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domingo, 2 de outubro de 2011

VIRTUDE E BOA CIÊNCIA PARTE 1

"Non vogliate negar l’esperienza di retro al sol, del mondo sanza gente. Considerate la vostra semenza fatti non foste a viver come bruti ma per seguir virtute e canoscenza" [1]
Uma das características do "novo ateísmo" é a falta de rigor científico de seus promotores. Dawkins, Hitchens e não nos esqueçamos do cômico Odifreddi, atacam a crença em Deus com armas e argumentos que não serviram a Anatole France há cerca de um século. E acrescento que tanto Anatole France quanto Bertrand Russell ficariam vermelhos de vergonha por ver a pobreza intelectual que a causa atéia representa atualmente. Sim, atualmente, quase um século depois da publicação de "La Revolte des Anges" (A Revolta dos Anjos) e "Why I Am not a Christian" (Porque não sou Cristão), os últimos autores ateus vêm disparando um ataque desordenado que evidencia uma notável falta de rigor filosófico que só pode ser explicada como uma cegueira abismal ou uma absoluta má vontade.
Uma das colunas deste ácido movimento, o italianíssimo professor de matemática Piergiorgio Odifreddi, foi recentemente entrevistado pelo "El País", um jornal de Madri. Cito a parte da entrevista que nos interessa, para observar a involução dos argumentos do Ateísmo dos últimos cem anos. Referindo-se à crença em Deus, o jornalista lhe pergunta:

- Porém, como um matemático formula algo que carece de toda lógica?

[Responde o professor Odifreddi]:
- Este livro possui duas inspirações claras: a obra "Porque não sou Cristão", de Bertrand Russell, e aquela de Benedetto Croce, "Porque não Podemos nos Considerar Cristãos". A idéia nasceu porque todo ano editamos um livro de Russell e deveríamos então fazer isso. Relí o livro e pareceu-me que, devido o passar do tempo, estava ultrapassado. Disse isso ao editor e ele me propôs que eu fizesse uma interpretação minha..."[2].

 
O que salta à vista neste sincero comentário do professor Odifreddi é justamente a sua franca confissão de que a obra de seu colega matemático estava ultrapassada. E concordo com ele: muitas das ideias de Russell eram ultrapassadas e algumas chegaram a ser ultrpassadas mais rápido do que outras. Algumas dessas ideias ainda correm o mundo, como a mula-sem-cabeça, dando voltas na escuridão após terem sido devidamente refutadas há muitos e muitos anos. Esses conceitos errados vivem sua vida antinatural às custas da ignorância de pessoas que ainda hoje os aceitam. Entretanto, retornemos a Bertrand Russell...

A minha afeição à matemática pode levar-me a escrever demais e avançar sobre temas que, em geral, são chatos. Porém, peço paciência e asseguro desde já que o leitor não cairá frustrado.

Odifreddi admite que a obra anticristã de Bertrand Russel está ultrassada e as razões disso analisaremos mais a frente. O que desejo acrescentar por ora é que houve outras ideias de Bertrand Russell - conclusões matemáticas - que duraram menos que um suspiro.

BERTRAND RUSSELL
Bertrand Russell iniciou sua carreira como matemático mas logo foi distraído pela filosofia ou, melhor dizendo, pela má filosofia. Foi uma espécie de João Crisóstomo ao contrário e sua retórica dourada foi colocada a serviço das piores espécies de Humanismo - aquelas que logo degeneraram nas ideias de Hitler e seus amigos. Russell dedicou-se ao estudo dos paradoxos de Georg Cantor, que então havia produzido uma série de obras acerca do estudo da infinitude. Não contente em estudar no silêncio os paradoxos da obra de Cantor, Russell passou a atacar a própria Lógica. E por breve tempo obteve certa fama, já que as suas conclusões pareciam ser bastante razoáveis.

No entanto, como às vezes ocorre, os que conheciam seriamente a Matemática passaram a sentir um mau cheiro no ar, algo estava obviamente errado nas assertivas de Russell. Uma dessas afirmações era relacionada à Teoria dos Conjuntos. Explicada em termos bastante simples, o Paradoxo de Russell propõe uma contradição (não vou explicar isto aqui, pois encontra-se em qualquer livro de Matemática) que já tinha sido apresentada por Epimênides há cerca de 25 séculos antes: trata-se do paradoxo do mentiroso que afirma: "O que eu digo é falso"; mas como é claro, se o que o mentiroso disse é verdade, então é falso! Não importa como se considere isto, a situação parece desarmar as próprias bases que sustentam toda a ordem lógica. Desde logo tudo é suspeito!

Muitos ficaram quebrando a cabeça. Muitos, com exceção de um jovem matemático da cidade de Brno, situada no que era então o Império Austro-Húngaro. Este rapaz, que rapidamente tornou-se um dos poucos amigos íntimos de Albert Einstein, chamava-se Kurt Gödel. Seus restos mortais descansam nos fundos de uma casa que ele morou em Princeton, Nova Jersei, não muito longe de onde escrevo estas linhas. Refletindo sobre este paradoxo de 25 séculos, Gödel produziu o seu Teorema do Incompleto[3] que assombrou a todos, especialmente aquelas pessoas que podiam compreendê-lo.

Naqueles dias, Bertrand Russell afirmava que o trabalho de respeitáveis matemáticos como David Hilbert logo acabaria com as poucas áreas da Matemática que ainda restavam a ser exploradas. Em suma, Hilbert acreditava que era possível construir um sistema axiomático que regeria toda a Matemática; este sistema iria permitir afirmar com certeza se uma assertiva matemática era correta ou não. Russell era um daqueles que esperavam ansiosamente que Hilbert concluísse seu trabalho para, assim, poder declarar que já se conhecia toda a Matemática que havia para se conhecer.

KURT GÖDEL
O trabalho de Gödel lançou por terra as especulações de Russell, provando que Hilbert estava errado de uma extremidade à outra.

O que Gödel fez para prová-lo? Gödel desenvolveu uma alternativa para a paradoxa afirmação de Epimênides. Começou com a famosa assertiva "esta afirmação é falsa" e a transformou em "esta afirmação não pode ser provada". Para fazê-lo, Gödel precisou desenvolver uma nova disciplina matemática que algumas décadas depois seria aplicada no desenvolvimento de linguagens cibernéticas de inteligência artificial. Mas a nós o que importa é que Bertrand Russell estava equivocado. Sei que soa um pouco contencioso, mas seria necessário escrever um livro de Matemática para explicar a revolução causada por Gödel e não podemos nos dar esse luxo aqui neste artigo. Creio que seja o suficiente resumí-lo assim: Gödel provou que existe a verdade na Matemática (uma certeza objetiva que sustenta tudo e que existe independente do pensamento humano). As conclusões positivistas e pós-modernistas restaram destruídas apesar disso não deter o seu avanço.

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