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segunda-feira, 14 de outubro de 2013

O que seria dos protestantes sem a Igreja Católica?



Ritual de Investidura de um Cavaleiro - Séc. XII

Por Conde Loppeux de la Villanueva

Alguns evangélicos detestaram minhas explanações em um artigo que publiquei sobre os “pecados” históricos e teológicos do protestantismo . Meu amigo Julio Severo, blogueiro de confissão protestante e militante cristão pró-vida, postou uma resposta em sua página, que é cheia de equívocos históricos. Na verdade, suas declarações apenas revelaram aquilo que critiquei no imaginário protestante. A ideia errônea de uma Igreja Católica irremediavelmente corrupta e de uma “Reforma” moralizadora e salvadora da Cristandade. Até o dado momento, não vi nenhuma refutação realmente convincente.
O protestantismo do século XVI ameaçou destruir todas as bases culturais e históricas do Catolicismo na Europa. Em nome dos erros da Sola Scriptura e de outras idiossincrasias teológicas, queria apagar da memória cerca de quase mil e quinhentos anos de Cristianismo. Ou, na melhor das hipóteses, reescrever essa tradição e essa história conforme as conveniências de cada seita ou grupo político apologista do cisma reformado. De fato, esse apagão cultural ocorreu dentro da cultura protestante. Monarcas como Henrique VIII saquearam os mosteiros e templos católicos, expulsando ou executando monges e padres e obrigando toda a uma população a aderir à sua nascente igreja particular. Na Alemanha foi até pior. Igrejas foram queimadas, obras de arte foram destruídas e os católicos foram obrigados à conversão forçada ou assassinados. A Alemanha foi um verdadeiro palco de guerra civil e religiosa.
Até aqui falei de história. De fatos. Como católico, naturalmente que sempre me chamou a atenção essa lendária calúnia contra a Igreja Católica. O peso histórico dessas calúnias foi tão estrondoso que fez até o Papa João Paulo II declarar um mea-culpa inconveniente, já que o fez baseado em uma perspectiva enviesada. O Santo Padre pediu desculpas por boa fé. Porém, suas declarações acabam por legitimar meias verdades históricas. Os católicos da atualidade são bombardeados por um nível tal de estigma social, que ficam simplesmente desarmados e sem resposta, por ignorância.
Voltemos aos protestantes. Obviamente que a Igreja do século XVI não era exemplar. Estava acometida pelas corruptas famílias nobres da Itália e também era alvo de disputas pelos poderes seculares da Europa. A depravação do clero era algo que não poderia ser ignorado. Contudo, o problema central é vender a ideia de que o protestantismo significava uma oposição a isso. Eis a questão. O protestantismo representou a mais completa rebelião do poder secular contra o poder espiritual. Na verdade, a Reforma não foi uma mera consequência da corrupção da Igreja Católica. A rebelião protestante é parte e consequência dessa corrupção. A decadência do clero católico apenas serviu de pretexto.
Muitos ficaram ofendidos quando associei o protestantismo ao catarismo, heresia gnóstica do século XII, em Albi, na França e demais regiões da Itália e no norte da Espanha. Pois bem, se atentarmos aos anabatistas e aos rebeldes fanáticos luteranos de Thomas Müntzer ou mesmo da tirania religiosa de Münster, houve aberrações horripilantes de seitas milenaristas que pregavam a destruição da ordem vigente e a instituição de utopias sociais. Em muitos aspectos lembram as utopias totalitárias do século XX.
Friedrich Engels escreveu um artigo sobre a Reforma, onde fazia a objeção dialética entre Lutero e Müntzer. O primeiro, embora rebelado contra Roma, representava a situação encabeçada pelos príncipes protestantes alemães. Müntzer seria uma espécie de “teólogo da libertação” ou da “Missão Integral” do século XVI. Pregava a abolição da propriedade, a rejeição á autoridade e o estabelecimento de um regime comunista de bens. Insuflou uma violenta rebelião camponesa, que foi esmagada com incrível crueldade.
