A
polêmica em torno da nova campanha de arrecadação lançada pelo pastor Silas
Malafaia ao lado de Mike Murdock durante a última edição do programa Vitória em
Cristo, continua.
Numa abordagem a partir do ponto de vista
institucional em relação ao fortalecimento da igreja, o pastor Paulo Siqueira,
colunista do Gospel+, publicou em seu blog Pedras Clamam, uma extensa crítica
não apenas à campanha de Malafaia e Murdock, mas também ao nível de conhecimento
bíblico entre os evangélicos.
“O que se ouviu nesse programa é um
ultraje a tudo o que temos no Brasil em forma de pensamento teológico. Silas
Malafaia e Mike Murdock abusaram do direito de menosprezar a interpretação
bíblica e toda a tradição cristã brasileira”, protestou o
pastor.
Segundo Siqueira, que é conhecido por encabeçar o Movimento pela
Ética Evangélica Brasileira (MEEB), “já foi o tempo em que pastores,
missionários americanos chegavam em nosso país como donos do saber, e o povo
ficava de boca aberta aplaudindo. Hoje temos em nosso país homens e mulheres com
autoridade para interpretar os textos sagrados com maestria”.
Para o
pastor, no Brasil atualmente não há uma uniformidade na pregação e ensino da
Palavra de Deus: “Temos uma teologia
esfacelada, sem uma direção concreta. Cada instituição defende e prega sua
própria teologia”.
Siqueira questiona as motivações de
Malafaia e Murdock ao promoverem o livro O Desígnio, de autoria do segundo, em
detrimento à Bíblia: “Como pode um pregador, em uma pregação num programa de TV,
onde a Bíblia fica em segundo plano em cima de uma mesa, e o pregador exalta seu
livro ao ponto de dizer que o livro é: poderoso!?! A pregação deve ser bíblica,
deve levar o ser humano a reconhecer sua situação e confessar a Deus e crer em
Sua obra”.
A manipulação é uma das hipóteses levantadas pelo pastor
Paulo Siqueira, que enxerga nas ações da dupla uma tentativa de impor conceitos:
“A ênfase no título de doutor de Murdock é para impor sobre um público formado
na sua maioria de ignorantes e mal-informados teologicamente, uma forma de
dizer: ‘ele sabe mais do que eu’”.
O argumento apresentado pelo pastor
Siqueira é reforçado, por ele, a partir de observações sobre o contexto em que a
campanha foi lançada: “Silas é psicólogo, um profundo conhecedor da natureza
humana, e tem usado esse conhecimento científico para aplicar a teologia da
prosperidade de uma forma a não permitir que o que ouve se defenda de tão grande
mal. Tudo tem um script, um método. É possível perceber nos pormenores, no
dicurso de Murdock, técnicas de neurolinguística, com afirmações referidas em
diversas repetições, e tudo isso firmado em textos isolados da Bíblia e orações.
É uma forma de transe muito bem calculado e planejado para alcançar os seus
alvos”.
Confira abaixo, a íntegra
do artigo
“O Brasil precisa de uma
teologia”, do pastor Paulo Siqueira: Depois de assistir ao programa Vitória em
Cristo no último sábado pela manhã, apresentado pelo Pr. Silas Malafaia e com a
participação especial do cidadão americano Mike Murdock (que é apresentado como
“doutor”, porém não se diz em que), cheguei à conclusão de que é preciso rever
com urgência o ensino teológico brasileiro, e o que muitos estão fazendo com
esse conhecimento.
O que se ouviu nesse
programa é um ultraje a tudo o que temos no Brasil em forma de pensamento
teológico. Silas Malafaia e Mike Murdock abusaram do direito de menosprezar a
interpretação bíblica e toda a tradição cristã
brasileira.
O que foi apresentado em
forma de pregação ultrapassa todos os limites permitidos para um país que se
declara cristão. Lembro-me do tempo em que pastor pregava e ensinava a Bíblia, e
não se utilizava desse espaço para falar de um livro com ideias pessoais,
colocando-o acima do texto sagrado.
O cristianismo tem uma
história, uma tradição que está acima de tudo isso. Já foi o tempo em que
pastores, missionários americanos chegavam em nosso país como donos do saber, e
o povo ficava de boca aberta aplaudindo. Hoje temos em nosso país homens e
mulheres com autoridade para interpretar os textos sagrados com
maestria.
