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terça-feira, 7 de abril de 2015

Por que sofremos, se Deus é bom?

Um comentário enviado ao blog afirmava que somente o Espiritismo Kardecista explica o sofrimento humano de forma satisfatória: Ou seja, aquele que sobre na Terra aprimora seu espírito por conta dos males cometidos em vidas passadas. Reencarna para crescer espiritualmente.  De acordo com esse argumento, o catolicismo não oferece nenhuma explicação aceitável sobre o tema.
Abaixo, o texto de Cristiano Rangel, mais novo colaborador do Blog, busca discutir esta questão sobre a ótica Cristã Católica.
A Paz de Cristo irmãos católicos e à irmã espírita que nos enviou a pergunta.
Muito bom o questionamento de nossa irmã, pois essas dúvidas não afligem somente a curiosidade de hoje em dia, mas há longos e longos tempos. Se optássemos por uma resposta seca e breve –  obviamente não a teremos, pois isso tiraria o brilho, o amor e o mistério de Deus, seria como se um carro enguiçasse e já soubéssemos qual a peça a ser trocada. Entretanto, o Kerigma de Deus e o seu propósito vão muito além da nossa imaginação, segundo S. Agostinho: “ Se nós pudéssemos   descrever Deus e conhecer o seu mistério Ele não seria Deus”. Contudo, vou explicar à luz da teologia, baseada nos pilares da Igreja, fundamento e sustentáculo da verdade ( 1 Tm 3,15), a qual se fundamenta na Tradição, Magistério e na Bíblia (feita por e para Católicos):
Sofrimento – Deficiência física ou mental:
Para ilustrar o argumento, vamos equiparar deficiências ao sofrimento, para isso teremos que voltar ao Antigo Testamento (AT) para entendermos a mentalidade da época à luz da Palavra de Deus através do pensamento humano, pois é rotineiro questionarmos por que Deus permite o sofrimento se Ele é amor.
O povo escolhido sofreu na escravidão do Egito, no caminho à Terra prometida, nos cativeiros e etc. Era comum que o povo quisesse uma resposta para tanto sofrimento. Sendo assim, feita a aliança com Moisés e, conseqüentemente, com a introdução da Lei, o povo procurava na Lei a explicação para o sofrimento. Em Dt 27,26 o hagiógrafo (tradição Javista) coloca que o não cumprimento da Lei acarretava em maldição. Do mesmo modo no Decálogo  lemos que Deus puniria pelo erro dos pais nos filhos até  a terceira e quarta gerações ( Dt 5,9).
Desse modo, Deus atribuiria a cada indivíduo uma paga condizente com o que ele faz: aos bons, Deus daria saúde, alegria, bênçãos, etc; aos pecadores não arrependidos (Ez 18, 20-29) Deus daria castigos, desgraças e sofrimentos. Essa era a concepção teológica do AT  que acompanhou o povo até o Novo Testamento (NT) (Jo 9,2ss). Mas sabemos que a misericórdia de Deus ultrapassa o nosso pensar, como vemos no grande livro de sabedoria de Jo, à parte da controvérsia de sua existência ser real ou de se tratar  apenas de uma grande parábola:
O autor imagina uma reunião no céu entre Deus, anjos e Satanás. Deus elogia o humilde ( de coração) e justo servo Jó, que é contestado pelo acusador alegando que ele era virtuoso porque era rico e tinha saúde, pois se ele a tudo perdesse, as suas virtudes também seriam perdidas. Jó perde tudo: bens, família e saúde – pois ele ficou leproso. Sua mulher questiona a Deus o motivo do homem bom sofrer. Então o povo começa a dizer que seu sofrimento era por ele ter pecado ou estar pagando o pecado dos seus antecedentes e seus três amigos quando o visita deram suas opiniões: Um diz que ele devia se converter a Deus, o outro (Elifás 5,8-11) diz a mesma coisa. O terceiro, Sofar, diz que Deus é bom, e se sofre é porque ele merece. Outro amigo ainda, Eliú, diz que Deus tem razão no que faz, pois até no sofrimento
Ele é bom, pois o sofrimento é amargo e cura o pecador (34,12). Jó não aceita nenhuma das opiniões, e, sobre o seu questionamento Deus o responde sobre a sabedoria divina (38-41). Ao ouvi-lo  Jó entende a sua limitação como homem e reconhece que  não é capaz de  ultrapassar os mistérios de Deus: “Meus ouvidos tinham escutado falar de ti, mas agora meus olhos te viram. É por isso que me retrato, e arrependo-me no pó e na cinza ( Jó 42,5-6).
