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sábado, 4 de junho de 2016

Santo Agostinho e o Purgatório

INTRODUÇÃO

Conhecido como o “Grande Pai do Purgatório”, Agostinho de Hipona - junto com Gregório de Nissa -  foi um dos primeiros padres da Igreja a tratarem extensamente esta doutrina em seus escritos. De forma peculiar, ele detalha diversos aspectos da doutrina que formam hoje a definição doutrinária da Igreja em relação ao purgatório. Neste presente texto, desejamos apresentar ao leitor, as definições de Agostinho, bem como sua fundamentação bíblica a respeito do purgatório.
Nossa análise será acompanha dos comentários do historiador francês Jacques LeGoff, retirados do seu livro “O Nascimento do Purgatório”. Legoff como ele mesmo declara, não é patrologista, nem teólogo, nem historiador eclesiástico, mas seus comentários serão úteis como “fonte imparcial” para a interpretação dos escritos de Santo Agostinho em relação ao purgatório. A exposição do texto será feita de forma cronológica, para mostrar todo o pensamento de Agostinho através dos anos.

A DEFINIÇÃO DE PURGATÓRIO NO CATECISMO DA IGREJA E NOS CONCÍLIOS ECUMÊNICOS

Antes de analisar o ensinamento de Agostinho, é necessário estudar a doutrina do Purgatório nos documentos da Igreja, para saber o que é “purgatório”, caso contrário, nada poderá ser compreendido. É necessário que o leitor leia com atenção o que os documentos da Igreja dizem, para quando lerem Agostinho, compararem os dois.
O Catecismo da Igreja Católica explica o Purgatório da seguinte maneira:
"1030. Os que morrem na graça e na amizade de Deus, mas não estão completamente purificadosembora tenham garantida sua salvação eterna, passam, após sua morte, por uma purificação, a fim de obter a santidade necessária para entrar na alegria do Céu.1031. A Igreja denomina Purgatório esta purificação final dos eleitos, que é completamente distinta do castigo dos condenados. A Igreja formulou a doutrina da fé relativa ao Purgatório sobretudo no Concílio de Florença e de Trento. Fazendo referência a certos textos da Escritura, a tradição da Igreja fala de um fogo purificador: 'No que concerne a certas faltas leves, deve-se crer que existe antes do juízo [final] um fogo purificador, segundo o que afirma aquele que é a Verdade, dizendo, que, se alguém tiver pronunciado uma blasfêmia contra o Espírito Santo, não lhe será perdoada nem no presente século nem no século futuro (Mt 12,32). Desta afirmação podemos deduzir que certas faltas podem ser perdoadas no século presente, ao passo que outras, no século futuro' (São Gregório Magno, Dial. 4,39)". (Catecismo da Igreja Católica Parágrafos 1030 – 1031).
Aqui cabe ressaltar que a Igreja define o purgatório como “a purificação final”, não necessariamente “um lugar”. A menção do purgatório como um lugar na Igreja Católica vem de teólogos e muitos santos, o magistério da Igreja nunca definiu o purgatório como “um terceiro lugar” tal como céu ou inferno, veremos nos decretos dos concílios que o purgatório é tratado apenas como a “purificação final”, purgatório como lugar fica mais do campo das explorações teológicas.
Antes do Concílio Ecumênico de Florença dois outros Concílios Ecumênicos definiram dogmaticamente o doutrina do purgatório, foram eles os Concílios Ecumênicos de Lião I e II, em 1245 e 1274 respectivamente estabeleciam que:
"...Finalmente, afirmando a Verdade no Evangelho, que se alguém blasfemar contra o Espírito Santo não ser-lhe-á perdoada nem neste mundo nem no futuro [Mat. 12,32], o que dá a entender que algumas culpas são perdoadas no século presente e outras no futuro, bem como também disse o Apóstolo, que o fogo provará a obra de cada um; e aquele cuja obra arder sofrerá dano; ele, porém, se salvará, mas como quem passa pelo fogo [1Cor. 3,13.15]; e como os próprios gregos dizem que creem e afirmam verdadeira e indubitavelmente que as almas daqueles que morrem, recebida a penitência, porém sem cumpri-la; ou sem pecado mortal, mas apenas veniais e pequenos; são purificadas após a morte e podem ser auxiliadas pelos sufrágios da Igreja; visto que [os gregos] dizem que o lugar desta purificação não lhes foi indicado com nome certo e próprio por seus doutores, como nós que, de acordo com as tradições e autoridades dos Santos Padres, o chamamos 'Purgatório', queremos que daqui por diante também eles o chamem por este nome. Porque com aquele fogo transitório certamente são purificados os pecados, não os criminais ou capitais que antes não tenham sido perdoados pela penitência, mas os pequenos ou veniais, que pesam mesmo depois da morte, ainda que tenham sido perdoados em vida..." (Concílio Ecumênico de Lião I, 13º Ecumênico).
"...Mas por causa dos diversos erros que alguns por ignorância e outros por malícia introduziram, devemos dizer e pregar que aqueles que depois do batismo caem no pecado não devem ser rebatizados, mas que obtêm pela verdadeira penitência o perdão dos pecados. E se verdadeiramente arrependidos morrerem em caridade antes de ter satisfeito com frutos dignos de penitência por seus atos e omissões, suas almas são purificadas após a morte com penas purgatórias ou catartérias, como nos explicou frei João; e para alívio dessas penas lhes aproveitam os sufrágios dos fiéis vivos a saber: os sacrifícios das missas, as orações e esmolas, e outros ofícios de piedade que, segundo as instituições da Igreja, alguns fiéis costumam a fazer em favor de outros. Mas aquelas almas que após terem recebido o santo batismo não incorreram em mancha alguma de pecado e também aquelas que após o contraírem se purificaram - quer enquanto permaneciam em seus corpos quer após deixá-los - como acima foi dito, são recebidas imediatamente no céu(Concílio de Lião III, 14º Ecumênico).
Com efeito, o Concílio de Florença simplesmente reafirmava o que estes outros Concílios Ecumênicos já tinham definido alguns séculos antes:
"...Desta forma, se os verdadeiros penitentes deixarem este mundo antes de terem satisfeito com frutos dignos de penitência pela ação ou omissão, suas almas são purgadas com penas purificatórias após a morte; e para serem aliviadas destas penas, lhes aproveitam os sufrágios dos fiéis vivos, tais como o sacrifício da missa, orações e esmolas, e outros ofícios de piedade que os fiéis costumam praticar por outros fiéis, segundo as instituições da Igreja. E que as almas daqueles que após receberem o batismo não incorreram absolutamente em mancha alguma de pecado e também aquelas que, após contrair mancha de pecado, a purgaram, quer enquanto viviam em seus corpos quer após o deixarem, segundo o que foi dito acima, são imediatamente recebidas no céu...(Concílio de Florença, 17º Ecumênico).
O mesmo reafirma o Concílio de Trento (de 1545 a 1563):
"Tendo a Igreja Católica, instruída pelo Espírito Santo, segundo a doutrina da Sagrada Escritura e da antiga tradição dos Padres, ensinado nos sagrados concílios e atualmente neste Geral de Trento, que existe Purgatório, e que as almas detidas nele recebem alivio com os sufrágios dos fiéis e em especial com o aceitável sacrifício da missa, ordena o Santo Concílio aos Bispos, que cuidem com máximo esmero que a santa doutrina do Purgatório, recebida dos santos Padres e sagrados concílios, seja ensinada e pregada em todas as partes, e que seja acreditada e conservada pelos fiéis cristãos. Excluam-se, todavia, dos sermões pregados em língua vulgar à plebe rude, as questões muito difíceis e sutis que a nada conduzem à edificação e com as quais raras vezes se aumenta a piedade. Também não se permita que sejam divulgadas e tratadas as coisas incertas, ou que tenham vislumbres ou indícios de falsidade. Ficam proibidas, por serem consideradas escandalosas e que servem de tropeço aos fiéis, as que tocam em certa curiosidade ou superstição, ou tem resíduos de interesse ou de sórdida ganância. Os bispos deverão cuidar para que os sufrágios dos fiéis, a saber, os sacrifícios das missas, as orações, as esmolas e outras obras de piedade que costumam fazer pelos defuntos, sejam executados piedosa e devotadamente segundo o estabelecido pela Igreja, e que seja satisfeita com esmero e exatidão, tudo quanto deve ser feito pelos defuntos, segundo exijam as fundações dos entendidos ou outras razões, não superficialmente, mas sim por sacerdotes e ministros da Igreja e outros que têm esta obrigação(Concílio de Trento, 19º Ecumênico - Sessão 25: Decreto sobre o Purgatório).
Além de tudo, muito antes destas definições conciliares, a doutrina do Purgatório era ensinada por Agostinho e por toda a Igreja, como bem demonstram as evidências de suas obras que serão vistas a seguir.
O ENSINAMENTO DE AGOSTINHO

Começaremos nossa exposição a partir do ano 388.