O que Silas e Murdock
fizeram foi um desrespeito a muitos que se dedicam, por uma vida toda, nos
estudos da Palavra de Deus. Isso foi feito pelo referido pastor, pois o mesmo
sabe das condições das lideranças evangélicas brasileiras, pois na sua maioria
(principalmente nos meios pentecostal e neopentecostal), não possui uma formação
teológica e, quando possui, não é de boa qualidade.
É fácil de ver anúncios em
rádios, em programas evangélicos oferecendo cursos de teologia em forma de
correspondência, onde o aluno paga e o material lhe é enviado com o diploma. Por
outro lado, quando o ensino é de boa qualidade, muitos utilizam esse
conhecimento para encher o seu ego e o de muitas instituições religiosas
detentoras do saber.
Para muitos, o
conhecimento teológico é utilizado como forma de defesa de uma teologia
institucional. Sendo assim, não é repassado para o povo. O conhecimento que
deveria dar condições ao povo de se defender de teologias como a que Silas e
Murdock ensinaram não chega ao povo, pois muitos que o possuem usam isso para
enriquecer seus currículos e para barganhar cargos e posições dentro de suas
instituições religiosas.
Com isso, temos uma
teologia esfacelada, sem uma direção concreta. Cada instituição defende e prega
sua própria teologia.
“Uma teologia que não
projeta a vida, para nada serve”.
É preciso rever nossa
realidade urgentemente. Não podemos mais ter pregadores ultrapassando os limites
da realidade.
“Como, pois, invocarão
aquele em quem não creram? e como crerão naquele de quem não ouviram? e como
ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados? como
está escrito: Quão formosos os pés dos que anunciam o evangelho de paz; dos que
trazem alegres novas de boas coisas. Mas nem todos têm obedecido ao evangelho;
pois Isaías diz: Senhor, quem creu na nossa pregação? De sorte que a fé é pelo
ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus.” – Romanos
10:14-17
A Palavra está à nossa
disposição, para ser tomada a sério, para se fazer valer, pronta para nos
afligir o mais pesadamente possível, e para nos dar a liberdade no mais alto
grau; ela está à nossa disposição para ser ouvida e
falada.
A Palavra de Deus deve ser
pregada com o intuito de levar o ser humano a se arrepender dos seus pecados e
vir a se converter a Deus e confessar, com sua boca, a salvação em
Cristo.
Como pode um pregador, em
uma pregação num programa de tv, onde a Bíblia fica em segundo plano em cima de
uma mesa, e o pregador exalta seu livro ao ponto de dizer que o livro é:
poderoso!?!
A pregação deve ser
bíblica, deve levar o ser humano a reconhecer sua situação e confessar a Deus e
crer em Sua obra. O texto de Romanos nos diz:
“E como poderão crer Nele,
se Dele não tiverem ouvido? Mas como poderão ouvir sem pregadores?” – Romanos
10.12-15.
O que vimos no sábado
foram homens substituindo a Palavra de Deus por pensamentos humanos,
substituindo as obras de Deus por obras de homens. A pregação cristocêntrica
apresenta o Senhor ressurreto perante todos os que o invocam, pois Ele (o
Senhor) não é um fundador de igrejas e de novas religiões, Ele é a justiça de
Deus para todos no mundo.
Então, pois, a fé vem pelo
ouvir, e o ouvir do Evangelho, que é a revelação de Deus para os seres
humanos.
Será que esses homens não
temem a Deus? Por que deixam de lado a pregação cristocêntrica para transformar
a pregação num discurso de auto-ajuda? I
nfelizmente, a Igreja tem o
“dom especial” de promover as pessoas, transformando-as prontamente em líderes
todo o indivíduo que pareça perceber uma pouco mais que alguns outros. Sendo
assim, é comum observar que a mensagem central da igreja se fundamenta no
interesse mútuo de levar algum tipo de vantagens. É o evangelho intencional, com
ideias já pré-formadas de que algo será alcançado.
Muitos já não conseguem
mais servir a Deus pelo Seu amor, por Sua misericórdia ou por Sua Graça. Hoje,
para muitos, tudo no contexto religioso há uma primeira, segunda e demais
intenções.
A igreja é fonte de
auto-promoção, de quem fala e também de quem ouve. Por isso, a palavra
prosperidade é a grande evidência, pois no sistema capitalista ter e possuir
ultrapassam os limites do ser.
Este é o centro da mensagem
de Silas e seu amigo americano. A ênfase no título de doutor de Murdock é para
impor sobre um público formado na sua maioria de ignorantes e mal-informados
teologicamente, uma forma de dizer: “ele sabe mais do que
eu”.
Com isso, a igreja vai
perdendo a sua essência, pois a igreja invisível perde espaço para o contexto
visível, palpável do capitalismo, que exige uma espiritualidade também palpável.
