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quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Cristianismo continua com força, dizem especialistas

O Cristianismo vai muito bem, obrigado”.É com essa expressão que o professor da Universidade de São Paulo (USP) e especialista em sociologia da religião, Antônio Flávio Pierucci, resume algumas de suas percepções sobre o cenário da religião cristã no Brasil.Ao contrário do disseminado em muitos setores, Pierucci diagnostica que o cristianismo não perdeu sua força. Passa, no máximo, por um processo de mutação.Surge a pergunta: e as crises que a religião cristã enfrentaria com o mundo moderno e o advento de tecnologias que tornam mais cômoda a vida dos homens na sociedade?“É impossível pensar o Ocidente sem pensar o cristianismo”, responde o professor da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) e especialista em história das religiões, Sérgio Ricardo da Mata.Mesmo inserido em um contexto diversificado, em que se multiplicaram os sistemas e éticas religiosas à disposição – especialmente a partir da segunda metade do século XX –, a religião cristã estaria longe de perder sua função de cimento social.“Ele [o cristianismo] é um processo fundamentalmente histórico, capaz de estar aberto a novas realidades e de se reinventar”, complementa da Mata.O desafio se encontra exatamente aqui: encontrar as respostas certas para questões como Que elementos devem estar abertos à mudança? Quais são os essenciais e quais os secundários?Ao mesmo tempo que existe o risco de perecer, caso haja um fechamento muito rígido, acena no horizonte o perigo da flexibilização exagerada. E é aí que os teólogos encontram uma vertente com muito trabalho a ser feito.“A Igreja é um mundo que permite caminhos diferentes com o mesmo objetivo. Como a característica de nossa época é o pluralismo, é impossível pensar em reproduzir a unicidade da Idade Média, por exemplo”, explica o historiador.Deus pessoalMesmo assim, não se pode fazer vistas grossas para o processo de mutação no papel da religião na sociedade.A vida pessoal é um terreno apropriado para se constatar essas mudanças. É ali que as numerosas pesquisas do professor Pierucci indicam uma consideração importante: boa parte das pessoas não acha que religião é cumprir mandamentos ou ter boa conduta.“Muitos fiéis percebem a religião muito mais como ritual – orações, idas ao templo, etc. - que boa conduta. É muito difícil conseguir associar o comportamento ético correto e a religião. As pessoas percebem as duas coisas como instâncias diferentes”, pondera.Com relação à descristianização, o professor Pierucci explica:“É um fenômeno que se pode perceber mais nas esferas institucionais. Hoje, há muito menos escolas confessionais, a produção artística já não possui um caráter sacro e os espaços em geral estão menos religiosos, os dias santos são utilizados para compras e lazer”, elenca o especialista.De acordo com o último censo realizado pelo IBGE, em 2000, cerca de 74% dos brasileiros se denominam católicos, enquanto em torno de 16% são protestantes. Somando as duas estatísticas, o resultado é que praticamente 90% dos brasileiros se consideram cristãos.As experiências de pesquisa do professor da USP também indicam que o brasileiro possui uma noção bastante intervencionista de Deus. “A maioria dos cristãos acredita que o mesmo Deus bíblico continua interferindo na vida e que não é desinteressado do que acontece conosco”.Aqui o professor aponta dados interessantes: “Mas Deus sempre é visto como um interventor no positivo e de forma extraordinária”.A prática religiosa com militância cotidiana e dedicada, ao menos teoricamente, seria uma trilha a ser seguida por poucos. “O grande desafio é integrar o comportamento e a esfera do sagrado”, conclui Pierucci.Processo históricoO professor Sérgio explica que, enquanto fenômeno histórico, há duas correntes de pensamento com relação à descristianização.A primeira coloca a Revolução Francesa como a gênese de todo o processo, com as consequentes secularização, separação estrita entre Igreja e Estado e uma diminuição na participação dos fieis na liturgia e sacramentos.Já a outra tendência acredita que o fenômeno seria um desdobramento da formação do Estado moderno, com seus inícios nos séculos XV e XVI, e que teria assumido uma forma mais radical na revolução ocorrida na França, em fins do século XIX.

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