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domingo, 30 de setembro de 2012

Testemunho de um ex-protestante e Curso História da Igreja - William Bottazzini

Com grande alegria apresentamos e indicamos o curso História da Igreja, do jovem professor William Bottazzini Rezende, disponível em seu blog Tu Es Petrus. Os dois vídeos abaixos são a primeira aula de um curso completo de História da Igreja que William pretende ministrar ao longo dos próximos dois anos. Continuemos acompanhando. Mas, antes das aulas, leia abaixo o seu belíssimo testemunho de conversão à Santa Igreja Católica. História da Igreja - 1º Aula 1º parte História da Igreja 1º aula - 2º parte Vivi por cerca de 22 anos (com breves interrupções) submerso em um oceano de confusão protestante. Ao nascer tornei-me cristão através do batismo na Santa Igreja Católica. Contudo, algum tempo depois, ainda sendo carregado no colo, passei a frequentar "cultos" protestantes de uma denominação batista de minha cidade. Ademais, praticamente todos os meus parentes maternos são protestantes. Posso afirmar que era um protestante dedicado. Lia as Sagradas Escrituras com atenção tendo aprendido inclusive o grego e o hebraico, pois em meu íntimo tudo o que eu queria era estar próximo de Nosso Senhor. Todavia, era um aleijado espiritual tentando correr. Por desconhecer a Sagrada Tradição, imaginava poder conhecer Cristo tão somente pela Bíblia. Por muitas vezes era impiedoso em palavras no que se referia à Santa Igreja e à Nossa Senhora. Por ter sido guiado por cegos ao longo de toda minha vida, tornei-me cego tal qual os que me conduziam e não enxergava o colossal abismo em que eu estava por precipitar-me. Conforme os anos passavam, tive contato com autores e obras que me despertaram inquietações em questões relativas à minha fé. Os líderes espirituais ao quais estava eu submetido não possuíam "know-how" necessário para apaziguar meu ânimo sedento por explicações que fossem ao menos razoáveis. Então comecei a perceber como estava enredado em mentiras e ilusões. Percebi que a "religião" em que fui criado era um misto de sentimentalismo e interpretações distorcidas da Bíblia. Quando me dei conta, pude perceber que o meu "cristianismo particular" não passava de uma mera crendice folclórica desprovida de razão. Devo confessar que, por um estranho paradoxo, quando, ainda em meio protestante, comecei a analisar alguns fatos históricos, passei a perceber que a Igreja não era "A Grande Meretriz" como até então havia sido ensinado. Descobri o papel fundamental que a mesma desempenhou na divulgação da Boa-Nova. Ora, tal trabalho evangelizador ao longo dos séculos custou caro à Igreja. Nosso mártires são testemunhos históricos irrefutáveis de tais acontecimentos. Mesmo assim, sofria eu, como muitos, de um orgulho patológico que eu posso denominar como "prostentantite severa", onde adimitir algum acerto da Igreja era um crime hediondo. Pois bem, a soma do meu orgulho com a falta de resposta (e as inúmeras contradições) dos "pastores" me levaram a procurar a Verdade em várias denominações e religiões, passando inclusive pelo espiritismo, e, finalmente, caí no ateísmo. Afinal, tornou-me enfadonho a moral protestante que oscila entre o "Puritanismo Absoluto" e o "Liberalismo Total" com muita facilidade. Outro fato que me incomodava era que cada líder protestante se considerava "O Escolhido" e execrava os demais que também se consideravam como tal. Isso para não mencionar os que escolhiam títulos nada humildes para si como "Bispo" ou até mesmo "Apóstolo". O sujeito acorda um belo dia e se denomina "uma autoridade inspirada por Deus". Mas, felizmente, percebi que o ateísmo era um outro absurdo e minhas dúvidas persistiam. Até então nunca tinha ouvido um católico expor sua posição religiosa com clareza. Afinal, padecemos de um mal chamado "Católico-não-praticante" que infesta nossa cultura do "tô nem aí". Até que um dia comecei a dar aulas de italiano para um padre de minha cidade (que também é o prior do Mosteiro de São Bento de Pouso Alegre) : Dom Bento. Aos poucos, Dom Bento (hoje, meu grande amigo pessoal), foi me ajudando a elucidar pontos que para mim permaneciam obscuros. Contudo, eu ainda não tinha coragem de fazer perguntas que eu considerava invasivas (como todo protestante, eu queria "tirar satisfações" a respeito das imagens, de Maria ser a Mãe de Deus, da autoridade papal etc.) Foi aí que através de um site de buscas cheguei acidentalmente à Montfort e na parte destinada à Apologética li a resposta do professor Orlando Fedeli a um tal de "Saul". Todas as minhas armas contra a Igreja, eram praticamente as mesmas que "Saul" possuía. Ao terminar, eu não tive outra escolha: humildemente reconheci que estava errado e que tinha sido enganado por toda minha vida. A verdade se descortinou diante dos meus olhos e tudo fez sentido. A partir deste momento, passei a amar a Igreja de todo meu coração! Dom Bento, foi meu tutor espiritual e o responsável pela minha profissão de fé e pela minha Primeira Comunhão. Ah como é bom tomar parte no sacrifício da Santa Missa! Aliás, a primeira Missa a que assisti foi celebrada no rito tridentino (este rito é celebrado com frequência no mosteiro de minha cidade). Pela misericórdia de Deus, minha esposa, também ex-protestante, se converteu à verdadeira fé. Em relação à Santa Igreja tudo o que posso dizer é: eis a bela noiva e fora dela não há salvação! O Noivo só possui uma única noiva, ora esta é a própria Igreja que herdou toda a tradição dos Apostólos e que foi fundada na Pedra. Agradeço profundamente a todos aqueles que contribuíram para minha conversão, em especial a Dom Bento e ao saudoso professor Orlando Fedeli e demais amigos da Montfort. ___ Fonte: http://tuespetrus.blogspot.com.br/ Curso História da Igreja - William Bottazzini - Perfeita Devoção http://www.perfeitadevocao.org/site/Chamadas.php?id=449

sábado, 29 de setembro de 2012

Na cadeia, máfia de evangélicos denunciada por tortura, cobrança de dízimo e ameaça. Travecos eram usados como moeda



Universal do Reino de Deus emitia boletos para serem pagos por familiares, que por sua vez eram cobrados por leões de chácara bombados. Homossexuais eram obrigados a virarem machos na marra, caso contrário, tinham aval para serem estuprados
O documento

Dezesseis presos da Ala Evangélica do Centro de Ressocialização de Cuiabá (CRC) foram denunciados, pelo Ministério Público, por tortura, tráfico de influência e extorsão. Outros 3 servidores de todos os níveis da unidade foram identificados na prática do crime de corrupção e serão investigados. Promotor de Justiça responsável pelo caso, Célio Wilson de Oliveira explica que representantes de duas das 3 denominações religiosas que realizam trabalhos junto aos presos estão envolvidos com o esquema.

Os acusados cobravam para que outros presos permanecessem na ala, além de obrigá- los a frequentar cultos. Ficavam com 40% dos alimentos e produtos de higiene levados por familiares e vendiam regalias por meio do pagamento de propina. Uma das “facilidades” oferecida com a conivência e suposta participação dos servidores eram indicações para o trabalho externo.

O esquema, que arrecadava mensalmente cerca de R$ 15 mil, consistia na cobrança de cotas diversas, para motivos estabelecidos pelos líderes das alas. Entre eles a aquisição de televisores, geladeira, a manutenção do prédio e outras reformas. Aqueles que se negavam a pagar eram alvo de retaliações, como a perda do direito a dormir em um dos colchões da unidade, além de sofrerem agressões físicas e ameaças, inclusive de morte.

Em outra frente, 40% de tudo o que os familiares dos presos levavam nas visitas eram recolhidos pelos líderes e vendido aos reeducandos. Dos valores arrecadados, uma parte era destinada aos líderes do esquema. Uma das igrejas, a Universal do Reino de Deus, emitia boletos que deveriam ser pagos por familiares utilizando, inclusive, dinheiro do auxílio-reclusão, benefício concedido pelo Instituto Nacional da Seguridade Social (INSS) para presos condenados que estavam trabalhando com carteira assinada. Faturas foram apreendidas durante operação realizada na unidade em 13 de abril deste ano.

As igrejas escolhiam como líderes das alas pessoas de porte físico avantajado, que se impunham sobre os outros presos, tudo para garantir o pagamento de dízimo diariamente além de cotas quinzenais. Apenas uma das ações descobertas pelo MP arrecadou mais de R$ 1 mil.

O tipo de reeducando escolhido para liderar a denominação facilitava todo o trabalho de arrecadação. “Se sozinho ele já se impunha perante os outros, formando um grupo coeso e com o apoio ou a conivência da direção da unidade eles se tornaram intocáveis dentro do CRC. Isso impedia qualquer reação dos outros presos”.

