No dia 14 de abril de 2008, uma segunda-feira, acordei angustiado, pensando nas minhas dificuldades em crer na Presença Real do Cristo na Sagrada Eucaristia. Passei o dia inteiro remoendo essa dúvida crucial, sem conseguir encontrar consolação.
E assim continuou por toda a semana. Eu olhava para dentro de mim mesmo e me achava desonesto, incoerente, praticando uma coisa e acreditando (ou deixando de acreditar) em outra. Essa situação, até então, não me incomodara tanto, mas tornava-se agora motivo de grande preocupação. Passei aqueles dias massacrado por essa dúvida mortal. Do que adiantava ir à Igreja, comparecer às Missas e até proclamar as Sagradas Escrituras do alto do ambão (ou púlpito), se eu não conseguia acreditar no principal, naquilo que constitui a quintessência da fé cristã e católica?
Nosso Senhor Jesus Cristo, Deus e Salvador, não poderia estar literalmente Presente ali, naquela casquinha de pão, depois de consagrada por um homem pecador igual a mim. Eu havia aprendido, anos atrás, que as palavras do Senhor em sua última ceia tinham sido apenas simbólicas: "Eu sou o Pão da Vida" era apenas uma metáfora. Quando elevou o Pão e disse: "Este é o meu Corpo", Ele tinha que estar falando de metaforicamente... Enfim, depois de uma semana atormentado por esse verdadeiro espinho em meu espírito, eu já ponderava abandonar, mais uma vez, a Igreja.
Chegou o domingo, dia 20 de abril de 2008. O dia nasceu com sol brilhando, temperatura amena e céu de azul intenso. Saí da cama sentindo-me cheio de energia e com uma disposição que há muito tempo não experimentava. Estava animado para a vida, feliz e seguro comigo, espiritualmente falando: sentia-me saudável, tranquilo e relaxado, sem nenhum motivo aparente. Eu e minha esposa estávamos escalados para a primeira e segunda Leituras da Palavra de Deus, na Missa das dez horas desse domingo.
Chegamos à igreja com cerca de quinze minutos de antecedência, como de costume. E, como sempre, logo após cumprimentar amigos e o padre, à entrada do templo recebendo o povo, vou à Capela do Santíssimo Sacramento para pedir por minha leitura: que minha voz seja seja clara; que seja luz para os que a ouvirem... Tudo parece calmo naquele dia, e eu continuo experimentando grande tranquilidade.
A Celebração tem início, e logo chega o momento da minha leitura. Subo ao ambão e faço a primeira leitura daquele dia: proclamo a Palavra, bem e tranquilamente. Volto a me sentar, dando graças a Deus no meu íntimo. Depois do canto do Salmo, é a vez de minha esposa: com sua bela voz, ela procede a segunda leitura lindamente.
O padre inicia a leitura do Evangelho do dia: "'Não se perturbe o vosso coração. Tendes fé em Deus, tende fé também em mim. Para onde eu vou, já conheceis o Caminho'. - Tomé disse: 'Senhor, nós não sabemos para onde vais; como podemos conhecer o Caminho?' Jesus respondeu: 'Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim. Se vós me conhecêsseis, conheceríeis também ao meu Pai.' - Disse Felipe: 'Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos basta!' Jesus respondeu: 'Há quanto tempo estou convosco, e não me conheces, Felipe? Quem me viu, viu o Pai. Acreditai-me: eu estou no Pai e o Pai está em mim. Acreditai, ao menos, por causa das obras. Em verdade em verdade vos digo, quem crê em mim fará as obras que eu faço, e fará ainda maiores do que estas; porque eu vou para o Pai, e farei o que pedirdes em meu Nome. O que pedirdes em meu Nome, eu o farei'" (Jo 14,1-12).
