top

create your own banner at mybannermaker.com!

domingo, 15 de abril de 2012

A Revelação Divina parte2 final

Se na ordem da natureza das coisas criadas, tanta coisa permanece velada para quem não percebe diretamente, mas apenas através de uma comparação, pensamos em quão profundos e obscuros serão os mistérios que se referem a Deus! Por isso, embora revelados, a razão humana não poderá penetrar inteiramente em sua essência, nem demonstrá-los intrinsecamente. Porém, mesmo conhecida alguma coisa de sua essência, de acordo com a fraqueza da inteligência humana, será uma nova riqueza incomparável à nossa mente, tanto no campo da verdade quanto nas consequências práticas que derivam desta luz de vida.

Os mistérios não podem ser demonstrados pela razão, mas pode-se demonstrar que não a contrariam. O mistério está acima, não contra a razão. Deus, Verdade substancial, é o autor da fé e da razão, e não pode haver contradição entre fé e razão.

Dizer que na religião há mistérios que superam a inteligência humana não é colocar um obstáculo à grandeza de nossa Fé. É, ao contrário, confirmar que nossa religião é divina. É mais que lógico existirem mistérios. Se não existissem, igualaríamos a nossa mente com a de Deus, que é um absurdo. A mente de Deus é infinita e a nossa pequena inteligência não pode cobrir sua infinita sabedoria. Por fim no Paraíso, enquanto muitos mistérios nos serão completamente revelados, outros - aqueles que envolvem a vida íntima de Deus, como, por exemplo, o mistério da Santíssima Trindade - serão conhecidos mais ou menos por cada um de acordo com o grau de glória, de forma a satisfazer plenamente a inteligência dos beatos, mas os poderá compreender de modo completo.

Em um copo não pode entrar toda a água do mar. Muito menos na nossa pequena inteligência se pode compreender a infinita sabedoria de Deus.

A REVELAÇÃO DAS VERDADES SOBRENATURAIS E DOS PRÓPRIOS MISTÉRIOS é possível, aliás, muito conveniente:

a) por parte de Deus, que pode, como por outras verdades, nos manifestar essas, inacessíveis à razão humana, sendo infinitamente Sábio e Onipotente.

b) por parte do homem que vem a conhecer com certeza a verdade a qual a sua inteligência não podia atingir. Chega a conhecer pelo menos a existência dos mistérios e por meio destas verdades pode encaminhar sua vida com mais segurança em direção ao último fim, do modo querido por Deus.

Necessidade da Revelação

Devemos mostrar esta necessidade:

Iº com respeito às verdades divinas e acessíveis à razão humana,

IIº com respeito aos mistérios.

I TESE - No estado atual do gênero humano, as verdades divinas, também aquelas por si acessíveis à razão, para serem conhecidas por todos, com firme certeza e sem erros, requerem moralmente uma revelação (Conc. Vat. I D.B. 1786).

EXPLICAÇÃO: Explicamos os termos:

NO ESTADO PRESENTE DO GÊNERO HUMANO: trata-se da condição sob a qual se encontra o gênero humano após o pecado, com as suas paixões, a sua fraqueza. Trata-se da humanidade no seu complexo, não de um só indivíduo singularmente.

AS VERDADES DIVINAS: é possível que um homem com seu estudo possa vir a conhecer alguma verdade divina. Aliás, nas páginas anteriores já mostramos que as verdades fundamentais podem ser alcançadas passando-se do conhecimento das coisas visíveis ao das coisas invisíveis, conhecendo-se quem é o Autor. Mas aqui falamos do conjunto de todas verdades que por si seriam acessíveis à razão humana.

TAMBÉM AQUELAS POR SI ACESSÍVEIS À RAZÃO: não se trata de verdades que se podem conhecer somente se manifestadas por Deus, mas daquelas que a razão humana poderia alcançar com suas próprias forças.