Para Oliveira, o domínio de reeducandos nas atividades do CRC, a exemplo do que ocorre em outros presídios, é motivado pela falta de discernimento dos gestores sobre o que deve ficar a cargo dos presos, aliado ao fato de que o Poder Público é omisso quando se trata do sistema prisional. “A concessão de regalias, a conivência com determinadas condutas e a necessidade de pactuar com lideranças nem sempre positivas é uma constante para que seja possível manter um mínimo de tranquilidade.”

O trabalho do Ministério Público foi possibilitado por uma denúncia formal de um familiar de um reeducando, ameaçado pela organização. Após o início das investigações, pais, mães e esposas de presos relataram os problemas. Mãe de um reeducando, que prefere não ser identificada, uma dona de casa conta como tudo começou. “Cheguei um dia para visitar meu filho e toda a alimentação que levei para ele, além de roupas, ficou retido com um ‘líder’. Perguntei para o meu filho e ele explicou que tinha que levar dinheiro para resgatar os produtos. Era o dízimo”.

A mulher conta que quando não conseguia juntar o dinheiro, recebia um boleto para o pagamento durante a semana. O comprovante deveria ser levado na visita seguinte. “Quando não chegava com o dinheiro, meu filho ficava apavorado, porque sabia que ia ser humilhado, maltratado e até agredido ou morto”.

Além do pagamento, a mulher relata que os familiares eram também obrigados a participar dos cultos promovidos nos dias de visitas.

Servidores

A participação dos funcionários, explica o promotor Célio Wilson, ajuda a tornar claro por qual motivo a rede de extorsão atingiu praticamente toda a unidade prisional. Sem a conivência de servidores, era impossível aos evangélicos conseguir atingir a ala conhecida como “contêiner”, uma das melhores, na opinião dos presos.

 
 
Além de supostamente corromper os funcionários da unidade - o caso será investigado pela 14ª Promotoria de Justiça Criminal - os líderes do esquema utilizavam da proximidade com a direção da unidade para realizar as indicações. “Eles negociavam as vagas e se valiam da proximidade com a direção da unidade para fazer as indicações, que muitas vezes eram acatadas”.

Quem também era obrigado a seguir as determinações da organização criminosa eram os homossexuais. Matéria de 4 de março denunciava o “leilão” de travestis que eram usados como “moeda” em trocas envolvendo os presos. Na reportagem, o presidente da Organização Não Governamental (ONG) LivreMente, Clóvis Arantes, explicava que os presos da ala evangélica comandavam os leilões dentro do CRC.

Destaca que a violência contra os travestis começa na entrada da unidade prisional, quando são obrigados a raspar a cabeça e abandonar o nome social, adotado, além de utilizar roupas masculinas. “É uma violência simbólica exigida pelos detentos que irão conviver com os travestis e ocorre, principalmente, onde existem as organizações evangélicas”. Aqueles que não aceitam a imposição de reprimir a homossexualidade e decidem manter sua orientação sexual, passam a ser considerados aptos a serem estuprados por outros presos.

FONTE ELETRÔNICA;
 
 
 
 
 
 

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Novamente o caso Galileu

É o defensor da liberdade científica e a testemunha do obscurantismo religioso católico. Isso no imaginário popular e nos livros escolares. Mas a verdade histórica é outra. "No entanto ela se move!" Quem não se lembra desta famosa frase atribuída a Galileu Galilei que queria responder assim, segundo nos dizem, com orgulhosa carranca, à leitura da sentença daqueles ferozes inquisidores que o condenavam por suas descobertas científicas? Grande parte dos alunos está convencida. Processado, condenado, torturado, preso e assim acreditam em boa porcentagem; até queimado na fogueira. Este é conjunto de conhecimentos que a escola e os meios de comunicação em massa nos fazem crer sobre o cientista de Pisa. Somente uma minoria pequena, mais preparada, responderá que Galileu é justamente famoso por ter aplicado primeiro o método experimental, típico da ciência moderna, por ter aperfeiçoado e utilizado para fins científicos o telescópio, por ter descoberto o termômetro, a lei que regula as oscilações do pêndulo, as elevações da lua, a natureza estelar da Via Láctea, os 4 satélites de Júpiter, as anomalias de Saturno, as manchas solares e as fases de Vênus. Digamos a verdade: mais que para sua obra científica.

Galileu é conhecido pelos dois processos súbitos da Inquisição em 1616 e 1633, que o fizeram se tornar um defensor da ciência moderna e do progresso e uma vítima do obscurantismo religioso e conservador da Igreja Católica. Estamos, por isso, de frente a uma vítima inocente imolada sobre o altar daquele catolicismo que pretendia possuir verdades absolutas também em matéria científica, a um mártir da ciência, a uma testemunha da irredutível contraposição entre a Fé religiosa e a Ciência.
Sem a pretensão de esgotar o assunto, alguma consideração nos ajudará a ter as ideias mais claras.

Em primeiro lugar, Galileu não se considerou nunca adversário da Igreja, como tenta nos convencer uma das maiores mentiras que já foram alimentadas. Ele conservou a fé católica até a morte, foi amigo por longo tempo de papas e cardeais – o cardeal Mafeus Barberini, depois eleito Papa com o nome de Urbano VIII, foi seu grande admirador – e por muitos religiosos foi protegido e encorajado nas suas pesquisas. Quando em 1611 se dirigiu a Roma, foi muito bem acolhido pelo padre Cristóvão Klaus (Clávio) e pelos jesuítas do colégio romano. Foi recebido até mesmo pelo Papa Paulo V, com o qual teve um longo e caloroso colóquio. Algum mês antes, estava convicto das fases de Vênus análogas àquelas da Lua, sinal de que o planeta girava em torno do Sol do qual recebia a luz. O sistema ptolomaico foi assim contestado, o heliocêntrico não era certamente demonstrado, e tudo isso não parecia prejudicar as suas relações com o mundo eclesiástico. Pelo contrário, enquanto seus colegas cientistas, liderados pelo famoso Cremonini, acusavam Galileu de ver “manchas nas lentes do telescópio”, não faltava ao pisano o apoio dos poderosos astrônomos e filósofos da Companhia de Jesus (os jesuítas), liderados por São Roberto Bellarmino, superior da Ordem dos Jesuítas e consultor do Santo Ofício. E ainda. Quando o padre Cavini atacar Galileu em Florença, na igreja de Santa Novela, o cientista será defendido pelo padre Benedito Castelli, seu discípulo e professor de matemática em Pisa, e pelo mestre geral dos dominicanos, padre Luís Marafi. Será depois o cardeal Justiniano a ordenar Cavini a retratar-se de suas acusações. Não esquecendo que em Nápoles, um outro religioso, o padre Foscarini, publicava um elogio de Galileu e do sistema copernicano (que muitos jesuítas estudiosos aprovavam) obtendo a aprovação eclesiástica. E ainda. Mesmo depois da sentença de 1633, que, além da abjuração, o “condenava” a recitar uma vez por semana os sete salmos penitenciais por um período de três anos, foi hospedado na casa do cardeal de Sena, Ascânio Piccolomini, “um dos tantos eclesiásticos que lhe queriam bem.” (Messori)
Em seguida, mudou-se para sua casa em Arcetri, chamada “a jóia”, nos arredores de Florença. Morreu com a bênção do Papa e recebendo a indulgência plenária, sinal de que a Igreja certamente não o considerava um adversário nem ele considerava a Igreja como tal. É propriamente uma fábula aquela da inimizade, da contraposição invencível, da ruptura insanável entre o cientista pisano e a Igreja Católica. Uma fábula a qual, primeiramente, contestaria o próprio cientista pisano. Não se deve esquecer, de fato, que ao fim de sua vida movimentada, deixou escrito que “em todas as minhas obras, não haverá quem possa encontrar a menor sombra de algo que recuse a piedade e a reverência da Santa Igreja.”
Em segundo lugar, a teoria heliocêntrica (a Terra e os planetas girando em torno do Sol) não foi inventada por Galileu. Já Aristarco de Samos e a escola pitagórica, cinco/seis séculos antes de Cristo, tinham sustentado que fosse a Terra que girava anualmente em torno do Sol. Esta teoria foi retomada por Copérnico, sacerdote polonês, morto 21 anos antes do nascimento de Galileu. Se Copérnico decidiu publicar os seus estudos somente no ano de sua morte, foi por temor de ser ridicularizado por seus colegas de estudo, mas certamente não por homens da Igreja (os papas Clemente VII e Paulo III, aos quais a obra de Copérnico era dedicada), dos quais teve favores e encorajamentos. Assim como aconteceu com Galileu, que teve entre os seus mais vivazes adversários os colegas, apesar disso irritados pelo caráter do cientista pisano que não era fácil, não os religiosos.

