Ouvi um padre explicar, certa vez, que o demônio age em nossa vida da seguinte forma: primeiro “vende” o pecado como um bem atraente e não apenas inofensivo, como também absolutamente indispensável à nossa felicidade. Foi o que fez a serpente com Eva no Paraíso, e é o que faz a propaganda hoje. Depois que sucumbimos e caímos na armadilha, porém, o mesmo tentador passa a escarnecer de nós, de nossa ignorância, fraqueza e devassidão. Joga em nossa cara a idiotice que cometemos, e trata então de nos garantir que somos absolutamente incorrigíveis e indignos do amor e do perdão de Deus, até que, julgando estar irremediavelmente perdidos, optamos por permanecer no pecado e afundar de vez.
Assim tem agido a sociedade e a mídia com relação aos recentes escândalos sobre casos de pedofilia envolvendo padres: primeiro promovem por todos os meios o erotismo, a mercantilização do corpo e dos vícios, a baixaria de todo tipo como sendo a expressão máxima da liberdade, da criatividade e da auto-realização. Quando o sexo livre tornou-se demasiadamente livre para ser estimulante, passou-se a promover o homossexualismo, e, agora que este também já não escandaliza ninguém, promove-se então a pedofilia (exploração sexual de crianças), como a última conquista do progresso humano.
As meninas são vestidas e maquiadas de forma sensual e provocante, e ensinadas a dançar de forma escandalosamente erótica, diante dos aplausos dos adultos. Os meninos, cada vez mais cedo, começam a ver seu valor medido (entre os próprios adultos), pela capacidade de conquista. Descobre-se “evidências científicas” das necessidades sexuais das crianças, e começa-se já a passar a absurda idéia de que a prática do sexo (seja de que forma for), é indispensável para o seu saudável desenvolvimento psico-afetivo. Faz sucesso no rádio (e entre as crianças!) uma música na qual uma moça zomba do sujeito que se recusou a aceitar suas propostas de sexo quando ela era criança, e, como castigo, agora que ela cresceu, só pode “babar”. Nas novelas e nos filmes, não se perde uma só oportunidade de mostrar os conflitos afetivos que “destroem” a vida dos pobres padres impedidos de realizar-se afetivamente por culpa de uma igreja despótica e neurótica.
Promove-se tudo isso no mais alto grau e por todos os meios, deixando pouquíssimas chances para que alguém possa fugir da “contaminação” inconsciente. E depois, quando os pobres padres – que são humanos como qualquer pessoa – começam a cair na armadilha, simula-se um fingido horror, como se estivéssemos diante de uma monstruosidade absolutamente injustificável.
É claro que é mesmo uma monstruosidade injustificável. Mas, para a sociedade pervertida que se deleita em divulgar esses fatos, tal “surpresa escandalizada” não passa de uma hipocrisia sem tamanho.
O que a mídia pretende com essa atitude não é, evidentemente, defender a pureza e a virtude do clero. O verdadeiro objetivo é destruir a imagem da Igreja, a sua credibilidade. A santidade incomoda num mundo pervertido, porque o denuncia. Que se acabe, pois, com qualquer resquício de virtude, que se desfaça qualquer esperança concreta nesse sentido, para que todos acreditem que não há outro caminho para a felicidade a não ser a devassidão, o prazer imediato a qualquer custo. Que fique “provado” que a Igreja não passa de uma estrutura mentirosa e hipócrita que defende uma mensagem absolutamente irreal, obviamente com fins escusos e interesseiros, já que a virtude autêntica não existe. Um jornal apregoava: “A Igreja está desmoronando!” E muitos vão acreditando...
É assim que o demônio age. Tem tanta gente por aí com medo de bruxas, terremotos, fogo e escuridão, achando que a Igreja vive a esconder segredos aterrorizantes (mais uma estratégia do demônio para desviar as atenções), quando a verdadeira ameaça está perto de nós, está dentro de nós, livremente acolhida em nossa casa e, sem que nos demos conta, começando pouco a pouco a ser aceita como necessidade absoluta e direito essencial.
