C. S. LEWIS
Finalmente, em uma caminhada depois da ceia com Hugo Dyson e J. R. R. Tolkien, seus amigos lhe apontaram que a única diferença entre os vários mitos e o Cristianismo era a de que nunca tivéramos notícia de que Osíris tinha caminhado na terra, mas Jesus, ao contrário, tinha deixado pegadas; houve gente que falou com Ele, que o viu e comentou o que Jesus havia feito. Lewis acaba descrevendo a cena em poucas mas arrepiantes linhas:
"Enquanto continuávamos caminhando, fomos interrompidos por uma rajada de vento que ocorreu tão subitamente nessa quente e calma tarde, lançando em cascata tantas folhas, que imaginamos que estava chovendo. Todos nós contivemos o fôlego, apreciando a êxtase desse momento".
Parece que Deus se fez presente na vida de Lewis desde então. Chegou a ser um dos grandes defensores da fé cristã e suas obras continuam gerando conversões até hoje. O autor destas linhas pode atestar isso com sua experiência pessoal.
O mundo no qual Lewis brilhou acabava de perder G. K. Chesterton. Eram os anos da II Guerra Mundial, quando ainda os Estados Unidos e a Inglaterra podiam ser considerados nações cristãs enfrentando a realidade de dois regimes ateus e anticristãos: a Alemanha nazista e a União Soviética.
A vitória dos Aliados não trouxe como consequência um ressurgimento das ideias cristãs; muito pelo contrário. Lewis enfrenta a realidade por vir em uma das suas obras-primas, "The Abolition of Man" (A Abolição do Homem).
Tendo conhecido a vida de ambos os lados da controvérsia, ateus x crentes, Lewis sabia que no centro da negação atéia estavam duas coisas fundamentais: a primeira é o desejo de ver-se livre dos laços da moral; a segunda, instigada pela primeira, é uma forma de reducionismo deliberado que tenta demolir a razão, já que todo homem sabe em seu íntimo que a razão é a ordem natural dos pensamentos e que, por detrás de toda ordem natural, encontra-se Deus.
A minha frase favorita nessa obra, "The Abolition of Man", é esta:
"Talvez eu esteja pedindo algo impossível. Talvez na natureza das coisas, a compreensão analítica deve ser um basilisco que mata tudo o que vê e que só pode ver através do matar. Porém, se os próprios cientistas não podem deter esse processo antes que alcance e mate também a Razão, então alguém precisa detê-la".
Este livro é talvez uma das mais claras defesas da Lei Natural que se pode ler. Logo Lewis transportaria as ideias deste livro para o terceiro livro de sua trilogia de ficção científica, "That Hideous Strength" (Aquela Força Medonha). O que me interessa extrair da obra de Lewis em geral e deste livro em particular é a sua visão quase profética do futuro da educação e das ciências. Este livro analisa valentemente o que já havia ocorrido em 1944 na sociedade e, de fato, o que iria ocorrer com a nossa forma de entender o universo. Lewis despreza as vozes de pessoas como Bertrand Russell, que consideram ter atingido o fim da História ou o início de um novo mundo onde o homem transforma a si mesmo em um deus e começa a mudar a própria trama da Lei Natural. Lewis deduz que a última conquista do homem resulta na abolição do homem: ao concentrar toda a sua atenção em si mesmo e subjetivizar todas as suas experiências, o homem deve obrigatoriamente destruir a razão que é a última parcela de divindade que todavia vive nele. As experiências genéticas dos nazistas já tinham oferecido um adiantamento das tétricas maravilhas que estavam por vir. Hoje o confirmamos: o aborto legalizado nos Estados Unidos já matou muito mais americanos que todas as guerras juntas desde a II Guerra Mundial. O que o odioso fragor da guerra não conseguiu obter foi tarefa fácil para as ideologias da morte que provêm justamente da negação de Deus e da noite da razão que permanece, uma vez que afastamos Deus do nosso meio.
A obra de Lewis começa como uma crítica a um livro usado nas escolas do seu tempo, "Reflections on education with special reference to the teaching of English in the upper forms of schools". Este livro é, talvez, um dos primeiros ataques contra a verdade objetiva nas escolas inglesas do século XX.