Em terceiro lugar, Galileu não levou nenhuma prova científica que pudesse sustentar sem sombra de dúvida a teoria heliocêntrica. Para “provar” que a Terra girava em torno do Sol, sustentava que as marés eram devidas à “agitação” das águas causada pelo movimento terrestre. Mas este argumento era cientificamente insustentável. Tinham razão os seus “juízes inquisitoriais”, os quais sabiam bem que as marés são devidas à atração lunar. Escutemos Messori: “Naquele 1633 do processo de Galileu, o sistema ptolomaico (Sol e planetas girando em torno da Terra) e o sistema copernicano (Terra e planetas girando em torno do Sol) eram duas hipóteses em par de igualdade, nas quais apostar sem provas decisivas. E muitos religiosos católicos mesmos estavam pacificamente para o “inovador” Copérnico, condenado, por outro lado, por Lutero.” O cardeal Bellarmino sustentava que a teoria heliocêntrica, considerada como “hipótese” científica (e devia se considerar hipótese corretamente, até que não se demonstre verdadeira) não era para se descartar a priori, mas era preciso levar as provas. A posição de Bellarmino é muito mais correta que a de Galileu, que sem provas a difundia como tese irrefutável. Aliás, neste caso específico, o próprio Bellarmino tinha tomado então uma posição que a física moderna, a dos nossos tempos, dá por assumida. Em quarto lugar, não se fala do processo de Galileu de 1616. Mas sucessivamente convocado ao Santo Ofício, lhe foi dirigida nota de condenação da tese copernicana e imposto de não ensiná-la antes que fosse corrigida (quatro anos depois, a teoria foi corrigida e qualificada como hipótese e não como tese). A injunção lhe foi comunicada em particular para não expô-lo ao ridículo dos colegas. Galileu prometeu obedecer (e não o fez) e foi recebido pelo Papa em pessoa. Uma “condenação” extraordinariamente suave.
Como suave foi a “condenação” súbita no processo de 1633. Galileu não passou nem um minuto na prisão, nunca foi torturado, não lhe foi impedido encontrar colegas e religiosos (encontrá-lo-ão homens do calibre de Hobbes, Torricelli e Milton), de escrever, de estudar e de publicar, tanto que sua obra-prima científica – discursos e demonstrações matemáticas em torno de duas novas ciências – remonta a 1638, cinco anos após a condenação. Falta-nos ainda um ponto: a famosa frase “No entanto se move” com a qual abrimos estas considerações. Uma outra história falsa. Foi inventada em Londres, em 1757, pelo brilhante e pouco confiável jornalista José Baretti. Como se vê, no caso Galileu, precisamos de um pouco de verdade.

Retirado de Il Timone - n.1 de maio / junho 1999.

Bibliografia:

Rino Cammilleri, La verità su Galileo, in Fogli, n. 90, Ano XI, setembro 1984.

Jean Pierre Lonchamp, Il caso Galileo, edições Paulinas, Cinisello Balsamo (MI) 1990.

Traduzido para o Veritatis Splendor por Marcos Zamith.

Fonte: http://christusveritas.altervista.org/Il_caso%20Galilei.htm, acessado em 25/09/2012.



Gedeão Dias, ex-presbiteriano convertido à Única Igreja de Cristo

Prezados Irmãos do Vetitatis,

O site VS foi de grande valor para mim e minha família na busca da Verdade Absoluta de Cristo sobre a instituição da sua Igreja. Éramos protestantes presbiterianos, e particularmente desde meus 4 anos de idade sempre estive na fileira protestante sem saber, nem conhecer profundamente o movimento protestante, assim caminhei nas fileiras protestantes durante 36 anos de minha vida.

Os artigos publicados neste site foram extremamente importantes na descoberta e no estudo da Tradição Apostólica, de sorte que no 11 de Julho de 2012 demos o brado de rompimento com o movimento protestante, o qual colocamos por inteiro abaixo.

Rompimento com o Movimento Protestante

Prezados Irmãos e Irmãs,

Prostrados com temor e tremor diante de Cristo e de sua vontade, eu e minha família frente a tantos irmãos e irmãs, caríssimos, a quem amamos de verdade, tornamos pública decisão extremamente importante e urgente em nossas vidas. Decisão essa que passou obrigatoriamente pela consciência cristocêntrica e o burilar da verdade do seu precioso Evangelho.

Estamos nos propondo a defender o Evangelho de Jesus Cristo a partir Dele mesmo e de sua Igreja instituída e organizada conforme sua vontade e desígnio.

Decidimos como família participar do movimento cristão primitivo, a Igreja de todos os tempos, a Igreja dos Discípulos e Apóstolos, a Igreja dos santos, a Igreja dos Mártires, a Igreja que tem sua fé arraigada na tradição apostólica, instituida pelo próprio Jesus tendo o Apóstolo Pedro como Pastor (Jo 21, 15-19; Mt. 16, 18-19) tendo uma sucessão ininterrupta deste sacerdócio até nossos dias, a Igreja que teve garantida a assistência do Espírito Santo para sempre, até a consumação dos séculos (Mt. 28, 18-20), a promessa de que jamais falharia, "Nem mesmo as portas do inferno prevaleceriam contra ela" (Mt. 16, 18).

E Assim como os cristão foram chamados pela primeira vez de Cristãos em Antioquia (At 11, 26 ), esta Igreja foi chamada assim no início do século II por (Inácio de Antioquia, bispo cristão martirizado por volta de 107 d.C. por sua fidelidade a Cristo – Carta aos Esmirniotas cap. 8). "Segui todos ao bispo, como Jesus Cristo segue ao Pai, e ao presbitério como aos apóstolos; respeitai aos diáconos como à lei de Deus. Sem o bispo, ninguém faça nada do que diz respeito à Igreja. Considerai legítima a eucaristia realizada pelo bispo ou por alguém que foi encarregado por ele. Onde aparece o bispo, aí esteja a multidão, do mesmo modo que onde está Jesus Cristo, aí está a Igreja Católica".

Esta igreja foi perseguida desde seu início, atacada por toda sorte de heresias mas sempre saiu vitoriosa pelo poder do nome do Senhor, esta Igreja nunca fraquejou sua fé a ponto de sucumbir, caso isso acontessesse Jesus teria mentido, teria fraquejado. Ele jamais iria instituir uma Igreja pra sobreviver somente até seus 1.516 anos, nunca! Jesus não poderia falhar no seu projeto, afinal a Igreja é sua Noiva, é o seu corpo e Ele mesmo é o cabeça.

Nesta compreensão honesta e cativa à palavra de Deus, de público, declaramos o rompimento com o movimento protestante capitaneado por Lutero. Pesquisas apontam que a vida deste homem foi dúbia, pelos seus escritos podemos facilmente admitir, no mínimo, alguém perturbado psicologicamente, sem entrar em detalhes escabrosos, basta-se ler as suas famosas 95 teses, para atestarmos sua própria versão contraditória. Um homem altamente afligido com a presença maligna perto de si.

Toda a Reforma Protestante foi influenciada por este homem cuja vida não é exemplo de obediência e submissão, pelo contrário, foi uma voz de protesto e confusão.

Uma base teológica e eclesiástica fundada a partir de um personagem duvidoso, não dá para acreditar, muito menos aceitar a legitimidade da sua "Reforma".

Ao sermos confrontados com a idéia das boas intenções de Lutero em "Reformar" a Igreja, teríamos de admitir primeiramente um fracasso de Cristo no sustento de sua Igreja, isso se constituiria numa afirmativa demoníaca. Deus nos guarde disso!

Queremos deixar dois exemplos dignos de reflexão: Primeiro o exemplo de Uzar citado em I Cr 13, 9-10 A arca da aliança lugar da presença de Deus assim como a Igreja. Uzar quis dá uma mãozinha de ajuda para socorrer a queda total da arca. Deus o matou, apesar de sua "boa intenção" em ajudar a Deus.

O Segundo exemplo que queremos deixar é bastante pertinente, trata-se de uma rebelião contra o Sacerdócio: O protesto de Coré, Datã e Abirão em Números Cap 16 mostra-nos homens interessados em "Reformar" a condução do Povo de Deus a partir de Moisés. Estes "Reformadores" se auto-intitularam perante Deus como dignos de receberem o Sacerdócio, envoltos numa aura de boas intenções, mas o final da história nos conta sobre a derrota destes homens e, sobretudo, daqueles que estavam concordando com o Protesto.

Destas duas advertências aprendemos a necessidade de sermos vigilantes e obedientes diante das instituições criadas por Deus.

Pensemos: A Igreja Cristã sobreviveu quinze séculos na unidade da fé Cristã, não obstante as dificuldades encontradas por seu povo no percurso. Jesus precisaria mesmo da mãozinha de Lutero e seus seguidores/reformadores para reformar e salvar a sua Igreja?