388 D.C

No Comentário ao Génesis contra os Maniqueistas, de 388, ele distingue o fogo da expurgação do da condenação eterna:
Quem cultiva este reino interior da alma e a si mesmo, mas com trabalho, seu pão, pode suportar esse trabalho até o fim da vida; mais depois desta vida não lhe verá na precisão do sofrimento. Em vez disso, aqueles que não cultivam o campo e permitem que os espinhos sufoquem-no, nesta vida terá a maldição da terra em todas as suas obras, e depois desta vida ou o fogo da purificação ou punição eterna; portanto, ninguém escapa esta frase; portanto, ele tem que agir para que, pelo menos, se mantenha em pé nesta vida.” (Comentário ao Génesis contra os Maniqueistas – Livro II, 30)
Do Latim:
Qui enim coluerit agrum istum interius, et ad panem suum quamvis cum labore pervenerit, potest usque ad finem vitae huius hunc laborem pati: post hanc autem vitam non est necesse ut patiatur. Sed qui forte agrum non coluerit, et spinis eum opprimi permiserit, habet in hac vita maledictionem terrae suae in omnibus operibus suis, et post hanc vitam habebit, vel ignem purgationis vel poenam aeternam. Ita nemo evadit istam sententiam: sed agendum est ut saltem in hac tantum vita sentiatur.”

397 D.C

Em sua famosa autobiografia chamada de “Confissões” que foi escrita após a morte de sua mãe Mónica, ele faz uma grande exposição de como suas orações ajudarão sua mãe entrar no Paraíso mais rápido:
 
 
Quanto a mim, com o coração finalmente curado daquela ferida em que se poderia censurar uma fraqueza da carne, derramo perante ti, ó nosso Deus, por aquela que foi tua serva, lágrimas de um outro género: elas brotam de um espírito fortemente abalado perante o espetáculo dos perigos de toda a alma que morre em Adão.
Sem dúvida, uma vez vivificada em Cristo, mesmo antes de ser liberta dos laços da carne, ela viveu de maneira a fazer louvar o teu nome na sua fé e na sua conduta; e no entanto, não ouso dizer que a partir do momento em que a regeneraste pelo baptismo nenhuma palavra contrária aos teus preceitos saiu da sua boca. Foi dito pela Verdade, pelo teu filho: «Se alguém disser ao seu irmão" Louco", esse será passível da geena do fogo.»
[....] Pois por mim, oh meu louvado e minha vida, oh Deus do meu coração, deixando por um instante de lado as suas boas acções, pelas quais te rendo graças em alegria, agora é pelos pecados de minha mãe que te imploro. Atende-me, por aquele que, suspenso do madeiro, foi o remédio para as nossas feridas e que, sentado à tua direita, intercede por nós! Eu sei que ela praticou a misericórdia e que de todo o coração perdoou as dívidas aos seus devedores. Perdoa-lhe tu também as suas dívidas, que ela própria contraiu durante tantos anos depois da ablução da salvação! Perdoa, Senhor, perdoa-lhas, suplico-te! Não a julgues! Que a misericórdia passe por cima da justiça, pois as tuas palavras são verdadeiras e tu prometeste misericórdia aos misericordiosos! Se eles o foram é a ti que o deveram, a ti que terás piedade de quem quiseres ter piedade, que concederás misericórdia a quem quiseres conceder misericórdia. Mas, creio, já terás feito o que te peço. No entanto, estes votos espontâneos que vêm da minha boca, aceita-os, Senhor! E é verdade que, ao aproximar-se o dia da sua libertação, ela não teve nenhuma ideia de envolver sumptuosamente o seu corpo ou de o mandar embalsamar com aromas, nem o desejo de um monumento especial, nem a preocupação de um túmulo na sua terra. Não, não foi isso que ela nos recomendou, mas apenas que invocássemos a sua memória no teu altar; foi este o seu desejo. Pois, sem falhar um só dia, ela serviu esse altar, sabendo que nele se dita a sorte da vítima santa que afastou a sentença a que fomos condenados e triunfou do inimigo, aquele que avalia os nossos pecados ao procurar com que nos inculpar, mas nada encontra n'Aquele em quem somos vencedores. Quem lhe resgatará o seu sangue inocente? Do preço por que ele nos comprou, quem o reembolsará para nos arrancar a ele? A esse mistério do preço da nossa compra, a tua serva ligou a sua alma pelo laço da fé. Que ninguém a arranque à tua protecção! [...]
Que ela esteja, pois, em paz juntamente com o seu marido: antes dele ninguém e depois dele ninguém a teve como esposa; ela serviu-o oferecendo- te o fruto da sua paciência, para o levar para ti, a ele também! E depois inspira, meu Senhor, meu Deus, inspira os teus servos meus irmãos, os teus filhos meus pais, a cujo serviço ponho o meu coração, a minha voz e os meus escritos, todos de entre eles que lerem estas linhas, inspira-os para que no teu altar se recordem de Mônica, tua serva, e de Patricio que foi seu esposo, aqueles por cuja carne tu me puseste nesta vida, sem que eu saiba como. Que, num sentimento de piedade, se recordem deles, meus pais nesta luz passageira, meus irmãos em ti, nosso Pai e na Igreja católica nossa Mãe, meus concidadãos na Jerusalém eterna pela qual suspira o teu povo em peregrinação, desde o ponto de partida ao ponto de chegada! Assim, o voto supremo que ela me dirigiu será mais abundantemente cumprido pelas preces de muitos, graças a estas com fissões, do que somente pelas minhas preces.” (ConfissõesIX, XIII, 34-37)
O texto é claro em afirmar que as orações dos vivos ajudam a alma dos mortos a entrarem no céu, logo só é possível isso ser coerente com um local ou estado intermediário, antes da entrada no céu. Sobre este texto, assim comenta Jacques LeGoff:

Este texto admirável não é uma exposição doutrinal, mas é possível extrair dele alguns dados importantes para a eficácia dos sufrágios pelos mortos.
A decisão de colocar ou não Mónica no Paraíso, na Jerusalém eterna, só pertence a Deus. Apesar de tudo, Agostinho está convencido de que as suas preces podem comover Deus e influenciar a sua decisão. Mas o julgamento de Deus não será arbitrário, e a sua prece não será absurda nem absolutamente temerária. É porque Mónica, apesar dos seus pecados - pois todo o ser humano é pecador - mereceu em vida a salvação, que a misericórdia de Deus poderá exercer-se e a prece do seu filho ser eficaz. Sem que seja dito, o que se pressente é que a misericórdia de Deus e os sufrágios dos vivos podem apressar a entrada dos mortos no Paraíso e não fazê-los transpor as suas portas, se foram grandes pecadores cá em baixo.” (Jacques LeGoff – O Nascimento do Purgatório. Pg 88)
Uns anos mais tarde (entre 400 - 414 d.C), no seu comentário do Salmo XXXVII, Agostinho pede a Deus por si próprio, que o corrija nesta vida para que não tenha de suportar, depois da morte, o fogo corretivo (ignis emendatorius”:
 "Senhor, não me interpeles na tua indignação. Não me encontres entre aqueles a quem haverás de dizer: 'ide para o fogo eterno que está preparado para o diabo e seus anjos'. Nem me corrijas em teu furor, mas purifica-me nesta vida e torna-me tal que já não necessite do fogo corretor, atendendo aos que hão de salvar-se, ainda que, não obstante, como que através do fogo. Por que acontece isto se não é porque edificam aqui sobre o cimento, lenha, palha e feno? Se tivesse edificado sobre o ouro, a prata e as pedras preciosas, estariam livres de ambas as classes de fogo, não apenas daquele eterno, que atormentará os ímpios para sempre, mas também daquele que corrigirá aos que hão de salvar-se através do fogo” (Comentário ao Salmo 37,3)
Perceba se aqui a diferença entre as penas temporárias dadas com fogo para os que vão se salvar, mas que ainda tem alguma mancha de pecado, e as penas eternas pelo fogo dadas aos ímpios. Logo, para Agostinho, o fogo corretor irá corrigir os salvos que necessitam de alguma purificação, isto é claramente o purgatório. Mais adiante veremos esse ensinamento de Agostinho se repetindo.
Na continuação deste mesmo parágrafo ao Salmo XXXVII, avança com uma afirmação que confirma ainda mais seu firme posicionamento a respeito do purgatório:
Se bem que alguns sejam salvos pelo fogo, esse fogo será mais terrível do que tudo o que um homem pode suportar nesta vida!'.”
Do Latim
«Ira plane quamuis salui per ignem, gravior tamen erit iIIe ignis, quam quidquid potest homo pati in hac vita» (Enarratio in Ps. XXXVII, 3).

