UNIDADE GENÉTICA E LINGÜÍSTICA
Entre os argumentos favoráveis ao modelo de dispersão africana, cabe destacar a correlação observada entre a distribuição dos genes e a das línguas na árvore filogenética das etnias humanas. Nesse sentido, é obrigatório mencionar o estudo realizado em 1988 por Cavalli Sforza, a quem devemos a primeira síntese entre as bases teóricas da atual Genética de Populações, e também a primeira tentativa de elaborar uma História da diferenciação entre os grupos étnicos humanos <7>.
Pesquisas posteriores deste e de outros cientistas mostram a confluência de todas as atuais etnias em uma única população africana, que viveu há mais de 100.000 anos atrás. Tal conclusão coincide em linhas gerais com os resultados obtidos em 1995 pela Dra. Johanna Nicols, da Universidade de Berkeley, Califórnia. Segundo ela, existe uma clara superposição dos parentescos lingüístico e genético entre as diferentes populações humanas atuais.
Segundo esses cientistas, as 5.000 línguas que hoje existem no mundo têm sua origem mais remota numa protolíngua que existiu há aproximadamente 100.000 anos no leste da África, ou talvez no Oriente Médio. Na verdade, Cavalli Sforza vai ainda mais longe em suas conclusões: segundo ele, a chave do êxito da expansão do homem atual está na linguagem, e não tanto no desenvolvimento das tecnologias, como desde há muito tempo se afirma insistentemente.
A idéia proposta por Cavalli Sforza, de que a Arte é posterior à linguagem, e de que “somos o que somos porque falamos”, é de fato uma das suas teses mais inusitadas. Ele sugere que para compreender o homem atual é mais importante o estudo da linguagem do que o dos artefatos líticos <8>. A proposta parece injustificada, porque de fato não conhecemos nada ou quase nada a respeito dessa suposta língua ancestral, já que as análises lingüísticas só permitem que retrocedamos uns poucos milhares de anos. Em todo caso, a correlação observada entre a distribuição dos genes e a das línguas atuais poderia denotar, entre outras coisas, que todos os Homo sapiens – e somente eles – chegaram a ter o domínio da linguagem.
UM PROJETO COM AUTORIA
Numa outra ordem de coisas, hoje – mais do que nunca – pode-se afirmar que as pesquisas realizadas nos últimos anos indicam – e de modo cada vez mais contundente – que a suposta oposição entre Evolução e ação divina carece de fundamento. Nesse sentido, é surpreendente ver como alguns dos mais importantes biólogos moleculares declaram sem o menor constrangimento que são defensores entusiastas do diálogo entre a Ciência e a Religião, e que reconheçam abertamente que a Evolução e a ação divina são compatíveis. Um deles, Francisco Ayala, referindo-se à criação a partir do nada, afirma que “é uma noção que, pela sua própria natureza, sempre permanecerá fora do âmbito científico”; como também admite que “outras noções que estão fora do âmbito científico são a existência de Deus e dos espíritos, e qualquer atividade ou processo definido como estritamente imaterial” <9>.
Em seus escritos mais recentes, Ayala recolhe também algumas idéias estritamente teológicas: “a existência e a criação divinas são compatíveis com a evolução e com outros processos naturais. A solução reside em aceitar a idéia de que Deus age através de causas intermediárias. (…) A evolução também pode ser considerada como um processo natural através do qual Deus traz à existência as espécies viventes, conforme os seu plano” <10>. São idéias no mínimo surpreendentes quando ditas por alguém que é um dos mais notáveis representantes do neodarwinismo, e além disso um convicto defensor do poligenismo.
É também muito significativo ver como essas idéias recordam estas outras de João Paulo II: “do ponto de vista da doutrina da Fé, não se vê dificuldade em explicar a origem do homem, quanto ao corpo, mediante a hipótese do Evolucionismo. Contudo, é preciso acrescentar que tal hipótese propõe somente uma probabilidade, e não uma certeza científica. Por sua vez, a doutrina da Fé afirma de modo invariável que a alma espiritual do homem é criada diretamente por Deus. Ou seja: é possível, segundo a hipótese mencionada, que o corpo do homem, seguindo a ordem impressa pelo Criador nas energias da vida, tenha sido preparado gradualmente nas formas dos seres viventes antecedentes. Mas a alma humana, da qual em última instância depende a humanidade do homem, não pode ter emergido da matéria” <11>.