Inicia-se a Homilia, a pregação do sacerdote: Pe. Luiz Paulo de Souza busca o coração e o entendimento dos fiéis, mas eu logo começo a me dispersar. Meus pensamentos vagueiam, e mesmo que eu insista em tentar me manter atento, repetidamente viajo em minha mente, entre passado e futuro, memórias e preocupações com tarefas a cumprir... Poucos trechos da Homilia consigo captar; não consigo focar minha atenção por mais do que alguns segundos.
Assim eu prossigo durante o transcorrer do restante da Celebração: disperso. Vou recitando as orações automaticamente. Chega afinal o momento central de toda a Celebração. O sacerdote convoca: "Orai, irmãos e irmãs, para que este Sacrifício seja aceito por Deus Pai Todo-Poderoso", e a assembleia, de pé, responde: "Receba o Senhor, por tuas mãos, este Sacrifício, para a Glória do Seu Nome, para o nosso bem e de toda a Santa Igreja"...
Hora da Consagração do pão e do vinho: o momento máximo, o ápice de todo o cerimonial católico. Todos se colocam de joelhos para receber, em Sagrada Comunhão, o Salvador do mundo. O sacerdote repete mais uma vez as palavras do Cristo: "Tomai e comei, todos vós. Isto é o meu Corpo, que será entregue por vós. Tomai e bebei, este é o meu Sangue, que será derramado por vós... Fazei isto em memória de Mim...".
Nesse momento, voltam a perturbar-me os espinhos das minhas dúvidas. Estou ali, ajoelhado diante do Altar, mas sem saber se realmente creio. Sinto-me mal. Termina a Consagração, voltamos a nos sentar. Chega o belíssimo momento em que o sacerdote clama: "Felizes os convidados para a ceia do Senhor!", e levantando a Hóstia Consagrada, completa com as palavras de São João Batista: "Eis o Cordeiro de Deus; eis Aquele que tira o pecado do mundo!" - E todos repetem juntos a oração baseada no que disse um centurião romano há dois mil anos: "Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha morada, mas dizei uma só palavra e serei salvo".
As pessoas responsáveis pelas leituras ficam sentadas ao presbitério, à lateral do Altar, em cadeiras dispostas em fileira, assistindo à Celebração bem de perto. Nesse dia, conforme a ordem da leitura, eu estava sentado na primeira cadeira da fileira, tendo de um lado os demais leitores, de outro a assembleia, e, diante de mim, o padre, que naquele instante tinha a Hóstia Consagrada elevada em suas mãos. Estando eu ainda disperso, olhos baixos, procurando no piso por alguma lembrança perdida ou remoendo alguma preocupação futura qualquer, distante de tudo que ali ocorria, o movimento do sacerdote me chama a atenção. Eu olho, e lá está ele segurando a Hóstia inteira, bem alto, diante da assembleia; naquela fração de segundo, eu já não sabia mais o porquê daquele gesto: lá estava ele, o padre meu amigo de sempre, que conta piadas, que brinca sempre comigo e com todos, nas reuniões, nas festas... E subitamente percebi que ele não era o mesmo de sempre. Algo estava muito diferente. Estava sério, - como tinha que ser, - mas a sua expressão era leve, de um modo que eu não saberia explicar. E então, algo me fez voltar os olhos para a Hóstia...
A forma circular e branca nas mãos do sacerdote estava também diferente, e ainda mais. Havia uma luz, emanando a partir do seu centro, e ela mudava suavemente de cor, tornando-se dourada! Um dourado brilhante, que parecia formar um halo esmaecido ao redor de sua forma, iluminando as mãos que a seguravam. Levei um susto! Pareceu-me que alguém segurava uma lanterna acesa por trás da fina Hóstia! Imediatamente olhei para o leitor sentado ao meu lado, como que a indagar: "o que é isso?"...