Com isso, o autor ensina que cada um de nós deve dar sua resposta diante dos problemas da vida à luz da fé. Não devemos pois, agir pelo o que os outros dizem, não ficar no ouvi dizer, mas entender e fazer a própria imagem de Deus e construir a própria idéia a partir da sua própria experiência.
Em refutação ao argumento espírta, com respeito, isso se perdurou por muito tempo, inclusive à época de Jesus, e até mesmo hoje onde podemos ver claramente em Jo9,1ss: “Caminhando,viu Jesus um cego de nascença. Os seus discípulos indagaram dele: “Mestre, quem pecou, este homem ou seus pais, para que nascesse cego?Jesus respondeu: Nem este pecou nem seus pais, mas é necessário que nele se manifestem as obras de Deus.”
Segundo os espíritas, no E.S.E. (o Evangelho segundo o espiritismo p.63), a passagem acima quer dizer que os judeus acreditavam na reencarnação, uma interpretação errônea que os pode levar à ruína (2 Pd 3,16), pois a Bíblia não é de interpretação individual (2 Pd 1,20),  ou seja, à parte da sabedoria da Igreja. Como já apresentei, os judeus do AT criam que uma outra pessoa pudesse pagar pelo erro de outra e não o mesmo espírito, o qual podemos confirmar em (Ez 18) que cada um é responsável pelo mal que faz bem como Jeremias (Jr 31,29ss). No caso aqui relatado, Jesus desmente essa teoria mostrando-nos que nem o cego nem o seus pais pecaram, mas sua cegueira era para que as obras de Deus se manifestassem nele.
Sem me estender muito, concluo em  São Paulo que nos afirma que a maldição atormentava aqueles que se preocupavam em seguir à risca a Lei, pois ninguém é justificado por ela, mas pela fé (Gl 3,10-11), por isso ele nos diz que na sua carne ele completa as aflições de Cristo através da Sua Igreja (Cl 1,24). Por ‘aflições’ entenda-se toda sorte de sofrimento e provações humanas.
Portanto, poderíamos questionar a irmã espírita da seguinte forma: Quando cometemos um crime e somos julgados e condenados sabemos o motivo da prisão; se fecharmos os olhos à Deus sabemos que não contemplaremos a sua Glória. Ora, se reencarnamos para purificação haja vista um mal anterior, qual seria o mal, como nos purificaremos se não sabemos o que fizemos? Ao contrário, no cristianismo Católico vemos que há um propósito divino até mesmo no sofrimento pelo qual Deus nos permite passar. O catecismo (par. 1501) lemos que “A doença pode levar à angústia, ao fechar-se em si mesmo e até, por vezes, ao desespero e à revolta contra Deus. Mas também pode tornar uma pessoa mais amadurecida, ajudá-la a discernir, na sua vida, o que não é essencial para se voltar para o que o é. Muitas vezes, a doença leva à busca de Deus, a um regresso a Ele.”