Mesmo assim, a aparição dos nossos ancestrais no cenário da Evolução continua ainda envolta em mistério. De fato, as pesquisas genéticas parecem estar prestes a esclarecer algumas das grandes incógnitas acerca das nossas origens. Mas isso não significa que os cientistas tenham a última palavra a esse respeito. A Ciência pode ser uma grande ajuda para saber o que aconteceu, mas é somente através do raciocínio filosófico e teológico que poderão ser respondidas aquelas outras perguntas, que sempre ultrapassam os métodos da Ciência experimental, como por exemplo: Por que aconteceu? Quem planejou e executou tudo isso? Por que o fez?
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NOTAS
<1> CANN, R., STONEKING, M. e WILSON, A., “Mitochondrial DNA and human evolution”, Nature, 325, (1987), 31-36
<2> AYALA, F., “Polimorfismos genéticos y evolución de los seres humanos modernos”, Jornadas sobre “Evolución molecular humana”, Museo de la Ciencia de la Fundación “La Caixa” (Barcelona, 24-25 de abril, 2001)
<3> ARNASON, U., “Estimaciones de las divergencias moleculares entre primates, en particular hominoides”, Jornadas sobre “Evolución molecular humana”, Museo de la Ciencia de la Fundación “La Caixa” (Barcelona, 24-25 de abril, 2001)
<4> NGO, K.Y., VERGNAUD, G., JOHNSSON, Ch., LUCOTTE, G., e WEISSENBACH, J., “A DNA Probe Detecting Multiple Haplotypes of the Human Y Chromosome”, Am. J. Hum. Genet., 1986, 38, p. 407
<5> UNDERHILL, P. et al., Nature Genetics, november, 2000.
<6> WALLACE, D.C., “El uso de los genes paternales y maternales para elucidar los orígenes humanos y las enfermedades complejas”, Jornadas sobre “Evolución molecular humana”, Museo de la Ciencia de la Fundación “La Caixa” (Barcelona, 24-25 de abril, 2001)
<7> CAVALLI SFORZA, L.L., “Genes, pueblos y lenguas”, Investigación y Ciencia, 184, (1992), p. 4
<8> Cfr. CAVALLI SFORZA, L.L., MENOZZI, P. e PIAZZA, A., The history and Geography of Human Genes, Princeton University Press, 1995.
<9> AYALA, F., La teoría de la evolución. De Darwin a los últimos avances de la genética, Ediciones Temas de Hoy, Madrid, 1994, p. 147.
<10> Ibid., pp. 21-22
<11> JOÃO PAULO II, Audiência geral O Homem, imagem de Deus, é um ser espiritual e corporal, de 16 de abril de 1986. Texto em Insegnamenti, IX, 1 (1986), p. 1041.
NOTAS
<1> CANN, R., STONEKING, M. e WILSON, A., “Mitochondrial DNA and human evolution”, Nature, 325, (1987), 31-36
<2> AYALA, F., “Polimorfismos genéticos y evolución de los seres humanos modernos”, Jornadas sobre “Evolución molecular humana”, Museo de la Ciencia de la Fundación “La Caixa” (Barcelona, 24-25 de abril, 2001)
<3> ARNASON, U., “Estimaciones de las divergencias moleculares entre primates, en particular hominoides”, Jornadas sobre “Evolución molecular humana”, Museo de la Ciencia de la Fundación “La Caixa” (Barcelona, 24-25 de abril, 2001)
<4> NGO, K.Y., VERGNAUD, G., JOHNSSON, Ch., LUCOTTE, G., e WEISSENBACH, J., “A DNA Probe Detecting Multiple Haplotypes of the Human Y Chromosome”, Am. J. Hum. Genet., 1986, 38, p. 407
<5> UNDERHILL, P. et al., Nature Genetics, november, 2000.
<6> WALLACE, D.C., “El uso de los genes paternales y maternales para elucidar los orígenes humanos y las enfermedades complejas”, Jornadas sobre “Evolución molecular humana”, Museo de la Ciencia de la Fundación “La Caixa” (Barcelona, 24-25 de abril, 2001)
<7> CAVALLI SFORZA, L.L., “Genes, pueblos y lenguas”, Investigación y Ciencia, 184, (1992), p. 4
<8> Cfr. CAVALLI SFORZA, L.L., MENOZZI, P. e PIAZZA, A., The history and Geography of Human Genes, Princeton University Press, 1995.
<9> AYALA, F., La teoría de la evolución. De Darwin a los últimos avances de la genética, Ediciones Temas de Hoy, Madrid, 1994, p. 147.
<10> Ibid., pp. 21-22
<11> JOÃO PAULO II, Audiência geral O Homem, imagem de Deus, é um ser espiritual e corporal, de 16 de abril de 1986. Texto em Insegnamenti, IX, 1 (1986), p. 1041.
Fonte: Arvo.net
Link: http://www.arvo.net
Tradução: Quadrante
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