Francamente! Constatamos até hoje a deforma e a multiplicação do erro Luterano, dividindo, subdividindo e envergonhando o Evangelho de Cristo através das múltiplas e infindáveis denominações protestantes. Todas as igrejas após Lutero têem como cabeça um fundador/reformador que não é Jesus Cristo. Misericórdia!

O tempo passou e ainda uma voz ressoa instigante em nossos ouvidos: a quem vós escolhei? A Cristo ou a Barrabás? Jesus ou Lutero?

Citando um dos doutores da Igreja, Santo Agostinho concluímos: "Amai muito a inteligência e a compreensão da verdade. Pois é necessário bem compreender pra crer verdadeiramente". (Por melhor que seja a sua intenção, se você comprar uma jóia falsa, você estará no prejuízo. E em se tratando da salvação, já pensou que prejuízo!!!).

Senhor Piedade, Piedade de todos nós!

(Gedeão Dias e Família.)

Família: Clara (Esposa). Lara(12) e Lana (9).

Prezado Gedeão, Salve Maria!

Sua carta me trouxe muita alegria! Saiba que toda vez que alguém encontra o caminho da Verdadeira Igreja, grande alegria se faz no céu! Glória a Deus! Louvado Seja SEMPRE o Nome do Senhor!

Fico particularmente contente em ver que este humilde apostolado que é mantido por este miserável pecador que vos escreve, serviu-lhe de instrumento para que enxergasse a Verdade, que deixasse de ser um cego ao sol do meio-dia!

Caro Gedeão, veja aí como Deus é bom! Como faz maravilhas através de instrumentos tão indignos...

Todo homem tem a obrigação moral de buscar a Verdade e encontrando-a de abraçá-la. Feliz seja você que a buscou, encontrou e abraçou-a.

A sua luta está começando agora. Ser verdadeiro católico é um grande desafio. No entanto, Nosso Senhor SEMPRE capacita Seus escolhidos.

Seja bem-vindo ao VERDADEIRO redil do Senhor.

Alessandro Lima.

sábado, 22 de setembro de 2012

Segunda Catequese Mistagógica

Segunda Catequese Mistagógica sobre o Batismo e leitura da epistola aos romanos: «Ou ignorais que todos nós que fomos batizados para Cristo Jesus fomos batizados para [participar da] sua morte?» até: «Pois que não estais sob a lei, mas sim sob a graça».



1 Úteis vos são as cotidianas mistagogias e os novos ensinamentos que vos anunciam novas realidades, e isto tanto mais a vós que fostes renovados da vetustez para a novidade. Por isso é necessário que vos proponha o que se segue à instrução mistagógica de ontem, a fim de que compreendais a significação simbólica do que foi realizado por vós no interior do edifício.



Despojamento dos vestidos

2 Logo que entrastes, despistes a túnica. E isto era imagem do despojamento do velho homem com suas obras. Despidos, estáveis nus, imitando também nisso a Cristo nu sobre a cruz. Por sua nudez despojou os principados e as potestades e no lenho triunfou corajosamente sobre eles. As forças inimigas habitavam em vossos membros. Agora já não vos é permitido trazer aquela velha túnica, digo, não esta túnica visível, mas o homem velho corrompido pelas concupiscências falazes. Oxalá a alma, uma vez despojada dele, jamais torne a vesti-la, mas possa dizer com a esposa de Cristo, no Cântico dos Cânticos: «Tirei minha túnica, como irei revesti-la?». Ó maravilha, estáveis nus à vista de todos e não vos envergonhastes. Em verdade éreis imagem do primeiro homem Adão, que no paraíso andava nu e não se envergonhava.

Unção

3 Depois de despidos, fostes ungidos com óleo exorcizado desde o alto da cabeça até os pés. Assim, vos tornastes participantes da oliveira cultivada, Jesus Cristo. Cortados da oliveira bravia,

fostes enxertados na oliveira cultivada e vos tornastes participantes da abundância da verdadeira oliveira. O óleo exorcizado era símbolo, pois, da participação da riqueza de Cristo. Afugenta toda presença das forças adversas. Como a insuflação dos santos e a invocação do nome de Deus, qual chama impetuosa, queima e expele os demônios, assim este óleo exorcizado recebe, pela invocação de Deus e pela prece, uma tal força que, queimando, não só apaga os vestígios dos pecados, mas ainda põe em fuga as forças invisíveis do maligno.

Imersão baptismal

4 Depois disto fostes conduzidos pela mão à santa piscina do divino batismo, como Cristo da cruz ao sepulcro que está à vossa frente. E cada qual foi perguntado se cria no nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. E fizestes a profissão salutar, e fostes imersos três vezes na água e em seguida emergistes, significando também com isto, simbolicamente, o sepultamento de três dias de Cristo. E assim como nosso Salvador passou três dias e três noites no coração da terra , do mesmo modo vós, com a primeira imersão, imitastes o primeiro dia de Cristo na terra, e com a imersão, a noite. Como aquele que está na noite nada enxerga e ao contrário o que está no dia tudo enxerga na luz, assim vós na imersão, como na noite, nada enxergastes; mas na emersão, de novo vos encontrastes no dia. E no mesmo momento morrestes e nascestes. Esta água salutar tanto foi vosso sepulcro como vossa mãe. E o que Salomão disse em outras circunstâncias, sem dúvida, pode ser adaptado a vós: «Há tempo para nascer, e tempo para morrer». Mas para vós foi o inverso: tempo para morrer, e tempo para nascer. Um só tempo produziu ambos os efeitos e o vosso nascimento ocorre com vossa morte.
Efeitos místicos

5 Oh! fato estranho e paradoxal! Não morremos em verdade, não fomos sepultados em verdade, não fomos crucificados e ressuscitados em verdade. A imitação é uma imagem; a salvação, uma verdade. Cristo foi crucificado, sepultado e verdadeiramente ressuscitou. Todas estas coisas nos foram agraciadas a fim de que, participando, por imitação, de seus sofrimentos, em verdade logremos a salvação. Oh! amor sem medida! Cristo recebeu em suas mãos imaculadas os pregos e padeceu, e a mim, sem sofrimento e sem pena, concede graciosamente por esta participação a salvação.

6 Ninguém, pois, creia que o batismo só obtém a remissão dos pecados, como o batismo de João só conferia o perdão dos pecados. Também nos concede a graça da adoção de filhos. Mas nós sabemos, com precisão, que como é purificação dos pecados e prodigalizador do dom do Espírito Santo, é também figura da Paixão de Cristo. Por isso clama a propósito Paulo, dizendo: «Ou ignorais que todos nós, que fomos batizados para Cristo Jesus, fomos batizados para [participar da] sua morte? Com ele fomos sepultados pelo batismo». Talvez dissesse estas coisas por causa de alguns, dispostos a ver o batismo como prodigalizador da remissão dos pecados e da adoção, mas não como participação, por imitação, dos verdadeiros sofrimentos de Cristo.
7 Para que aprendêssemos que tudo o que Cristo tomou sobre si foi por nós e pela nossa salvação, tudo sofrendo em verdade e não em aparência e para que nos tornássemos participantes dos seus sofrimentos, exclamava veementemente Paulo: «Se fomos plantados com [Ele] pela semelhança de sua morte, também o seremos pela semelhança de sua ressurreição». Boa é a expressão «plantados com Ele». Logo que foi plantada a verdadeira vide, nós também pela participação do batismo da sua morte «fomos plantados». Fixa a mente com toda a atenção nas palavras do Apóstolo. Não disse: Fomos plantados com Ele pela morte, mas, pela semelhança da morte. Deveras, houve em Cristo uma morte real, pois a alma se separou do corpo. Houve verdadeiramente sepultamento, pois seu corpo sagrado foi envolvido em lençol limpo e foi verdadeiro tudo o que nele ocorreu. Para nós há a semelhança da morte e dos sofrimentos. Quando se trata da salvação, porém, não é semelhança e sim realidade.
8 Todas estas coisas foram ensinadas suficientemente: retende tudo em vossa memória, rogo-vos, para que eu, ainda que indigno, possa dizer-vos: «Amo-vos porque sempre vos lembrais de mim e conservais as tradições que vos transmiti». Ademais, poderoso é Deus que de mortos vos fez vivos, para conceder-vos que andeis em novidade de vida. A Ele a glória e o poder, agora e pelos séculos. Amém.

Traduzido por fr. Frederico Vier, O.F.M.

