Como vimos em outras entradas postadas pelo Blog, a Igreja Católica não ensina que sejamos Salvos pelas “Boas Obras”, como muitos parecem crer. Ela ensina, na verdade, que a salvação provém de Deus, como um dom gratuito ofertado ao homem não por seu próprio mérito, mas simplesmente em virtude da graça divina, pelos méritos da paixão de Cristo.
811. Cân. 1. Se alguém disser que o homem pode ser justificado perante Deus pelas suas obras, feitas ou segundo as forças da natureza, ou segundo a doutrina da Lei, sem a graça divina [merecida] por Jesus Cristo — seja excomungado. [cfr. n° 793 s]. ( Concílio de Trento, Sessão VI)
Mérito da Justificação:
CIC 1992. A justificação foi-nos merecida pela paixão de Cristo, que na cruz Se ofereceu como hóstia viva, santa e agradável a Deus, e cujo sangue se tornou instrumento de propiciação pelos pecados de todos os homens. A justificação é concedida pelo Baptismo, sacramento da fé. Conforma-nos com a justiça de Deus que nos torna interiormente justos pelo poder da sua misericórdia. E tem por fim a glória de Deus e de Cristo, e o dom da vida eterna (Concílio de Trento, Sess. 6ª, Decretum de iustificatione, c. 7: DS 1529.):
«Mas agora, foi sem a Lei que se manifestou a justiça de Deus, atestada pela Lei e pelos Profetas: a justiça que vem para todos os crentes, mediante a fé em Jesus Cristo. É que não há diferença alguma: todos pecaram e estão privados da glória de Deus. Sem o merecerem, são justificados pela sua graça, em virtude da redenção realizada em Cristo Jesus. Deus ofereceu-o para, nele, pelo seu sangue, se realizar a expiação que actua mediante a fé: foi assim que Ele mostrou a sua justiça, ao perdoar os pecados cometidos outrora, no tempo da divina paciência. Deus mostra assim a sua justiça no tempo presente, porque Ele é justo e justifica quem tem fé em Jesus» (Rm 3, 21-26).
Como verificamos acima, a Justificação vem dos méritos de Cristo. Contudo,uma vez que a bíblia claramente ensina que é a fé em Jesus Cristo justifica aqueles que creem, os protestantes concluem que a Salvação dá-se pela fé, por isso aceitam a doutrina da Sola Fide, rejeitando assim os ensinamentos apostólicos. Porém, como veremos adiante, não há contradição entre o que ensina a bíblia e a Igreja Católica:
CIC 1996. A nossa justificação vem da graça de Deus. A graça é o favor, o socorro gratuito que Deus nos dá, a fim de respondermos ao seu chamamento para nos tornarmos filhos de Deus ( Cf. Jo 1, 12-18) filhos adoptivos (Cf. Rm 8, 14-17) participantes da natureza divina (Cf. 2 Pe 1, 3-4) e da vida eterna (Cf. Jo 17, 3).
Com isso em mente, fica claro que enquanto católicos não podemos compartilhar da crença na doutrina protestante da Sola Fide, pois embora o homem seja justificado pela fé, a graça precede a fé e sem ela não é possível que tenhamos o dom da fé. Em outras palavras, o próprio dom da fé é uma graça de Deus, infundido em nós por Deus pela ação do Espírito Santo, que é Aquele que converte o coração do homem à Deus e incita-o ao arrependimento (Cf. Catecismo da Igreja Católica, Primeira Parte, Cap terceiro, Pagraf. 153). Concordemente, a Palavra do Senhor nos diz que «Ninguém pode dizer “Jesus é o Senhor” a não ser pela acção do Espírito Santo» (1Cor 12, 3). Para este efeito, o Concílios de Trento e II Vaticano declararam:
801. O Apóstolo diz que o homem é justificado pela fé e sem merecimento ( Rom 3, 22,4). Estas palavras devem ser entendidas tais com sempre concordemente a Igreja Católica as manteve e explicou: “Nós somos justificados pela fé”: assim dizemos, porque a fé é o princípio da salvação humana”, o fundamento e a raiz de toda justificação, sem a qual é impossível agradar a Deus ( Heb 11,6) e alcançar a companhia de seus filhos. Assim, pois, se diz que somos justificados gratuitamente porque nada que precede à justificação, nem a fé, nem a obras, merece a graça da justificação. Porque se ele é graça, já não procede das obras; do contrário a graça, como diz o Apóstolo, já não seria graça ( Rom 11,6) – Ou ainda:
Não podemos, pois, basear-nos nos nossos sentimentos nem nas nossas obras, para daí concluirmos que estamos justificados e salvos ( Cf. Concílio de Trento, Sess. 6ª, Decretum de iustificatione, c. 9: DS 1533-1534.). «Para prestar esta adesão da fé, são necessários a prévia e concomitante ajuda da graça divina e os interiores auxílios do Espírito Santo, o qual move e converte o coração para Deus, abre os olhos do entendimento, e dá “a todos a suavidade em aceitar e crer a verdade”» (II Concílio Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum, 5: AAS 58 (1966) 819.).