O caminho mais fácil e imediato para destruir a Igreja é atacar o celibato do clero. A manchete de um noticiário de TV anunciava, outro dia, que “a Igreja já admite a possibilidade de extinguir o celibato”. Fiquei atenta para ver se era isso mesmo que diziam os padres e bispos entrevistados, e vi que nenhuma de suas declarações autorizava essa interpretação. Olha como se distorce as coisas... e o povo vai engolindo sem perceber.
Muitos católicos esclarecidos estão caindo nessa armadilha de culpar o celibato pelos pecados do clero, como se, extinto o celibato, tudo ficasse resolvido. Que ingenuidade! Jamais se corrige uma fraqueza compactuando com ela e tornando-a legítima. Se alguma coisa boa puder resultar de toda esta situação, não será a extinção do celibato, mas sim a consciência de que algo precisa ser feito – e com urgência – no sentido de investir mais seriamente na formação dos futuros sacerdotes e na seleção dos candidatos ao seminário, exigindo deles maturidade psico-afetiva e uma vida em plena coerência com a vocação livremente assumida.
Como Deus escreve certo por linhas tortas, mais uma vez Satanás será derrotado ali mesmo onde pensa triunfar, como aconteceu no Monte Calvário. Esses escândalos ajudam a abrir os olhos da Igreja para uma lacuna que, de outra forma, talvez permanecesse encoberta: é preciso voltar a valorizar a santidade, a radicalidade do seguimento de Cristo. Para ser sinal, é preciso ser diferente, ser separado do mundo, viver no mundo sem pertencer a ele, colocar efetivamente Deus no centro de nossa vida, priorizar os valores do espírito sobre os do corpo, como condição essencial para a santidade e mesmo para a felicidade.
A verdadeira plenitude humana está em configurar-se a Jesus Cristo. A castidade não é uma prisão, uma violência, uma escravidão, mas é, ao contrário, crescimento e libertação, para aqueles que são chamados por Deus a ser sinal das realidades eternas neste mundo passageiro. Eles não são simplesmente privados de algo, mas recebem algo muito melhor em troca. Esse “algo melhor” é que não tem sido devidamente valorizado e buscado... e precisa ser redescoberto.
Não é só a castidade dos padres que está em questão. Neste nosso mundo em que o compromisso de fidelidade matrimonial virou piada, seria absurdo esperar que os padres casados fossem fiéis ao seu casamento (caso este fosse autorizado), se algo mais não fosse feito paralelamente a isso.
A mesma radicalidade se exige na vida cristã como um todo: na vida matrimonial, no relacionamento entre amigos e namorados, na conduta dos políticos, empresários e comerciantes, na moda, na educação das crianças, e assim por diante. É tudo parte de um mesmo contexto: somos todos chamados a ser santos, cristianismo “pela metade” não é cristianismo. Os recentes escândalos devem levar todos nós a um exame de consciência sobre o tipo de Igreja e de fé que cada um de nós tem desejado e está ajudando a construir. Somos todos co-responsáveis. Não haverá padres santos sem cristãos santos...
Diante dos fatos recentes, nossa atitude deve ser serena e lúcida. Analisando com objetividade, vemos que a situação real é bem diferente da imagem apregoada pela mídia. Muitos padres são vítimas de calúnias, muitas acusações são mentirosas, e outras referem-se a deslizes isolados e não repetidos. Os padres efetivamente corrompidos são minoria.
Há focos de pecado sendo propositalmente infiltrados nos seminários e conventos, já há muitos anos, com o objetivo de corromper o clero e os religiosos, promovendo assim a destruição da Igreja a partir de dentro. Isso não é desculpa, mas ajuda a compreender que o “vírus” do mal vem de fora, não é algo já implícito na própria estrutura da Igreja, como nos querem fazer crer.