POBREZA/RIQUEZA/OPORTUNIDADE:
Podemos abordar este tema em dois aspectos: social e espiritual. Quanto ao primeiro, com o livre-arbítrio que temos, inteligência, controle e economia podemos ministrar nossos bens de acordo com a nossa necessidade e expectativa futura, bem como ser bem auxiliados, por exemplo, pelo nosso cônjuge, que pode nos erguer e nos derrubar, diante também é claro, dos meios que nos cercam, pois muitas vezes nascemos e herdamos bens, outrora conquistamos. Podemos ver isso quando fixamos o nosso olhar em duas pessoas que têm o mesmo salário e função numa empresa: independente de fé, cada uma terá a sua vida individual, um frutificará mais que o outro. Se buscarmos resposta na fé podemos ver a diferença na personalidade e no propósito de cada um. Podemos observar na parábola dos talentos (Mt 24,14ss). Não há nenhuma novidade aí.
Do ponto de vista espiritual, a riqueza não tem valor nenhum perante Deus, somente aos homens. Essa concepção também vale para o AT. A riqueza para o AT é um bem relativo, e ao decorrer dos tempos, riqueza e poder começam a ser bens cobiçados. Para justificar tal concepção aparece no AT a idéia de que os bens, poder,  riqueza são sinais da benção de Deus. Associava-se então a riqueza à religiosidade pessoal (Gn13,2;24,35; Dt6,10).  Essa idéia levava ao homem procurar a riqueza para demonstrar que era abençoado, homem temente a Deus (o que acontece com a teologia da prosperidade hoje). Mas isso não era verdade, pois o AT também mostra que há valores maiores do que a riqueza (Pr 3,13-16; 10,22). Se essa concepção foi criada pela cultura daquele tempo, não se espelha verdade teológica. Deus não faz, de fato, distinção de pessoas ( 1 Pd 1,17). Ademais, as riquezas não valem nada para Deus, não são critérios de justiça para Deus. Contudo, o desapego à  riqueza pode tonrar-se uma manisfestação da graça de Deus e do crescimento da alma que busca as «riqueza do Reino de Deus» ao invés dos bem perecíveis do mundo. O desapego proporciona uma oportunidade para o exercício da caridade e da compaixão para com que sofrem, por exemplo, de carência material. O apego , como visto na história de Lázaro e o homem rico, tem o efeito oposto e nos afasta da vontade de Deus.
O problema da riqueza é discutido pela literatura sapiencial, que é literatura  nascida da sabedoria popular. Nela mostra-se que a riqueza traz certos benefícios (amigos, honra, poder, prazeres…) doutro lado traz com certeza dificuldades, problemas e aborrecimentos (insatisfação crescente, preocupações, medo de perder o que tem, o orgulho, a avareza, o pecado). Compare Pr 14,20 com 15,16. Assim as equações: vida virtuosa = riqueza, vida ímpia= pobreza, não são teológicas. Existem outros valores muito mais procurados e estimados do que as riquezas como a piedade e o temor de Deus (Sl 34,10-11; 37,16).
Contudo não podemos dizer que a riqueza seja pecado ou mal entre si. Os meios pelas quais a riqueza foi adquirida e o uso dos bens é que são os critérios de valorização moral das riquezas e do rico. A riqueza no AT e não foi condenada por Jesus, mas sim o mau uso dos bens e Ele alertou para o perigo da riqueza, que pode impedir à entrada do Reino de Deus (Mt 19,24).  É um equívoco acharmos que os ricos injustos são sinais de bênçãos de Deus, pois se enriquecem à custa do pobre, do roubo e tantos outros meios ilícitos.
Do mesmo modo não é maldição de Deus permitir que haja a pobreza, pois foi para eles que Jesus se manifestou na plenitude do temo (Gl 4,4) e foi perseguido até a morte. Deus olha o coração do homem (1 Sm 16,7), bem como nos impulsiona a repartir e enxergar os pobres também como filho de Deus (Dt 15,4-11) e isso que vemos no Novo Testamento quando os discípulos vendiam os seus bens e os depositavam aos pés dos apóstolos para serem repartidos com os necessitados (At 4,34-35). O problema não é a riqueza, mas não querer se desprender dos bens em prol dos necessitados (Mt 19,21) o que caracteriza uma autêntica idolatria (Cl 3,5), na qual o amor ao dinheiro é o princípio de todos os males (1 Tm 6,10).

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