No entanto, a Igreja nos ensina que “a consideração dos benefícios de Deus na nossa vida e na vida dos santos oferece-nos uma garantia de que a graça de Deus opera em nós e nos incita a uma fé cada vez maior e a uma atitude de pobreza confiante”. É justamente esta atitude de pobreza confiante que nos conduz à uma vida de caridade cristã, quando por amor a Deus e ao nosso próximo – e por conseguinte, em cumprimento aos dois grandes mandamentos – buscamos a virtude da caridade ou boas obras. Essa atitude de pobreza espiritual conduz-nos sobretudo a tomarmos consciência da necessidade de nos entregarmos à Divina providência para tudo aquilo que necessitamos, até mesmo a nossa fé!
Mas se Cristo, por seus próprios méritos, obteve para o homem o perdão do pecado, qual é o mérito das boas obras se não para nossa salvação?
Mais uma vez, o Catecismo nos ensina que o mérito das nossas boas obras são dons da bondade divina (CIC parágrafo 2009). Ou seja, o próprio mérito do homem depende de Deus, uma vez que todas as nossas boas ações procedem, em Cristo, da ajuda e inspiração do Espírito Santo. Cristo, ao ofertar-Se como sacrifício perfeito na Santa Cruz fez satisfação a Deus por nossos pecados e reconciliou o mundo com seu criador. Não se deve presumir, contudo, que o Sacrifício Salvífico de Cristo tenha restaurado o homem ao seu estado de inocência original e que, portanto, não nos resta nada mais a fazer para obtermos a promessa de Deus. Ao contrário, cabe ao homem co-operar com as graças de Deus pela fé justificante, na recepção do batismo e na perseverança final.
Ora, se feitas sob as corretas condições, ou seja, quando são moralmente boas e livres, inspiradas pela graça divina e com o fim supernatural, as boas obras são salutares na medida que aumentam-nos as graças necessárias para a salvação, não apenas a nossa própria, mas a de outros. Pois, embora o homem não seja meritório da graça primeira – pela qual recebemos o dom da fé justificante – podemos merecer (por mérito côngruo, pois apenas Cristo pode obter mérito condigno) as graças úteis para a nossa santificação. Nossas boas obras são os frutos da nossa fé e servem para conduzir-nos à santificação, sem a qual ninguém verá a Deus (Cf. Hebreus 12,14).
Por essa razão a Palavra do Senhor exorta-nos “Sede Santos, porque Eu sou Santo” ( Lev 11, 44 e 1 Pedro, 1,16). As escrituras afirmam ainda que ainda que nossa fé sem obras é morta (Cf Tiago 2,14). Ademais, quando fazemos boas obras pomos em prática a nossa fé em cumprimento ao mandamento para amarmos ao próximo como a nós mesmos, pois “Se nos amamos uns aos outros, Deus permanece em nos e seu amor em nós é perfeito” (1 João 4,12), e tudo o que fizermos aos mais pequeninos dos nossos irmãos, fazemos a Cristo (Cf. Mt 25,40).
Sendo assim, qualquer cristão que falece sem antes ter-se santificado, seja pelo sofrimento ou pelas boas obras, morre justificado e assim, salva-se, mas não sem antes passar pelo fogo da purificação ou purgatório (1 Cor 3, 13), pois a santidade é necessária para o nosso ingresso no Céu (Cf. Rev 21,27). O erro protestante está justamente em afirmar que a fé assegura-nos o Céu indiferentemente à nossa santificação, ou seja, não há purgação para aqueles que creem em Jesus Cristo.
Seguramente, nossos irmãos protestantes refutarão o que foi dito acima com base na narrativa da Crucificação de Cristo, haja vista a promessa do Paraíso feita ao bom ladrão. Não obstante, no caso do bom ladrão temos o exemplo de alguém que pouco antes de morrer recebeu não apenas a graça da fé justificante, que o levou a confessar Cristo como o Senhor, mas que praticou a boa obra de defendê-lo da injustiça dos seus executores. Apesar de sua condição, o bom ladrão fez tudo o que lhe era possível fazer para reconciliar-se com Deus, isso aos olhos dEle foi suficiente para assegura-lo o Paraíso. Mas e quanto a santificação? perguntam-nos os protestantes. Ora, a salvação do bom ladrão Dimas serve acima de tudo para atentar-nos sobre a benevolência Divina. Deus é misericordioso e assim pois favorece a quem quer favorecer e usa de misericórdia com quem quer usar de misericórdia (Ex. 33,19).
Helen Walker pertence ao Apostolado Spiritus Paraclitus para o qual este artigo foi produzido. A reprodução do mesmo é permitida, pede-se apenas que o Blog Ecclesia Militans seja citado por link ou trackback.
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