Por que experimentar o melhor de Deus no céu, se eu posso ter tudo aqui e
agora?
A teologia da prosperidade
produz em quem prega e em quem ouve um desequilíbrio na alma, despertando os
desejos mais profundos no ser humano. Não é de hoje que somos vulneráveis a
querer todo o conhecimento e todas as riquezas da terra.
É preciso dizer que Silas
e Murdock são homens audaciosos. A teologia que pregam foi previamente
calculada, fundamentada em uma ciência que vai fundo na Gênesis do ser humano.
Somos seres desejosos, e temos nossas fraquezas na relação espiritualidade e
desejos deste mundo.
Silas é psicólogo, um
profundo conhecedor da natureza humana, e tem usado esse conhecimento científico
para aplicar a teologia da prosperidade de uma forma a não permitir que o que
ouve se defenda de tão grande mal. Tudo tem um script, um método. É possível
perceber nos pormenores, no dicurso de Murdock, técnicas de neurolinguística,
com afirmações referidas em diversas repetições, e tudo isso firmado em textos
isolados da Bíblia e orações.
É uma forma de transe
muito bem calculado e planejado para alcançar os seus alvos. As considerações
pelas coisas da vida terrena, especialmente as vantagens, os prestígios e os
prazeres que as riquezas podem proporcionar têm roubado a muitos prováveis
discípulos as riquezas verdadeiras e permanentes.
Eclesiastes 6.7 nos diz:
“Todo o trabalho do homem é para a sua boca, e contudo nunca se satisfaz o seu
espírito”. E em Lucas 4.6 vemos: “E disse-lhe o diabo: Dar-te-ei a ti todo este
poder e a sua glória; porque a mim me foi entregue, e dou-o a quem
quero”.
É preciso ter consciência
de que a teologia da prosperidade se fundamenta em forças que o ser humano não
pode vencer por si só, a não ser que esteja respaldado pela direção e
capacitação da Palavra de Deus, pois as riquezas e os prazeres da terra têm suas
armadilhas para a alma e o espírito. É muito difícil manter um padrão de
humanização diante das tentações do luxo e das riquezas, pois luxo e
cristianismo são palavras antônimas, pois as riquezas sufocam o ser humano,
produzindo vaidade e cobiça, levando a todos que enveredam por esses caminhos a
perderem a visão do seu próximo e de toda a criação.
Teologia da
Semente
Estou exagerando? Analise
a história da humanidade e veja o que as grandes potências mundiais fizeram ao
mundo e aos seres humanos em nome da conquista de riquezas e
poder.
Infelizmente, pentecostais
e neopentecostais utilizam, para justificar sua teologia da semente, o texto de
2 Coríntios capítulo 9, principalmente o versículo 10. Temos a impressão de que
querem justificar que o Apóstolo Paulo seja o criador da teologia da
prosperidade.
Isso não é verdade. J.
Becker, em sua obra “Apóstolo Paulo – Vida, Obra e Teologia” destaca que a
teologia central do Apóstolo Paulo é a teologia da cruz. Utilizar-se de um texto
paulino para justificar a busca por riquezas é uma grande vergonha, pois a
doutrina dos verdadeiros apóstolos de Cristo se fundamenta na cruz de Cristo,
que veio salvar o perdido e veio trazer vida eterna.
Há muita confusão na
interpretação desses textos. Muitos são os exegetas que se dedicam ao estudo do
texto bíblico no sentido de trazer orientação para o caminho cristão. É preciso
destacar que no capítulo 9 as orientações de Paulo têm como tema central: a
coleta de benefícios para os santos e pobres de Jerusalém.
Paulo trata das questões de
coletas e doações em diversos textos em suas cartas. Porém, sempre dando sentido
para o assunto. Isso está descrito de forma bem clara em 1 Coríntios 16.1-2. O
capítulo 9 de 2 Coríntios é considerado por muitos estudiosos como continuidade
do capítulo 8, pois enquanto no capítulo 8 o apóstolo descreve a situação
enfrentada pelos irmãos em Jerusalém, também fundamenta a ação da coleta pelo
exemplo dado pelos macedônios.
No capítulo 9, Paulo
descreve toda a espiritualidade do ato de envia ajuda aos irmãos de Jerusalém. É
preciso deixar claro que tanto no capítulo 8 como no capítulo 9 o fundamento é
enviar ofertas para os pobres de Jerusalém.