FONTE ELETRÔNICA;

 





quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Destrave - Transtornos da Sexualidade 1/3

Destrave - Transtornos da Sexualidade - 2/3

Destrave - Transtornos da Sexualidade - 3/3

FONTE ELETRÔNICA; CANÇÃO NOVA

Primeira Catequese Mistagógica

1 Desde há muito tempo desejava falar-vos, filhos legítimos e muito amados da Igreja, sobre estes espirituais e celestes mistérios. Mas como sei bem que a vista é mais fiel que o ouvido, esperei a ocasião presente, para encontrar-vos, depois desta grande noite, mais preparados para compreender o que se vos fala e levar-vos pelas mãos ao prado luminoso e fragrante deste paraíso. Além disso, já estais melhor preparados para apreender os mistérios todo divinos que se referem ao divino e vivificante batismo. Uma vez, pois, que vos proporemos uma mesa com doutrinas de iniciação perfeita, é necessário ensinar-vos com precisão, para penetrardes o sentido do que se passou convosco nesta noite batismal.
2 Entrastes primeiro no adro do batistério. Depois vos voltastes para o Ocidente e atentos escutastes. Recebestes então a ordem de estender a mão, e renunciastes a satanás como se estivesse ali presente. É preciso que saibais que na história antiga há uma figura deste gesto. Quando o faraó, o mais inumano e cruel tirano, oprimia o povo livre e nobre dos hebreus, Deus enviou Moisés a tirá-los desta penosa escravidão dos egípcios. Com sangue de cordeiro eram ungidas as ombreiras das portas, a fim de que o exterminador passasse pelas casas que ostentassem o sinal do sangue. Assim, o povo dos hebreus foi admiravelmente libertado. Quando, depois da libertação, faraó os perseguiu e viu o mar abrir-se maravilhosamente diante deles, avançou mesmo assim ao encalço deles e, submerso instantaneamente, foi engolido pelo Mar Vermelho.

3 Passai agora comigo das coisas antigas às novas, da figura à realidade. Lá Moisés foi enviado por Deus ao Egito; aqui Cristo, do seio do Pai, foi enviado ao mundo. Aquele para tirar o povo oprimido do Egito; Cristo para livrar os que no mundo são acabrunhados pelo pecado. Lá o sangue do cordeiro afastou o anjo exterminador; aqui o sangue do Cordeiro Imaculado, Jesus Cristo, constitui um refúgio contra os demônios. Aquele tirano perseguiu até o mar este povo antigo; e a ti, o demônio atrevido, impudente e príncipe do mal, te segue até as fontes mesmas da salvação. Aquele afogou-se no mar; este desaparece na água da salvação.

Renúncia a satanás

4 Entretanto, ouves, com a mão estendida, dizer como a um presente: «Eu renuncio a ti, satanás». Quero também falar-vos porque estais voltados para o Ocidente, pois é necessário. O Ocidente é o lugar das trevas visíveis e como aquele [satã] é trevas, tem o seu poder nas trevas. Por essa razão, simbolicamente olhais para o Ocidente e renunciais a este príncipe tenebroso e sombrio. O que então cada um de vós, de pé, dizia? Renuncio a ti, satanás, a ti mau e crudelíssimo tirano: já não temo, dizias, a tua força. Pois Cristo a destruiu, fazendo-me participe de seu sangue e de sua carne, a fim de abolir a morte pela morte e eu não estar eternamente sujeito à escravidão. Renuncio a ti, serpente astuta e capaz de todo mal. Renuncio a ti, que armas insídias e, simulando amizade, praticaste toda sorte de iniqüidade e sugeriste a nossos primeiros pais a apostas ia. Renuncio a ti, satanás, artífice e cúmplice de todo mal.

5 Em seguida, numa segunda fórmula, és ensinado a dizer: «E a todas as tuas obras». Obras de satanás são todos os pecados, aos quais é necessário renunciar, assim como quem foge de um tirano atira para longe de si todas as armas dele. Todo o gênero de pecado está, pois, incluído nas obras do diabo. Aliás, sabes que tudo quanto dizes naquela hora tremente está inscrito nos livros invisíveis de Deus. Se, pois, fores surpreendido fazendo algo contrário a estes, serás julgado como transgressor. Renuncias, portanto, às obras de satanás, isto é, a todas as ações e pensamentos contrários à promessa.

6 Depois dizes: «E a toda a sua pompa». Pompa do diabo é a mania do teatro, das corridas de cavalo, da caça e de toda vaidade desta espécie. Dela pede o santo ser livrado, dizendo a Deus: «Não permitais que meus olhos vejam a vaidade». Não te entregues desenfreadamente à mania do teatro, onde se encontram os espetáculos obscenos dos atores, executados com insolências e com toda sorte de indecências, e com danças furiosas de homens efeminados. Nem tampouco sejas daqueles que na caça se expõem a si mesmos às feras, para contentar o infeliz ventre, os quais, querendo regalar o estômago com petiscos, se tornam alimentos dos animais selvagens. Exprimindo-me melhor, por causa deste seu deus, o ventre, arriscam sua vida em combate singular. Foge também das corridas de cavalos, espetáculo insano que leva as almas à perdição. Porque tudo isto é pompa do diabo.

7 Mas ainda tudo o que é exposto nos templos dos ídolos e nas suas festas, quer sejam carnes ou pães ou coisas semelhantes, inquinados pela invocação dos demônios infames, são contados como pompa do diabo. Pois, assim como o pão e o vinho da eucaristia, antes da santa epiclese da adorável Trindade, eram simplesmente pão e vinho, mas depois da epiclese o pão se torna corpo de Cristo e o vinho sangue de Cristo, da mesma maneira estes alimentos que pertencem à pompa de satanás, por sua própria natureza simples, tornam-se, pela invocação dos demônios, impuros.
8 Depois disto tu dizes: «E a teu culto». Culto do diabo é a prece feita nos templos dos ídolos, tudo que se faz em honra dos simulacros inanimados: acender luzes ou queimar incenso perto de fontes e rios, como fazem alguns que, enganados por sonhos e demônios, chegam a isso, crendo que encontram a cura de doenças corporais. Não vás atrás destas coisas. Augúrios, adivinhação, agouros, amuletos, inscrições em lâminas, magias ou outras artes más são culto do diabo. Foge, portanto, de tudo isto. Se a eles sucumbes, depois de teres renunciado a satanás e aderido a Cristo, experimentarás um tirano mais cruel. Aquele que antes te tratou talvez como familiar e te libertou da dura escravidão, agora está fortemente irritado contra ti. De Cristo serás privado e experimentarás àquele [satanás]. Não ouviste o que a antiga história nos conta de Lot e suas filhas? Não se salvou ele com as filhas, tendo alcançado a montanha, enquanto sua mulher se transformou em estátua de sal para sempre, constituindo uma recordação de sua má vontade e de seu olhar curioso para trás? Cuida, pois, de ti mesmo e não te voltes novamente para trás, depois de teres posto a mão no arado, para a prática amarga desta vida. Foge antes para a montanha para junto de Jesus Cristo, a pedra talhada não por mãos e que encheu a terra.

Profissão de fé
9 Quando, então, renuncias a satanás, rompendo todo pacto com ele, quebras as velhas alianças com o inferno. Abre-se para ti o paraíso de Deus, que ele plantou para o lado do oriente, donde por sua transgressão foi expulso nosso primeiro pai. Disto é símbolo o te voltares do Ocidente para o Oriente, lugar da luz. Então te foi ordenado que dissesses: «Creio no Pai e no Filho e no Espírito Santo e no único batismo de penitência». Disto vos falamos extensamente, nas catequeses anteriores, como no-lo permitiu a graça de Deus.

10 Fortalecido por estas palavras, vigia. Pois nosso adversário o diabo, como foi lido, anda ao redor, buscando a quem devorar. Deveras, nos tempos anteriores a este, a morte devorava, poderosa. Depois do batismo sagrado da regeneração , Deus enxugou toda lágrima de todas as faces.Com efeito, já não choras por teres te despido do velho homem, mas estás em festa porque te revestiste com a vestimenta da salvação, Jesus Cristo.
11 Tudo isto se realizou no edifício exterior. Se aprouver a Deus, quando nas Catequeses Mistagógicas seguintes entrarmos no Santo dos Santos, conheceremos, então, os símbolos das coisas que lá se realizam.

A Deus glória, poder e magnificência, com o Filho e o Espírito Santo pelos séculos dos séculos. Amém.

Traduzido por fr. Frederico Vier, O.F.M.

FONTE ELETRÔNICA;


Tratado sobre a Trindade

Pesquisei por muitíssimo tempo a questão da Trindade, até onde podem as forças da pequena chama da mente, que a luz de Deus se dignou conceder-nos.

Tendo chegado a estruturar os argumentos e a redação, submeto-os a ti (Quintus Aurelius Memmius Symmachus, o sogro), pois anseio pelo teu abalizado juízo, tanto quanto pelas próprias descobertas de minha diligente pesquisa.

Bem poderás compreender o que sinto todas as vezes que confio à pena meus pensamentos: seja pela própria dificuldade do tema, seja pela escassez de interlocutores: na verdade és o único capaz de entendê-los e o único com quem os discuto.