Entretanto, há um erro na análise de Engels, preso aos esquemas mentais do materialismo histórico. Lutero também era revolucionário. A diferença é que não era totalmente um utopista. Há quem diga que o monge agostiniano foi o pai do nacionalismo alemão. De fato, ele significou a ruptura da ordem internacional cristã da Idade Média, para o surgimento dos Estados nacionais e do absolutismo monárquico. Naturalmente que Lutero não foi o único gerador do processo. Outros fatos coexistiram com ele. Todavia, sua doutrina política deu força suficiente para que os príncipes rebeldes da Europa usassem as armas teológicas contra a Igreja Católica.
Pensemos aqui numa outra hipótese: se o protestantismo conquistasse toda a Europa, incluso Portugal, Itália e Espanha e destruísse a fé católica, qual seria o futuro do Cristianismo? Com certeza o prejuízo seria terrível. A história cristã tradicional seria apagada para se impor uma nova e fictícia ordem religiosa, embasada em erros históricos e teológicos.
Qualquer igreja ou seita evangélica ou “reformada” praticamente reescreveu toda a história do mundo antigo e medieval, em particular, sobre as origens da Igreja cristã, riscando o legado católico do mapa. Embora as historietas sobre uma suposta “Idade das Trevas” tenha surgido na prepotência do humanismo renascentista europeu, a militância protestante absorveu profundamente esse mito e a entronizou na sua propaganda anticatólica. A tônica central da historiografia protestante já se tornou um padrão de pensamento: havia uma idealizada “Igreja primitiva” que guardava as Escrituras como se fosse uma espécie de código penal. Essa “igreja” foi corrompida quando o Imperador Constantino “criou” a Igreja Católica e destruiu a espiritualidade dos primeiros cristãos. E do final do Império Romano até a Reforma, a Igreja viveu seu período de trevas, paganismo, corrupção e tirania dos papas e do clero romano, “escondendo” a Bíblia do povo e contrapondo sua “tradição” humana às Escrituras. Lutero e Calvino vieram “salvar” a igreja verdadeira do engodo romano buscando a “palavra de Deus”. Qual católico ignorante não se converteria ao protestantismo depois dessa ladainha? A [hilária] historiografia apologética protestante encontrada em qualquer livro parte uma teologia errônea para sustentar uma falsa história.
Uma das mais significativas lendas negras da historiografia protestante é basicamente sobre a Inquisição. Criou-se toda uma sorte de desinformações a respeito dessa instituição abominada pela posteridade. A lenda nasce, em parte, por conta das guerras entre a Espanha católica e as nações “reformadas” da Holanda e Inglaterra. A Espanha era o país mais poderoso, rico e culturalmente sofisticado da Europa. Era um gigantesco império, que envolvia a América do Sul, central e do norte, parte da Itália, parte da atual Bélgica e Holanda, além de algumas regiões da Alemanha. E um verdadeiro bastião militar da fé católica da Contra-Reforma. Se os protestantes não conseguiam derrotar os tércios e as armadas dos Áustrias espanhóis, ou seja, Carlos V e Felipe II, eles seriam derrotados pela propaganda. Dito e feito.
Os supostos horrores atribuídos à inquisição, com suas torturas abomináveis e sadismo dos inquisidores, são mitos cada vez mais desmistificados por historiadores sérios. Na verdade, a inquisição foi a primeira instituição europeia a limitar o uso da tortura para fins de confissão. Recordemos que a tortura era um método comum do tribunal criminal secular. Segundo estudiosos como Henry Kamen, a tortura era raramente empregada e havia restrições para seu uso.
Vende-se a ideia comum de que a Inquisição Espanhola foi uma instituição que impunha o terror e o medo generalizados nas populações católicas e também protestantes e esterilizou a cultura ibérica. Nada mais falso. A sociedade espanhola aceitava a inquisição como instituição legítima e defensora da ortodoxia. Recordemos que o ápice da Inquisição espanhola foi também o auge da cultura espanhola, o Siglo de Oro, onde uma penca de escritores, moralistas, teólogos, juristas, místicos, poetas e músicos brilhou por todo o século de Felipe II.
