chamado por Jesus de "louco" (Lc 12,20). O sentido da vida não pode estar na acumulação e no consumo dos bens materiais. Quem assim faz, acaba se esquecendo de Deus e do amor ao próximo, enxergando somente a si mesmo. Perde o sentido maior da vida e se deixa levar por ídolos. Ídolo é o que ocupa o lugar de Deus na vida das pessoas ou da sociedade. A ganância é um tipo de culto que se presta ao ídolo da riqueza. O ídolo acaba por destruir aqueles que lhe prestam culto, fazendo sofrer a muitos outros. A fé no Deus verdadeiro exclui qualquer forma de idolatria. Por isso, em diversas ocasiões, Jesus propôs aos seus discípulos o desapego dos bens e a partilha. É loucura colocar o sentido da vida e a segurança na abundância de bens. É lamentável o culto à prosperidade difundido, em nosso tempo, até mesmo por pessoas ou grupos que se dizem cristãos. Jesus nunca prometeu riquezas aos seus seguidores. Ao contrário, ele considera louco, "quem ajunta tesouros para si mesmo, mas não é rico diante de Deus" (Lc 12,21). Assim sendo, além de ser um problema moral, a ganância põe em risco a fé no Deus verdadeiro. Num mundo marcado pela idolatria da riqueza, alimentada pela acumulação e o consumo dos bens, a parábola contada por Jesus questiona a todos sobre as posturas adotadas diante dos bens materiais.
O livro do Eclesiastes também nos convida a colocar em Deus o sentido da vida. Ao observar o dia a dia das pessoas, o autor constata que "tudo é vaidade", repetindo "vaidade das vaidades" (Ecl 1,2). Sem Deus, o homem é incapaz de encontrar o verdadeiro sentido da vida, perdendo-se numa vida cheia de vaidade.
Na Carta aos Colossenses, São Paulo nos motiva a fazer a experiência de uma vida nova. É preciso despojar-se do "homem velho", superando a avareza, a cobiça dos bens e qualquer outra forma imoralidade ou idolatria. O cristão é chamado a "revestir-se do homem novo" (Cl 3,10), à imagem de Cristo e por meio dele.
Fonte Eletrônica;
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