APÓS 413 D.C

As afirmações de Santo Agostinho são tão claras e óbvias que alguns protestantes, não tendo o que falar ou retirar de suas obras para fazer livre exame, resolveram apelar para a desonestidade intelectual. Resolveram recortar e montar trechos da obra de Jacques LeGoff, que aqui utilizamos, para defenderem que Santo Agostinho “mudou de opinião”, ou que deixou o purgatório de lado após 413, como que o purgatório para ele era apenas uma “especulação”. A citação que utilizam é a seguinte:
 
"[Joseph Ntedika] pôs o dedo num ponto chave, mostrando não apenas que a posição de Agostinho evoluiu ao longo dos anos, o que era de se esperar, mas que passou por uma mudança acentuada num ponto específico no tempo, que Ntedika situa no ano 413 (...) Na Carta a Dardinus (417), ele [Agostinho] esboçou uma geografia do além, onde não há lugar para o Purgatório.” (The Birth of Purgatory [Chicago, Illinois: The University of Chicago Press, 1986], pp 62, 70).
Essa citação que é montada a partir de duas frases em contextos e páginas diferentes da obra de LeGoff surgiu de um site em inglês, alguns protestantes brasileiros traduziram e agora usam como “trunfo” para dizer que Santo Agostinho mudou de opinião supostamente ancorados na afirmativa de Jacques LeGoff. Já não fosse hilário usarem um livro que nunca leram, ainda usam uma citação que não fazem a mínima ideia se está correta. Vamos ver a citação em seu real contexto, a primeira parte é retirada da página 85:
"No seu excelente estudo sobre a Evolução da doutrina do Purgatório em Santo Agostinho (Évoiution de Ia doctrine du Purgatoire chez saint Augustin), de 1966, Joseph Ntedika recenseou o conjunto dos numerosos textos agostinianos que constituem o processo do problema.Destacou, a maioria das vezes com acerto, o lugar de Agostinho na pré-história do Purgatório, e mostrou o facto fundamental: a posição de Agostinho não só evoluiu, o que é normal, mas também se modificou consideravelmente a partir de determinado momento que Ntedika situa em 413 e a que ele atribui a causa da luta contra os laxistas do além, os «misericordiosos » (misericordes), luta a que Agostinho se entrega apaixonadamente a partir dessa data. Contentar-me-ei com citar, situar e comentar os principais textos agostinianos respeitantes ao Purgatório. Fá-lo-ei numa dupla perspectiva: o conjunto do pensamento e da ação agostinianos e a génese do Purgatório a longo prazo.
O que LeGoff quis dizer com “a posição de Agostinho não só evoluiu, o que é normal, mas também se modificou”, nem de longe foi que ele “deixou de crer no purgatório”, como diz o site em inglês, e paroleiam protestantes brasileiros, e sim que ele passou a ser mais rígido em relação as penas dos maus e dos meio bons, contra os laxistas ou “misericordiosos” que pregavam que até mesmo os homicidas poderiam ser purificados no purgatório, e contra isso Santo Agostinho rebate que só poderão ser purificados aqueles que em vida tiveram fé, fizeram o bem e acumularam boas obras que foram úteis para, após sua morte, se ainda rest6ar alguma mancha, serem purificados.
LeGoff volta a falar sobre isso e explica esses parágrafos nas páginas 90 e 91: 
Depois de 413: duras penas purgatórias entre a morte e o Julgamento para aqueles que não são inteiramente bons.
A partir de 413 as convicções de Agostinho sobre a sorte dos mortos e em particular sobre a possibilidade de redenção depois da morte tornam-se mais precisas e evoluem para posições restritivas. A maioria dos especialistas do pensamento agostiniano, e especialmente Joseph Ntedika, viu a justo título neste endurecimento uma reação às ideias dos laxistas «misericordiosos» que Agostinho considerava muito perigosos, e nele se viu também a influência das concepções milenaristas que teriam movido Agostinho por intermédio dos cristãos espanhóis. Creio que também aí se deve ver o reflexo do grande acontecimento do ano de 410: a tomada de Roma por Alarico e os Ostrogodos que parece marcar o fim não só do Império Romano e da invulnerabilidade de Roma, mas também anunciar o fim do mundo para certos cristãos, enquanto grande parte da aristocracia romana culta e ainda pagã acusava os cristãos de terem minado a força de Roma e de serem responsáveis por uma catástrofe sentida como, se não o fim do mundo, pelo menos o fim da ordem e da civilização. Foi para responder a esta situação, a estas conjecturas e a estas acusações que Agostinho escreveu a Cidade de Deus.
[parágrafo explicando sobre os “misericordiosos” omitido para abreviar...]
Reagindo, Agostinho vai afirmar que existem mesmo dois fogos, um fogo eterno destinado aos condenados para os quais qualquer sufrágio é inútil, e no qual insiste com veemência; e um fogo purgatório em reação ao qual tem mais hesitações. O que interessa pois a Agostinho, se assim se pode dizer, não é o futuro Purgatório mas sim o Inferno.” (Jacques Le Goff - O Nascimento do Purgatório Pg. 90-91)
Esta parte refuta qualquer alegação protestante. Fica claro que quem faz uso da citação montada, nunca leu a obra de Jacques LeGoff. Será que sujeitos que fazem uso de tais artifícios têm alguma credibilidade para falar sobre o pensamento de Santo Agostinho em um tema tão complexo?
Sobre a última parte retirada da página 93 e seu contexto é o seguinte:
A oposição de Agostinho aos «misericordiosos» e a evolução do seu pensamento sobre a sorte dos mortos surgem no seu tratado Sobre a fé e as obras (De fide et operibus) de 413, mas exprimem-se sobretudo no seu Manual, o Enchiridion, em 421, e no livro XXI da Cidade de Deus, em 426-427.
Entretanto fizera certas precisões a pedido de amigos. Na Carta a Dardanus, em 417, esboçava uma geografia do além na qual não havia lugar para o Purgatório. Voltando à história do pobre Lázaro e do rico mau distinguia, com efeito, uma região de tormentos e uma região de repouso mas não as situava às duas nos Infernos, como alguns, porque a Escritura diz que Jesus desceu aos Infernos mas não que visitou o seio de Abraão. Este não é senão o paraíso, nome genérico que não designa o Paraíso terrestre onde Deus colocara Adão antes do pecado'".” (Jacques Le Goff - O Nascimento do Purgatório Pg. 93)
Não há qualquer registro aqui que desabone o purgatório no pensamento de Agostinho. Jacques LeGoff explica apenas que ao descrever o além, Santo Agostinho esboçava uma geografia do além no qual não havia um purgatório como “lugar”, e isso é simples. Muitos autores e teólogos da antiguidade e até mesmo da atualidade, não veem o purgatório como um “lugar” ou têm incertezas sobre isso. Como mostramos no início do texto, nem os concílios, nem mesmo catecismo da Igreja definiram o purgatório como um “lugar”, o catecismo no parágrafo 1031 diz somente:
A Igreja denomina Purgatório esta purificação final dos eleitos, que é completamente distinta do castigo dos condenados”.
Portanto, a Igreja denomina como purgatório a purificação final, não necessariamente “um lugar”, logo, se em sua geografia do além Agostinho não menciona o purgatório, segue o mesmo sentido dos concílios e do catecismo, sendo assim em nada esta afirmação de LeGoff vai contra a doutrina católica, nem mesmo é sinal de Santo Agostinho ter desacreditado no purgatório. É bom lembrar também que ele também fala de várias dificuldades levantadas pela existência de um “fogo expurgatório” depois da morte, se seria, literal, fictício ou espiritual, nisso ele diz é uma «questão obscura» (obscura quaestio). Outro ponto é que Agostinho na carta a Dardano estava apenas falando de céu e inferno, ou seja, condenação e salvação, a purificação final dos eleitos não era o objetivo da sua explanação neste momento, a purificação foi objeto de explicação nas obras posteriores que veremos a seguir.
Vale deixar registrado que muitos teólogos da Igreja e até santos veem sim o purgatório como um lugar, mas isso são conjecturas e esboços teológicos do além, muito explorados principalmente na baixa idade média, porém não existe nada definitivo nas decisões do Magistério da Igreja Católica.
Vamos analisar agora as obras apontadas por Jacques LeGoff nesta mesma citação, e demonstraremos tanto no pensamento de Agostinho, quanto na obra do próprio LeGoff que a única mudança que houve, foi para afirmações ainda mais claras sobre o purgatório após 413.

421 d.C ENCHIRIDIUM

Na sua Obra Enchiridium palavra grega para “Manual”, reafirma categoricamente a existência do fogo purificador para os eleitos que morreram com alguma mancha de pecado:
 
