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domingo, 30 de janeiro de 2011

Vida em outros planetas? Parte 1

Revista: "PERGUNTE E RESPONDEREMOS"
D. Estevão Bettencourt, osb

Nº 279 - Ano 1985 - p. 91

Revista: "PERGUNTE E RESPONDEREMOS"

D. Estevão Bettencourt, osb.

Nº 279 - Ano 1985 - Pág. 91.

Em síntese: A questão da existência de planetas habitados não pode ser resolvida com precisão. É certo que as condições necessárias para o surto e a continuidade da vida são assaz complexas. Como quer que seja, pode ser que se realizem em alguns planetas dentre a multidão dos que existem - e isto mais provavelmente fora do nosso sistema solar do que dentro deste.

Notemos, aliás, que a vida poderia tomar formas diferentes daquelas que nós conhecemos, formas que não exigiriam as condições da vida na terra, mas, sim, outras que ignoramos. Do seu lado, a fé não se opõe a hipótese de haver habitantes em outros planetas; o Senhor Deus só nos revelou o que interessa diretamente à salvação dos homens na terra.
Por enquanto, é tudo o que se pode dizer em poucas palavras sobre assunto ainda muito pouco explorado.

A Via Láctea, galáxia da qual faz parte o planeta Terra, conta centenas de bilhões de estrelas. As galáxias no universo perfazem um total de centenas de milhões. Cada estrela é comparável ao nosso sol, talvez com alguns planetas a girar em torno dela.

Daí a pergunta: em tão grande multidão de planetas, não haverá alguns ou muitos que sejam habitados por seres inteligentes, com os quais possamos Ter relacionamento e intercâmbio? Tais seres não estariam mais adiantados do que nós em matéria de ciência e tecnologia?

As respostas se dividem: há físicos e astrônomos que, baseados em cálculos de probabilidade, optam pela afirmativa e já tentaram estabelecer contato com os possíveis habitantes de outros planetas. Todavia são reticentes os biólogos, que estudam as condições necessárias para que haja vida e os requisitos indispensáveis para o surto da mesma.
As páginas seguintes tencionam informar sobre o problema e algumas pistas de solução para o mesmo.

1. O problema

O primeiro ponto a considerar dentro da problemática em foco refere-se à vida e às condições indispensáveis para que ela possa surgir e durar. Antes, pois, de perguntar se existem planetas habitados, perguntemos se existem astros habitáveis.

A vida é caracterizada por uma certa espontaneidade de operações que se deve a uma reserva de energia do ser vivo. Essa energia decorre do metabolismo ou das reações químicas que se realizam dentro de um organismo vivo para armazenar ou utilizar energia; o metabolismo consta de assimilação e eliminação de substâncias; ele só é possível mediante a presença de carbono e de seus compostos, pois o carbono tem quatro valências desiguais, que tornam possível o metabolismo.

Para que o metabolismo possa ocorrer, requer-se também um meio ambiente adequado, cujo primeiro componente deve ser a água. Esta não se deve encontrar nem em estado gasoso, nem em forma sólida de gelo, mas em estado líquido e, por conseguinte, numa temperatura superior a zero grau centígrado e assaz inferior a cem graus.

Convém outrossim que exista em torno dessa água uma atmosfera estável, rica em oxigênio, dado que a produção de energia do ser vivo se faz mediante oxidação. Essa oxidação supõe a ação da clorofila.

Em poucas palavras: deve-se dizer que as condições necessárias para que haja vida, são a existência de matéria orgânica, cujo elemento essencial é o carbono, em ambiente rico em oxigênio e água.

Por conseguinte, um astro que careça de um desses elementos - água líquida, carbono ou matéria orgânica, atmosfera de oxigênio - não é apto a ser sede de vida.

Posta esta premissa, excluem-se as estrelas (inclusive o nosso sol), que não podem abrigar a vida. esta só pode existir em planetas que girem em torno das estrelas. Ora, como nos é muito difícil conhecer os planetas (não estamos certos de conhecer todos os planetas do nosso sistema solar), são muito limitadas as nossas possibilidades de avaliar a probabilidade de vida fora da Terra.

Detenhamo-nos, porém, sobre as estrelas que podemos ver. Escolhamos aquelas que podem Ter planetas em torno de si, e vejamos se tais planetas podem reunir as condições necessárias para ser habitados por seres vivos.

2. As estrelas interessantes
As estrelas são praticamente inumeráveis. A olho nu, podem-se distinguir, no máximo, 7.000, esparsas pela abóbada celeste. Os telescópios mais possantes chegaram a detectar perto de 6.000.000 de estrelas, ao passo que os cálculos e as avaliações dos astrônomos chegam a contar várias centenas de bilhões de estrelas em nossa galáxia, e quantidades proporcionais nas outras galáxias. As estrelas são muito diferentes entre si. Muitas delas, à primeira vista, parecem pouco acolhedoras para os planetas.

Entre estas devem ser contadas as estrelas múltiplas, muito numerosas porque representam 7/10 do conjunto das estrelas múltiplas. Dois terços das estrelas múltiplas são duplas; as outras são triplas, quádruplas, quíntuplas, ou mesmo sêxtuplas. São, todas elas, estrelas que giram umas em torno das outras e, por isto, criam um ambiente muito inóspito para eventuais planetas.