Mas o jovem ao meu lado tinha uma expressão absolutamente indiferente; era óbvio que ele não via o mesmo que eu. Aproximei meu rosto do dele, que, ignorando totalmente o meu comportamento, continuava inabalável, olhando para a frente, como se nada de incomum estivesse acontecendo. Voltei a olhar para a Hóstia nas mãos do padre; o brilho resplandecente continuava! Desviei, então, meu olhar para a assembleia, na certeza de que encontraria algum rosto estupefato: alguém sem dúvida estaria percebendo o mesmo que eu. Mas o que vi foram rostos indiferentes, alguns até distraídos... Nenhum dos presentes demonstrava qualquer sinal de estar vendo absolutamente nada além do comum!
Voltei a olhar para o Pão de forma fina e circular, que continuava elevado pelas mãos do sacerdote. E vi como que uma luz dentro da luz, em forma de suave chama brilhando em seu centro, uma chama alongada e tênue, tremeluzindo e fazendo com que toda a Hóstia mudasse, da cor branca comum para um dourado suave...
Fechei meus olhos com força e voltei a fixar o olhar, incapaz de acreditar no que estava vendo: A chama continuava viva, o brilho dourado permanecia! As mãos do padre continuavam a segurá-la, imóveis, firmes como rocha, como se ele não fosse mais um ser humano comum. Fechei novamente meus olhos e voltei a apertá-los, uma, duas vezes. Achei que estivesse tendo algum tipo de miragem ou ilusão de ótica, mas a visão continuava! Percebi que me encontrava fora da realidade comum, mesmo estando, fisicamente, naquele lugar conhecido, rodeado de pessoas conhecidas. Olhando a face do padre, via seus olhos suavemente semicerrados, seu rosto iluminado, e ele me parecia inebriado, transbordante de bem-aventurança, como que saturado de divindade e como se naquele momento fosse realmente Um com o próprio Cristo! De volta à Hóstia, a chama continuava brilhando, intensa e perfeitamente visível, mas suave e delicada, a um só tempo.
Afinal me ocorreu que eu era um pecador miserável, infiel e indigno de presenciar tal Maravilha, e involuntariamente abaixei meu olhar ao chão, mas logo voltei a olhar a Hóstia, e a visão continuava! Eu vivia a sensação de ser transportado a uma outra realidade. Outras vezes olhei para os lados, para as outras pessoas, inconformado por ninguém mais perceber o mesmo que eu. E estavam todos como que paralisados, mortos em vida. Apesar da minha agitação, dos meus movimentos irrequietos e olhares insistentes para os lados, ninguém me notava. Era como se, naqueles instantes, eu existisse e me movesse num espaço-tempo diferente. Não haviam sons nem oscilações em volta, não havia dispersão, não havia nada além de mim e do Pão da Vida! Apenas a chama que tremeluzia em seu centro parecia viva, e era como se essa chama viesse de além do momento e do lugar, como se uma janela ou uma passagem se houvesse aberto, bem no centro dela, e uma realidade diferente de tudo que eu conheço, por trás dela, se mostrasse aos meus olhos. Não havia mais gravidade, não havia mais peso e nem medida, não haviam mais sentidos, não havia mais "eu"...
Só então me dei conta da grandeza do que estava acontecendo. E era como se eu não respirasse, como se eu não existisse de fato, como se meu ser e a minha humanidade estivessem num outro lugar, ou talvez fosse melhor dizer "em nenhum lugar"; como se tudo ao meu redor fosse irreal, ou como se eu mesmo não existisse. Entrei numa espécie de leve êxtase, esqueci de mim mesmo...
Depois dessa percepção, senti-me novamente indigno, e voltei a olhar para o chão. E quando voltei a erguer meus olhos, a luz e o brilho dourado haviam desaparecido. O padre continuava com a Hóstia nas mãos, mas agora tudo parecia normal de novo. Tudo se movia normalmente, tudo era do jeito como sempre fora. Voltaram os sons, os movimentos e as cores comuns das coisas. O sacerdote colocou a Hóstia na Patena e prosseguiu com o ritual da Comunhão.