Não escrevo por desejo de fama nem pelo vão aplauso do vulgo; se houver algum fruto externo não pode ser outro que esperar o teu juízo sobre o assunto tratado. Pois, excetuando a ti, para onde quer que eu olhe só vejo, por um lado, a pasmaceira ignorante e, por outro, a inveja astuta, de modo que pareceria um insulto aos tratados de teologia submetê-los a esses brutos que, mais do que interessar-se por aprendê-los, calcá-los-iam aos pés.

Assim, serei conciso, e o que extraí do fundo da Filosofia encobrirei sob palavras novas que falam só a ti e a mim, se te dignares a olhar para elas; quanto aos demais, eles não nos interessam: não podem chegar a compreendê-las e não são dignos de lê-las.

Certamente, devemos pesquisar até onde for dado ao olhar da razão humana ascender às alturas do conhecimento da divindade. Pois também nas outras disciplinas há limites além dos quais a razão não pode chegar. A Medicina nem sempre traz a saúde ao doente e a culpa não será do médico, se tiver feito tudo o que estava ao seu alcance. E o mesmo vale para os outros conhecimentos.

No caso do presente estudo, tanto mais benevolente deve ser o julgamento, quanto tão mais difícil é a questão. No entanto, tu examinarás se as sementes lançadas em mim pelos escritos de S. Agostinho produziram seus frutos. Mas comecemos a discussão da questão proposta.
I

Há muitos que usurpam a dignidade da religião cristã, mas a fé que é válida principal e exclusivamente é aquela que, tanto pelo caráter universal de seus preceitos - que dão a medida da autoridade da religião -, quanto pelo seu culto, se espalhou por quase todo o mundo e é chamada católica ou universal. Dessa fé, a sentença da unidade da Trindade é: "O Pai é Deus, o Filho é Deus, o Espírito Santo é Deus". E, portanto, Pai, Filho e Espírito Santo são um deus e não três deuses.

A razão de sua unidade é a ausência de diferença: e na diferença incorrem aqueles que aumentam ou diminuem a Unidade, como os arianos que, atribuindo graus de dignidade à Trindade, desfazem a unidade e caem na pluralidade.

Pois o princípio da pluralidade é a alteridade: fora da alteridade nem sequer pode ser entendida a pluralidade. Pois a diferença entre três (ou qualquer número de) coisas reside no gênero, na espécie ou no número.

O número de modos de igualdade acompanha o de diversidade. Ora, a igualdade pode se dar de três modos:

1) pelo gênero: como são iguais quanto ao gênero (animal) o homem e o cavalo;

2) pela espécie: como Catão e Cícero são iguais quanto à espécie (homem);

3) pelo número: como Túlio e Cícero são um e o mesmo.

Do mesmo modo, a diversidade também se dá pelo gênero ou pela espécie ou pelo número. Mas a diferença pelo número se dá pela variedade de acidentes. Pois três homens não diferem pelo gênero, nem pela espécie, mas pelos seus acidentes. E se nós mentalmente retiramos deles todos os demais acidentes, cada um, no entanto, continua ocupando um lugar diferente e de modo algum podemos supô-los num mesmo e único lugar, pois dois corpos não podem ocupar um mesmo lugar. Ora, o lugar é um dos acidentes. E assim, porque são plurais em seus acidentes, são plurais em número.


II

Trata-se, pois, de adentrar, e examinar com atenção cada ponto para que possamos entender e captar; pois, como muito bem se disse: "ao erudito compete tratar de captar a sua fé, tal como na realidade ela é".

Ora, são três as ciências especulativas: a Física, que está em movimento e não é abstrativa ou separável - anypexairetos - não abstrai o movimento, pois considera as formas dos corpos com matéria, formas que em ato não se podem separar dos corpos. E os corpos, estando em movimento, a forma, unida à matéria, tem movimento: com a terra, tendem para baixo; com o fogo, para cima. A Matemática, está sem movimento e não é abstrativa, pois ela estuda as formas dos corpos sem a matéria e, por isso, sem movimento. Porém essas formas, em união com a matéria, não podem separar-se dela. A Teologia, está sem movimento e é abstrativa, pois a substância de Deus carece de matéria e de movimento.

Das três ciências, a Física trabalha racionalmente (rationabiliter); a Matemática, disciplinarmente (disciplinaliter) e a Teologia, intelectualmente (intellectualiter): : pois não se trata aqui de lidar com imagens, mas antes de olhar para a forma que é, não imagem, mas verdadeira forma: ela mesma é e é por ela que o ente é .

Pois tudo é pela forma. Uma estátua se constitui como tal e se diz efígie de ser vivo, não pelo bronze, que é matéria, mas pela forma nela esculpida. E, do mesmo modo, o próprio bronze é bronze não pela terra que é sua matéria, mas pela forma. E mesmo a própria terra não é terra por ser matéria informe (apoion hylen), mas por causa da secura e do peso que são formas. Não há nada, pois, que seja o que é pela matéria, mas sempre pela forma própria.

Ora, a divina substância é forma sem matéria e, portanto, é Um e é o que é. Qualquer outro ente não é o que é, pois, cada ente tem seu ser das partes de que está constituído, da conjunção de suas partes: mas não tal e tal tomadas separadamente. Por exemplo, o homem na condição presente consiste em corpo e alma, é corpo e alma, não corpo ou alma separadamente e, portanto, não é o que é. Aquele, porém, que não é composto disto e daquilo, mas é simplesmente isto, esse verdadeiramente é o que é, e é belíssímo e poderosíssimo porque em nada se assenta.

Daí que Ele seja verdadeiro Um, no qual não há número nem nada que não seja o que é. Nem pode tornar-se substrato de algo, pois é forma e as formas não po- dem ser substratos. Pois o que nas outras formas é substrato para os acidentes, como por exemplo a hominalidade, não recebe os acidentes pelo fato de ela mesma ser, mas sim pela matéria que lhe está sujeita. Assim, quando a matéria sujeita à hominalidade recebe um acidente qualquer, parece que é a própria hominalidade que o assume.

Já a forma que é sem matéria não pode ser substrato, nem nela inerir matéria, senão não seria forma, mas imagem. Pois da forma que está à margem da matéria procedem as que estão na matéria e produzem o corpo. É, pois, um abuso de linguagem que cometemos quando chamamos formas o que são imagens, somente assemelham-se à forma que não está constituída em matéria: nEle nada há de diversidade; nem de pluralidade decorrente da diversidade, nem de multiplicidade decorrente de acidentes; e daí que tampouco haja número.
III

Assim, Deus não difere de Deus a título algum, pois não há diversidade de sujeitos por diferenças acidentais ou substanciais. Onde, pois, não há diferença, não haverá pluralidade alguma, e daí tampouco número, mas somente unidade. E quando dizemos três vezes Deus e dizemos Pai, Filho e Espírito Santo, estas três unidades não fazem pluralidade numérica naquilo que elas mesmas são, se consideramos a própria realidade numerada e não o modo pelo qual numeramos. Neste caso, a repetição de unidades produz pluralidade numérica; quando, porém, se trata da consideração da realidade numerada, a repetição da unidade e o uso plural não produzem de modo algum diferença numérica nas realidades.

Pois há dois tipos de números: um, pelo qual numeramos; outro, que consiste nas coisas numeráveis. Assim, dizemos um para a coisa real; enquanto unidade designa aquilo pelo que dizemos que algo é um. Assim também dois pode referir-se à realidade - como, por exemplo, homens ou pedras -, mas dualidade não: dualidade refere-se somente àquilo por que se constituem dois: homens ou pedras. E assim também para os outros números.

Portanto, no caso do número pelo qual numeramos, a repetição da unidade faz pluralidade; nas coisas, porém, a repetição de unidades não produz número, como por exemplo se da mesma e única coisa eu dissesse: "uma espada, um gládio, uma lâmina". Podemos referir-nos a essa realidade com um único vocábulo, "espada", e a repetição de unidades (palavras) não é uma numeração: se dizemos "espada, gládio, lâmina" é uma reiteração e não uma enumeração de diversos; do mesmo modo, quando repito: "sol, sol, sol" não se trata de três sóis, mas de um só.

Assim, pois, se se predica do Pai, Filho e Espírito Santo três vezes Deus, a predicação tríplice não constitui número plural. Este é, pois, como dissemos, o perigo daqueles que fazem distinção por dignidade entre os três. Nós, os católicos, porém, não admitimos nenhuma diferença no que constitui a própria forma e afirmamos não ser Ele outra coisa que aquele que é. E para esta doutrina, dizer: "Deus Pai, Deus Filho, Deus Espírito Santo, e esta Trindade é um só Deus", é tal como dizer: "uma espada, um gládio, uma lâmina" ou "sol, sol, sol: um sol".