Existem muitas outras estrelas ditas "variáveis", cujo tamanho aumenta e diminui notavelmente, segundo ritmo mais ou menos rápido; sobem a um total de 4.600. Também são pouco propícias à existência de planetas.

É preciso mencionar outrossim as estrelas que explodem, as que estão no começo ou no fim da sua evolução, e, finalmente, as estrelas ditas "ordinárias" (que se encontram numa fase mais ou menos adiantada da sua vida normal).

Se a estrela é bem maior do que o sol, ela evolui rapidamente: o tempo durante o qual ela queima o seu hidrogênio será breve demais para que apareça e se desenvolva a vida (esta exige alguns bilhões de anos para se formar). Em conseqüência, não podem ser aglutinadoras de planetas habitados as estrelas gigantes azuis e vermelhas.

Se a estrela é pequena demais, ela logo esgota as suas reservas de hidrogênio e se transforma em anã branca cada vez menos brilhante, até tornar-se anã preta. Também estas não são favoráveis à existência de planetas habitados.

Restam as estrelas médias, as anãs amarelas, como o nosso sol, que evoluem lentamente e são capazes de consumir vagarosamente o seu hidrogênio durante alguns bilhões de anos (dez bilhões, no caso do nosso sol). Estas são suscetíveis de ter planetas e de permitir que a vida tenha o tempo necessário para surgir e evoluir. Todavia parece relativamente exíguo o número de tais estrelas; os diagramas de Hertzsprung-Russel, que distribuem todas as estrelas conhecidas segundo o seu tamanho e a sua cor, reservam espaço assaz limitado às anãs amarelas.

3. Os planetas habitáveis

Concentremo-nos, pois, nas únicas estrelas que interessam ao nosso estudo: as anãs amarelas. Nem todas têm planetas e todos os planetas não podem ser habitáveis; para isto várias condições são necessárias, entre as quais o tamanho e a distância.

Para que uma estrela possa ter planeta, é preciso que, por ocasião da sua formação, ela tenha arrastado boa quantidade de matéria consigo e que essa matéria, de um lado, não tenha sido atraída para o centro da estrela e, de outro lado, não tenha escapado da força de atração da estrela. É preciso também que essa estrela não seja demasiado antiga ou não se tenha formado logo depois do big bang ou da grande explosão inicial (ocorrida há cerca de quinze bilhões de anos).

Quando as galáxias se constituíram, eram compostas quase exclusivamente de hidrogênio com um pouco de hélio, e sem os outros átomos, que são todos mais pesados. Estes se formaram no fim da combustão de estrelas volumosas para que a temperatura destas se elevasse a ponto de fundir os átomos de carbono, nitrogênio, magnésio, ferro... Estes elementos se espalharam no espaço pela explosão das supernovas. Após umas tantas dessas explosões, as estrelas que se formam em tal região, reagrupam os átomos mais ou menos pesados que então podem produzir planetas sólidos.

A massa do planeta é importante, pois dela depende a possibilidade de reter uma atmosfera. Se for massa pequena demais, não a reterá suficientemente; se for grande demais, retê-la-á em excesso.

Mercúrio, cuja massa é dezoito vezes maior do que a da Terra, não reteve atmosfera na sua superfície, e Marte, que é nove vezes menor, reteve-a insuficientemente, a saber: uma atmosfera com pressão 166 vezes menos forte, equivalente não a 760 mm de mercúrio, mas a 4,5 mm - o que é chamado "um vácuo grosseiro".

Vênus, cuja massa é de 4/5 da massa da Terra, reteve uma atmosfera abundante. Está mais próxima do sol do que a Terra (108 em vez de 150 milhões de km), o que corresponde a uma influência do sol quase duas vezes mais forte; donde se segue que tem uma temperatura de aproximadamente 500º! Em conseqüência, a água se acha em estado de vapor superaquecido e se dissocia em oxigênio e hidrogênio (este se perde no espaço). O gás carbônico, por isto, aumenta sempre mais: deixa passar os raios visíveis ou ultra-violetas que aquecem os corpos, mas detém os raios infra-vermelhos produzidos pelos corpos quentes. Em conseqüência, o calor se torna cada vez mais forte, a ponto que o chumbo, o zinco e outros corpos aí são líquidos.
O planeta Marte, a uma distância de 228 milhões de km, recebe menos calor do sol, ou seja, 43% menos do que a Terra recebe. A ausência de atmosfera faz com que as variações diárias de temperatura sejam grandes, chegando a 150º, com uma média de 90º abaixo de zero. Donde se vê que, apesar de todos os sonhos, não existem marcianos; é mesmo impossível detectar o mínimo vestígio de vida ou de matéria orgânica. Se Marte fosse um planeta maior, não seria tão inóspito para a vida.
Por conseguinte, na medida em que os podemos conhecer, verificamos que, entre os nove planetas do sistema solar, somente a Terra é habitável. Mercúrio e Marte carecem de atmosfera; Júpiter e Saturno não têm solo; Mercúrio e Vênus são quentes demais, ao passo que Marte e os outros planetas não são suficientemente aquecidos. Tem-se assim a impressão de que a Terra apresenta características excelentes e raras e os planetas habitáveis não são talvez tão numerosos no universo.



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