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quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Compreendendo a Nova Era - EB (Parte 3)

Traduzem a necessidade de crer, mesmo em pessoas formadas na mentalidade científica. A astrologia seduz, porque parece apoiar-se sobre leis científicas (...). As crenças ufológicas apoiam-se sobre fatos tidos como seguros; o espiritismo parece ter um suporte experimental.

Todavia, essas modalidades de crer não têm a firmeza de uma fé consistente. Por exemplo, a astrologia liberta da angústia existencial porque parece oferecer certo domínio sobre o futuro. Mas, dado que as previsões não são sempre garantidas com certeza, as pessoas acreditam e não acreditam nelas. Um traço de flou ou vago caracteriza esse tipo de religiosidade" (art. Citado, Esprit et Vie, 13/03/86, p. 150). ¹

Pergunta-se agora:

Que Fazer? Como Responder?

O Papa Paulo VI afirmou que o Espírito Santo fala, às vezes, pelos ateus. Por que não estaria falando através do vasto surto religioso, um tanto emotivo e ilógico, de nossos dias?

Na base desta premissa, podemos dizer que a religiosidade ardente de nosso tempos não deve ser menosprezada, como se fosse uma onda vazia, mas há de ser tida como um apelo da sociedade contemporânea aos fiéis católicos. O Evangelho conserva hoje a força e a capacidade de atrair que tinha nos primeiros séculos: perseguido pelo Império Romano, conseguiu vencer as pressões sem ter dinheiro nem armas, mas unicamente pelo poder de convicção da verdade; a beleza da mensagem cristã calou fundo no coração dos homens pagãos, a tal ponto que Tertuliano (+ 220) escrevia: "A alma humana é naturalmente cristã".

Em nossos dias, portanto, o Evangelho, vivido durante quase vinte séculos pela Igreja de Cristo, há de poder responder aos anseios do homem moderno. Pergunta-se, porém: será que os cristãos creem no valor e na "loucura" do Evangelho, como as primeiras gerações acreditavam? Não faltará aos fiéis católicos a têmpera convicta e corajosa que animava os antigos cristãos? O fenômeno religioso fervilhante e desorientado de nossos tempos não será o indício de que existe uma lacuna no coração dos homens, que somente a Igreja pode preencher? O homem de hoje é sequioso do Transcendental, como os pagãos eram sequiosos; não estará faltando quem comunique a esses irmãos a Palavra que Deus revelou precisamente para atender aos anseios de todo homem?

Impõem-se, a quanto parece, a resposta positiva a estas perguntas; é forçoso reconhecer que os fiéis católicos poderiam ser mais ardorosos na transmissão da mensagem que eles receberam de graça para comunicar de graça ... Donde deduzimos as seguintes conclusões:

1) Faz-se mister anunciar o Evangelho - o que, aliás, sempre foi um dever dos fiéis católicos. Eis, porém, que as circunstâncias atuais o exigem com três modalidades importantes:

- na integridade da fé católica. Não haja receio de expor as verdades atinentes à Eucaristia, ao pecado e ao sacramento da Reconciliação, ao Papa, aos novíssimos (...)

- com segurança e firmeza (o que não quer dizer em atitude polêmica ou agressiva). O homem moderno estima convicções sólidas e corajosas. Não basta falar, mas é preciso falar com persuasão. São Paulo não recorria aos artifícios da retórica quando pregava e escrevia, mas exprimia-se com o calor de quem sabe o que diz e ama a verdade proferida; isto o tornou o grande arauto da mensagem cristã;

- de maneira que toque não só a inteligência, mas também os afetos e os anseios do ser humano. É preciso saber falar ao coração do homem, já que hoje as emoções e os sentimentos desempenham importante papel na vivência religiosa.

2) Faz-se necessário cultivar e expor também o aspecto místico da vida cristã. A experiência de Deus se faz na oração e pela oração. O mundo de hoje procura lugar de silêncio e retiro, onde a pessoa se recomponha da vida dilacerada e agitada que leva. O catolicismo tem bela tradição mística, codificada nas obras de mestres famosos: carmelitas, inacianos, beneditinos ... É para desejar, porém, que não se confundam estados psíquicos paranormais ou anormais com dons místicos ou graças de oração; em vista disso, é preciso que se enfatize o papel da inteligência e do raciocínio no progresso espiritual; a fé não é sentimento cego, mas é um ato da inteligência movida por credenciais ou por motivos que justifiquem logicamente o ato de fé.