Com o que até aqui dissemos, procuramos deixar claro que nem toda repetição de número produz pluralidade. Quando, porém, dizemos, "Pai e Filho e Espírito Santo" não estamos usando sinônimos diversos como seria o caso de "espada" e "gládio", que são iguais e idênticos.

Pois Pai, Filho e Espírito Santo, são iguais, mas não são o mesmo. Este ponto merece um pouco de atenção. A quem pergunta: "É o Pai o próprio Filho?", respon-demos: "De modo algum". E: "É um o mesmo que o outro?", novamente: "Não!".

Não há, pois, entre eles - sob um determinado aspecto - uma total indiferença em todos os aspectos; e assim pode-se falar em número que, como explicamos acima, procede da diversidade de sujeitos. Discutiremos brevemente esse determinado aspecto, depois de termos examinado como é que se predica de Deus.

IV

Há ao todo dez categorias que podem ser universalmente predicadas de todas as coisas: substância, qualidade, quantidade, relação, lugar (onde), tempo (quando), condição, situação, atividade e passividade.

Elas são determinadas pelo sujeito a que se referem: parte delas - quando se aplicam a outras coisas que não Deus -, referem-se à substância; parte, aos acidentes. Quando, porém, estas categorias são aplicadas à divindade, todas elas se tornam substanciais. Quanto à relação, ela não pode de modo algum ser predicada de Deus, pois a substância nEle não é propriamente substância, mas ultra-substância. Também não podem ser predicadas de Deus a qualidade e as demais categorias, das quais vamos dar exemplos para melhor compreensão.
Ao dizermos "Deus", aparentemente estamos designando uma certa substância, mas, na verdade, aquela que é ultra-substância; ao dizermos "justo" (aplicado a Deus), referimo-nos a uma qualidade, mas não à qualidade acidental, e sim à própria substância ou ultra-substância. Pois em Deus não é uma coisa ser, e outra ser justo, mas é-Lhe idêntico ser Deus e ser justo. E quando dizemos "grande ou o maior" parece que nos estamos referindo a uma determinada quantidade; mas, no caso, é à própria substância ou, como dissemos, ultra-substância: para Deus é o mesmo ser e ser grande. E quanto à sua forma, já mostramos acima como Ele é Forma e certamente Um e excluindo toda pluralidade.

Mas essas categorias são tais que dão à coisa a que se aplicam o caráter que expressam: nas coisas criadas, a divisão; em Deus, porém, apresentam-se conjugadas e unidas: quando dizemos "substância" (aplicada por exemplo a homem ou Deus) é como se aquilo de que predicamos fosse ele mesmo substância, como substância "homem" ou "Deus". Na verdade, porém, não é a mesma coisa: o homem não realiza em si a totalidade do ser humano, e por isso não é substância; o que ele é, deve-o a outras coisas que não são homem. Deus, porém, é o próprio Deus; não é outra coisa senão "o que é" e, por isso, é Deus mesmo.

E assim também quando dizemos "justo", que é uma qualidade, dizemos como predicação do sujeito, isto é, se dizemos: "homem justo" ou "Deus justo", afirmamos que o próprio homem ou o próprio Deus são justos. Porém, uma coisa é o homem; e outra, o homem justo; enquanto Deus Ele mesmo é o que é justo.

"Grande" também se diz do homem ou de Deus como se fosse a mesma coisa dizer "homem grande" ou "Deus grande"; na verdade, porém, o homem pode até ser grande; mas Deus é, Ele mesmo, o próprio grande.
Quanto às outras categorias, também elas não podem ser predicadas de Deus nem (substancialmente) dos outros entes. Pois o lugar não se pode predicar do homem nem de Deus: do homem se diz que está na praça; de Deus, que está em toda a parte; mas não como se fosse o mesmo a coisa e o que dela se predica. Pois dizer que o homem está na praça é totalmente diferente do que afirmar seu modo de ser, por exemplo, branco ou alto ou qualquer propriedade que, por assim dizer, o circunscreva e determine e pela qual se possa descrevê-lo em si. A predicação lugar, pelo contrário, somente afirma onde se situa a substância em relação a outras coisas.

Com Deus, porém, não é assim, pois "estar em toda parte" não significa que esteja em cada lugar (Ele absolutamente não pode estar num lugar), mas que cada lugar é-Lhe presente para ocupar, embora Ele não possa ser recebido espacialmente e, por isso, não se diz que ele esteja situado em lugar algum porque está em toda parte, mas não alocado.
O mesmo se dá com o "quando", a categoria de tempo: tal homem veio ontem; Deus é sempre. Quando se predica o "vir ontem", aqui, novamente, não se diz algo sobre o homem em si, mas o que lhe sucedeu no tempo. Já o que se diz de Deus, "sempre é", significa um contínuo presente que abarca todo o passado e todo o futuro. Os filósofos dizem que isso pode ser também afirmado do céu e de outros corpos imortais, mas, mesmo assim, não do mesmo modo que de Deus. Pois Ele é sempre porque "sempre" é para Ele presente: e há uma grande diferença entre o nosso "agora", que é do tempo que corre, e a sempiternidade: o "agora" divino permanece, não corre, e consistindo, faz a eternidade. Junta eternidade e sempre, e terás o agora perene e incessante e, portanto, o transcurso perpétuo que é a sempiternidade.

Também são válidas essas considerações para as categorias condição e atividade; pois dizemos do homem: "ele, vestido, corre", e de Deus: "Ele, possuidor de todas as coisas, governa". Aqui também não se diz nada do ser de ambos e essas são predicações exteriores; e todas as categorias até agora tratadas referem-se a outras dimensões que não à substância.
A diferença entre um e outro caso é fácil de perceber: "homem" e "Deus" referem-se à substância pela qual o sujeito é algo: homem ou Deus; "justo" refere-se a uma qualidade pela qual o sujeito é algo, a saber: justo; "grande", à quantidade pela qual ele é algo: grande. Já com as demais categorias isto não se dá: quando se diz que alguém está na praça ou em toda a parte, referimo-nos à categoria lugar, que não faz com que o sujeito seja algo, como pela justiça ele é justo.
O mesmo ocorre quando se diz "ele corre" ou "governa" ou "é agora" ou "é sempre": nestes casos estamos expressando tempo ou atividade - se é que o "sempre" divino pode-se encaixar em tempo -, mas não algo pelo qual é algo, como pela magnitude se é grande. Quanto às categorias situação e passividade nem precisamos ocupar-nos delas porque, claramente, sequer ocorrem em Deus.

Já se tornam evidentes as diferenças da predicação? Algumas categorias apontam para a coisa; outras, para circunstâncias da coisa. Aquelas dizem que a coisa é algo; estas , não incidem sobre o ser da coisa, mas sobre aspectos antes extrínsecos que lhe são aderentes. As categorias que determinam de algum modo o ser de algo chamam-se categorias segundo o ser; quando pressupõem sujeito, são chamadas acidentes segundo o ser. Quando se trata de Deus, que de modo algum é sujeito, só se pode falar de predicação segundo a substância.

V

Trata-se agora de examinar a categoria relação, para cuja discussão valer-nos-emos de tudo o que anteriormente foi tratado; a relação, mais do que qualquer outra categoria, constitui-se por referência a outro e parece especialmente não ser predicação relativa à coisa em si.

"Senhor" e "servo", por exemplo, são relativos; examinemos se são predicados da substância. Suprimindo o servo, suprime-se o senhor. Mas se suprimimos a brancura não suprimimos alguma coisa branca, embora, certamente, ao suprimir a brancura particular desta coisa branca suprimamos também conjuntamente a coisa. No caso do senhor, se suprimimos a palavra "servo", destrói-se também a palavra "senhor": não porque o senhor seja substrato do servo como a coisa branca é substrato da brancura, mas sim porque se desfaz a relação (o poder) que sujeitava o servo ao senhor. Já que o poder se desfaz ao suprimir-se o servo, vê-se que o poder não é algo que per se esteja no senhor, mas é algo extrínseco que lhe advém pela relação com os servos.

Não se pode, portanto, afirmar que uma predicação de relação acresça, diminua ou altere de algum modo a coisa em si a que se refere. Pois a categoria relação não diz respeito à coisa em si; ela simplesmente aponta uma condição de relatividade (e não sempre ou necessariamente para outra substância mas às vezes para uma mesma).
Assim, suponhamos um homem em pé. Se eu me dirijo a ele pela direita e me coloco a seu lado, ele estará à esquerda em relação a mim não porque ele mesmo seja esquerda, mas porque eu me coloquei à direita. Agora, se eu me aproximo pela esquerda ele se torna direita em relação a mim: e, de novo, não porque ele seja em si direita (como ele é branco ou alto), mas por causa do meu posicionamento. Fica tudo na dependência de mim e nada tem que ver com o seu ser em si.