A mensagem de Cristo nada perdeu de sua atualidade, está apenas enfrentando provações, como sempre acontece aos que escolhem a “porta estreita”. Só precisamos redescobrir o Evangelho e contar mais com a graça de Deus e menos com nossas frágeis forças. Pecar é humano, mas Cristo nos convida a vencer o pecado, com a força dele. Não é utopia, ou então Cristo seria uma mentira. A mentira está, ao contrário, em pensar que a santidade é ilusão, como quer o mundo...
Assim tem agido a sociedade e a mídia com relação aos recentes escândalos sobre casos de pedofilia envolvendo padres: primeiro promovem por todos os meios o erotismo, a mercantilização do corpo e dos vícios, a baixaria de todo tipo como sendo a expressão máxima da liberdade, da criatividade e da auto-realização. Quando o sexo livre tornou-se demasiadamente livre para ser estimulante, passou-se a promover o homossexualismo, e, agora que este também já não escandaliza ninguém, promove-se então a pedofilia (exploração sexual de crianças), como a última conquista do progresso humano.
As meninas são vestidas e maquiadas de forma sensual e provocante, e ensinadas a dançar de forma escandalosamente erótica, diante dos aplausos dos adultos. Os meninos, cada vez mais cedo, começam a ver seu valor medido (entre os próprios adultos), pela capacidade de conquista. Descobre-se “evidências científicas” das necessidades sexuais das crianças, e começa-se já a passar a absurda idéia de que a prática do sexo (seja de que forma for), é indispensável para o seu saudável desenvolvimento psico-afetivo. Faz sucesso no rádio (e entre as crianças!) uma música na qual uma moça zomba do sujeito que se recusou a aceitar suas propostas de sexo quando ela era criança, e, como castigo, agora que ela cresceu, só pode “babar”. Nas novelas e nos filmes, não se perde uma só oportunidade de mostrar os conflitos afetivos que “destroem” a vida dos pobres padres impedidos de realizar-se afetivamente por culpa de uma igreja despótica e neurótica.
Promove-se tudo isso no mais alto grau e por todos os meios, deixando pouquíssimas chances para que alguém possa fugir da “contaminação” inconsciente. E depois, quando os pobres padres – que são humanos como qualquer pessoa – começam a cair na armadilha, simula-se um fingido horror, como se estivéssemos diante de uma monstruosidade absolutamente injustificável.
É claro que é mesmo uma monstruosidade injustificável. Mas, para a sociedade pervertida que se deleita em divulgar esses fatos, tal “surpresa escandalizada” não passa de uma hipocrisia sem tamanho.
O que a mídia pretende com essa atitude não é, evidentemente, defender a pureza e a virtude do clero. O verdadeiro objetivo é destruir a imagem da Igreja, a sua credibilidade. A santidade incomoda num mundo pervertido, porque o denuncia. Que se acabe, pois, com qualquer resquício de virtude, que se desfaça qualquer esperança concreta nesse sentido, para que todos acreditem que não há outro caminho para a felicidade a não ser a devassidão, o prazer imediato a qualquer custo. Que fique “provado” que a Igreja não passa de uma estrutura mentirosa e hipócrita que defende uma mensagem absolutamente irreal, obviamente com fins escusos e interesseiros, já que a virtude autêntica não existe. Um jornal apregoava: “A Igreja está desmoronando!” E muitos vão acreditando...
É assim que o demônio age. Tem tanta gente por aí com medo de bruxas, terremotos, fogo e escuridão, achando que a Igreja vive a esconder segredos aterrorizantes (mais uma estratégia do demônio para desviar as atenções), quando a verdadeira ameaça está perto de nós, está dentro de nós, livremente acolhida em nossa casa e, sem que nos demos conta, começando pouco a pouco a ser aceita como necessidade absoluta e direito essencial.
O caminho mais fácil e imediato para destruir a Igreja é atacar o celibato do clero. A manchete de um noticiário de TV anunciava, outro dia, que “a Igreja já admite a possibilidade de extinguir o celibato”. Fiquei atenta para ver se era isso mesmo que diziam os padres e bispos entrevistados, e vi que nenhuma de suas declarações autorizava essa interpretação. Olha como se distorce as coisas... e o povo vai engolindo sem perceber.
