INTRODUÇÃO
Abaixo citações de pelo menos nove eruditos protestantes que apoiam a argumentação de que havia uma unanimidade quanto à crença na Presença Real durante todo este período.
1) OTTO W. HEICK
“Os Pais Pós-Apostólicos e . . . quase todos os Pais da antiga Igreja . . . impressionam com seu natural e despreocupado realismo. Para eles a Eucaristia era de alguma forma o corpo e sangue de Cristo.” (A History of Christian Thought, vol.1, Philadelphia: Fortress Press, 1965, 221-222)
2) WILLISTON WALKER
“Em meados do segundo século, a concepção de uma presença real de Cristo na Ceia estava amplamente difundida. . . Os princípios básicos do ponto de vista católico já estavam estabelecidos em 253.” (A History of the Christian Church, 3rd ed., rev. by Robert T. Handy, NY: Scribners, 1970, 90-91)
3) PHILIP SCHAFF
“A doutrina do sacramento da Eucaristia não era questão de controvérsia teológica. . . . até a época de Pascásio Radberto, no 9º século . . .
Em geral, este período, ... já estava fortemente inclinado rumo a doutrina da transubstanciação, bem assim rumo a um sacrifício greco-romano da missa que são inseparáveis na medida em que um sacrifício real requer a presença real da vítima......
[Agostinho] ao mesmo tempo, abraça a presença real de Cristo na Ceia . . . Também ele, assim como os Pais orientais estavam inclinados a atribuir uma virtude redentora aos elementos consagrados.”
Nota: Schaff havia demonstrado em duas páginas (pp.498-500) como Agostinho também falou do simbolismo na Eucaristia, mas ele honestamente admite que o grande Pai aceitou a Presença Real "ao mesmo tempo." E isto é precisamente o que eu arguiria. Os católicos possuem uma razoável explicação para as declarações "simbólicas" e que são capazes de se harmonizarem com a Presença Real, todavia, os protestantes que asseveram que Agostinho era Calvinista ou Zwingliano em suas considerações eucarísticas devem ignorar as suas numerosas referências a uma explícita Presença Real e, obviamente que isto é de uma censurável erudição..
“Agostinho . . . por outro lado, chama a celebração da comunhão de 'verissimum sacrificium' do corpo de Cristo. A igreja, diz ele, ofereçe ('immolat') a Deus o sacrifício de agradecimento no corpo de Cristo.” [City of God, 10,20] (History of the Christian Church, v.3, A.D. 311-600, rev. 5th ed., Grand Rapids, MI: Eerdmans, rep. 1974, orig. 1910, 492, 500, 507)
4) J.D. DOUGLAS
“Os Pais . . . [criam] que a união com Cristo dada e confirmada na Ceia era real, assim como aquela que ocorreu na encarnação da Palavra na carne humana.” (ed., The New International Dictionary of the Christian Church, Grand Rapids, MI: Zondervan, rev. ed., 1978, 245 [uma fonte BASTANTE hostil!])
5) F.L. CROSS E E.A. LIVINGSTONE, EDS.
“Que a Eucaristia transmitida ao crente quanto ao Corpo e Sangue de Cristo era algo universalmente aceito desde o início . . . Mesmo quando os elementos eram ditos como 'símbolos' ou 'antitipos' não havia qualquer intenção em se negar a realidade da Presença nos dons . . . No período Patrístico havia notavelmente pouca controvérsia sobre o assunto . . . As primeiras controvérsias acerca da natureza da Presença Eucarística datam do início da Idade Média. No século IX, Pascásio Radberto suscitou dúvidas quanto a identidade do Corpo Eucarístico de Cristo em relação ao Seu Corpo no céu, porém praticamente não recebeu nenhum apoio. Um movimento consideravelmente maior surgiu no século 11, através do ensino de Berengário que se opôs à doutrina da Presença Real. Ele retratou-se, contudo, antes de sua morte em 1088 . . .
Foi também desde o início amplamente aceita a idéia de que a Eucaristia era de algum modo um sacrifício. No entanto, isso ocorreu de forma gradual. A sugestão sacrificial faz parte da linguagem neo-testamentária . . . as palavras da instituição, 'aliança,' 'memorial,' 'derramar,' todas possuem associações sacrificiais. No início do período pós-NT o constante repúdio de sacrifício carnal e a ênfase sobre a vida e oração na adoração cristã não obstruiu a Eucaristia de ser descrita como sacrifício desde o início . . .
Desde cedo a oferta eucarística foi chamada de um sacrifício em virtude de sua imediata relação ao sacrifício de Cristo.” (The Oxford Dictionary of the Christian Church, Oxford Univ. Press, 2nd ed., 1983, 475-476, 1221)
Berengário é o primeiro cristão que por gozar de certa notoriedade, até onde se sabe, que negava a Presença Real. Em época posterior surgem as heresias dos Cátaros e Albigenses que também a negavam. John Wycliffe e Calvino compartilhavam de opiniões idênticas. Raras exceções notáveis surgiram confrontando a extraordinária unanimidade de todos os outros grandes cristãos até 1517!