O Anti-intelectualismo de muitas pessoas religiosas não condiz com a realidade da mensagem católica. Esta interpela o ser humano como tal ou como criatura inteligente e pensante. Quanto mais estudado é o Evangelho, tanto mais saboroso e atraente se torna.

3) Espera-se dos fiéis católicos um testemunho não só de palavras, mas também de vida. Uma conduta indefinida ou incoerente anula os efeitos da pregação. O secularismo é morte para o Cristianismo; Deus há de ser manifestado com toda a lucidez por quem nele crê.

O fiel católico que se dispuser a tal testemunho, entregará a Deus a frutificação dos seus esforços, de acordo com a Palavra do Apóstolo: "Eu plantei, Apolo regou, Deus deu o crescimento" (1Cor 3,6). De resto, a experiência ensina que, onde há vivência plena do Catolicismo a se irradiar em zelo pastoral assíduo, as pessoas deixam de ser atraídas por seitas e novos movimentos religiosos, pois a sua sede de Deus e do Absoluto lhes é adequadamente saciada.

APÊNDICE

À guisa de complemento, vai aqui publicado um trecho de carta escrita por São Francisco Xavier (1506-1552), missionário na Índia, a S. Inácio de Loyola:

"Percorremos as aldeias de neófitos, que receberam os sacramentos cristãos, há poucos anos. Esta região não é cultivada pelos portugueses, já que é muito estéril e pobre; e os cristãos indígenas, por falta de sacerdotes, nada a não ser que são cristãos. Não há ninguém que para eles celebre a Ação divina; ninguém que lhes ensine o Símbolo, o Pai-nosso, a Ave-Maria e os mandamentos da lei de Deus.

Desde que aqui cheguei, não parei um instante: visitando com freqüência as aldeias, lavando na água sagrada os meninos ainda não batizados. Purifiquei, assim, grandíssimo número de crianças que, como se diz, não sabem absolutamente distinguir entre a esquerda e a direita. Estas crianças não me permitiam recitar o Ofício Divino nem comer nem dormir, enquanto não lhes ensinasse alguma oração; foi assim que comecei a perceber que destes é o reino dos céus.

À vista disso, como não podia, sem culpa, recusar pedido tão santo, começando pelo testemunho do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinava-lhes o Símbolo dos Apóstolos, o Pai-nosso e Ave-Maria. Observei que são muito inteligentes, e, se houvesse quem os instruísse nos preceitos cristãos, não duvido de que seriam excelentes cristãos.

Nestas paragens, são muitíssimos aqueles que não se tornam cristãos, simplesmente por faltar quem os faça tais. Veio-me muitas vezes ao pensamento ir pelas Academias da Europa, particularmente à de Paris, e por toda parte gritar como louco e sacudir aqueles que têm mais ciência do que caridade, clamando: "Oh! Como é enorme o número dos que, excluídos do céu, por vossa culpa se precipitam nos infernos!".¹

Quem dera que se dedicassem a esta obra com o mesmo interesse que às letras, para que pudessem prestar contas a Deus da ciência e dos talentos recebidos!
Na verdade, muitos deles, impressionados por esta idéia, entregando-se à meditação das realidades divinas, talvez estivessem mais preparados para ouvir o que Deus diria neles; abandonando as cobiças e interesses humanos, se fariam atentos a um aceno da vontade de Deus. Decerto, diriam de coração: "Senhor, eis-me aqui;; que queres que eu faça? Envia-me aonde quer que for de Teu agrado, até mesmo à Índia".

Esta carta bem ilustra o senso religioso inato do ser humano e o zelo apostólico do missionário. Conserva sua atualidade.


¹ Tradução do inglês por João Marques Bentes. - Ed. Bompastor, Rua Pedro Vicente, 90 - 01109-010 São Paulo (SP), 160 x 230 mm, 421 pp.

¹ Citado por Jean Vernette, no artigo "Sectes et Gnose Néo-paganisme et Nouvelle Religiosité. Le déplacemente actuel des phénomènes religieux, question posée aux Eglises", na revista "Esprit et Vie", 63/1986, p. 130.

¹ Ver pp. 207-298 deste fascículo (N. da R.).

¹ A Teologia, em nossos dias, reconhece que as pessoas que de boa fé professam uma crença não católica (até mesmo pagã) são julgadas por Deus segundo a fidelidade à sua consciência cândida, reta e sincera, e não segundo os parâmetros do Evangelho, que não lhes foi dado ouvir. Cf. Constituição do Vaticano II "Lumen Gentium", nº. 16. (Nota do Editor)


FONTE ELETRÔNICA:



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