A inquisição espanhola não era feita de fanáticos ensandecidos por sadismo e violência. Era formada por homens eruditos e juristas de Salamanca, gente educada e letrada. No inicio do século XVI, cardeais inquisidores como Ximenes eram humanistas e admiradores de livros como os de Erasmo de Roterdã. Até Torquemada, um dos mais duros inquisidores, embora não o pior, era um homem de letras.
Foi a inquisição espanhola, contrariando toda uma tendência histérica e delirante do direito criminal europeu, que decretou, no início do século XVII, a inexistência do crime de bruxaria. Para o Consejo de la General y Suprema Inquisición, órgão maior da instituição em Madrid, a bruxaria não passava de superstição, difícil de ser comprovada, estimulada por pessoas loucas ou problemáticas. A lógica inquisitorial era muito simples: como juristas, queriam provas. Como não havia provas, não haveria também como afirmá-las de sua existência. Ademais, é comum brandir o espantalho contra a bruxaria, ao citar o Malleus Maleficarum dos dominicanos Kraemer e Sprenger ou o Manual da Inquisição, de Nicolaus Eymerich. Contudo, a inquisição espanhola rejeitou esses livros e, inclusive, proibiu-os.
Esse é um dado importante, pois a historiografia protestante finge ignorar a existência de sua própria inquisição. A caça às bruxas no século XVII foi um fenômeno mais protestante do que católico. Milhares de mulheres “bruxas” foram queimadas na Alemanha, Suíça, Inglaterra, Suécia, Dinamarca e demais países “reformados”. Até hoje há seitas protestantes que vêem bruxas pra tudo quanto é lado.
Outra grande lenda que leio no blog de Julio Severo é a de que a inquisição matou milhares de pessoas em toda a Europa. Nem todos os países católicos tinham uma “inquisição”. Com exceção de Portugal, Espanha e algumas regiões da Itália, os procedimentos para os crimes de heresia pertenciam ao poder secular. Quanto mais se aprofunda a pesquisa sobre o assunto, descobre-se que o número de pessoas entregues ao braço secular pelo sistema inquisitorial foi ínfimo. Em Portugal, ao menos, segundo Anita Nowinski, foram cerca de 1700 pessoas em dois séculos, embora esses números sejam francamente exagerados. Na Espanha, acreditava-se que o máximo seria de 10000 a 20000 pessoas em quatro séculos. Hoje, há dados que diminuem ainda mais esses números. De acordo com o historiador Agostino Borromeo, junto com o Simpósio Internacional sobre a Inquisição, realizado no Vaticano, em 1998, de 1540 a 1700, apenas 800 pessoas foram entregues ao braço secular. Numa ordem de 44 mil processos, apenas 2% dos acusados foram executados. As mortes atribuídas à inquisição em séculos são menores do que uma tarde de verão de qualquer ditadura do século XX. São menores, inclusive, do que as perseguições praticadas pelos próprios protestantes.
É necessário observar um mero detalhe: o mal daqueles que criticam a Inquisição é o de falhar pelo contexto histórico. Os valores religiosos tinham uma importância crucial, tanto nas sociedades católicas, como nas protestantes. A heresia, como a dissidência religiosa, era considerada uma grave ameaça à ordem social. O conceito de “liberdade religiosa” era completamente estranho ao homem europeu do século XVI. Nem Lutero e Calvino pregavam essa ideia. O “livre exame” era “livre” dentro dos preceitos protestantes. Cada religião tinha sua forma de manutenção da ordem social. Era um fator de unidade e de identidade e de preservação da ordem.