Que algo semelhante aconteça igualmente depois desta vida, não é impossível. Será de facto assim? É lícito investigá-lo, seja ou não para o descobrir. Alguns fiéis (neste caso) poderiam, mais cedo ou mais tarde, ser salvos por um fogo purgatório, conforme tenham amado mais ou menos os bens transitórios. Porém, nunca o serão aqueles de que se diz que «não possuirão o reino de Deus» (I Corintios, VI, li) se, por uma penitência adequada, não obtiverem a remissão dos seus pecados (crimina), Adequada, disse eu, que não sejam avaros em esmolas, visto que a Santa Escritura atribui a estas um valor tal, que o Senhor anuncia (Mateus, XXV, 34-35) dever contentar-se unicamente com esta colheita para colocar (os homens) à sua direita ou unicamente com a ausência dela para os pôr à esquerda, e dirá a uns: «Vinde, os abençoados por meu Pai, recebei o reinos e aos outros: «Ide para o fogo eterno.» Livremo-nos de pensar, apesar de tudo, que estes crimes infames de que ele  diz que aqueles que deles são culpados «não possuirão o reino de Deus» podem ser cometidos todos os dias e todos os dias resgatados por meio de esmolas. O que é preciso é mudar a vida para melhor e, por meio de esmolas, aplacar Deus pelas culpas passadas, e não comprá-lo, por assim dizer, de maneira a poder sempre cometê-Ias impunemente. «Com efeito, a ninguém Deus dá licença de pecar (Eclesiastes, XV, 21), se bem que, na sua misericórdia, apague os pecados cometidos, se não for negligenciada a satisfação adequada.” (Enchiridium 69-70)
Aqui Agostinho é ainda mais claro na sua exposição sobre a purgação das manchas dos fiéis após sua morte.
Alguns tentam usar estas palavras de Agostinho “Que algo semelhante aconteça igualmente depois desta vida, não é impossível. Será de facto assim? É lícito investigá-lo, seja ou não para o descobrir. “ para dizer que ele estava “especulando” sobre o purgatório e que não tinha em si uma doutrina. Esse argumento de desespero, além de refutado em todas as obras de Agostinho já demonstradas anteriormente, é também refutado pelo fato que Agostinho não está duvidando da purgação após a morte, mas sim sobre como seria este fogo, por esta razão ele diz “certo fogo” do qual não tem certezas ou definição, e não sobre purgação post mortem  que está recheada em suas obras. Muito estranha esta “especulação” ser defendida em inúmeras obras e lugares das obras de Agostinho, este ponto é tratado extensamente para ser mera especulação.
Assim comenta Jacques LeGoff:
Na passagem precedente, Agostinho sublinhara que, para se ser salvo pelo fogo, era preciso ter reunido, na vida terrena, a fé e as obras. Aqui (Enchiridton, 69-70) é ainda mais conciso. Não se deve apenas ter dado esmolas, é preciso «mudar a vida para melhor» (in melius quippe est vila mutanda) e, em especial, é preciso entregar-se a uma penitência conveniente e dar satisfação, isto é, cumprir uma penitência canónica. Neste caso a remissão poderá ser conseguida após esta vida (post hanc vitam) graças a «um certo fogo purgatório» (per ignem quemdam purgatorium ) sobre o qual Agostinho parece não ter certezas, mas que é diferente do fogo eterno, do fogo do Inferno. Retomará a distinção entre os dois fogos, aquele que atormenta eternamente e aquele que expurga e salva, no capítulo XVI do livro XXI da Cidade de Deus. A penitência, em todo o caso, pode ser tão eficaz que, com excepção dos crimes infames, possa até resgatar os pecados que, sem serem infames (infanda), são no entanto designados como «crimes» (crimina). O fogo expurgatório é destinado quer aos fiéis não submetidos à penitência canónica quer àqueles que lhe são submetidos mas não a concluíram. Em compensação aqueles que, estando sujeitos à penitência, não lhe foram submetidos, não pode ser purificados pelo fogo. (Jacques Le Goff – O Nascimento do Purgatório Pg 95)
Nos capítulos seguintes Agostinho continua o que protestantes chamam de “especulação”:
No intervalo entre a morte do homem e a ressurreição suprema, as almas são retidas em depósitos secretos onde conhecem ou o repouso ou a pena de que são dignas, segundo a sorte que talharam para si enquanto viviam na carne.
Não se pode, porém, negar que as almas dos defuntos sejam aliviadas pelas preces dos seus próximos ainda vivos, quando por elas é oferecido o sacrifício do Mediador ou na Igreja são distribuídas esmolas. Mas estas obras servem apenas para aqueles que, enquanto viviam, mereceram que elas pudessem servir-lhes mais tarde.
Com efeito, existem homens cuja vida não é sufícientemente boa para não terem necessidade desses sufrágios póstumos, nem suficientemente má para que eles não possam ajudá-los. Ao contrário, há-os que viveram suficientemente bem para os dispensar e outros suficientemente mal para não poderem tirar deles proveito depois da morte. Pelo que é sempre aqui em baixo que se adquirem os méritos que podem assegurar a cada um, depois desta vida, alívio ou infortúnio. Aquilo que foi desprezado neste mundo, que ninguém espere obter de Deus após a morte.
Assim, as práticas observadas pela Igreja tendo em vista recomendar a Deus as almas dos defuntos não são contrárias à doutrina do Apóstolo, que dizia: «Todos nós compareceremos perante o tribunal do Cristo» (Romanos, XIV, 10), para lá recebermos, «cada um segundo o que fez durante a vida, seja para o bem, seja para o mal» (11Coríntios, V, 10). Pois é durante a sua vida terrena que cada um se torna merecedor do beneficio eventual das preces em questão. Nem todos tiram dele vantagem; e porque será que o proveito que dele advém não é o mesmo para todos, se não por causa da vida diferente que tiveram cá em baixo?
Os sacrifícios do altar ou da esmola que são oferecidos em intenção de todos os defuntos baptizados, para aqueles que foram inteiramente bons, são acções de graças; para aqueles que não foram inteiramente maus, são meios de propiciação; para aqueles cuja maldade foi total, por não terem aliviado os mortos, servem para consolar, mesmo assim, os vivos. O que eles asseguram àqueles que deles aproveitam é ou a amnistia completa ou, pelo menos, uma forma mais suportável de condenação aos Infernos.” (Enchiridium 109-110)
Onde estariam os fiéis defuntos, que toda a Igreja oferecia sacrifício e esmolas? Para que oferecerem esmolas e sacrifícios por quem já morreu se isso não implicasse em uma purificação ou limpeza após a morte?

Seu livro do cuidado devido aos mortos feito em resposta aos questionamentos de São Paulino de Nola, dispensam quaisquer comentários:
De fato, a sentença do Apóstolo exorta-nos que é antes da morte que podemos fazer o que seja útil para depois dela e não depois que ela ocorre, quando recolhemos os frutos que praticamos durante a vida.
A questão então é resolvida da seguinte maneira: enquanto vivemos neste corpo mortal, há uma certa forma de viver que permite, após a morte, obter certo alívio através das obras pias feitas em seu sufrágio. Porém, tal ajuda será proporcional ao bem que cada um de nós fizemos durante a vida. (Do Cuidado devido aos Mortos 1, 2)
"Lemos nos livros dos Macabeus que foi oferecido um sacrifício pelos falecidos. E apesar de não podermos ler isto em nenhum outro lugar do Antigo Testamento, não é pequena a autoridade da Igreja universal que reflete este costume, quando nas orações que o sacerdote oferece ao Senhor, nosso Deus, sobre o altar encontra seu momento especial na comemoração dos falecidos(Do Cuidado devido aos Mortos 1,3)
Já que o sepultamento é, por si mesmo, uma obra religiosa, a escolha do local não poderia ser estranha ao ato religioso. É consolo para os vivos, uma forma de testemunhar sua ternura para com os familiares desaparecidos. Não enxergo, porém, como os mortos podem encontrar aí alguma ajuda, a não ser quando o lugar onde descansam é visitado e são encomendados, pela oração [dos visitantes], à proteção dos santos junto ao Senhor. Contudo, isso pode ser feito ainda quando não é possível sepultá-los em tais lugares santos…” (Do Cuidado devido aos Mortos 4, 2)
Não se pode duvidar de que essas súplicas, feitas pelos fiéis em nome dos seus caros defuntos, são úteis a estes caso apenas tenham merecido - durante a vida - beneficiar-se após a morte. Ainda que se suponha que alguma circunstância impediu o sepultamento ou que não foi dada a autorização para sepultar num desses locais sagrados, não será por isso que deveremos negligenciar as orações pelos falecidos.
A Igreja tomou para si o encargo de orar por todos aqueles que morreram dentro da comunhão cristã e católica. Ainda que não conheça todos os nomes [de seus fiéis defuntos], ela os inclui numa comemoração geral. Dessa forma, aqueles que não possuem mais pais, filhos ou outros parentes e amigos para auxiliá-los, são amparados pelo sufrágio dessa piedosa Mãe comum.
Julgo, porém, que caso esses sufrágios pelos mortos sejam feitos sem verdadeira fé e piedade, de nada valeria ao espírito deles que seus corpos sem vida se encontrassem sepultados nos lugares mais santos.” (Do Cuidado devido aos Mortos 4, 4)

422 D.C DAS 8 QUESTÕES DE DULCÍCIO

Em 422 em sua obra chamada “De VIII Dulcitii quaestionibus”, isto é “Das 8 Questões de Dulcício” continua a fazer largo ensinamento do purgatórioDulcício foi um oficial romano do século V que em 420 foi enviado para a África para suprimir a heresia donatista. Neste ano, Agostinho respondeu uma carta de Dulcício a respeito do tratamento dos heréticos e em 422, escreveu um tratado em resposta a suas oito perguntas.
A segunda pergunta de Dulcício é pertinaz a nosso texto, ela foi:
Será que a oferta feita pelos defuntos se aproveita algo a seu favor? É evidente que somos aliviados ou punidos de acordo com nossas obras; e, certamente, lemos que ninguém pode louvar ao Senhor no inferno. Ao que muitos respondem que, se após a morte pode haver algum lugar em alívio, a alma, confessando os seus pecados, procuraria um refrigério muito maior do que aquele que buscam os demais com os sufrágios
Agostinho responde a essa pergunta, mostrando sua resposta a Paulino de Nola (Do Cuidado Devido Aos Mortos) e a Lorenzo (Enchiridium) sobre o mesmo assunto. O fim da sua resposta a Lorenzo, resume a questão:
“Não se pode negar que as almas dos falecidos são aliviadas pela piedade dos parentes vivos, quando oferecem por elas o sacrifício do Mediador ou quando praticam esmolas na Igreja. Porém, estas coisas aproveitam aquelas [almas] que, quando viviam, mereceram que se lhes pudessem aproveitar depois. Pois há um certo modo de viver, nem tão bom que aproveite destas coisas depois da morte, nem tão mal que não lhes aproveitem; há tal grau no bem que o que possui não aproveita de menos; ao contrário, há tal [grau] no mal que não pode ser ajudado por elas quando passar desta vida. Portanto, aqui o homem adquire todo o mérito com que pode ser aliviado ou oprimido após a morte. Ninguém espere merecer diante de Deus, quando tiver falecido, o que durante a vida desprezou.
Estas coisas, frequentemente praticadas na Igreja para ajudar os seus mortos, não se opõem a aquela sentença apostólica que disse: “Porque todos devemos comparecer ante o tribunal de Cristo, para que cada um receba o pagamento devido, ao bom aos pelo bem que fez ou ao mau pelas más ações, enquanto estavam na carne”. [...] Assim, os sacrifícios, e os Sacrifícios do altar, e as esmolas de qualquer espécie, que são oferecias para todos os mortos, para os muito bons, são ações de graças;[...]”. (Das Oito Questões de Dulcício – II, 1-4)