Finalmente entendi o que havia acontecido, mas não me conformava, e o meu lado racional ainda me impelia a olhar para os lados, para os companheiros da Liturgia sentados ao meu lado, e também para a assembleia... Queria confirmar se, realmente, ninguém tinha visto o mesmo que eu vira: por fim, conformei-me e aceitei o que tinha acontecido, sabendo que a visão fora para mim, e uma paz imensa tomou conta de todo o meu ser.
A partir dali, não voltei a me dispersar. Todo o restante da Celebração me pareceu especial, maravilhoso, magnífico, de uma beleza indescritível. Ao final daquela Missa, mesmo sem comungar (pois ainda não podia), soube que havia assistido à mais perfeita prática religiosa que pode existir neste mundo. Senti que estar ali, compartilhando daquela Cerimônia, era como visitar o Céu. Pela primeira vez em minha vida, compreendi o que significa realmente aceitar a Jesus Cristo: é fazer-se Templo para Ele. E entendi o quanto isso é diferente de tudo. - Percebi, finalmente, que nunca vou experimentar a Comunhão com Deus somente lendo a Bíblia, orando e louvando: é preciso me alimentar da Sua Carne e beber do Seu Sangue.
"Disputavam entre si os judeus dizendo: 'Como, como pode este nos dar a comer a sua carne?' Mas Jesus lhes disse: 'O que se alimenta da Minha Carne e bebe o Meu Sangue, esse fica em Mim, e Eu nele'." João, 6,53-57
Depois disso, eu não duvidei mais. E nunca mais precisei procurar a Deus em nenhuma outra religião ou "igreja". Alguns meses depois, finalmente me casei com aquela que, até então, era somente minha companheira, contraindo o Sacramento do Matrimônio; fiz minha primeira Comunhão, recebi a Crisma e intensifiquei minha vida na Igreja, trabalhando em pastorais sociais e participando mais ativamente na comunidade. Iniciei meu curso universitário em Teologia, e hoje trabalho como redator de comunicação para a Mitra Arquidiocesana de São Paulo. Em minha experiência de vida, vi grandes graças acontecerem, na minha vida e nas vidas de muitos dos meus irmãos de fé. Conheci santos na Terra, pessoas que dedicaram suas vidas inteiras ao serviço do Evangelho.
Hoje sou um católico feliz e realizado, comungando frequentemente do Corpo e Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo na Santa Missa. Sou o editor, articulista e responsável por uma publicação de apologética e evangelização católica, e também por este blog, instrumentos que idealizei e desenvolvi, com a ajuda do Pe. Marcelo Monge, da Paróquia São João Batista do Brás, para levar a voz da Igreja até aqueles que buscam a Deus com sinceridade, em espírito e em verdade.
Mas para finalizar este longo depoimento, preciso deixar bem claro um ponto fundamental: a fé não depende e nem pode depender de visões, sinais, milagres ou fatos extraordinários. Com a maturidade espiritual, o cristão aprende a experimentar com os sentidos da alma o que não pode com os sentidos físicos. A Eucaristia é Mistério da Fé, que só pode ser acolhido por aqueles que aceitam de coração e alma esta Graça tão sublime e tão além da nossa razão. Entretanto Deus, quando quer, confirma a nossa fé com Sinais espantosos, como ocorreu em Lanciano e em diversos outros lugares e ocasiões. Mas a Eucaristia não precisa estar cercada de Luz para ser milagre. O Pão do Céu é sempre, em toda celebração da Santa Missa, o maior e mais belo milagre que pode existir, pois é Deus em nosso meio, Sinal Visível e Palpável do Amor de Deus por nós; Deus que, sendo Forte, se fez fraco, sendo Divino e Todo-Poderoso, se faz Alimento, doando-se a cada momento, em algum Altar do mundo, para a nossa salvação, fazendo de cada cristão fiel um templo vivo.
FONTE ELETRÔNICA;
http://vozdaigreja.blogspot.com.br/2002/07/meu-testemunho-de-fe-parte-3.html
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