De acordo com a percepção popular, o julgamento de Galileu Galilei opôs as tradições ultrapassadas da Igreja contra o avanço inexorável da ciência.
Além disso, iniciou o processo de remoção de localização central da humanidade no cosmos para a posição mais correta de “irrelevância virtual”. Mas há um grave problema com essa percepção: é incorreta.
Qualquer bom livro sobre a história da ciência irá proporcionar uma imagem mais precisa do caso Galileu (um dos meus favoritos é Ciência e Religião, editado por Gary B. Ferngren). Aqui, quero destacar os pontos mais relevantes.
Questões científicasA geocêntrica visão aristotélica (a terra como centro) do sistema solar dominou as discussões científicas e teológicas da época. Então, em 1543, a visão heliocêntrica (o sol como centro), desenvolvida por Nicolau Copérnico foi publicada (a título póstumo), mais de 70 anos antes de Galileu abordar a questão. Copérnico não foi o primeiro a desenvolver um modelo heliocêntrico, mas o seu modelo foi o mais proeminente.
Em 1610, Galileu construiu seu primeiro telescópio e começou a observar os céus. Ele descobriu as crateras e montanhas na Lua, luas orbitando Júpiter, manchas no Sol, e as fases de Vênus (assim como na lua). Muitas das coisas que ele encontrou levantou questões que impactaram ideias científicas e teológicas de sua época. No entanto, apesar de um crescente corpo de evidências que apoiavam o modelo heliocêntrico, Galileu não pôde fornecer prova definitiva de que o modelo de Copérnico estava correto.
O fato de que a comunidade científica da época não estava convencida dos modelos heliocêntricos endossados por Copérnico e Galileu é muitas vezes deixado de mencionar por céticos, que fazem parecer que somente a Igreja (como um todo e simplesmente) se opunha às ideias de Galileu. Ledo engano.
Questões históricas e teológicasA Reforma Protestante e consequente Contrarreforma dos cem anos anteriores aumentou as sensibilidades religiosas por causa de toda a mudança fundamental que trouxe. A questão de quem tinha a autoridade para interpretar as Escrituras, um resultado da Contrarreforma, figurou com destaque na matéria de Galileu. O Concilio de Trento havia explicitamente limitado a interpretação bíblica para os Bispos e os Concilios da Igreja. Na tentativa de harmonizar o modelo heliocêntrico e as Escrituras, Galileu (sendo inexperiente em qualquer teologia ou no estudo das Escrituras) forneceu uma interpretação diferente de passagens bíblicas frequentemente citadas para apoiar o movimento do Sol em torno da Terra. Dada a turbulência criada pela Reforma e a Contrarreforma, a Igreja estava (e com razão) relutante em mudar de posição sobre um assunto sem evidências convincentes, evidências as quais Galileu ainda não poderia fornecer.
Quando a causa de Galileu foi levada perante o Papa e, em última instância, a Inquisição Romana, eles responderam com duas declarações importantes sobre as noções que (1) o Sol (e não a Terra) era o centro do universo e (2) a Terra se movia. A primeira foi declarada “formalmente herética” e a segunda “pelo menos errônea na fé.” Aqui, membros da Igreja chegaram longe demais em sua condenação. Os movimentos e posições do sol e a da Terra não impactaram inerentemente a autoridade ou infalibilidade das Escrituras. Para saber mais, clique aqui. Estudiosos podiam podiam e proporam interpretações de ambos os lados da questão.
O impacto da Reforma e Contrarreforma em toda essa confusão não pode ser minimizado. Richard Blackwell, professor de filosofia e especialista no caso Galileu, afirma o assunto claramente:
Se o livro de Copérnico fosse publicada cem anos mais cedo ou cem anos depois, o caso Galileu provavelmente não teria acontecido. Mas, na verdade, foi publicado em 1543, quando a Reforma estava em plena floração e a Contrarreforma estava apenas começando. Por isso, foi que por 1616 todos os atores e as forças culturais estavam no local para o drama do caso Galileu começar.1
Questões LegaisEm 1616, Galileu foi condenado (em um ‘preceito’) pela Igreja para deixar de defender o heliocentrismo de qualquer maneira e Galileu (um católico devoto) prometeu obedecer. Quinze anos mais tarde, ele buscou uma audiência com o Papa recém-nomeado para publicar uma resenha das opiniões heliocêntricas e geocêntricas e recebeu permissão. No entanto, ele nunca mencionou o preceito durante o seu pedido e esta omissão levou à condenação de Galileu e de prisão domiciliar. Ao invés de ser um confronto monumental entre ciência e religião, a condenação de Galileu foi na verdade uma questão legal com a qual ele lidou mal.2 Thomas F. Mayer, professor de história na Augustana College, afirmou:
A noção de que o julgamento de Galileu foi um conflito entre ciência e religião deve ser abandonada… Quem trabalha seriamente sobre Galileu não aceita mais essa interpretação.3
ConclusãoO caso Galileu nos fornece três importante lições atualmente.
Primeiro, que muitas vezes leva um longo tempo para acumular evidência científica suficiente para sustentar definitivamente um modelo em detrimento de todos os outros. O processo é muitas vezes mais confuso do que gostaríamos. Portanto, não devemos afirmar o nosso caso com mais força do que a evidência permite.
Em segundo lugar, como cristãos, devemos ter o cuidado de evitar exagerar interpretações bíblicas, a fim de lutar uma batalha social, política ou mesmo religiosa.
Em terceiro lugar, apesar de autoridades e governos regularmente cometer erros, Deus os colocou no poder por uma razão (v. Rm. 13,1). Desconsiderar seus decretos acarreta consequências.
Para mais informações sobre o caso Galileu, ouça nosso podcast Science News Flash sobre o assunto.
Referências
- Gary B. Ferngren, ed., Science and Religion: A Historical Introduction (Baltimore: The Johns Hopkins University Press, 2002), 108.
- Thomas F. Mayer, “The Roman Inquistion’s Precept to the Galileo Trial (1616),” British Journal for the History of Science 43 (setembro de 2010): 327–51.
- Jeremy Hsu, “Sloppy Records Cast Galileo’s Trail in New Light,” msnbc.com, 30 de setembro de 2010, http://www.msnbc.msn.com/id/39440712/ns/technology_and_science-science/.
Fonte: http://www.reasons.org/articles/understanding-the-galileo-trial
Tradução: Emerson de Oliveira
Leia mais: http://logosapologetica.com/entender-caso-galileu/#ixzz2edtw3YRl
Follow us: @lapologetica on Twitter | LogosApologetica on Facebook
Tradução: Emerson de Oliveira
Leia mais: http://logosapologetica.com/entender-caso-galileu/#ixzz2edtw3YRl
Follow us: @lapologetica on Twitter | LogosApologetica on Facebook
Nenhum comentário:
Postar um comentário