426 – 427 d.C A CIDADE DE DEUS

O livro cidade de Deus é mais um dos livros que deixam claro o pensamento de Agostinho a respeito do destino dos fiéis com algum resquício de pecado, e a eficácia da oração dos fiéis vivos em seu favor. Maiores comentários são desnecessários:
Quanto a nós, confessamos que, mesmo nesta vida mortal, há penas purgatórias; não são atormentados por elas aqueles cuja vida não melhora ou até se torna pior, mas são purgatórias para aqueles que, castigados por elas, se corrigem. Todas as outras penas, quer temporárias quer eternas, conforme a maneira como cada um deve ser tratado pela divina Providência, são aplicadas pelos pecados quer passados quer atuais, nos quais ainda vive aquele que é por elas atingido, seja para exercer ou pôr em evidência as virtudes, e isto por intermédio ou dos homens ou dos anjos bons e maus. Pois se alguém sofre qualquer mal por maldade ou em de outrem, este homem peca, na verdade, pois faz mal a outro por ignorância ou por injustiça; mas Deus, esse, não peca quando permite isso por um julgamento justo, mesmo que seja secreto. Mas uns sofrem as penas temporárias apenas nesta vida, outros depois da morte, outro tanto durante como depois desta vida: de qualquer modo, antes desse julgamento muito severo e o último de todos. Mas não caem nas penas eternas que virão depois desse julgamento aqueles que suportaram as penas depois da morte. Pois para uns aquilo que não é remido neste século será remido o século futuro, quer dizer evitar-lhes-á serem punidos pelo suplício eterno desse século futuro: já o dissemos atrás.” (A Cidade de Deus 21,13).
No capítulo XVI repete:
A maior parte [das pessoas], uma vez conhecida a obrigação da lei, se veem vencidas primeiramente pelos vícios que chegam a dominá-las; tornam-se, assim, transgressoras da lei. Logo buscam refúgio e auxílio na graça, com a qual recuperarão a vitória, mediante uma amarga penitência e uma luta mais vigorosa, submetendo primeiro o espírito a Deus e obtendo depois o domínio sobre a carne. Quem quiser, pois, evitar as penas eternas não deve apenas se batizar; deve ainda se santificar seguindo a Cristo. Assim é como quem passa do diabo para Cristo. Quanto às penas expiatórias, não pense ninguém em sua existência se não será antes do último e terrível juízo”. (A Cidade de Deus 21, 16)
No capítulo XXIV Agostinho volta à eficácia das orações pelos mortos, mas para precisar com mais clareza os seus limites.
A razão pela qual não se rezará pelos homens votados ao fogo eterno é a mesma razão pela qual, nem agora nem nunca, não se reza pelos maus anjos, e é ainda pela mesma razão que a partir de agora não se reza já pelos infiéis e ímpios defuntos, ainda que se reze pelos homens. Pois, a favor de certos defuntos, a prece da própria Igreja e de alguns homens piedosos é atendida, mas por aqueles que estão regenerados em Cristo, e cuja vida no seu corpo não foi tão má que sejam julgados indignos de tal misericórdia, nem tão boa que se suponha que uma tal misericórdia não lhes será necessário": também depois da ressurreição dos mortos haverá aqueles a quem, após as penas que sofrerão as almas dos mortos, será concedida essa misericórdia que lhes evitará serem lançados no fogo eterno. Com efeito, a respeito de alguns não se poderá dizer com verdade que não lhes é perdoado nem no século presente nem no século futuro, pois existem aqueles a quem o perdão, se não Ihes é concedido neste século sê-lo-á no século futuro. Mas quando o juiz dos vivos e dos mortos disser: Vinde, os abençoados por meu Pai, possuí o reino que está preparado para vós desde a criação do mundo, e aos outros pelo contrário: [de para longe de mim, malditos, para o fogo eterno que foi preparado pelo diabo e pelos seus anjos e eles tiverem ido, estes para o suplício eterno, mas os justos para a vida eterna'", é presunção excessiva dizer que o suplício eterno não terá lugar para algum daqueles a quem Deus declara que irão para o suplício eterno e, graças à convicção de uma tal conjuntura, fazer com que se desespere mesmo desta vida ou que se duvide da vida eterna.” (Cidade de Deus- XXI, 24)
Assim comenta Jacques LeGoff:
Enfim, em 426-427 na Cidade de Deus (XXI, 24), Agostinho volta à eficácia das orações pelos mortos, mas para precisar com mais clareza os seus limites. Os sufrágios são inúteis pelos demónios, pelos infiéis e os impios, portanto pelos condenados ao inferno. Só podem ser válidos para uma certa categoria de pecadores não nitidamente definida mas em todo o caso caracterizada de maneira especial: aqueles cuja vida não foi muito boa nem muito má.” (Jaques LeGoff – O Nascimento do Purgatório pg. 89)
No Capítulo seguinte Agostinho volta a afirmar o purgatório:
Após a morte deste corpo, até que chegue o dia que se seguirá à ressurreição dos corpos e que será o dia supremo da condenação e da remuneração, se se afirma que, neste intervalo de tempo, as almas dos defuntos suportam esta espécie de fogo, não o sentem aqueles que nos seus corpos não tiveram durante a vida costumes e amores tais que o seu feno, a sua madeira e a sua palha sejam consumidos; mas os outros sentem-no, aqueles que trouxeram consigo construções de materiais semelhantes; encontram o fogo de uma atribulação passageira que queimará completamente essas construções que vêm do século, seja apenas aqui, seja aqui e lá em baixo, ou mesmo lá em baixo e não aqui e que não são, aliás, passíveis de condenação aos Infernos; pois bem, não repilo esta opinião, pois talvez seja verdadeira.De facto, dessas atribulações pode fazer parte a própria morte da carne, que foi concebida pela perpetração do primeiro pecado; de tal modo que o tempo que se segue à morte é sentido por cada um segundo a sua própria construção. Também as perseguições que coroam todos os mártires e as que sofrem todos os cristãos põem à prova os dois géneros de construções, como o fogo; consomem umas juntamente com os construtores, se não encontram nelas o Cristo como alicerce; outras sem os construtores se o encontram, pois são salvos mas não sem dor; mas não consomem outras porque vêem que elas podem subsistir para sempre. Haverá também no fim do século, na época do Anticristo, uma atribulação tal que nunca houve outra igual antes. Como serão então numerosas as construções quer de ouro quer de feno edificadas sobre o mais sólido alicerce que é Jesus Cristo; umas e outras, esse fogo pô-las-à à prova, a umas dará alegria, a outras prejuízo; não destruirá, no entanto, nem uns nem outros daqueles em que encontrar essas construções, em virtude do estável alicerce. Mas quem quer que coloque antes do Cristo, já nem digo a esposa com quem estabelece a união recíproca da carne por causa da volúpia carnal, mas os outros laços de afeição habituais entre os homens, mas estranhos àquelas volúpias, amando-os de uma maneira carnal; esse não tem o Cristo como alicerce; por consequência, não será salvo pelo fogo; não será mesmo salvo simplesmente, porque não poderá estar com o Salvador que diz muito claramente ao falar nisso: Aquele que ama o seu pai ou sua mãe mais do que a mim, não é digno de mim; e aquele que ama o seu filho ou sua filha de preferência a mim, não é digno de mim. Mas aquele que ama os seus próximos de uma maneira carnal mas sem no entanto os colocar antes de Cristo Senhor, de modo a preferir ser privado deles a ser privado do Cristo, se a provação o levar a esse extremo, esse será salvo pelo fogo, pois é necessário que, pela perda dos seus próximos, a dor o queime em proporção com a força do seu amor. Além disto, aquele que amar o pai, a mãe, o filho ou a filha segundo Cristo, de tal modo que se ocupa deles para os fazer atingir o seu reino e ficar unidos a Ele, ou que amar neles o facto de serem membros do Cristo: queira Deus que esse amor não seja de molde a ser classificado entre as tais construções de madeira, de feno e de palha, para ser queimado! então será reconhecido como uma construção de ouro, de prata e de pedras preciosas. Como pode ele amar mais do que o Cristo aqueles que ama, de facto, em intenção do Cristo?” (Cidade de Deus - XXI, 26)
Tal qual é entendido clara e objetivamente as palavras de Agostinho, assim também Jacques LeGoff Comenta:
Agostinho retoma, finalmente, no fim do capítulo XXVI, a exegese do mesmo texto de S. Paulo e presta dois esclarecimentos. Primeiro, a confirmação nítida de que o fogo purgatório se exercerá entre a morte corporal e a ressurreição dos corpos «nesse intervalo de tempo» (hoc temporis intervallo). Depois uma definição das atitudes humanas que levam ou à condenação aos Infernos ou ao beneficio do fogo purgatório. O critério é a natureza do alicerce sobre o qual o homem construiu a sua vida. O único alicerce salutar é o Cristo. Se se preferir para alicerces as volúpias carnais em vez do Cristo, corre-se para a condenação aos Infernos. Se, pelo contrário, se sacrificou de mais a essas volúpias mas sem as colocar no lugar do Cristo, como alicerce, ser-se-á salvo «por essa espécie de fogo».” (Jacques LeGoff – O Nascimento Do Purgatório Pg 99)

CONCLUSÃO

Em todas as citações vistas aqui são claras as palavras de Santo Agostinho:  poenae purgatoriaeas penas purgatórias (Cidade de Deus, XXI, XIII e XVI), tormenta purgatória: tormentos purgatórios (Cidade de Deus, XXI, 16), ignis purgatoriusfogo purgatório (Enchiridion. 69). Poenae temporariae: penas temporárias, opostas às poenae sempiternae, penas eternas (Cidade de DeusXXI, 13). Poenae temporales , penas temporárias Cidade de Deus (XXI, XXIV) ignis purgationis: o fogo da purgação (De Genesi contra Manicheos, II, XX, 30) e ignis emendatorius:fogo corrector (Enarrationes in Psamos XXXVII, 3). Na passagem da Cidade de Deus, XXI, 13, onde se encontra por três vezes em doze linhas a expressão poenae purgatoriae, Agostinho emprega também como sinónimo a expressão poenae expiatoriaepenas expurgatórias.
 