Se Gödel tinha provado a existência de uma verdade objetiva no mundo abstrato da Matemática, Lewis provava em "The Abolition of Man" que a Lei Natural é a sua equivalente moral, existente fora do homem e não como uma "construção" que os homens podem modificar ao seu bel-prazer.
As conclusões de Gödel e Lewis em suas respectivas áreas de conhecimento foram mal-entendidas e principalmente ignoradas. O pós-modernismo continuou avançando tal como um câncer maligno que se espalha pouco a pouco por todo o corpo.
Hoje vivemos no mundo criado em sua maior parte por esses educadores que começaram subjetivizando toda verdade. Vivemos na cultura que aceita que a mulher mate o seu próprio filho apresentando como única justificativa: "é o meu corpo", muito embora, ao mesmo tempo, considera que aqueles que crêem na transubstanciação baseada nas palavras de Cristo, "Isto é o meu Corpo", estão expostos a uma perigosa superstição.
As coisas chegaram a tal ponto que o próprio Papa precisa investir tempo e consideráveis argumentos filosóficos para desbancar o relativismo, uma das ideias mais próximas ao sem-sentido absoluto que se tem produzido neste mundo desordenado... Um mundo que chegou a aceitar que "tudo é relativo" - exceto este axioma que, longe de ser relativo, é aplicado com força absoluta buscando a destruição da razão. O Paradoxo de Russell volta a se apresentar disfarçadamente, aumentando o perigo mortal que representa viver a vida e organizar a sociedade humana com base em uma falsidade manifesta que foi escolhida para substituir a verdade.
No início deste artigo eu disse que os ateus profissionais que encontramos ultimamente apresentam argumentos, provas e raciocínios totalmente carentes de rigor filosófico e científico, quando não privados de qualquer sentido comum. Pois então, senhores, isto não é algo que surgiu da noite para o dia. Como Lewis bem apontou em 1944, podemos dizer que investimos tempo e esforço educando várias gerações nas particularidades da sem-razão subjetiva. Portanto, não devemos agora nos surpreender que pessoas como Bertrand Russel, Dawkins, Hitchen e Odifreddi surjam com um mundo de ideias afastadas das razões que enriqueceram a nossa civilização desde os tempos de Epimênides.
Analisaremos isso em nosso próximo artigo.
-----NOTAS
[1] "Não vos empenheis em negar a experiência
De costas para o sol, o mundo inabitado
Considerai essa semente vossa,
Que não fostes criados para viver como feras
Mas para seguir a virtude e a ciência"
(Dante Alighieri, Divina Commedia, Inferno, canto XXVI,116-120).
Tradução do Autor. Aceitam-se correções de quem conheça melhor o italiano clássico.
Considerai essa semente vossa,
Que não fostes criados para viver como feras
Mas para seguir a virtude e a ciência"
(Dante Alighieri, Divina Commedia, Inferno, canto XXVI,116-120).
Tradução do Autor. Aceitam-se correções de quem conheça melhor o italiano clássico.
[2] "Se leram bem a Bíblia, deveriam crer". Entrevista de Jesús Ruiz Mantilla a Piergiorgio Odifreddi, publicado pelo jornal El País Semanal. Madri, 6 de junho de 2008.
[3] "Godel's Proof" (A Prova de Gödel). Ernest Nagel, James Newman, Douglas R. Hofstadter. Publicado por New York University Press, Nova Iorque, 1958.
[4] "Rum thing. Seems to have really happened once".
[5] "The Everlasting Man". G. K. Chesterton.
[3] "Godel's Proof" (A Prova de Gödel). Ernest Nagel, James Newman, Douglas R. Hofstadter. Publicado por New York University Press, Nova Iorque, 1958.
[4] "Rum thing. Seems to have really happened once".
[5] "The Everlasting Man". G. K. Chesterton.
Traduzido para o Veritatis Splendor por Carlos Martins Nabeto do site Primera Luz (http://www.primeraluz.org).
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