Julio Severo fala da perseguição da Inquisição aos judeus como se fosse uma realidade, quando na prática, ficou restrita a um caso particular em Portugal e Espanha. Cabe acrescentar que a inquisição não tinha jurisdição sobre os judeus. Nos Estados papais italianos havia uma comunidade judaica onde os judeus poderiam viver sua religião sem serem incomodados. Na República de Veneza era a mesma coisa. E por quê? Pelo simples fato de que a Inquisição só julgava pessoas batizadas no catolicismo. Os judeus espanhóis e portugueses julgados pela Inquisição tinham batismo católico e eram considerados como tais. O batismo implicava a aceitação das regras, valores e preceitos religiosos da comunidade católica. Era a partir dessas leis que os heréticos ou apóstatas eram inquiridos pelo tribunal eclesiástico.
Julio Severo também diz que a punição contra a dissidência religiosa é algo que contraria o Evangelho. De fato, no Evangelho não há prescrições impositivas contra dissidentes religiosos. Todavia, no Antigo Testamento, o que não faltam são prescrições contra blasfêmias ou práticas pagãs entre os judeus, cuja pena era a morte. Aliás, recordemos que os judeus da Diáspora viviam essas regras severas. Na “tolerante” Holanda protestante do século XVII, a comunidade judaica excomungou Uriel da Costa e Baruch de Spinoza, acusados de ateísmo. Os argumentos protestantes para queimar bruxar na Europa também se embasavam na interpretação literal do Antigo Testamento.
É verdade que a Inquisição católica cometeu muitas injustiças. Todavia, os “heterodoxos”, nas palavras do historiador espanhol Menéndez y Pelayo, não eram totalmente sacrossantos. Muitas heresias catalogadas na Espanha do século XVI, XVII e XVIII eram manifestações de loucuras coletivas que seriam punidas por qualquer sistema penal vigente. A onda de “dejados”, “alumbrados” outros tipos lunáticos que insuflavam uma massa fanatizada pelas palavras do louco herético, causava uma comoção social e uma desordem tal, que poderiam romper os laços de paz social. A extrema ferocidade com que a Espanha combateu a heresia protestante evitou que o país entrasse no campo da guerra civil européia, por conta das dissidências religiosas.
Aliás, um fator interessante dos tribunais protestantes é a sua interpretação literal e sectária da Bíblia, tornando sociedades e reinos em verdadeiras tiranias teocráticas. Com exceção da Inglaterra e Holanda, a linha do legalismo bíblico ganhou ares sectários de lei. Genebra foi um exemplo clássico disso. Por essa razão é que os tribunais protestantes foram tão impiedosos. A carência de distinção entre o secular e o religioso tornava o Estado implacável. A inquisição católica parece branda perto das perseguições protestantes. E lembremos que essas perseguições não se limitavam aos católicos. Protestantes também perseguiam protestantes. Anglicanos, luteranos, puritanos, anabatistas e outros se matavam entre si.
Os Estados Unidos, tão idolatrados por Julio Severo, nasceram da perseguição religiosa protestante contra outra seita protestante. E neste ponto, o meu amigo evangélico sustenta outro mito, que já tinha identificado no texto anterior: a supremacia do protestantismo como sociedade política, em detrimento da sociedade católica. Ele cria uma fantasiosa relação de tolerância entre calvinistas holandeses no nordeste do Brasil no século XVII (...).
Se o mito da prosperidade soa bonito na propaganda protestante, o mesmo se fala dos holandeses, em detrimento dos portugueses. É bem verdade que Mauricio de Nassau era um homem pragmático e um grande político patrocinador das artes e da cultura. Todavia, esse reino de “tolerância” não escondia o radicalismo dos calvinistas holandeses, que odiavam profundamente os católicos ibéricos, inclusos os brasileiros. A coexistência pacífica, aparentemente realista, não escamoteava o desprezo mútuo entre calvinistas, católicos e judeus. Ademais, Julio Severo faz uma confusão entre “liberdade religiosa” e “tolerância religiosa”. Os calvinistas holandeses poderiam tolerar a diferença religiosa, mas não a dissidência interna. Bastou que a Companhia das Índias Ocidentais pressionasse os senhores de engenho através de dívidas impagáveis, para que os católicos se reunissem em armas a expulsar os holandeses.