Essas categorias que não afetam a coisa em si não podem mudar, alterar ou afetar de nenhum modo sua essência. Daí que se Pai e Filho são termos de relação e, como dissemos, não têm outra diferença que a de relação, e se a relação não é predi-cada daquele de quem se predica como se fosse o próprio sujeito e qualidade sua, en-tão ela não produzirá nenhuma alteridade de substância em seu sujeito mas - numa frase dificilmente compreensível e que requer explicação - uma alteridade de pessoas.
Pois é uma regra básica a de que as distinções em realidades incorpóreas são estabelecidas por diferenças e não por separação espacial. Não se pode dizer que Deus se tornou Pai pelo acréscimo de algo; pois Ele nunca começou a ser Pai, já que a produção do Filho pertence à sua própria substância; embora o predicado Pai, enquanto tal seja relativo. E se nos lembramos de todas as proposições feitas sobre Deus na discussão prévia, devemos admitir que Deus Filho procede de Deus Pai e Deus Espírito Santo de ambos e que eles não podem ser espacialmente diferentes por serem incorpóreos. Mas já que o Pai é Deus, o Filho é Deus e o Espírito Santo é Deus, e já que em Deus não há pontos de diferença que o distingam de Deus, Ele não difere dEles. Mas onde não há diferença, não há pluralidade; e onde não há pluralidade, há unidade. E, novamente, nada senão Deus pode ser gerado por Deus e, na realidade numerada, a repetição da unidade não produz pluralidade. E assim a unidade dos três está convenientemente estabelecida.

VI
Mas, como toda relação sempre se refere a outro, pois a predicação que se refere ao próprio sujeito é sem relação, a numerosidade da Trindade é garantida pela categoria relação, enquanto a unidade é preservada pelo fato de que não há diferen-ça de substância ou de operação ou de qualquer predicado substancial. Assim, a subs-tância é responsável pela unidade e a relação faz a Trindade. E assim, somente os termos referentes à relação podem ser aplicados distintamente a cada um. Pois o Pai não é o mesmo que o Filho, nem cada um dos dois é o mesmo que o Espírito Santo. Ainda que Pai, Filho e Espírito Santo sejam o mesmo e único Deus, o mesmo em justiça, em bondade, em grandeza e em tudo que pode ser predicado segundo o ser.
Não se deve esquecer que a predicação de relatividade nem sempre envolve diferença (como servo para o senhor). Porque o igual é igual ao igual, o semelhante é semelhante ao semelhante, e o mesmo é o mesmo que o mesmo; e a relação do Pai para o Filho, e de ambos para o Espírito Santo, é relação de igual para igual.
Uma tal relação não será encontrada nas coisas criadas, mas isto é por causa do modo de diferenciação que afeta as transitórias criaturas. Ao falar de Deus, porém, não devemos deixar-nos guiar pela imaginação; mas pelo puro intelecto elevar-nos e acometer o entendimento de tudo o que importa conhecer.

Mas já basta acerca da questão proposta. Agora a acuidade da discussão aguarda o critério do teu julgamento: o pronunciamento de tua autoridade sobre se discorri corretamente ou não. Se pela graça de Deus apresentei argumentos para este ponto que se sustenta por si no firmíssimo fundamento da fé, volto-me gozosamente em louvor, pela obra feita, para Aquele de quem procede o efeito. Se, porém, a natureza humana não logrou transcender seus limites naturais, valha pela intenção o que tiver falhado pela fraqueza.

Traduzido por Prof. Luiz Jean Lauand.

FONTE ELETRÔNICA;


domingo, 16 de setembro de 2012

O inferno ? Quase ninguém mais acredita nele !

A razão por que muitos em nossos tempos não acreditam no inferno, é que nunca tiveram explicação exata do que ele significa: é frequente conceber-se o inferno como castigo que Deus inflige de maneira mais ou menos arbitrária, como se desejasse impor-se vingativamente como Soberano Senhor; o réprobo seria atormentado maldosamente por demônios de chifres horrendos, em meio a um incêndio de chamas, etc. — Não admira que muitos julguem tais concepções inventadas apenas para incutir medo ; não seriam compatíveis com a noção de um Deus Bom.

Na verdade, o inferno não é mais do que a consequência lógica de um ato que o homem realiza de maneira consciente e deliberada aqui na terra; é o indivíduo quem se coloca no inferno (este vem a ser primàriamente um estado de alma; vão seria preocupar-se com a sua topografia) ; não é Deus quem, por efeito de um decreto arbitrário, para lá manda a criatura, É o que passamos a ver.
Admitamos que um homem nesta vida conceba ódio a Deus (ou ao Bem que ele julgue ser o Fim último, Deus) e O ofenda em matéria grave, empenhando toda a sua personalidade (pleno conhecimento de causa e liberdade de arbítrio); essa criatura se coloca num estado de habitual aversão ao Senhor. Caso morra nessas condições, sem retratar, nem mesmo no seu íntimo, o ódio ao Sumo Bem, que sorte lhe há de tocar ?

A morte confirmará definitivamente nessa alma o ódio de Deus, pois a separará do corpo, que é o instrumento mediante o qual ela, segundo a sua natureza, concebe ou muda suas disposições. Depois da morte, tal criatura de modo nenhum poderá desejar permanecer na presença de Deus; antes espontaneamente pedirá afastar-se d’Ele. Não será necessário que, para isto, .o Juiz supremo pronuncie alguma sentença; o Senhor apenas reconhecerá, da sua parte, a opção tomada pela criatura ; Ele a fez livre e respeitará esta dignidade, em hipótese nenhuma forçando ou mutilando o seu alvitre.
Eis, porém, que desejar afastar-se de Deus e permanecer de fato afastada, vem a ser, para a alma humana, o mais cruciante dos tormentos. Com efeito, toda criatura é essencialmente dependente do Criador, do qual reflete uma imagem ou semelhança ; por conseguinte, ela tende por sua própria essência a se conformar ao seu Exemplar (é a natureza quem o pede, antecedentemente a qualquer opção da vontade livre); caso o homem siga esta propensão, ele obtém a sua perfeição e felicidade. Dado, porém, que se recuse, a fim de servir a si mesmo, não pode deixar de experimentar os protestos espontâneos e veementíssimos da natureza violentada. A existência humana torna-se então dilacerada : o pecador sente, até nas mais recônditas profundezas do seu ser, o brado para Deus ; esse brado, porém, ele o sufocou e sufoca, para aderir a um fim inadequado, fim que, em absoluto, ele não quer largar apesar do terrível tormento que a sua atitude lhe causa. — Na vida presente, a dor que o ódio ao Sumo Bem acarreta, pode ser temperada pela conversão a bens aparentes, mas precários…, pela auto-ilusão ; na vida futura, porém, não haverá possibilidade de engano!
É nisto que consiste primariamente o inferno. Vê-se que se trata de uma pena infligida pela ordem mesma das coisas, não de uma punição especialmente escolhida , entre muitas outras por um Deus que se quisesse “vingar” da criatura. Em última análise, dir-se-á que no inferno só há indivíduos que nele querem permanecer. — A este tormento espiritual se acrescenta no inferno uma pena física, geralmente designada pelo nome de fogo; certamente não se trata de fogo material, como o da terra, mas de um sofrimento que as demais criaturas acarretam para o réprobo, e acarretam muito naturalmente. Sim; quem se incompatibiliza com o Criador não pode deixar de se incompatibilizar com as criaturas, mesmo com as que igualmente se afastaram de Deus (o pecador é essencialmente egocêntrico), de sorte que os outros seres criados postos na presença do réprobo vêm a constituir para este uma autêntica tortura (não se poderia, porém, precisar em que consiste tal tormento).

Por último, entende-se que o inferno não tenha fim ; há de ser tão duradouro quanto a alma humana, a qual por sua natureza é imortal; Deus não lhe retira a existência que lhe deu e que, em si considerada, é grande perfeição. Embora infeliz, o réprobo não destoa no conjunto da criação, pois por sua dor mesma ele proclama que Deus é a Suma Perfeição, da qual ele se alheou (é preciso, nos lembremos bem de que Deus, e não o homem, é o centro do mundo).
Não se pense em nova “chance” ou reencarnação neste mundo. Esta, de certo modo, suporia que Deus não leva a sério as decisões que o homem toma, empenhando toda a sua personalidade; o Senhor não trata o homem como criança que não merece respeito. De resto, a reencarnação é explicitamente excluída por textos da Sagrada Escritura como os que se acham citados sob o no 8 deste fascículo.
Eis a autêntica noção do inferno, que às vezes é encoberta por descrições demasiado infantis e fantasistas.

Veja a propósito E. Bettencourt, A vida que começa com a morte (ed. AGIR) Cap. VI.

FONTE ELETRÔNICA;