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Há poucos dias eu escrevi um texto no qual eu falei de um certo desalento que tenho por conta de que em muitas paróquias e capelas a missa é descuidada, muitas vezes por aqueles que foram constituídos ministros do altar. Hoje volto para escrever sobre os padres.
Se é verdade que há padres desleixados, há também padres zelosos. Se é verdade que existe um ou outro padre que é pedófilo ou até homossexual, é igualmente verdade que há os que permanecem castos. Se é verdade que há padres carreiristas, é igualmente verdade que há os que tem verdadeira vocação. Se é verdade que há padres carrancudos e fechados, é igualmente verdade que há os que se doam ao ministério a ponto de sorrirem. Mas, esta não é toda a verdade sobre o padre.
Há algumas verdades sobre os padres que a televisão não mostra, o jornal não conta e a internet não deixa transparecer. Os padres sofrem. Sim, sofrem. Muitas vezes sozinhos, chorando por dentro, mas, sorrindo para o rebanho. Tal como um prestimoso pai, o padre quer a felicidade de seus filhos e prefere passar ele as dores e privações da vida a impor que seus filhos o sofram. Os padres choram. O sacrário mudo de uma capela é muitas vezes a única testemunha das lágrimas de um padre. Muitas destas lágrimas são de desilusão, outras por ingratidão do povo. Os padres rezam. Os padres celebram os mistérios da fé. São dispenseiros dos bens celestes, mas não vivem numa redoma de vidro. São constituídos de carne e osso como todo ser humano. São feridos, às vezes ferem. Sofrem a ingratidão e incompreensão e às vezes são duros com o povo, aquele mesmo povo que pode ser mais duro com seu pároco do que o pior dos algozes.
Com o padre tem-se, não raras vezes, pouca piedade, pouca misericórdia, quando sua humanidade extravasa as paredes do edifício de sua consagração. Percebo que aquele que é ministro da misericórdia, da acolhida e do perdão encontra muitos dedos em riste, acusações, apedrejamento e condenação, muitas vezes sumárias.
Esta, caros leitores, é uma verdade sobre os padres. Não somos de vidro, mas também não somos de ferro. "Trazemos este tesouro em vasos de barro". É isto que somos: simples barro. Quebradiços. As pedras que se nos atiram, quebram-nos interiormente. Mas, quem sabe seja melhor assim "para que transpareça que este poder extraordinário vem de Deus e não de nós" (2Cor 4,7).
Não escrevi para acusar nenhuma pessoa. Apenas para pedir: sejamos mais misericordiosos uns com os outros, inclusive com os padres. Queremos alcançar misericórdia de Deus? Se sim, tenhamos misericórdia nas nossas ações: "o juízo será sem misericórdia para quem não praticou a misericórdia. A misericórdia, porém, triunfa do juízo" (Tg 2,13). Misericórdia é aquela atitude que Jesus tem no evangelho para com os pecadores: não exita em olhar em seus olhos, compreendê-los, amá-los, acolhê-los, perdoá-los e diz-lhes: "vai e de hoje em diante não peques mais".
A quem interessar possa, uma ressalva: Misericórdia não é desleixo. Justiça não é impiedade. Ser verdadeiro não é sinônimo para ser não-caridoso. Amar como Jesus amou é uma arte, não é?
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