Analisamos aqui citações do ano 388 até o ano 427 d.C próximo a morte de Santo Agostinho, e ficou claro em toda a sua vida o nítido ensinamento sobre o purgatório derivado da tradição apostólica da Igreja, que ele recebeu e explorou como São Gregório de Nissa em sua ObraDe Anima Et Ressurrectione. Ainda assim, existem elementos exóticos que vagueiam internet a fora afim de tentar negar o óbvio. A desonestidade intelectual chega a níveis alarmantes, o ódio anticatólico e a cegueira espiritual fazem pessoas com que essas pessoas cheguem às raias da irracionalidade ao contra argumentar contra exposições teológicas tão claras quanto as de Agostinho, quanto a isso, só temos que lamentar, ninguém é convencido da verdade se deseja enganar aos outros e a si próprio. Como diria Dom Chapman:
 
E, depois de tudo, a coisa toda é tão falsa, tão cruel, e tão ofensiva. A refutação foi por tantas vezes repetida, e é tão fácil, que se sente quase a necessidade de ficar com raiva ao reiterar isso. Eu gostaria de dar a resposta aqui com toda exatidão meticulosa, de modo que não possa haver nenhum espaço para qualquer outra resposta além de declarações falsas ou abuso; mas me sinto como alguém que está usando um bate estacas para matar uma pulga, ou provando a tabuada contando nos dedos de alguém. E, no entanto, é claro, ninguém será convencido se não deseja isso.” (Dom John Chapman - Studies On Early Papacy)

PARA CITAR

RODRIGUES, Rafael. Santo Agostinho e o Purgatório. Disponível em: . Desde 29/04/2016.

Ex Bispo da Igreja Universal conta tudo: "A Record foi comprada com dinheiro do Narcotráfico, Edir Macedo é um depravado sexual, e Valdemiro Santiago é um Cafajeste"

 


Ex Bispo e Líder Nacional da Igreja Universal do Reino de Deus, Carlos Magno de Miranda dá uma entrevista corajosa ao Blog Vini Silva, contando como foram parte dos anos que viveu na IURD e sua convivência com Edir Macedo, a compra de Rede Record de Televisão, o dinheiro do Narcotráfico, Renato Suhett, Valdemiro Santiago,Silas Malafaia, entre outras coisas.

 Quem é Carlos Magno de Miranda? 

 “Eu nasci num lar católico, fui praticante da religião católica, a ponto de me tornar coroinha e ajudar em todas as missas do colégio Salesiano em Natal, isso nos anos de 1966-69. Mudei-me para o Rio de Janeiro e continuei católico praticante. Um dia fui convidado pelo namorado (bispo Renato maduro) da prima da minha namorada (atual esposa) a ir num culto da Igreja da Bênção (atual Universal). Era o primeiro templo. Gostei demais de ver aquele homem se mostrando poderoso para enfrentar os guias, ressalve-se que frequentei também umbanda e Kardecismo e nutria respeito e medo pelas entidades.


 Aquilo me fascinou. Observe que não foi a Palavra que me encantou. Na época o Edir Macedo era apenas o obreiro do R.R Soares e logo adiante numa jogada politica, conseguiu passar a perna no missionário e assumiu o movimento, que nesse momento já havia sido trocado o nome para Universal.

 Comecei a frequentar as correntes, e como sempre fui voltado para as coisas espirituais sentia um desejo muito grande de ser um pastor. Isso só veio ocorrer quatro anos depois quando eu já trabalhava na Nuclep, subsidiária da Nuclebras em Itaguaí, estado do Rio. Larguei tudo, um emprego onde eu tinha um alto salario e fui ser pastor ganhado um salario mínimo e o pagamento do aluguel de um pequeno apartamento.

 Eu fui um fiel imitador do Edir Macedo, que era meu ídolo, e o resultado foi espetacular, eu me tornei uma maquina de arrecadar dinheiro. Em um ano fui mandado para o Nordeste para liderar o estado de Pernambuco. Na época em todo nordeste só existia a IURD em Recife com três pequenos templos. Vendo o sucesso que eu fazia em conseguir atrair multidões, logo fui colocado como bispo do Norte e Nordeste. Ingloriamente o confesso, acabei abrindo cerca de 108 templos em toda região.

 Diante disso tudo, quando o Edir decidiu ir para Nova Iorque, para surpresa de todos, fui o escolhido para substitui-lo como bispo do Brasil. Fui para São Paulo, e tão logo cheguei fui responsável em conduzir toda compra da Tv Record. Eu conheço todos os detalhes dessa negociação imoral onde a politica e as religiões dos homens se misturam e acabaram dando todo esse poder que o Edir possui hoje. Poder financeiro e politico.

 No momento que estava no auge da Ascenção na seita, Deus começa a me tirar das trevas para luz. Foi um processo muito rápido, em quatro meses eu passei a tomar conhecimento de coisas que jamais imaginei existir num lugar que se denominava igreja de Jesus. Filmes pornográficos sendo exibidos para pastores lideres e esposas.

 Compra de imóveis de um milhão de dólares quando todos os pastores ficaram sem salario devido à compra da Record. Envolvimento com o mundo sujo da politica (Collor, Quércia, Renan Calheiros etc..) A remessa semanal de dinheiro para o exterior via doleiros. O ouro derretido e transformado em barras e levado pessoalmente para ser entregue na casa do Edir nos estados unidos. Finalmente o pote encheu com a ida a Colômbia para pegar dinheiro sujo de sangue do narcotráfico.

 Bom, hoje eu sei que foi Deus que me tirou, na época achava que eu era que havia saído. Ledo engano, pois ninguém, humanamente falando, renuncia ao poder politico e financeiro que eu desfrutava. Tem que ser uma ação sobrenatural de Deus. Hoje sei que tudo isso faz parte dos desígnios de Deus para minha vida. Minha profissão secular é Técnico especializado em Fabricação Nuclear. Meu ministério atual teve inicio com a minha saída da IURD quando veio à revelação do Evangelho da Graça de Deus que é o único para a igreja, e que foi revelado a Paulo e está nas suas quatorze epistolas. Somos uma igreja reformada.

 A minha conversão se deu quando sai da IURD e ao ouvir uma pregação sobre a verdade de que Deus é soberano, cri e me converti e Deus me tornou aquilo que ele já havia designado desde o ventre materno, um pregador do Evangelho da Graça de Deus. Temos 16 anos de pregação desse evangelho, e apenas três templos, sendo um em Natal, outro em Recife e outro em Fortaleza. Um ministério pobre financeiramente, mas rico em conhecimento e verdade.

 É coisa muito difícil ter pastores segundo o coração de Deus. O único titulo que possuo é o de pastor. Diploma apenas o do primeiro grau, o segundo não completei. Nunca cursei nenhum seminário e nenhuma faculdade teológica. Tudo que sei e prego foi absoluta Graça de Deus que ele me revelou e iluminou os meus olhos espirituais.”

 PERGUNTAS:

 O senhor foi um bom tempo Bispo da Universal, conte como era sua relação com seus Líderes e outros Bispos e como foi sua entrada na Universal?

 “Acima já contei a minha entrada na IURD. Minha relação com os outros bispos era muito boa enquanto eu não fui ordenando bispo. A partir do momento que me fizeram bispo o relacionamento já não era o mesmo. Havia muita inveja, disputa pelo poder e isso me enojava. Na época a cúpula era formada por Bispo Paulo Roberto Guimarães, bispo Rodrigues (aquele deputado do sangue suga), bispo Honorilton Gonçalves e o próprio Edir Macedo. Pra mim foi uma surpresa descobrir que havia disputa entre eles. É realmente de causar nojo o puxa saquismo.

 Mas exatamente por não ter esse comportamento pequeno, servil, foi que acabei me tornando uma pessoa próxima do Edir. Ele mesmo dizia que eu era o único amigo que ele tinha, pois tinha a coragem de lhe falar a verdade. Realmente, falei da minha indignação com os filmes pornô, me posicionei contra o envolvimento político, e tomei muitas outras atitudes que não sei por que agradaram a ele. É bem verdade que quando assumi a liderança Nacional ele tentou me corromper com dinheiro, exigindo minha mudança de pensamento, alegando que agora eu fazia parte da cúpula, que agora eu não podia mais pensar como antes, como nordestino tinha que pensar grande.”

 O senhor declarou em site de relacionamento que o Bispo Macedo era um homem depravado, e que cometia atos ilícitos, o senhor confirma? 