Ademais, Julio Severo se engana ao crer que a primeira tradução da Bíblia em português é do calvinista João Ferreira de Almeida. Talvez seja a mais famosa e aprofundada, mas a tradução da Bíblia para o português já existia desde o século XIII, na época do Rei Dom Dinis e dos monges do mosteiro de Alcobaça. A relativa desconfiança da Igreja com relação à tradução da Bíblia em vernáculo tinha menos a ver com elementos conspiratórios do que de evitar a disseminação de heresias e interpretações errôneas dos textos bíblicos.

Julio Severo interpreta erroneamente a história e acaba por idealizar algo irreal: “O Nordeste do Brasil muito perdeu por amor à Inquisição católica. Perdeu uma cultura de tolerância e respeito e ficou com uma cultura de trevas, inquisição e morte”.
A Inquisição Católica teve pouca relevância no Brasil. Julio Severo cria uma falsa associação entre Igreja e Inquisição, como se fossem elementos essenciais e institucionais. Há outro problema: por que os católicos ibéricos da América aceitariam se sujeitar a políticos protestantes visivelmente hostis à sua religião e que só acataram a tolerância por questões de puro pragmatismo? É preciso recordar os massacres praticados por holandeses contra os católicos no Brasil, em particular, os de Uriaçu e Cunhaú, em 1645. É preciso também recordar que os holandeses tomaram o nordeste através das armas. Eram inimigos de Portugal e da Igreja Católica.
Falou-se aqui em tolerância e prosperidade. Os países protestantes vendem a ideia de que são tolerantes em matéria de religião. É verdade que começaram a discutir sobre a “tolerância” no século XVII. Contudo, isso se deveu menos a uma mera liberalidade espiritual do que a uma solução civil e política para acabar com as matanças, guerras civis e hostilidades religiosas causadas por eles mesmos. A Inglaterra caiu numa guerra civil entre puritanos e anglicanos, entre o parlamento puritano e os anglicanos alinhados com o rei. A Alemanha foi o palco da guerra dos trinta anos. E a França, embora católica, caiu numa selvagem guerra civil no século XVI.
A discussão sobre a “tolerância”, embora mais antiga, ressurge deste contexto. Mas essa “tolerância” era também restrita. Na Inglaterra do século XVII, em particular, na Revolução Gloriosa, os protestantes se toleravam entre si, mas desprezavam os católicos e restringiam ao máximo suas liberdades civis e políticas. Na Irlanda, os ingleses tratavam os católicos como abaixo de animais. Alguém poderia afirmar que a aceitação de católicos nas instituições inglesas poderia ameaçar a volta do catolicismo como religião oficial. Mas a recíproca não era verdadeira nos países católicos com relação aos protestantes? Os protestantes também não queriam impor sua hegemonia e seu poder em detrimento dos católicos?
(...) Julio Severo omite outros dados: os rígidos valores protestantes, em particular, os calvinistas, criaram uma sociedade racista e discriminatória. Uma sociedade que discriminava católicos e outros tipos de povos considerados não-nórdicos ou não-protestantes. As toneladas de inverdades que a cultura protestante americana criou sobre a Igreja Católica são assustadoras. O nível de mentiras chega a ser patológico. São essas falsidades que se repetem à exaustão nas escolas dominicais de qualquer igreja protestante. O ódio a Igreja Católica é dos mais caros dogmas protestantes.
(...) Aliás, por que será que os protestantes estão escandalizados com minhas observações? Eles ganham espaço pelo mesmo imaginário faccioso que repetem dos católicos. O mito da Reforma protestante, o mito da inquisição, o mito do “atraso” católico, dentre outros, é pregado à exaustão como “verdades”, quando na prática são mistificações. Mistificações estas apenas confirmadas pelas palavras de meu querido amigo Julio Severo.
Eu fiz uma pergunta em meu texto onde respondi apenas superficialmente: o que seria dos protestantes sem os católicos? A negação radical da Tradição, dos legados da Igreja medieval e mesmo da teologia cristã durante séculos seria a castração do Cristianismo, a destruição de suas origens. Até as origens do Evangelho seriam apagadas.