Muitos católicos esclarecidos estão caindo nessa armadilha de culpar o celibato pelos pecados do clero, como se, extinto o celibato, tudo ficasse resolvido. Que ingenuidade! Jamais se corrige uma fraqueza compactuando com ela e tornando-a legítima. Se alguma coisa boa puder resultar de toda esta situação, não será a extinção do celibato, mas sim a consciência de que algo precisa ser feito – e com urgência – no sentido de investir mais seriamente na formação dos futuros sacerdotes e na seleção dos candidatos ao seminário, exigindo deles maturidade psico-afetiva e uma vida em plena coerência com a vocação livremente assumida.
Como Deus escreve certo por linhas tortas, mais uma vez Satanás será derrotado ali mesmo onde pensa triunfar, como aconteceu no Monte Calvário. Esses escândalos ajudam a abrir os olhos da Igreja para uma lacuna que, de outra forma, talvez permanecesse encoberta: é preciso voltar a valorizar a santidade, a radicalidade do seguimento de Cristo. Para ser sinal, é preciso ser diferente, ser separado do mundo, viver no mundo sem pertencer a ele, colocar efetivamente Deus no centro de nossa vida, priorizar os valores do espírito sobre os do corpo, como condição essencial para a santidade e mesmo para a felicidade.
A verdadeira plenitude humana está em configurar-se a Jesus Cristo. A castidade não é uma prisão, uma violência, uma escravidão, mas é, ao contrário, crescimento e libertação, para aqueles que são chamados por Deus a ser sinal das realidades eternas neste mundo passageiro. Eles não são simplesmente privados de algo, mas recebem algo muito melhor em troca. Esse “algo melhor” é que não tem sido devidamente valorizado e buscado... e precisa ser redescoberto.
Não é só a castidade dos padres que está em questão. Neste nosso mundo em que o compromisso de fidelidade matrimonial virou piada, seria absurdo esperar que os padres casados fossem fiéis ao seu casamento (caso este fosse autorizado), se algo mais não fosse feito paralelamente a isso.
A mesma radicalidade se exige na vida cristã como um todo: na vida matrimonial, no relacionamento entre amigos e namorados, na conduta dos políticos, empresários e comerciantes, na moda, na educação das crianças, e assim por diante. É tudo parte de um mesmo contexto: somos todos chamados a ser santos, cristianismo “pela metade” não é cristianismo. Os recentes escândalos devem levar todos nós a um exame de consciência sobre o tipo de Igreja e de fé que cada um de nós tem desejado e está ajudando a construir. Somos todos co-responsáveis. Não haverá padres santos sem cristãos santos...
Diante dos fatos recentes, nossa atitude deve ser serena e lúcida. Analisando com objetividade, vemos que a situação real é bem diferente da imagem apregoada pela mídia. Muitos padres são vítimas de calúnias, muitas acusações são mentirosas, e outras referem-se a deslizes isolados e não repetidos. Os padres efetivamente corrompidos são minoria.
Há focos de pecado sendo propositalmente infiltrados nos seminários e conventos, já há muitos anos, com o objetivo de corromper o clero e os religiosos, promovendo assim a destruição da Igreja a partir de dentro. Isso não é desculpa, mas ajuda a compreender que o “vírus” do mal vem de fora, não é algo já implícito na própria estrutura da Igreja, como nos querem fazer crer.
A mensagem de Cristo nada perdeu de sua atualidade, está apenas enfrentando provações, como sempre acontece aos que escolhem a “porta estreita”. Só precisamos redescobrir o Evangelho e contar mais com a graça de Deus e menos com nossas frágeis forças. Pecar é humano, mas Cristo nos convida a vencer o pecado, com a força dele. Não é utopia, ou então Cristo seria uma mentira. A mentira está, ao contrário, em pensar que a santidade é ilusão, como quer o mundo...
Margarida Hulshof – Do livro “A Noiva do Cordeiro”Maio de 2002
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