 “Confirmo sim. Digo que ele era imoral porque era comum nas reuniões de liderança ele provocar assuntos que falasse de sexo. Os bispos para lhe agradar contavam o que faziam com suas esposas, suas preferencias pessoais etc. Filmes pornos eram passado para os Pastores e esposas. Como eu nunca abri a boca para falar nada era chamado pelos demais de Santa Madre Teresa de Calcutá. Eu não me incomodava. Mas mantinha minha dignidade, pois mesmo no tempo de catolicismo nunca vi nada igual.”

 O senhor também afirmou que foi um dos Bispos que foi a Colômbia trazer dinheiro do Tráfico para compra da rede Record. Como foi isso? Quais eram os outros Bispos que trouxeram dinheiro? Como se dava a relação do Edir Macedo com o narcotráfico? 

 “Não só afirmei como dei depoimento de mais de 12 horas na policia federal apresentado todas as provas. Infelizmente, a IURD teve todo apoio do governo Collor e não deu em nada as minhas denuncias

 Fizemos uma viagem à Colômbia, éramos uns cinco casais, e a justificativa para a viagem era de conhecer a cidade para colocar um templo da seita. Só no hotel em Bogotá foi que o bispo Gonçalves nos reuniu e contou a verdade. Segundo ele um traficante que estava foragido no Rio de janeiro por ter assassinado um coronel na Colômbia, assistiu o programa de Tv, se sensibilizou com a campanha da compra da Record, e se ofereceu para emprestar um milhão de dólares e uma quantia que não sei calcular em pedras de diamante. Neguei-me categoricamente a participar e isso causou um mal estar muito grande.

 Edir tentou me convencer pelo telefone argumentando que para Jesus “até gol de mão vale”. Não adiantou. Fui o único a ficar fora do esquema. Minha esposa participou alegando que se estava errado, ele daria conta a Deus. Veja, eu podia esconder esse detalhe, todavia, mesmo no meu depoimento na Federal eu o expus. “

 Conte realmente como se deu a compra da TV Record pela Universal

 “Eu vou gravar um vídeo contando a verdade sobre a compra da Record que foi feita pessoalmente por mim, que na época era o "bispo" que liderava toda seita Universal no Brasil. Em primeiro lugar o Edir Macedo estava morando nos Estados Unidos quando iniciei as negociações com o Grupo Silvio Santos e a família Machado de Carvalho, que detinham cada um deles 50% das ações da Record.

 A Record foi comprada pelo valor de 45 milhões de dólares, e a igreja assumia as dividas, sabendo que o patrimônio tecnológico era zero. Tudo sucateado, o que implicava em ter que comprar tudo novo. Foi dado um sinal de 15 milhões de dólares e o saldo restante deveria ser pago em 10 parcelas mensais de 4,5 milhões de dólares. Entretanto, antes de começar a pagar as parcelas, a IURD deveria em 90 dias apresentar fiança bancaria de um banco de primeira linha, e o contrato dizia que se isso não fosse cumprido a venda estaria desfeita, e pasmem os senhores, até o sinal de 15 milhões de dólares seria perdido.

 Eu tentei em todos os bancos a fiança, e mesmo a IURD possuindo patrimônio para garantir a divida, nenhum banco se prestou a financiar. Fiquei então sabendo que era regra na época as instituições bancarias não serem fiadoras de instituições como igrejas, creches, asilos e outros semelhantes a essas. Depois de passado os noventa dias, tivemos uma reunião na sede do SBT em São Paulo, onde estava presente Eu, Edir Macedo, Honorilton Gonçalves, Sandoval que era o braço direito do Grupo do Baú da Felicidade e o próprio Silvio Santos.

 A reunião foi rápida e objetiva. O Silvio iniciou dizendo: "Edir eu tenho aqui o contrato, vocês não apresentaram a fiança bancaria, e o contrato diz que vocês perdem o sinal dado e o negócio está desfeito. Mas eu não vou fazer isso, eu nunca fiquei com nada de ninguém, mas o problema é que já gastamos os 15 milhões de dólares. Então vocês vão ter que esperar aparecer outro comprador para Record e aí nós devolvemos esse dinheiro.

 O Edir Macedo ficou branco, e só dizia tudo bem, tudo bem, nós aguardamos. Eu falei com ele baixinho e perguntei se ele me dava carta branca para negociar essa situação e ele disse: TUDO BEM CARLOS, METE BRONCA. Eu pedi a palavra e fui direto e contundente: "Silvio, eu não sou advogado, mas tenho certeza que em nenhum lugar do mundo alguém possa perder um sinal de 15 milhões de dólares. Eu sou o líder da IURD no Brasil e posso afirmar que isso é um golpe do Baú. Só que amanhã eu vou convocar o povo e vamos colocar cem mil pessoas na frente do SBT gritando "queremos nosso dinheiro, isso é golpe do baú".

 “O Silvio Santos empalideceu e disse: ”Calma rapaz, você não é louco de fazer uma coisa dessas". Eu disse: "Vou fazer sim porque esse dinheiro é de Deus (eu ainda acreditava nisso), é dinheiro do povo sofrido, isso é o sangue da igreja". Falei com voz alta, bastante nervoso e irritado. O Silvio teve medo e disse: "Os ânimos estão alterados, vamos esfriar a cabeça e faremos uma reunião na segunda feira junto com os Machado de Carvalho". Era uma quinta feira por volta das 16 horas. E assim ficou combinado.  


Saímos dali e na sexta de manha e eu disse: Se a IURD apoiou o Collor, por que não pedir ajuda a ele? Eu mesmo liguei para Brasília, falei com Renan Calheiros, expus a situação e pedi ajuda. Ele disse: ”O presidente tem hoje uma recepção para os governadores eleitos que lhe apoiaram aqui na casa da Dinda, e meia noite ele vai para um jantar na casa de Paulo Otávio, Procurem chegar aqui antes de ele sair”. Parece incrível, mas não havia passagem em avião comercial para Brasília, os vôos lotados.

 Procuramos alugar um jato particular e por incrível que pareça não havia nenhum disponível. Isso mostra a Grandeza dessa metrópole que é São Paulo. Só no final da tarde foi que o Sr. Demerval, um dos diretores da Record representante de Silvio Santos, conseguiu com um empresário amigo o aluguel de um jatinho.  


Partimos para Brasília, eu Edir Macedo, Honorilton Gonçalves, Alberto Hadad ( que foi quem trouxe a Record para ser comprada), e seu primo Jorge Hadad. Na frente da casa da Dinda uma multidão de curioso e muita imprensa. Falamos com a segurança que por sua vez contatou Renan Calheiros, e a ordem dada foi para entrar apenas Edir Macedo. Edir recusou e disse que só entraria se entrassem todos. Meia hora depois veio a autorização para todos entrarem e entramos.


 Havia uma grande festa nos jardins da casa da Dinda. Ficamos em pé na varanda esperando e sendo ciceroneados pelo Claudio Humberto, o porta voz do Collor. Conversou bastante e deu uma dica: "Quando vocês cumprimentarem o presidente, somente aperte sua mão, não dêem tapinhas nas costas, pois ele detesta". Depois de mais de 1 hora de espera, finalmente vem o Collor cercado de uma dúzia de pessoas e parou cumprimentando a todos nós depois da apresentação do Claudio Humberto, identificando cada um de nós.

 Collor disse: “Muito obrigado pelo apoio de Vocês. Inclusive eu vi na Veja o bispo na igreja com a minha camiseta de campanha e vi como voces tem apanhado do PT”. Nesse momento o Edir Macedo disse: "Presidente, o senhor poderia nos atender particular por cinco minutos?". O Collor hesitou por uns segundos, e disse: Tudo bem, cinco minutos.

 Entramos na sala e durante uns 10 minutos ouvindo o presidente falar dos seus planos e em seguida foi abordado o problema da Record. O presidente disse: Eu ainda não tomei posse mesmo que tivesse tomado não sei se poderia usar o banco do Brasil para dar essa fiança.

 Pensou e pediu a sua esposa que estava numa mesa em uma sala ao lado com a Claudia Raia que chamasse o PC Farias. Para nós era um ilustre desconhecido. Veio aquele senhor baixinho, usando sandálias e o Collor disse: “PC o pessoal do SBT está querendo passar a perna neles, Resolva isso pra mim”. O PC perguntou: "Agora?". O presidente retrucou: "Não, amanhã você resolve. E assim nos despedimos.

 Saímos da casa da Dinda para o aeroporto revoltados, achávamos que aquele foi uma maneira do presidente nos descartar. Na segunda feira as 11 da manhã fomos a reunião no SBT e lá estavam todos , esperando apenas o Silvio chegar. Silvio chega e o sobrinho Guilherme Estoliar diz: “Silvio, preciso falar com você antes de começar a reunião. Silvio disse: Fale logo, pode falar aqui mesmo”.

 Para surpresa de todos o Guilherme Estoliar diz: "O PC me ligou no sábado e disse que a Record é do Presidente, que o bispo é apenas o testa de ferro. Silvio arregala os olhos e diz: "Edir Macedo, porque você não me disse isso? Rapaz, se eu contrariar o presidente ele me cassa a concessão do SBT, esse pessoa é uma máfia”.