PARA SEREM CONHECIDAS POR TODOS: Mesmo que um só indivíduo pudesse colocar-se ao estudo de todas verdades religiosas acessíveis à razão, a maioria dos homens não teria meios, quer pela falta de tempo, quer pela inteligência e preparação cultural, quer pelas ocupações e necessidades da vida. No entanto, todos homens têm necessidade absoluta de conhecer as verdades divinas com firme certeza. Mesmo depois de longo estudo feito pelas mentes mais ilustres, nem todas verdades poderiam aparecer à mente com a segurança que é necessária para as verdades que interessam a toda a nossa existência. Temos a prova nos estudos dos maiores filósofos pagãos. Por exemplo, Platão, em seu Fédon, relata a demonstração feita por Sócrates sobre a imortalidade da alma; ademais, o grande filósofo tem algumas incertezas sobre este assunto de importância vital.

E SEM ERROS: os próprios filósofos pagãos em busca das verdades de ordem natural não só tiveram algumas incertezas, mas caíram em erros reais. Muito mais ainda cairá um homem desprovido de cultura.

REQUEREM MORALMENTE UMA REVELAÇÃO: é dita necessidade moral aquela que não exclui outras possibilidades, mas que é praticamente indispensável e da qual não se pode prescindir. Assim, por exemplo, para desenhar um círculo perfeito não é absolutamente impossível traçá-lo a mão livre, mas na prática será necessário o compasso ou outro instrumento para que ele possa ficar perfeito. Tenho necessidade moral deste instrumento.

A revelação é moralmente necessária para que os homens tenham facilidade de alcançar seu fim último.

Esta tese é contra o naturalismo.
PROVA. A tese é comprovada por um argumento um histórico e um psicológico.

A) - ARGUMENTO HISTÓRICO. A História nos mostra que a humanidade por si só não soube alcançar as verdades éticas e religiosas sem cair nos erros mais graves tais como o politeísmo, a idolatria, a poligamia, os ritos cruéis e obscenos, etc. Com exceção da afirmação comum da existência de um poder supremo do qual o homem depende, as outras verdades religiosas foram quase todas falsificadas e alteradas em várias populações. Apesar de toda a brilhante cultura grega e as sublimes especulações de Platão e Aristóteles, a religião dos gregos se degenera em mitologia pueril e imoral.

Os próprios gregos mesclam graves erros às verdades objetos de sua especulação: o desprezo da família em Platão, e o não reconhecimento da dignidade humana, admitindo a escravidão, em Aristóteles.

A humanidade abandonada às suas próprias forças e considerada fora do Cristianismo nunca chegou ao pleno conhecimento da religião natural, substancialmente única para todos homens, e isso por uma impossibilidade moral, se não uma impossibilidade física e absoluta.

B) - ARGUMENTO PSICOLÓGICO. Já São Tomás de Aquino (Contra Gentiles i c. 4) elencava as dificuldades que a humanidade encontra para resolver o problema religioso. Pode-se resumir nos três pontos seguintes:

1) - Dada a dificuldade que a mente tem de chegar à verdade e a condição da maioria dos homens, apenas uma minoria pode aspirar ao conhecimento dessas verdades, e com muitas incertezas e erros.

2) - Essa minoria não pode ser um guia para todos homens.

3) - Disso decorre que a maior parte da humanidade é moralmente incapaz de alcançar o conhecimento da religião e, portanto, é moralmente necessária uma revelação divina, de modo que os homens possam facilmente chegar a seu fim último.

II TESE - A Revelação divina é absolutamente necessária em relação aos mistérios sobrenaturais, dada a hipótese de nossa elevação à ordem sobrenatural.