Percebe-se que essa castração já nasce com a Sola Scriptura. Mas “sola scriptura” baseado em quê? Em que história? Aquela inventada pelos protestantes, que ora chamam a Santa Madre Igreja de “intolerante” e “corrupta”, ao mesmo tempo em que essa mesma Igreja caluniada guardou fiel e honestamente a Bíblia? Para ser protestante é preciso apagar a história. É preciso passar uma borracha na tradição. É preciso seguir uma opinião pessoal em desfavor de toda uma Tradição Apostólica que foi repassada diretamente de Jesus Cristo, para ser reduzida às tendências caprichosas dos luteranos, calvinistas, anabatistas e milhares e milhares, senão milhões de seitas que mal se entendem entre si e se julgam a “igreja de Jesus”. Nem os cristãos gregos, cujo cisma gerou a primeira ruptura da Igreja em 1054, conseguiram ser tão odiosos contra a Tradição.
Nós, católicos, representamos a preservação de um passado civilizacional que se quer destruir. Será que o protestantismo possui a força civilizacional da Igreja Católica? Será que os norte-americanos representam, atualmente, alguma força neste sentido? Acredito que não.
Se o protestantismo aceita o liberalismo teológico, por que não aceitaria outras formas de liberalismos? Não é curioso notar que o ateísmo cresce absurdamente nos países protestantes, justamente porque o protestantismo é a primeira etapa do secularismo? Na Europa, as igrejas reformadas aceitam casamentos e padres homossexuais, e admitem quaisquer tipos de aberrações morais em nome de certas conveniências politicamente corretas. A legalização do aborto é uma vitória de país protestante espalhado em países católicos. A apostasia é muito mais grave no protestantismo do que no catolicismo. A Igreja Católica pode ter padres, bispos e até papas ruins. Mas somos escravos de uma Tradição que não podemos mudar substancialmente. Essa Tradição, junto com a Sagrada Escritura e o Magistério, é a bussola do católico. A Igreja está nestes pilares.
Por que tanto ódio contra a Igreja Católica? Alguém tem dúvida de que se ela decair totalmente, a civilização ocidental vai junto para o ralo? A crise moral brasileira também é a crise moral do catolicismo. As seitas protestantes são capazes de compensar essa lacuna, por uma razão simples: o protestantismo é teologicamente fraco e suas bases culturais e religiosas são inconsistentes. A própria civilização europeia depende de suas origens católicas.
É por esse motivo que a Igreja Católica tem tantos detratores e inimigos. O ódio protestante pelo catolicismo é paradoxalmente o mesmo compartilhado por segmentos ateus, secularistas, iluministas, marxistas e outros. Eles podem ser aparentemente distintos nas idéias, mas possuem elementos em comum. A Igreja Católica representa a Tradição que teima em resistir. Ainda que o clero não saiba representá-la, ainda que até o papa cometa falhas, ainda que muitos católicos a ignorem, a sua sobrevivência perante os séculos deve ser uma Dádiva sobrenatural._____
Fonte:
Blog Conde Loppeux de la Villanueva, disponível em:
http://cavaleiroconde.blogspot.com.br/2013/10/o-que-seria-dos-protestantes-sem-igreja.html
Acesso 13/10/013

Um comentário:

  1. Caro Anderson, muito bom texto, e que evita tratar das opiniões alheias com desdém, ironia ou deboche. Apenas emite as suas (nossas).

    Complementando o último parágrafo, lembro apenas que o papa pode errar sim exceto quando "se pronuncia solenemente na matéria de fé". Complemento antes que evoquem erroneamente, com ironia, o dogma da infalibilidade papal.

    A propósito, embora esse dogma remonte formalmente em 1870, no Concílio Vaticano I, sempre foi tacitamente a sua primazia e liderança como verdade cristã. Isto é o significado da Tradição.

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