Para entendermos melhor o
contexto do capítulo 9, é preciso entendermos o 8, pois Deus é galardoa dor
daqueles que contribuem com liberalidade. Porém é preciso entender que o ensino
aqui descrito é que o dar é uma obra espiritual, que leva os beneficiados a
louvar a Deus. Ou seja, não devemos esquecer os que sofrem, e por isso nossas
esmolas faz-nos exercer a piedade prática no sentido de aliviar as necessidades
físicas e espirituais dos pobres, dos órfãos, das viúvas e dos demais que
sofrem.
A pergunta é: por que
Paulo dá tamanha importância a essa oferta? A resposta é: havia grande aflição
em Jerusalém, pelas perseguições contra a igreja e os
crentes.
Atente a isso agora: o
texto central utilizado pelos pregadores da prosperidade é 2 Coríntios 9.6, com
a intenção de levar a muitos a substituir as sementes (as ações de misericórdia
e amor) por dinheiro. Porém, o texto de 2 Coríntios 9.6 em momento algum se
refere ao semear dinheiro, com o intuito de adquirir bens materiais. O texto se
fundamenta em Gálatas 6.7-8: “Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque
tudo o que o homem semear, isso também ceifará. Porque o que semeia na sua
carne, da carne ceifará a corrupção; mas o que semeia no Espírito, do Espírito
ceifará a vida eterna.”
Paulo descreve que tudo o
que fazemos (plantamos), seja bom ou ruim, é visto por Deus, e isso resultará em
consequências. Em momento algum Paulo descreve a questão de dinheiro, de
enriquecimento. Essa referência ao texto de Gálatas é o reforço de Paulo em
justificar os atos de bondade dos seres humanos para com os que sofrem. Na
teologia da cruz de Paulo, o Cristo é representado em prol dos que sofrem. O ato
de ofertar na coleta dos santos e pobres é um ato de bondade, que espelha o ato
de Cristo para com o mundo.
Ou seja, aquele que semeia
“pouca” bondade, pouca bondade também colherá.
Quando o texto diz que é
Deus quem dá a semente, essa semente é o exemplo de Cristo, que se deu pelo
mundo para exemplo de todos nós. Pois, se vamos referir às cartas paulinas,
principalmente as cartas aos Coríntios, é preciso dizer que o texto central
desses dois livros se fundamenta em 1 Coríntios 13, onde o apóstolo coloca
claramente que a obra de Cristo tem sua essência no amor ao
próximo.
Com isso, o ato de ofertar
é um ato de bondade, de amor, e não um ato de ganância da riqueza desenfreada
que expõe o ser humano como um escravo do mundo material.
O ato de reconhecer a
necessidade do meu próximo faz de mim um praticante da vontade de
Deus.
Nada, nada a ver com a
teologia apresentada por Malafaia, Murdock, Cerullo, Estevan Hernandes, R. R.
Soares, Renê Terra Nova, Valdemiro Santiago, entre
outros.
Para terminar, vejamos 2
Coríntios 9.9: “conforme está escrito: espalhou, deu aos pobres; a sua justiça
permanece para sempre”.
Meu Deus, quanto engano na
boc a desses homens! E isso seria facilmente resolvido se o povo tivesse acesso
ao conhecimento desprovido do mercantilismo comercial de muitas
igrejas.
Onde estão os teólogos
deste país? O que estão fazendo com o conhecimento adquirido na Academia? Onde
estão os profetas, que anunciam as verdades de Deus diante do mundo, sem temer
as ameaças?
Para que homens como
Malafaia, Murdock e outros sejam combatidos com a verdade do Evangelho é preciso
que muitos voltem a pregar o Evangelho cristocêntrico, que revela a cruz de
Cristo.
Que sejamos semeadores do
amor, da justiça, da paz. E as demais coisas nos serão
acrescentadas.
A DEUS, TODA A GLÓRIA
Paulo
Siqueira
Fonte: Gospel +
FONTE ELETRÔNICA;
Diante de tudo isso, lembrei de algumas palavras de Lutero:
"Nobres, homens das cidades: os camponeses e todas as classes [dizem] entender o Evangelho melhor do que eu ou que São Paulo. [Dizem que] são sábios agora e se crêem mais doutores do que todos os ministros" (Walch 14,1360; citado O'Hare, Ibid, p. 209.)
“Se o mundo durar mais tempo, será necessário receber de novo os decretos dos concílios (católicos) a fim de conservar a unidade da fé contra as diversas interpretações da Escritura que por aí correm.” (Carta de Lutero à Zwinglio In Bougard, Le Christianisme et les temps presents, tomo IV (7), p. 289).
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