De algum tempo para cá, a maior emissora de TV do Brasil, a Rede Globo, odiada por muitos e assistida por esses muitos odiares, vem abordando um tema que que está ficando cada vez mais difícil de não tocar em “conversas civilizadas”: a homossexualidade.
Homofóbicos podem acusar a Rede Globo de estar fazendo “apologia ao homossexualismo” (sic) e temem que pessoas ao seu redor acabem se tornando homossexuais por influência da novela ou de outro programa de TV que tenha abordado o tema. Claro que homofóbicos entendem nada ou quase nada sobre ser gay e sentir-se gay. Para eles, embasados em citações bíblicas ou de alguma figura religiosa ou então, no próprio preconceito de nossa sociedade, homossexualismo (sic) é desvio de conduta, coisa de gente sem vergonha na cara, sem caráter, que ainda não experimentou as coisas boas da vida e, o mais absurdo de tudo, que tem cura e é só uma fase ou que uma boa surra vai resolver o problema.
Algumas pessoas ligadas a grupos de militância à favor dos direitos dos homossexuais podem afirmar que é um avanço. E eles não deixam de ter razão. É importante que uma emissora com o poder incontestável de formar a opinião de milhões de pessoas carentes de educação e de pessoas instruídas ao seu redor aborde o tema. É importante que elas conheçam melhor as minorias que sofrem preconceito todos os dias por serem o que são, pela cor de pele que elas tem, ou pelo sexo da pessoa que as atrai. .
Porém a Globo ainda não sabe abordar o tema sem apelar para estereótipos de forma implícita ou explícita. Isto pode ocorrer por dois motivos. O primeiro, é de que a Globo é burra e ela mesmo é preconceituosa ao tentar quebrar o preconceito, mas o que ela faz é exatamente o contrário, ela os reforça. O segundo é porque abordar estereótipos polemizam, chamam a atenção pelo o que já é duramente criticado em uma sociedade machista. A Globo é uma emissora de televisão com fins comerciais, é óbvio que ela está focada em alavancar a audiência.
Agora mais recentemente, poderíamos citar desde 2005, quando o reality-show Big Brother Brasil apresentou o seu primeiro participante homossexual assumido que foi perseguido por ser homossexual (e claro, ele inteligentemente, soube explorar esse preconceito dos seus adversários a seu favor). Para muitos, o termo “homofobia” soava estranho, como um neologismo mas, desde então, muitos heterossexuais alheios a cultura gay passaram a entender o significado desta palavra. Nesta mesma época, o filme “O Segredo de Brokeback Mountain” ganhou um grande destaque mundo afora por abordar o tema de dois caubóis que mantinham uma relação homossexual cheia de altos e baixos. Inspirado no filme, a novelista Glória Peres contou o drama de Júnior (Bruno Gagliasso) em “América”, mas o tão prometido beijo gay acabou não indo ao ar, frustrando todos aqueles que esperam essa cena histórica da nossa teledramaturgia.
Desde então, muitas das novelas que foram se seguindo apresentavam algum casal homossexual com o argumento de “familiarizar a sociedade aos gays”, prometendo e não colocando no ar o tão polêmico e aguardado beijo gay. O BBB apresentou outros homossexuais em suas edições seguintes, como o urso inflamável Marcelo, o maquiador e drag queen, Dicésar, o jovem afeminado e fútil Serginho e a lésbica Angélica (Morango) que, pelo menos ela, pode mostrar ao Brasil que ser lésbica não é ser, necessariamente, uma machorra.
A cada nova novela, mais personagens homossexuais ganham espaço. A cada edição de Big Brother, o número de gays, lésbicas, bissexuais (e agora uma transsexual) aumenta. Será mesmo que é a Globo dando espaço para os gays conquistarem o seu espaço e um pouco mais de respeito ou é apenas uma tentativa usar os gays como macacos de circo para os seus programas de TV cuja audiência vem caindo a cada ano que passa?
Mulheres e gays costumam ser a maioria da audiência das novelas e do Big Brother. Homens heterossexuais se interessam mais pelas mulheres em biquinis do que pelo o que está acontecendo na trama. A Rede Globo não é tão burra, nunca foi santa e nunca foi comprometida com quase nada que não fosse dar audiência e, consequentemente, lucros.
A Globo quer a audiência daqueles que têm o sonho de viver em uma sociedade onde os homossexuais não sejam discriminados e de que acreditam que a novela ou o BBB vá tornar nossa sociedade menos intolerante. A Globo promete o tal do “beijo gay” e não cumpre ou não permite que vá ao ar. A Globo quer os homossexuais como macacos de circo: “olha lá aquele viado desfilando de fio-dental”. Não há um compromisso em lutar pelos direitos dos gays ou de defendê-los dos vários tipos de discriminação e repressão.
A Globo vai continuar reforçando o estereótipos do gay cabeleleiro ou maquiador ou então do gay levemente ou totalmente afeminado afinal, a Rede Globo e outros veículos de comunicação entendem que “diversidade” se limita ao homem hetero, a mulher hetero e ao homossexual pintoso e oferecido da Parada Gay. Parece que não há na mídia diversidade entre os próprios gays. Ponto para o preconceito e um reforço aos estereótipos.
Escrito por P. Florindo
Diante do exposto, podemos comentar que a inserção gradual das personagens gays nas novelas e programação da Globo está sofrendo um desvio no que é criticado nos parágrafos anteriores, para esclarecer essa afirmação posso citar o personagem Thales da novela “Ti Ti Ti” que foge ao padrão dos gays até então apresentados nesses veículos (apesar de que o Júnior, de América, não era espalhafatoso, mas sensível, carente, em conflito). Conflito que vive o personagem Thales na novela “Ti Ti Ti”, é possível perceber um esforço do autor e da direção no sentido de trazer o drama de forma mais crua (e não tão romântica como em América) na voz do personagem Julinho. Em episódios recentes ocorreram discussões sobre o rumo que tomaria a relação dos dois, etc.
Até o ano de 2010, creio que a inserção não conseguia atingir o objetivo pelo qual é prezado, e sim, reforça o preconceito. Interessante pensar que o governo atual tem criado medidas e projetos que são satisfatórios e, em teoria, efetivos, para apoiar a aceitação dessa parcela cada vez maior da sociedade, com as famosas e tão comentadas cartilhas componentes do material a ser entregue nas escolas e trabalhado nelas. Podemos também notar o apoio do governo aos projetos de curtas-metragens que tenham temática gay, cabe a mim citar e recomendar aos leitores o famoso curta “Café com leite” de 2007, dirigido por Daniel Ribeiro, tendo apoio do governo federal (pode ser assistido no porta-curtas aqui).
Também cito e recomendo o curta “Eu não quero voltar sozinho” de 2010, mesmo diretor. Facilmente encontrado na internet.
Esse tipo de ação, de apoio a aceitação é efetivo de diversas formas, creio que o que falta é uma melhor divulgação, incluindo aí a exibição em rede nacional. Dessa forma o movimento poderá caminhar numa direção diferente da atual, que acaba sendo visto como a “festa da Parada Gay” ou os estereótipos que vemos na televisão.
FONTE ELETRÔNICA;
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