6) JAROSLAV PELIKAN
“Nos tempos da Didaquê [em algum lugar por volta de 60 a 160, dependendo do erudito]. . . a aplicação do termo 'sacrifício' à Eucaristia parece ter sido bastante natural, ao lado da identificação da Eucaristia Cristã como a 'pura oferta' ordenada em Malaquias 1:11 . . .
As liturgias cristãs já faziam uso de linguagem similar no que diz respeito às orações de oferta, os dons, a vida dos adoradores e, provavelmente também, acerca da oferta do sacrifício da Missa, assim a interpretação sacrificial da morte de Cristo nunca careceu de um quadro litúrgico de referência . . .
. . . a doutrina da presença real do corpo e sangue de Cristo na Eucaristia não era questão de controvérsia até o século nove.
Os teólogos não possuiam conceitos adequados para formular uma doutrina da presença real, mas que já era aceita pela igreja, ainda que não ensinada através de uma instrução explícita ou confessada por meio de credos . . .
Evidências litúrgicas sugerem um entendimento da eucaristia como um sacrifício cuja relação com os sacrifícios do Antigo Testamento era um arquétipo do tipo e cuja relação com o sacrifício no Calvário era uma 'representação,' exatamente como o pão da eucaristia 'representava' o corpo de Cristo . . . a doutrina da pessoa de Cristo precisava ser esclarecida antes de conceitos que sustentassem o peso do ensino eucarístico . . .
Teodoro [c.350-428] apresentou a doutrina da presença real, e mesmo uma teoria da transformação sacramental dos elementos numa linguagem altamente explícita . . . 'A princípio colocados sobre o altar como mero pão e vinho misturado com água, mas com a vinda do Espírito Santo dá-se a transformação em carne e sangue e assim a mudança em um alimento espiritual e imortal.' [Hom. catech. 16,36] estas passagens e em outras similares em Teodoro são uma indicação de que as ideias gêmeas da transformação dos elementos eucarísticos e a transformação dos comungantes estavam tão ampla e firmemente estabelecidos no pensamento e na linguagem da igreja que qualquer um tinha de reconhecê-las.” (The Emergence of the Catholic Tradition (100-600), Chicago: Univ. of Chicago Press, 1971, 146-147, 166, 168, 170, 236-237)
7) J.N.D. KELLY
“Há certamente passagens em seus escritos que dão uma justificativa superficial para todas essas interpretações, mas um veredicto equilibrado deve concordar que ele aceitou o realismo atual. Assim, na pregação sobre ‘o sacramento da Ceia do Senhor ‘ para pessoas recém-batizadas, ele comentou [Serm 227] ‘Esse pão que você vê no altar, santificado pela Palavra de Deus, é o corpo de Cristo. Essa taça, ou melhor, o conteúdo dessa taça, santificado pela Palavra de Deus, é sangue de Cristo. Por esses elementos o Senhor Jesus Cristo quis transmitir Seu corpo e sangue, que Ele derramou por nós.’
‘Você sabe’, ele disse em outro sermão [Serm 09:14], 'o que você está comendo e que você está bebendo, ou melhor, a quem você está comendo e quem você está bebendo.’ Comentando sobre licitação do salmista que devemos adorar o escabelo de seus pés, ele apontou [Enarr no Salmo 98:9] que esta deve ser a terra. Mas uma vez que adorar a terra seria uma blasfêmia, ele concluiu que a palavra deve misteriosamente significar a carne que Cristo tomou da terra e que Ele nos deu para comer. Assim era o corpo eucarístico que exigia adoração.
Mais uma vez, ele explicou [Enarr em Salmo 33, 1, 10] a frase: ‘Ele foi levado em suas mãos’ (LXX de 1 Sam 21:13), que no original descreve a tentativa de David de dissipar as suspeitas de Aquis, como referindo-se o sacramento: ‘Cristo foi realizada em suas mãos, quando ele ofereceu seu próprio corpo e disse: ‘Este é o meu corpo’.
Poderíamos multiplicar os textos como estes que mostram Agostinho tomando por garantido a tradicional identificação dos elementos com o sagrado corpo e sangue. Não pode haver nenhuma dúvida de que ele compartilhou o realismo assegurado por quase todos os seus contemporâneos e antecessores.” ( Kelly, Early Christian Doctrines, pp. 446-47.)
8) CARL VOLZ
“Os cristãos primitivos estavam convencidos que de alguma forma, Cristo estava, na verdade, presente nos elementos consagrados do pão e do vinho.” (Faith and Practice in the Early Church, Minneapolis: Augsburg, 1983, 107)
9) MAURICE WILES E MARK SANTAR
“Finalmente, João Crisóstomo e Agostinho exploram a conotação social da participação na Eucaristia: o corpo de Cristo não é apenas o que está sobre o altar, é também, o corpo do fiel.” (Documents in Early Christian Thought, Cambridge: Cambridge, 1975, 173)
PARA CITAR
ARMSTRONG, Dave. História da doutrina eucarística antes de 1517 por 9 autores protestantes. Disponível em: <http://www.apologistascatolicos.com.br/index.php/patristica/estudos-patristicos/642-historia-da-doutrina-eucaristica-na-igreja-primitiva-por-9-autores-protestantes>. Desde: 09/05/2014. Traduzido por: Antonio Lordelo.
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