 Edir Macedo entendeu de imediato o que estava acontecendo e disse: "Silvio, você me desculpe mais o presidente queria segredo, eu não podia revelar nada". Silvio se dirige aos demais e diz: "Então está tudo resolvido, não precisa fiança nenhuma". Edir Macedo aproveita e mentindo diz: "Outra coisa, ele pediu para dividir o saldo em mais vezes". Resultado, o que era para ser pago em 10 parcelas ficou de ser decidido parcelar em mais vezes. Essa é a verdade da compra da Record. Fico enojado ao ver o Edir Macedo enganando as pessoas e contando uma versão mentirosa, fantasiosa, e os bestas dizendo amém. E o que é pior, ainda dizendo que foi um milagre de Deus. Deus não usa dinheiro de tráfico, não sonega impostos e não faz negócios com homens impuros. Só Edir Macedo Bezerra mesmo para contar suas pilantragens e roubos como se fosse testemunho. O que ele se esqueceu de dizer foi que foram buscar dinheiro de tráfico de drogas na Colômbia e que os membros da IURD faziam sacrifícios sem igual para arranjarem dinheiro para pagar as prestações da Record, pessoas deram todo o seu dinheiro, venderam casas, móveis, eletrodomésticos, aliança, bicicleta, carro e etc. para dar o dinheiro na IURD, pois o safado do Edir Macedo e seus comparsas mentiam e diziam que a RECORD ia ser da igreja e seria usada para pregar o Evangelho de Jesus Cristo 24 horas por dia.


 Ele se esqueceu de dizer que os pastores pequenos, os auxiliares e suas famílias passavam fome, porque não recebiam salários. Naquela época só os grandalhões continuavam na vida boa, sem lhes faltar nada.

 O que Edir Macedo se esqueceu foi de dizer que ele aplicou o maior golpe e a maior fraude já acontecida em uma igreja dita evangélica, Comprou Canais de TV e rádio com dinheiro suado que o povo, sob pressão e manipulação doava para a igreja, pois acreditavam nas mentiras do Macedo, depois ele surrupiou tudo passando para o nome dele e da sua esposa. Hoje a TV Record é usada para divulgar o “evangelho¨ de satanás 24 horas por dia. Como é que pode ainda haver gente que acredita neste Edir Macedo e sua quadrilha?”

 Quais foram às ordens mais escusas que o senhor recebeu de seus líderes?

 “Bom ele tinha um respeito muito grande por mim, sabia do meu caráter, e costumava dizer a minha esposa que eu era o único pastor que ele pisava em ovos antes de falar qualquer coisa. Recusei-me, por exemplo, a obrigar os pastores do Norte e Nordeste a fazerem cinco reuniões diárias para aumentar a arrecadação. Eu achei uma desumanidade. Só deixei que fizessem três, e as outras duas o pastor auxiliar fazia.

 Recusei-me a trazer material para radio e Tv dos Estados unidos, mesmo sabendo que havia um acordo com a alfandega em São Paulo para a entrada de tais equipamentos. Só numa viagem foram trazidas 32 malas. Parece conto de fadas, mas é verdade.”

 Os Bispos são "sócios" do Edir Macedo, participam do "lucro" da Igreja? 

 “O esquema é de comissão. Os lideres de estado tem uma comissão sobre o liquido da arrecadação que for enviada para ele. Os pastores de cada templo têm uma comissão sobre o que for arrecadado. É muito dinheiro a comissão dos bispos, eu, por exemplo, ganhava 5% do liquido que arrecadava todo Norte e Nordeste.

 Algo na época, algo em torno de 100 mil reais. Achei um absurdo, e ele sugeriu que fizesse uma retirada de 10 mil reais e o restante ficavam como uma poupança para quando quisesse comprar uma casa na Europa ou em outro lugar. Quando sai tinha aproximadamente um milhão de dólares na “poupança”. Saímos com uma mão na frente e outra atrás, e um dia minha esposa ligou e pediu para ele liberar esse dinheiro e a resposta dele foi: “Isso é para quando está na igreja, saiu não tem direito a nada”.

 Veja como Deus é bom, ele não permitiu que eu usufruísse disso, hoje tenho orgulho de dizer que não tenho nenhum palito de fósforo comprado com o dinheiro sujo da IURD.”

 O senhor falou neste mesmo site de uma maneira muito contundente sobre o ex Bispo Líder no Brasil da Universal, Renato Suhett hoje Padre, o que o senhor teria a revelar sobre ele e seus atos?

 “O Renato sempre foi um individuo extremamente puxa saco do Edir. Aliás, observe que a característica de todos esses falsos pastores é se cercar de gente sem personalidade, gente servil, pois assim ele os manipula com muita facilidade.

 Saiu da IURD depois que sai e dizia pregar o Evangelho da Graça de Deus. Uma deslavada mentira, ele pregava um evangelho pervertido, logo abriu mais de 5º templos no Brasil e para quem prega a verdade isso é inconcebível. Na realidade ele sempre foi um dissimulado, hipócrita, se envolveu em escanda-los sexuais, adulterou, se prostituiu, o império desabou, fechou todos os templos, e um dia aparece dando testemunho na sede da IURD em São Paulo, dizendo estar arrependido, que o Edir Macedo é que era o verdadeiro profeta de Deus e ainda fazendo apelo para que os pastores que saíram da IURD voltassem que seriam muito bem recebidos.

 Um nojo! Isso está no You Tube. Foi enganado pelos homens perversos e maus, que como Paulo disse seguiriam enganando e sendo enganados. Depois disso o colocaram numa igrejinha do interior e não era essa a recompensa que ele esperava. Qual foi o resultado? Saiu outra vez e agora está ai em outro puleiro.” 

Renato Suhett foi quem consagrou o ex Bispo Valdemiro Santiago, hoje líder da IMPD, o que o senhor tem a falar sobre Valdemiro Santiago?

 “Ele foi meu subordinado em São Paulo, a primeira coisa que fiz foi proibi-lo de fazer as extravagâncias que fazia tipo distribuir o sabonete ungido, a arruda da vitória, e outras barbaridades mais. Depois foi mandado para o Nordeste e fez um grande sucesso com essas praticas. Um dia resolveu se rebelar e abrir a sua própria seita, e como bom aluno, está aí uma réplica do Edir Macedo no seu inicio. Tal pai, tal filho. Um cafajeste espiritual!”

 O senhor o considera um homem de Deus ou mais um enganador que olha para o dinheiro do povo, como disse Silas Malafaia que ele e Edir Macedo são farinha do mesmo saco? 

 “Edir Macedo, Waldemiro, Silas Malafaia, R.R.Soares, Estevão Hernandes, Rodovalho e outros menos votados são todos da descendência da serpente, lobos vestidos de ovelhas, falsos mestres que movidos por avareza fazem comércio com o povo de Deus (1 Pe 2:1-3).

 Malafaia durante muito tempo foi um empregado do Edir, encarregado de agenciar os programas da IURD em todo brasil. Claro que ele ganhava das emissoras 10% como contato publicitário. Ele ganhava mensalmente em torno de 100 mil reais. Com a compra da Record, a IURD decidiu cancelar os programas, ele fez um apelo ao Edir para deixar pelo menos um ano para ele se preparar, mas não foi atendido. O resultado foi o rompimento, as brigas, e hoje são desafetos. Tudo por grana.”

 Como o senhor vê esses líderes televisivos e a briga por espaço entre eles na televisão? A briga é só por espaço? Em sua opinião existe algum líder sério? 

 “Deve haver alguns lideres sérios sem duvida nenhuma, o problema é que não tive o prazer de conhecer nenhum até hoje. Desses que aí estão se degladiando por espaço na televisão, nenhum deles é sério, são todos lobos vestidos de ovelhas, a briga por espaço é porque isso aumenta a possibilidade de atrair incautos para suas arapucas, o que traduzindo significa o aumento assustador da arrecadação. Por favor, leia Jeremias 5:26-28 que é o retrato fiel dessa gente. Líder sério nunca estará com uma visão mercantilista, não terá como alvo enriquecer nem tão pouco induzir as pessoas a quererem ficar ricas, esse perfil faz parte obrigatória do caráter de um líder sério.”

 Como o senhor vê o momento atual das Igrejas Evangélicas? 

Na sua visão o que precisa ser mudado? “Há 15 anos que deixei de ser evangélico para ser cristão. Ser evangélico se tornou como ser católico, todo mundo é. Virou moda. Ninguém apresenta o fruto do Espirito o que é a prova de que tem o Espirito de Cristo, e não esqueça que a Bíblia diz que se alguém não tem o Espirito de Cristo esse tal não é dele. O que temos visto é um povo nascido da carne, gente que se acha convertido porque atendeu a um apelo, ou porque batizou nas aguas, e isso é contrario a Bíblia. Tem que nascer da água (A palavra) e do Espirito. Quando isso ocorre não se apresenta mais as obras da carne, não se fanatiza por denominação, mas abraça a verdade da Palavra e nada mais.

 O sistema religioso que está ai estabelecido em nada difere daquele sistema religioso judaico do tempo de Jesus. Hoje espiritualidade é medida por números, pela quantidade de membros e pelo valor arrecadado. Na verdade o que vejo é um movimento onde há animais limpos e animais impuros e isso é coisa da arca de Noé, nunca da Igreja de Jesus. Não há crescimento qualitativo e sim quantitativo, um anomalia, um inchaço”. “Só há um jeito de reverter isso, à volta a Palavra, a verdade sendo proclamada como Deus quer que ela seja.”


 Pr. Carlos Magno de Miranda



http://macabeuscomunidades.blogspot.com.br/2012/06/ex-bispo-da-igreja-universal-conta-tudo.html