PROVA - Já mostramos que as forças humanas por si não podem alcançar o conhecimento dos mistérios sobrenaturais. Não somente não sabem penetrar na essência como não podem conhecer nem a existência. Ora, se Deus em sua infinita bondade eleva o homem a um fim sobrenatural, isto é, a participar da sua própria vida divina, tal elevação requer que o homem conheça verdades sobre a vida íntima de Deus, isto é, os mistérios propriamente ditos. Se Deus tivesse constituído o homem apenas em uma ordem natural, bastaria conhecê-lo e chegar a ele de um modo natural, somente com as forças humanas: a inteligência, a vontade e o conhecimento dele através daquilo que admiramos nas obras de sua criação. Nesta ordem natural, uma Revelação divina teria sido conveniente e útil, mas não necessária. Em vez disso, dada a hipótese de que Deus nos tenha querido e constituído em uma ordem sobrenatural, até a realização suprema da visão beatífica em que o veremos face a face, como Ele é em sua essência divina (conhecer a Deus em si mesmo, em sua divindade, como dizem os teólogos), não basta mais o conhecimento de Deus através das coisas criadas, onde há um raio do Criador, onde Deus expressou algo de si mesmo e de sua glória, mas onde não é narrada contada sua vida íntima. Dada esta hipótese, não podendo por isso o homem conhecer com suas próprias forças os mistérios da vida divina de modo que possa alcançar o seu fim, é necessário que Deus os manifeste.

Por isso é necessária a Revelação para conhecer a existência desses mistérios, e, a fortiori, é necessária para compreender algo da sua essência.

O Fato da Revelação

Dada a conveniência e necessidade de uma revelação, o homem não pode permanecer indiferente ao fato da revelação. Ela o toca intimamente, e não lhe diz respeito apenas aos fatos desta vida que passa, mas se projeta sobre seus destinos eternos, isto é, à chegada ao fim, que é por se dizer a chegada à sua felicidade.

Historicamente, muitas religiões se apresentam como a Religião Revelada.
É INDIFERENTE SEGUIR UMA OU OUTRA?

ENTRE ESSAS, QUAL É A QUE FOI VERDADEIRAMENTE REVELADA POR DEUS?

Em outras palavras, o homem não pode ficar indiferente ao dizer: por mim, haver ou não uma religião revelada é a mesma coisa; ou: entre tantas religiões que se dizem reveladas, para mim, seguir uma ou outra é indiferente.

Por isso, seguem as duas teses:

I TESE - Dada a necessidade moral de uma religião revelada, cabe a cada um a séria obrigação de procurar qual seja ela e de abraçá-la quando a encontrar.

É CORRETO

contra os racionalistas.

PROVA:

A) - PELO RESPEITO DEVIDO A DEUS - Se Deus revelou, Ele fez isso para que os homens, para o seu bem, conhecessem estas verdades. Por isso, eles têm a séria obrigação de procurar, de conhecer o que Deus revelou, e de seguir esses ensinamentos e mandamentos que Deus deu.

B) - PARA ALCANÇAR O NOSSO FIM. Para que todos homens possam conhecer prontamente, com certeza e sem erros o complexo das verdades que constituem a religião natural é moralmente necessária uma revelação divina; é ainda mais absolutamente necessária para as verdades sobrenaturais. Conhecendo todas essas verdades, o homem conhece também os meios apropriados para alcançar seu fim. Por isso, para conhecer esses meios, deve conhecer estas verdades e deve colocá-las em prática.

II TESE - O homem não pode professar qualquer religião que se diga revelada, mas é necessário buscar e abraçar a religião verdadeira.

Contra os imanentistas, os modernistas e os indiferentistas.

PROVA: Ao estudar as religiões historicamente, encontramos muitas que se dizem reveladas. Um erro que frequentemente se ouve repetir nos nossos dias é este: "Todas religiões são boas." Este erro surgiu especialmente a partir da comunidade de pessoas que se encontram no mesmo país, com religião diferente; encontros hoje muito frequentes por causa da velocidade das comunicações. Muitas vezes a impressão também é maior, porque alguns não católicos observam sua religião com maior precisão do que fazem alguns católicos. Não é a observação de uma doutrina que a torna verdadeira. Um viajante que caminha numa estrada errada pode correr mais rapidamente do que outro que mal caminha ou para na estrada certa. O segundo está na estrada que o levaria à chegada prefixada, enquanto o primeiro, mesmo correndo, não vai em direção ao destino.

Assim também não se deve confundir a vontade salvífica de Deus para aqueles que estão no erro, dizendo que também eles estão no caminho da verdade. Aqueles que estão em uma falsa religião, se estão sem sua culpa acreditando estar na verdade e agem segundo a honestidade natural, na prática têm a vontade de observar o que Deus ordena; com um desejo inconsciente são orientados à religião verdadeira, embora não a conheçam, e assim Deus lhes providenciará a sua salvação eterna. Mas dizer que eles podem se salvar, dizer que estão na verdade, há uma diferença substancial.

A verdade não pode ser senão uma. Quando nas diferentes religiões que se dizem reveladas por Deus encontro algumas afirmações em contradição com o que outras dizem, concluo que a verdade não pode estar senão de um lado. Se, por exemplo, digo que agora é dia e outro diz que é noite, é certo que ambos não podemos ter razão. Assim, se uma religião me afirma que Deus revelou a existência do Purgatório, ou que os sacramentos são sete, e uma outra religião me nega isso, absolutamente não pode ser que uma e outra tenham razão. Ou Deus ensinou de uma forma ou de outra. Não pode ter revelado que uma coisa existe e ao mesmo tempo não existe.

Assim, a religião revelada não pode ser senão uma só.

É por isso que no movimento de Oxford que proclamou uma série de conferências entre as seitas protestantes para encontrar um entendimento comum, a Igreja Católica foi a única a não participar.

O acordo devia consistir nisto: que se uma Igreja acreditava, por exemplo, em dois sacramentos e uma outra, em cinco, se poderia fazer um meio-termo admitindo-se, por exemplo, três. A Igreja Católica naturalmente foi acusada de intransigência. Mas como fazer chegar a um acordo sobre uma determinada verdade de fé? Quando se trata de uma regra disciplinar, algumas mudanças poderiam ser feitas. Desse modo, de fato, a Igreja Católica mudou, por exemplo, a lei do jejum de acordo com as necessidades dos tempos, mas nunca poderia eximir os homens da ordem dada por Jesus Cristo para fazer penitência: "Se não fizerdes penitência, todos perecerão igualmente." (Lc 13:5). Da mesma forma, se Jesus Cristo instituiu sete sacramentos, nem mais nem menos, não pode a Igreja, a fim de agradar aos outros, dizer que instituiu seis, nem dizer, por exemplo, a quem não crê na virgindade de Maria Santíssima, nem à existência do Purgatório: "Vós admitis comigo uma destas verdades, e eu renuncio convosco a crer em outra." Uma religião que age assim, admitindo ou desaprovando a bel-prazer aquelas verdades em que se deve crer ou não, se mostra falsa por si própria: não são necessários outros argumentos para demonstrar que segue aquilo que pensam os homens e não aquilo que Deus revelou. É Deus que revela e os homens devem seguir o que Deus revelou. Não cabe aos homens mudarem a bel-prazer o que Deus nos fez conhecer.

O que dissemos indica claramente que entre as religiões que se dizem cristãs, uma só pode ser aquela revelada por Deus.

A fortiori, as outras religiões, que afirmam coisas todas diversas da religião católica, não podem ser verdadeiras, caso contrário, Deus teria dito e contradito uma mesma coisa ao mesmo tempo. Isso é repugnante à sua forte Sabedoria e Verdade.
** Extraído da "Somma di Teologia Dogmatica" de padre Giuseppe Casali

Traduzido para o Veritatis Splendor por Marcos Zamith do original disponível em http://christusveritas.altervista.org/teologia_dogmatica_rivelazione_divina.htm


Nenhum comentário:

Postar um comentário